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quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12559: Estórias do Juvenal Amado (50): Em Alcobaça, assinaturas do tempo

Mosteiro de Alcobaça
Foto: © José Eduardo Rodrigues Oliveira (JERO)


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 4 de Janeiro de 2014:


ASSINATURAS DO TEMPO

Quando moramos num sítio vamos absorvendo pormenores que há primeira vista pouco importam, até parece que não nos afectam . Mas ficam gravados na nossa cabeça e mais tarde, adquirem importância para lá do que alguma vez pensamos.

Naquele tempo, que eu caminhava entre casa e a fábrica ou o café para as habituais tertúlias, sabia de cor cada pedaço de calçada arrancada, cada pedaço de lancil marcado por uma jante, cada mancha de musgo ou mesmo os estranhos desenhos, que ficavam quando caía algum pedaço de reboco de uma parede ou mesmo um muro. Era assim a vida lenta, previsível, como tempo de quem sabe que mais não podia fazer para além disso enquanto esperávamos pela tropa.

Como eu me lembro do conformismo desse tempo. Uns iam para Angola, outros para Moçambique e por fim outros para a Guiné. Também alguns felizardos iam para S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Macau ou Timor mas eram poucos e mesmo por isso invejados. Não havia volta a dar, ir para a tropa e esperar que não nos calhasse os piores destinos, era o pão nosso de cada dia.

Fazia parte de um ritual da nossa passagem à idade adulta. Engraçado que conhecia os nomes de quase toda a gente que morava em Alcobaça, hoje não conheço os nomes dos moradores do prédio onde moro. A taverna do Dinis e dos homens a comer laranja com sal para fazer peito ao copo de 3, do quartel dos bombeiros em frente, o Manuel Lourenço de quem eram suficientemente conhecidas as suas três grandes paixões: os bombeiros, o Benfica e o ciclismo.

A mercearia do sr. Emidinho com o seu sobrinho quase tão velho como ele. Os dois pequeninos magrinhos e carecas, eram figuras únicas que eu sempre vi com uns casaco de sarja cinzenta, cumprimentavam cerimoniosamente e humildemente as senhoras que ia à sua mercearia, quer pagassem logo, ou mandassem assentar no rol.

O David Pinto e os seus bem conhecidos sonhos de democracia mais a sua famosa ginja, que chegou aos dias de hoje como supremo néctar, que se espera ansiosamente por provar todos os anos.

Café Paris nome pomposo que acabou por ser popularmente conhecido pelo café do Isidro, que fazia uns bitoques que nós devorávamos já fora de horas. Recordo os jogos de xadrez, o ar preocupado dele com algumas conversas e com alguma literatura, que mudava de mãos nas horas tardias.

As fiadas de lojas que vendiam louça típica e histórica de Alcobaça.
Emprestavam um colorido sem par com as louças artisticamente pintadas a forrar as paredes exteriores das mesmas, espalhadas pelas calçadas em prateleiras e cestos cheios até cima de miniaturas pintadas por aprendizes da Vestal, Olaria, Elias & Paiva (Pouca Sorte) e Raul da Bernarda.
Naquele tempo só uma fábrica tinha alcunha de “pouca sorte”, hoje todas acabaram por ter a mesma sorte.

Os correios o largo dos Mosteiro de Sta Maria, que todos chamavam e chamam rossio com os seus jardins com alguma relva arrancada pelos transeuntes, que atalhavam caminho pisando-a sem dó nem piedade. Vi a Rainha de Inglaterra aí a descer as escadarias do Mosteiro, corsos carnavalescos com batalhas de flores com sacos de serradura, farinha e água à mistura, mas era carnaval e nada parecia mal.

A saudosa esplanada do Bau e os bolos da pastelaria Toval, não é que os de hoje não sejam porventura bem melhores, mas na altura o acesso a essas guloseimas era muito mais restrito e por isso ficaram na memória.
Local de namoricos e troca de caricias.
Também manifestações avassaladoras de pesar, quando a dor atingiu algumas famílias de Alcobaça na perca de vários dos seus filhos, em que toda vila se uniu na dor.
Local de discretas celebrações de datas como o 1 de Maio.

Podia fazer o caminho quase de olhos fechados tal foram as vezes e os anos a percorrê-lo. As figuras castiças como o Tibúrcio, o Valadares engraxador, o Augusto da Vestiaria eram parte da identidade da vila com quem nos cruzávamos a todo o instante. Os internados do asilo que pediam sempre um cigarrito ou à falta disso apanhavam as beatas, que eram sempre abundantes pelo chão. Desfaziam-nas para dentro de uma caixa de lata e a seguir com mortalhas, confecionavam novos cigarros.
Reciclavam, palavra que está hoje em voga.

Entre eles, dois ou três juntavam-se a nós, havendo mesmo um, que tinha um ar existencialista e toda a vida ter frequentado a universidade, compunha o estilo com ar de poeta, um livro de baixo do braço, fosse para onde fosse.
Mais tarde falou-se que afinal não sabia ler, o que não teve importância nenhuma, tal era a forma com que enriquecia as tardes e serões com a sua experiência de vida. Morreu quando eu estava na Guiné.

Morreu só, uma vez que as pessoas que cativáramos fora da instituição viviam as suas vidas a outras velocidades. A sua doença e morte acabaram por passar quase despercebidas. A maioria de nós só soube quando regressou das comissões.

Na Guiné foram muitas dessas recordações que me fizeram companhia juntamente com o calor e os mosquitos. Muitas vezes no posto de sentinela revia mentalmente o percurso e vinham-me à cabeça todos os pormenores que antes julgava não prestar atenção. A distância aguçava as saudades ao mínimo pormenor.

Quando regressei, voltei a fazer vezes sem conta os mesmos caminhos. A maioria das coisas estavam lá ainda, pouco se tinha alterado, eu é que via tudo com outro olhar.
Vinte e sete meses longe tinham-me transformado e era com avidez que bebia as imagens, que funcionavam como assinaturas do tempo.

Juvenal Amado
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Nota do editor

Último poste da série de 19 DE OUTUBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12170: Estórias do Juvenal Amado (49): Afinal era bala real - Lembrando João Caramba

Guiné 63/74 - P12558: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (4): G - Localização dos Órgãos, Unidades e Serviços do Exército (1961-1974) (3): Município de Lisboa




1. Quarta parte da série "Fábricas de Soldados", trabalho do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5 - "Gatos Pretos", Canjadude, 1968/70), enviado ao nosso Blogue em mensagem do dia 18 de Dezembro de 2013:














(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Janeiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12550: Fábricas de Soldados - Localidades e Unidades Militares do Exército por onde passámos (José Martins) (3): G - Localização dos Órgãos, Unidades e Serviços do Exército (1961-1974) (2): Municípios de Covilhã a Linda-a-Velha

Guiné 63/74 - P12557: O nosso blogue em números (33): Um em cada cinco dos nossos visitantes vem do Novo Mundo (Brasil, EUA e Canadá)... Cabo Verde é o 10º país do nosso "top ten"... Atingimos os 5,3 milhões de visualizações, 12500 postes, 3500 descritores... e somos 636, os membros da Tabanca Grande... (Luís Graça)



Gráfico nº 1 > Total de visitas, por país, em % (desde novembro de 2009: n=3,250 milhões)



1. Em 31 de dezembro de 2013, os visitantes do nosso blogue oriundos de Portugal representavam menos de 2/3 do total... Vinham, em segundo lugar, os brasileiros (12,2%), seguidos dos norte-americanos (7,6%) (Vd. Gráfico nº 1).

Se considerarmos o Brasil, os EUA e o Canadá, em conjunto, os visitantes do Novo Mundo representam  já 20,5% do total... Desses, seguramente, muitos serão portugueses da diáspora, antigos camaradas de armas a quem saudamos, neste início de ano novo, desejando-lhe força para continuarem a atravessar a ponte que os liga às suas raízes... E o nosso blogue também é (ou pretende ser) uma ponta da e para a lusofonia.

Estes números dizem respeito a um total de  3,250 milhões de visualizações, contadas desde a data  em que passámos a ter registos estatísticos no Blogger  (novembro de 2009, ou seja, há pouco mais do que 4 anos)...

Se compararmos este perfil com o de setembro de 2012, quando atingimos os 4 milhões de visitas, verificamos a tendência que já vinha de trás, a da "interncaionalização" do nosso blogue, quanto à origem geográfica das visitas. Em setembro de 2012, o perfil era o seguinte:

(i) 70,5% das visitas eram oriundas de Portugal;
(ii) seguia-se, em segundo lugar, o Brasil (13,5%);
(iii) vinham depois os Estados Unidos (4%) e a França (2,3%), totalizando estes 4 países mais de 90%;
(iv) entre os dez mais contam-se ainda, por ordem decrescente, a Alemanha, o Canadá, o Reino Unido, a Rússia, a Espanha e Cabo Verde...

A Rússia aparecia, pela primeira vez, neste "top ten"; por outro lado, o número de visitantes do Brasil e dos EUA  tinham aumentado em detrimento de Portugal que perdia mais de 3 pontos percentuais em relação à situação em abril de 2011 (então com 73,3%).



Gráfico nº 2 > Evolução do nº visualizações, em milhões, desde Maio de 2006 a finais de 2013.


2. No fim do ano de 2013, contabilizávamos um total de  5 270 672 visualizações de páginas (visitadas), ou seja, mais 863 mil do que no final de 2012 (4 407 672). Esse ano, o de 2012,  foi o melhor de todos. Em 2013, passámos a ter a clara concorrência do Facebook, mais acentuadamente a partir de finais de abril de 2013.

Janeiro: 92 mil
Fevereiro:  84 mil
Março: 92 mil
Abril: 92 mil
Maio: 60 mil
Junho: 54 mil
Julho: 60 mil
Agosto: 55 mil
Setembro: 60 mil
Outubro: 73 mil
Novembro: 73 mil
Dezembro: 68 mil

Total: 863 mil (Média mensal: c. 72 mil)


Recorde-se que começámos a "blogar" há quase 10 anos, em 23 de abril de 2004 (início da I Série do nosso blogue, que vai até 31 de maio de 2006, contabilizando um total de... 70 mil visitas).

O primeiro milhão de visitas só foi atingido, cinco anos depois,  em fevereiro de 2009.

Os 2 milhões de visitas foram atingidos em meados de setembro de 2010; os 3 milhões de visitas na 1ª quinzena de novembro de 2011; e os 4 milhões em setembro de 2012, e os 5 milhões um ano depois, em setembro de 2013. Na primeira semana de semana de janeiro de 2014,. estamos já nos 5,3 milhões.
(Vd. Gráfico nº 2).

A média mensal de visitas em 2012 (c. 104 mil) era de longe superior à do período anterior (de julho de 2010 a maio de 2011), que não chegava aos 79 mil.). Em 2013, há um claro decréscimo: 72 mil/mês, em  média.


 3. Em 2014 o nosso blogue vai fazer 10 anos... Mas é bom lembrar que chegámos a 31 de dezembro de 2013 com um total de 636 membros da Tabanca Grande (dos quais 29 já morreram), ou seja, com 41 a mais do que em 31 de dezembro de 2012... De qualquer modo, o crescimento do blogue, em termos de entrada de novos membros e de visitas, abrandou em 2013: é agora de 3,4 por mês (em média).

 Recorde-se que começámos a II Série do blogue, em junho de 2006, com 111 inscritos... Eis a evolução das "entradas" na nossa Tabanca Grande desde então até ao final do ano de 2013 (Vd. Gráfico nº 3)



Gráfico nº 3 > Evolução do nº de membros da Tabanca Grande, desde maio de 2006 até ao final de 2013

4.  É bom recordar que temos, desde janeiro de 2011,  uma página no Facebook, chamada Tabanca Grande, com 1340 amigos (mais 340 do que no final do ano passado). Temos dado preferência, em termos de resposta aos chamados pedidos de amizade, aos antigos combatentes da guerra colonial, mas nem todos os amigos do Facebook têm a ver com a guerra,  longe disso, e muito menos com a Guiné.

A nossa página do Facebook, gerida pelos editores Luís Graça e Carlos Vinhal, não se rege pelos mesmos princípios editoriais do blogue. Os amigos do Facebook não são automaticamente membros do blogue. Para esse feito, têm que seguir os mesmos procedimentos: (i) mandar 2 fotos, (ii) ter um email válido (ou disponível, através de um familiar ou amigo);  e  (iii) apresentar-se aos membros da nossa comunidade virtual a que chamamos Tabanca Grande.

De qualquer modo, temos de encontrar uma maneira de articular melhor o blogue e a página do Facebook. E prestar mais atenção às muitas páginas que, sob a forma de blogues, sítios e páginas do Facebook, se abriram nestes últimos anos, individuais ou de grupo, e que são um importantíssimo contributo para o esforço de preservação, proteção e divulgação das memórias dos antigos combatentes da guerra colonial.

Uma palavra de grande apreço é devida ao portal UTW - Ultramar Terraweb, fundado, em 20/3/2006,  pelo nosso camarada  António Pires (ex-fur mil  mec auto, CSM/QG/RMM (Moçambique 1971/1973). Para ele e para a sua equipa, vai o nosso fraterno alfabravo, e o nosso apreço pelo gigantesco trabalho realizado.


5. Em 31/12/2013, tínhamos, por outro lado, 381 seguidores do blogue,  mais 125 do que no final de 2012 (N=256), o que representa um aumento de quase 50% (48,8%).

Em 31/12/2012, tínhamos atingido a cifra dos 38.300 comentários (desde o início da II Série do nosso blogue, ou seja, desde 1/6/2006). No final de 2013, eram 47.500. Houve uma aumento exponencial de comentários sobretudo a partir de finais de 2008. Até então havia moderação (, o comentário tinha que receber o OK do editor...), pelo que o número de comentários era muito mais restrito, em números redondos e por anos (entre parênteses):

20 (desde 1 de junho até final de 2006):
200 (2007);
1000 (2008);
6000 (2009);
11000 (2010);
10500 (2011);
9600 (2012);
9200 (2013)

Total = 47520

Em 2012, a média mensal era  de 800 comentários (26,7 por dia). Em 2013, a média mensal de comentários é ligeiramente mais baixa: 767 (25,2 por dia, em média).

Motivo de orgulho, para todos nós, é o facto de praticarmos uma política de expressão livre em matéria de comentários e serem raríssimas as ocasiões em que os editores tiveram que intervir para eliminar, a posteriori, comentários que violavam as nossas regras de são convívio (com excepção, naturalmente, do SPAM ou "lixo" que escapa aos nossos filtros)...

Este facto só pode ser interpretado como uma prova de grande maturidade, sentido de responsabilidade, elevação cívica e capacidade de tolerância de todos nós, amigos e camaradas da Guiné,  que fazem, leem e comentam este blogue.


Gráfico nº 4 > Nº de postes editados, na I e II Série, por ano, até 31/12/2013.  Total = 12529.

6. Apesar da "crise" que também nos afeta, apesar da concorrência  do Facebook e de muitas outras páginas sobre a guerra colonial que apareceram na Net, apesar do nosso cansaço, saturação, desânimo, descrença, envelhecimento... e do inevitável esgotamento das nossas "memórias" (guardadas no "baú")..., apesar de tudo isto conseguimos editar/publicar mais postes em 2013 do que em 2012... 

A diferença não é grande (+ 36)  mas merece ser sublinhada... Não trabalhamos para bater recordes... Mesmo assim, é bom lembrar que estamos bem longe do recorde estabelecido em 2010, com um total de 1955 postes.... No total  foram já publicados, até hoje, mais de 12550 postes (Vd, Gráfico nº 4). E quanto a descritores, são mais de 3500  (o que corresponde a uma lista de 130 páginas, em formato word. cada uma com 27 descritores).

7. Este poste já vai longo, mas não posso acabar sem deixar aqui, em público, um alfabravo de amizade e camaradagem para todos os nossos editores (que são, além de mim, o Carlos Vinhal, o Eduardo Magalhães Ribeiro e o Virgínio Briote que, por razões de saúde, deixou de estar ativo, sendo por isso um editor "jubilado"), e demais colaboradores permanentes (Humberto Reis, Hélder Sousa, Jorge Cabral, José Martins e Torcato Mendonça)... Eles merecem todo o meu (e, seguramente nosso) apreço...

Não me levem a mal, que discrimine, pela positiva, o nosso Carlos Vinhal: pelo seu trabalho, pela sua disponibilidade, pela sua generosidade, pelo seu companheirismo e sobretudo pela sua inteira dedicação ao nosso blogue,  ele  é uma das traves-mestras deste edifício que estamos a construir juntos, e merece as nossas palmas.

A lealdade, camaradagem e generosidade de todos vocês, editores e conselheiros, não têm preço. A minha/nossa gratidão é extensiva a todos os autores, leitores, visitantes, sem esquecer os nossos amigos do Facebook donde iremos cada vez recrutar gente e material... Quanto aos autores que alimentam todos os dias o nosso blogue, seria injusto destacar A, B ou C... Mas o seu contributo é decisivo para o sucesso e a longevidade do nosso blogue.

Para todos os/as amigos/as e camaradas da Guiné vai o meu/nosso Oscar Bravo (OBrigado). Continuamos  a contar com todos para, juntos, mantermos vivo este nosso projeto, que já não é nosso, é da NOSSA geração...

Uma saudação também especial a todos os 41 "periquitos" em 2013 passaram a honrar-nos com a sua presença sob o poilão da Tabanca Grande. 

E não nos esqueçamos de dar um viva ao nosso próximo 10º aniversário, em 23/4/2014...  (E a propósito, é um ano tramado para comemorações: devo ir à faca, para pôr um prótese na anca direita, neste 1º trimestre de 2014, mas temos que acertar uma data para o nosso próximo encontro anual... Espero também lançar por estes próximos meses um livrinho de poesia dedicada aos amores,  aos lugares e à guerra)...

8. Por fim, e não menos importante, quero recordar aqui os camaradas que nos deixaram, no ano de 2013: foram 7 (num total dos 29 que já não estão entre nós, a não ser em memória):

António Teixeira (1948-2013)
João Caramba (1950-2013)
José Marques Alves (1947-2013)
Luís Borrega (1948-2013)
Luís Faria (1948-2013)
Luís F. Moreira (1948-2013)
Manuel Martins (1950-2013)

 Os seus nomes continuam a figurar, a seguir à lista alfabética dos membros da Tabanca Grande,  na lista dos "Amigos/as e camaradas que da lei da morte se foram libertando (n=29)". 

Guiné 63/74 - P12556: Estórias cabralianas (84): Ganhámos! O Alfero meteu golo!... (Jorge Cabral)






Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 63 (1969/71) > O 1º Cabo Negado e o Alfero treinando no relvado de Fá.


Foto: © Jorge Cabral (2014) . Todos os direitos reservados.  [Edição de L.G.]

1. Mensagem do Jorge Cabral [
, jurista, advogado de barra, docente universitário reformado, ex-alf mil at art, cmdt Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, setor L1, Bambadinca, 1969/71]:


Data: 7 de Janeiro de 2014 às 16:51

Assunto: Golo!

Amigo!

Na Guiné até o Alfero jogou futebol...
Abraço!
J.Cabral

Junto foto - O 1º Cabo Negado e o Alfero treinando no relvado de Fá.


2. Estórias cabralianas  > Ganhámos! O Alfero meteu golo.

por Jorge Cabral

Um dia, ouvi, em Bambadinca, que ia haver um campeonato de futebol. Para além da CCaç 12 , entravam todos os Pelotões e Serviços da CCS. Inscrevi o Pel Caç Nat 63, embora não tivéssemos equipa, nem sequer bola, que me apressei a adquirir.

Chegado a Fá, ordenei treinos diários. Tarefa difícil, pois os meus soldados africanos nem as regras conheciam. Eram fortes e rápidos, mas pareciam especialistas em sarrafadas. Para tirar a bola ao adversário valia tudo…

Iniciou-se o campeonato e nós sempre a perder. Resultados catastróficos…autênticas cabazadas.. Para apoio moral, levávamos uma enorme claque de miúdos que,  em alarido, aplaudiam tudo.

Não sei porque não fomos desclassificados e chegámos ao último jogo, contra o  Pelotão dos Morteiros. Com o jogo quase a terminar,  e quando já havíamos sofrido oito golos sem resposta, o guarda-redes Mamadú chutou a bola para o Demba que a tocou para o Alfero, e este, em manifesto fora de jogo, rematou. 
Gooooolo! Gooooolo!Gooooolo!

O árbitro, alferes,  hesitou e olhou para o rematador, que encolheu os ombros… Golo validado, claro. A algazarra foi tanta, que o Comandante do Batalhão saiu do seu gabinete, para ver o que se passava, tendo-se mostrado irritado.

Rapidamente regressámos a Fá. Nessa altura, o Pelotão tinha um Segundo Sargento que,  intrigado com a nossa ruidosa alegria, perguntou:
–  Então? Que aconteceu?
– Ganhámos! O Alfero meteu golo! –  gritou-lhe o Sambaro.

Jorge Cabral

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 Nota do editor:

Último poste da série > 26 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12345: Estórias cabralianas (83): Da Gata Catota à Tabanca da Queca... (Jorge Cabral, com bolinha...)

(...) No fim dos anos 70, era um simpático advogado, com muitas clientes que me gabavam a grande sensibilidade…Entre elas, destacava-se a D. Prazeres, que eu divorciara de um marido violento e me assediava todos os dias, com questões que, de jurídico, tinham muito pouco. (...)

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 - P12555: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (2): Os craques da CCAÇ 12 e da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (Fotos de Benjamim Durães)


Foto nº 140 > O campo de futebol de onze, em Bambadinca, localizava-se junto á pista de aviação (ao fundo), sendo a linha divisória o arame farpado...  No topo sul do campo, havia duas acácias vermelhas, aqui  na foto, esplêndidas, floridas...



Foto nº 96 > O campo, de terra batida, aguentava-se.mesmo assim, na época das chuvas... O BART 2917 chegou a Bambadinca no início da época das chuvas, em finais de maio de 1970 (se não erro).



Foto nº 80 > Uma equipa de futebol mista, com malta da CCAÇ 12 e da CCS/BART 2917... Da CCAÇ 12, identifico na segunda fila, de pé, a contar da direita para a esquerda, logo em segundo lugar o Videira, 2º srgt inf. O último elemento parece-me ser o Gualberto Magno Passos Marques, o cap art, comandante da CCS/BASRT 2917, que gostava de acamaradar com a malta.   Na primeira fila, da esquerda para a direita, o saudoso Luciano Severo de Almeida,  um camarada da CCS (?), o fur mil enf Coelho (da CCS), o Tony Levezinho e o Carlão (ambos da CCAÇ 12).



Foto nº 108 >  2ª fila, de pé, da esquerda para a direita: o Joaquim Fernandes, o António Branquinhho, o António Marques, o Humberto Reis (quatro furriéis da CCAÇ 12) e, se não erro, o próprio Benjamim Durães, autor destas fotos; na primeira fila, da esquerda para a direita, só sou capaz de identificar o Abílio Machado, o "Bilocas" (alf mil, CCS) e o Arlindo Roda (CCAÇ 12)


Foto nº 91 > A equipa identificada na fo anterior... Ao fundo, a tabanca (reordenada) de Bambadincazinho


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BART 2917 (1970/72) > Fotos do álbum do Benjamim Durães (ex-fur mil op esp. Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72).


1. Em Bambadinca, os batalhões iam e vinham e a malta, nomeadamente da CCAÇ 12, continuava a jogar à bola (*)...

Segundo o Benjamim Durães. foram as seguintes as subunidades que estiveram sob o comandodo BART 2917, entre 1970 e 1972:

CArt 2714, 2715 e 2716;
CCaç 12; 
Pel Caç Nat 52, 53, 54 e 63;
Pel Rec Daimler 2206 e 3085;
Pel Mort 2106 e 2268; 
Pel Intend A/D 2189 e 3050;
20º Pel Art/GAC 7; e 
Pel Eng do BENG 447.

Guiné 63/74 - P12554: Ser solidário (157): O nosso camarada, luso-guineense, natural de Contuboel, desempregado, a residir em Alfragide, António U. Baldé, pai da Alicinha do Cantanhez, tem um sonho: ser apicultor em Caboxanque...

1. Já aqui apresentámos em tempo o António Ussumane Baldé, nascido  em Contuboel em 1944, de etnia fula (*) [Foto à esquerda, Alfragide, 27/7/2012, na casa do nosso editior Luís Graça]

Foi educado, até aos 12 anos, pelo chefe de posto local, o português José Pereira da Silva, ainda hoje vivo, com residências no concelho de Oeiras. Fez a 4ª classe e isso abriu-lhe outras portas a que outros miúdos da sua tabanca não tiveram acesso. 

Lembra-se bem da serração do Albano, que ainda existia no meu tempo (junho/julho de 1969, quando Contuboel foi Centro de Instrução Militar, donde saíram, de entre outras, as futuras CART 11 e CCAÇ 12).

Em 1966, foi chamado para a tropa. Fez a recruta e a especialidade no CIM de Bolama. Ficou lá dois anos. Promovido a 1º cabo, de artilharia, foi instrutor. Lá se formaram diversos Pel Caç Nat. Em 1969 é transferido para o Pel Caç Nat 56, sediado em S. João, frente a Bolama.  Em 1970 é transferido para a CART 11 (e mais tarde CCAÇ 11), que estava em Paúnca. O comandante do seu pelotão era o alf mil Matos, que é de Ovar, e com quem ainda hoje convive e fala ao telefone. Já foi uma ou mais vezes aos convívios da companhia.

Em 1969 casou-se. Será o primeiro de quatro casamentos. Teve ou tem 15 filhos,  o último dos quais a Alicinha do Cantanhez, filha da saudosa  Cadi Indjai (1985-2013), nalu de Farim do Cantanhez [ foto à direita], filha de um antigo guerrilheiro do PAIGC, "combatenet da liberdade da Pátria", que perdeu uma perna numa mina A/P da tropa portuguesa. Mais recentemente perdeu um neto.

Saiu da tropa em finais de 1970 ou princípios de 1971. A mulher tinha ficado em Bolama. Assistiu depois à independência. Não tem boas memórias de Bambadinca desse tempo (onde assistiu à bárbara execução pública, após selvagens julgamentos populares, de "inimigos públicos do PAIGC", "cães dos colonialistas"... 
mas  não teve quaisquer problemas com os novos senhores da Guiné-Bissau. 

Ainda antes da independência tinha começado a trabalhar nos serviços agrícolas da província. Fez formação em floricultura, se não me engano. Foi ele e outros estagiários quem fez o jardim do Bairro da Ajuda, em Bissau, no tempo do administrador Guerra Ribeiro. Depois da independência começou a trabalhar com o engº agr Carlos Scwharz, no DEPA, na região de Tombali. Tem uma grande admiração pelo Pepito e pelo trabalho dele em prol do desenvolvimento da sua terra, através da sua ONG AD, der que é membro cooperativo (e cofundador, se não erro).

No princípio deste século, veio a Portugal fazer um curso de apicultura, que é hoje a sua grande paixão. Acabou por ficar. Trabalhou, até há pouco tempo, como segurança numa empresa de construção, no concelho de Cascais. Entretanto, obteve a nacionalidade portuguesa. Tem um filho, de 13 ou 14 anos, o Umaro Baldé, que vive com ele desde os 6 anos e que está a frequentar o 7º ano de escolaridade obrigatória, em Alfragide, e que ser informático.

De momento o António Baldé está desempregado. O seu sonho é voltar a Caboxanque onde tem casa, junto ao rio Cumbijã, e desenvolver o seu projeto de apicultura no Cantanhez. Está a preparar o seu regresso.  Bom muçulmano, vai todas as sextas feiras à mesquita de Lisboa. É uma homem afável, conhece meio mundo, fala e escreve bem o português, e pediu-me para ingressar na Tabanca Grande em março do ano passado (*). 

2. O António Baldé está interessado sobretudo em partilhar conhecimentos e experiências na área da apicultura, em que fez formação profissional. Está a preparar-se para regressar à sua terra natal e montar o seu negócio em Caboxanque.

Lembrei-me que o podia ajudar, publicando uma lista de materiais apícolas que ele precisar de comprar, uns novos, outros podendo ser em segunda mão. O Natal já passou mas pode ser que haja, entre os nossos leitores, algum Pai Natal, que seja ou tenha sido apicultor, que o queira e possa ajudar.... 

Às vezes ser solidário (**)  não custa muito. E podemos mudar a vida de outro humano, dar-lhe uma grande alegria, pô-lo de novo a sorrir e a ter esperança,  ajudar a construir o seu negócio ... Neste caso, ser apicultor em Caboxanque!

Aqui vai a lista de materiais apícolas que o António Baldé anda à procura. Podem contactá-lo pelo telemóvel 969 262 831 (de preferência) / telef  216 054 667 (noite)

Guiné 63/74 - P12553: Convívios (557): Próximo encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 16 de Janeiro de 2014, no sítio do costume. Abertas as hostilidades (José Manuel Matos Dinis)

1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 6 de Janeiro de 2014, a propósito do próximo convívio da magnífica Tabanca da Linha, a levar a efeito no próximo dia 16 deste mês:

Viva Carlos!
Hoje volto a pedir-te para publicares o anúncio de mais um encontro da Magnífica, desta vez de Ano Novo, na senda do que já fora decidido e corroborado por S.Exa. o Senhor Comandante Rosales, sobre a realização de encontros na Linha em todos os meses ímpares do ano, medida que pretende dar satisfação a todos os que beberam água da bolanha, e agora desejam dessedentar-se com pinga genuína, enquanto se alimentam de algo mais que bianda com estilhaços.

Mas o próximo encontro, que vai realizar-se na Adega Camponesa, em Cabreiro, Alcabideche, por detrás do novo hospital, no dia 16, com encontro pelas 12H45, ficará marcado pela provável ausência daquele magnífico comandante, que antes do Natal foi sujeito a uma intervenção cirúrgica provocada por um aneurisma. Dessa situação, imediatamente resolvida, não se queixa o nosso Comandante, mas de terríveis dores com origem na coluna, que o afligem inclemente e incessantemente, pelo que já mete empenhos para ser operado. Se alguém conhecer um cirurgião competente e disponível, acudam, que ele não perde a verticalidade, mas estiola-se de dores e limitações físicas horripilantes. No entanto, se ele tiver oportunidade de tomar um medicamento que o alivie, que ninguém duvide, não faltará.

O Comandante Rosales "visto" pela objectiva de Luís Graça

Pois o nosso Comandante, homem ponderado, mas capaz de grandes decisões, determinou-me que desse continuidade à decisão tomada, desde que os senhores Segundos-Comandantes estivessem presentes no desenrolar da acção que for promovida. O Mário Fitas já anuiu, e conto que o Rogério também não tenha impedimentos, para que ambos possam manter a tropa com o elevado espírito e moral que a acção exige,e para que o pessoal não se habitue à auto-gestão de atacar a bel-prazer e aproveitar egoisticamente os despojos, coisa contrária à ética guerreira. É preciso organização! O preço, faço votos, manter-se-á para gaúdio dos mastigantes.

Assim, tudo o indica, no próximo dia 16 vão encontrar-se alguns dos mais representativos dos que palmilharam por bolanhas e matas da Guiné, pelo que solicito, que me confirmem as presenças pessoais e de acompanhantes, tão breve quanto possível, e podem fazê-lo para o meu mail, como para o télélé n.º 913 673 067.

Abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 - P12521: Convívios (556): Almoço de Natal dos bedandenses do sul, com homenagem ao Tony Teixeira (1948-2013) (Hugo Moura Ferreira / Manuel Lema Santos)

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Guiné 63/74 – P12552: Memórias de Gabú (José Saúde) (37): Que é feito de ti, camarada Rui ?



1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.



As minhas memórias de Gabu

Rui, oriundo dos choupais de Coimbra, um afidalgado cavalheiro

Que é feito de ti, camarada?

Mostrava-se um rapaz amigo. Não lhe conheci momentos conflituosos que gerassem mal estar entre os camaradas. A minha cama, durante o tempo de uma comissão que fora entretanto antecipada graças à Revolução dos Cravos que se desenrolou com o 25 de abril de 1974, situava-se mesmo ao lado da sua. Dissecávamos constantemente conversas sobre as nossas vidas. Falávamos das namoradas, dos nossos tempos de escola, dos amigos, do futebol e, como era óbvio, da guerra na Guiné. O Rui era um companheirão. 

Não tenho a certeza da sua verdadeira especialidade, mas julgo que se tratava de um camarada de minas e armadilhas. O outro furriel miliciano desta especialidade era o Santos e disso não me restam dúvidas algumas. Acontece que no momento em que o capitão decidiu atribuir algumas tarefas ao pessoal da Companhia, coube ao Rui abdicar da sua especialidade e ficar como o furriel vagomestre do quartel.

Recordo a azáfama do Rui no princípio da sua novata e primária experiência. A sua roda-viva quotidiana em coordenar a tarefa das compras; na feitura das refeições para o rancho; no cuidar com preceito de todo o material comestível que tinha chegado na coluna do último reabastecimento; se havia, ou não, faltas que obedecessem a uma prévia informação superior; nas suas idas constantes a procurar hortaliças, possíveis, para completar as refeições do rancho, ou na aquisição peças de carne fresca que os militares muito apreciavam; nas contas meteóricas ao dinheiro que o 1º sargento da secretaria diariamente lhe entregava; revejo-o a manusear os pesos (escudos), em notas, para as citadas compras; compras que eram enquadradas com o dinheiro disponível; enfim, um rol de movimentos financeiros, também mentais, que o Rui já tratava com ligeireza.

Esporadicamente deparava-me com o Rui arreliado. O capitão e o sargento imponham-lhe rédeas curtas. Exigiam-lhe o teor das contas tim-tim. Os custos do “material” e o que sobrava das compras. E o meu camarada ficava fulo como uma barata. “Estão a duvidar de mim”, dizia-me um bom do Rui. A dúvida, na minha pressuposta opinião, situava-se nas cúpulas dos comandos da Companhia. Não no furriel miliciano que se limitava a exercer funções para as quais fora chamado já em território guineense. Funções, aliás, que se assumiam como contas de um outro “abastado” rosário, não o dele.

Mas com o evoluir do tempo, o Rui começou a conhecer as manhas do sistema, presumo.   Começou a saber lidar com a “troika” (capitão, 1º sargento e vagomestre) imposta pelos ortodoxos métodos que a guerra ultramarina declarava. Suponho que a sua postura mudou radicalmente. Atravessou um deserto de dúvidas, ergueu-se, iniciou uma peleja de bate-papos com a hierarquia militar e a certa altura a sua voz também se fez ouvir. O toque do clarim que impunha sentido, deixou-o de perturbar.

Com a bandeira branca hasteada no seio da “troika”, o Rui começou a disfrutar de mais tempo para si, deixou de se arreliar com as permanentes chamadas à secretaria para mais um apuro de contas, bem como das possíveis contestações que os profissionais em princípio lhe dirigiam, e eis então o nosso camarada rei e senhor de uma tarefa com a qual se deparou ao longo da nossa comissão.

As minhas memórias de Gabu sugerem momentos irrepreensíveis num território onde a guerra se cruzou, também, com outros pormenores que passavam ao lado do soldado sem medo. Lembro-me da canseira do Rui, e do 1º sargento, a vistoriar à risca a presença de camaradas de outras unidades militares que passavam, ocasionalmente, pelo nosso quartel. Conclui, depois, que cada estadia era faturada e entrava nas contas como uma diária ou como uma meia diária. Dia de partida e de chegada, não obstante a hora constatada, era atribuída a cem por cento para as contas da unidade. Normalmente a presença de um camarada de passagem ser-lhe-ia conferida a percentagem máxima. Era da praxe.

Numa tarde sem stress, e já com as contas de tesouraria feitas, o Rui, homem de Coimbra, pousou para a minha máquina fotográfica Olympus e eis que a sua imagem se mantém inalterável no baú das minhas recordações guineenses. 

Resta concluir e parafrasear o velho fado coimbrão cantado por Fernando Machado Soares: “Gabu (Coimbra) tem mais encanto, na hora da despedida”… Que é feito de ti, camarada?




Um abraço, camaradas 
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:

19 DE DEZEMBRO DE 2013 > Guiné 63/74 – P12475: Memórias de Gabú (José Saúde) (36): Visita à piscina do QG, em Bissau. Uma ida a banhos.


Guiné 63/74 - P12551: E fazíamos grandes jogatanas de futebol (1): A equipa da CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (Fotos de Arlindo Roda)... E a nossa singela homenagem ao Eusébio, que foi o ídolo da nossa geração (Luís Graça / Cherno Baldé /António Rosinha/ Hélder Sousa / António Carvalho / C. Martins / Tony Borié / J. L. Fernandes)




Foto nº 95 > A equipa da CCA 12, vestida a rigor, com o equipamento a condizer: simbolicamente, camisola preta e calção branco... Esta era a equipa principal...em que tinha lugar o fur mil Arlindo Teixeira Roda (, o primeiro da primeira fila, a contar da direita). Mas, curiosamente, numa companhia em que as praças eram do recrutamento local (c. 100) e os restantes elementos (graduados e especialistas) de origem metropolitana (c. 50), não havia nenhum guineense...

Os soldados, fulas, etnia islamizada, não tinham especial apetência pela prática do futebol... pelo menos me Bambadinca.  Em todo o caso, na Guiné do nosso tempo, e devido à guerra o futebol estava praticamente confinado a Bissau... se bem, que houvesse também equipas de futebol no interior (Bafatá, Mansoa)... È verdade, o futebol era o desporto, por eleição, dos "tugas"...mas também foi um viveiro de dirigentes e militantes do PAIGC...

Recorde-se que havia dois clubes de futebol rivais em Bissau, o Sport Bissau e Benfica, e o UDIB (União Desportiva Internacional de Bissau). Os seus jogadores formavam, no incío dos anos 60, a base ou a quase totalidade da seleção de futebol da província da Guiné. Um terceiro clube era o Sporting Club de Bissau. E, fora de Bissau, destacava-se o Clube de Futebol Os Balantas de Mansoa, e ainda o Sporting Clube de Bafatá (já aqui referido várias vezes no nosso blogue, e que já existia pelo menos desde o tempo do Governador Sarmento Rodrigues).

Voltando à foto: o capitão, com a respetiva braçadeira, era o alf mil op esp Francisco Magalhães Moreira  (1º Gr Comb), o segundo da primeira fila, a contar da direita. O terceiro desta fila é o alf mil at inf António Manuel Carlão (2º Gr Comb), mais tarde destacado para o reordenamemto de Nhabijões (o maior ou um dos maiores da Guiné, no tempo de  Spínola).  Os restantes elementos eram  praças, uns operacionais e outros condutores. Com tempo e vagar, poderemos depois identificá-los..

Para já: na segunda fila, de pé, da esquerda para a direita, reconheço  o 1º cabo manut material João Rito Marques (se não erro), o 1º cabo aux enf Fernando Andrade de Sousa, o sold inf Arménio Monteiro da Fonseca (2º Gr Comb,  1ª secção), o 1º cabo escriturário Eduardo Veríssimo de Sousa Tavares e o 1º cabo Manuel Alberto Faria Branco (2º Gr Comb, 3ª secção (Do último elemento não me ocorre o nome, embora me lembre dele).



Foto nº 94 > Outtra equpa da CCA 12, não sei se era a C... Mas todos ostenta o cráchá da companhia > Na primeira fila, reconheço, da esquerda para a direita, o 1º cabo cripto Gabriel Gonçalves (que também camntava e tocava viola), o alf mil op esp Moreira, o fur mil Roda, o  Arménio e o João Rito Marques, o nosso cabo quarteleiro. 

Em cima, e da esquerda para a direita, reconheço o fur mil at inf António Manuel Martins Branquinho, o 1º cabo Branco, o sold condutor auto Alcino Carvalho Braga, o sold básico João Fernando R. Silva, um elemento de que não me ocorre o nome (mecânico ? transmissões ?) e , por fim, o 1º cabo aux enf Sousa.


Foto nº 97 > Mais craques da bola... A gloriosa equipa de futebol de onze  da CCAÇ 12 donde se destacam, entre outros os nossos tabanqueiros Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil At Inf, o primeiro, de pé, a contar da direita), o Tony Levezinho (ex-Fur Mil At Inf, o terceiro, na primeira fila, a contar da direita), o Arlindo Tê Roda (ex-Fur Mil At Inf, o quinto, na primeira fila, a contar da direita), e o João Rito Marques ( nosso cabo quarteleiro, 1º Cabo Manutençã de Material, que vive hoje em Sabugal)... Ainda na segunda fila, o terceiro a contar da esquerda, em tronco nu, é o 1º Cabo At Inf Carlos Alberto Alves Galvão (, que vive na Covilhã, e continua ligado ao associativismo desportivo). Não consigo identificar o jovem guarda-redes, que era um dos nossos soldados guineense.

Fardados, de pé, na segunda fila, da direita para a esquerda, 1º Sargento Cavalaria Fernando Aires Fragata (que foi depois fazer o curso de oficiais de Águeda, se não me engano; dei-lhe explicações de português; não sabemos se é vivo e onde mora); o 2º Sarg Inf Alberto Martins Videira (, vive ou vivia em Vila Real); 2º Sarg Infantaria José Martins Rosado Piça (,vive em Évora; e ainda pelo Natal falámos ao telemóvel); e o 1º Cabo José Marques Alves (que pertencia à 2ª secção do 2º Gr Comb, a secção do Humberto Reis, que chamava "Afredo" ao Alves:infelizmente, deixou-nos o ano passado)... 

Entre o Videira e o Piça, estão mais dois camaradas da CCAÇ 12, um fardado, soldaddo condutor auto é o Alcino Braga, e um à civil, cujo nome não me ocorre).


Foto nº 113 >  Desta vez, o nosso jovem guarda redes em ação



Foto nº 103 > Uma perigosa jogada do Arlindo Roda, acossado pelo alf mil inf Abel Maria Rodrigues (3º Gr Comb(, se não me engano...


Foto nº 99  > A> legenda podia ser: "A angústia do guarda.-redes antes do penalti"...


Foto nº 98 > O craque Arlindo Roda (1)


Foto nº 115 >  O craque Arlindo Roda (2)


Foto nº 106 > O craque Arlindo Roda (3)


Foto nº 102 > Aspeto parcial do campo de futebol de onze... Havia um outro, para futebol de cinco...


Foto nº 107 > Uma partida no tempo das chuvas (1)



Foto nº 111 >  Uma partida no tempo das chuvas (2)


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Fotos do álbum do Arlindo Roda (ex-fur mil at inf, 3º Gr Comb) quem, além de excelente fotógrafo, sempre foi um praticante de desporto, em Bambadinca, e nomeadamente de futebol.... Era também exímio jogador de cartas. E hoje sei que é craque do xadrez e das damas. Infelizmente não o vejo desde 1994...

Apesar da intensa atividade operacional, e das duras condições cimatéricas da Guiné (elevada tempatura e humidade do ar), os graduados e os especialistas da CCAÇ 12 gostavam de jogar à bola. Mais de um terço do grupo metropolitano (que não ultrapassava a meia centena), jogava à bola: que me lembre, todos os oficiais (incluindo o cap inf Carlos Alberto Machado Brito, hoje cor ref) jogavam à bola...

Dos furrieis operacionais, quase toda a gente jogava, até para se manter em boa forma física: lembro-me do António Branquinho (1º Gr Comb), do Tony Levezinho e do Humberto Reis (2º Gr Comb), do  Luciano Severo de Almeida  (já falecido) e do Arlindo Roda (3º Gr Comb), do António Fernando R. Marques e do  Joaquim Augusto Matos Fernandes [ 4º Gr Comb)... Ficavam de fora os não operacionais: o vagomestre (Jaime Soares Santos), o enfermeiro (João Carreiro Martins), o transmissões (José Fernando Gonçalves Almeida)... (Pelo menos não me lembro de os ver equipados e a correr atrás da bola: a única exceção seria talvez o 2º srgt inf Alberto Martins Videira)...

Eu, pelo contrário, acho que nunca dei um simples chuto numa bola, na Guiné... Tenho pena: ter-me-ia feito bem... Também me parece que o Joaquim João dos Santos Pina (1º Gr Comb) e o José Luís Vieira de Sousa (3º Gr Comb) também não eram muito "futebolerios"... Do fur mil MAR Joaquim Moreira Gomes, o furriel da "ferrugem",  também já não me lembro bem se jogava ou não... O 2º srgt inf Piça, que acabou por fazer as vezes do 1º sargento, chefiando a secretaria, também não jogava: tinha já os seus 38 aninhos, tal como de resto o capitão...

Fotos: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendas: L.G.]


1. A morte de um ídolo da nossa geração, e de uma imagem de marca de Portugal, o Eusébio da Silva Ferreira (1942-2014), levou-me a deitar mão das nossas fotos de arquivo, relacionadas com o futebol e as jogatanas que fazíamos no intervalo da guerra no TO da Guiné.

É também uma forma, nossa, singela, de homenagear,  no blogue da Tabanca Grande, o primeiro futebolista português e africano a ganhar a Bola de Ouro (1965), prestigiado galardão criada pelo jornal desportivo France Football.  Alguém lhe chamou o primeiro herói negro português... Filho de pai branco, angolano, e de mãe, negra, moçambicana, Eusébio acaba de entrar  hoje no Olimpo, espaço etéreo, mitológico, só reservado aos deuses e aos heróis.

Não sou muito dado às emoções futebolísticas, muito menos clubísticas. Em toda a minha vida, vi ao vivo, "in loco", dois ou três jogos de futebol, acompanhando o meu pai ... Uma ou duas vezes no antigo estádio de futebol do Benfica. E outra no estádio atual. Também tenho reservas mentais ao fácil unanimismo que a morte das figuras públicas desencadeia em Portugal, com os meios  de comunicação social (com destaque para a TV) a explorar, sem pudor e até à exaustão, as emoções dos vivos...  Mas ontem fui, de bom grado, ao Estádio da Luz, prestar uma anónima homemagem ao Eusébio, com o meu filho João, e, em espírito, com o "meu pai, meu velho, meu camarada", Luís Henriques (1920-2012)... Fomos lá por ele e pelo Eusébio, o "pantera negra" que deixou ontem de rugir...

Estamos todos de luto, Portugal, Moçambique, a lusofonia, a África e o Mundo. Mas foi bonita a homenagem de despedida que os portugueses lhe fizeram... Independentemente da origem, da cor da pele, da geração,  do clube, do credo religioso, da opção político-ideológica, dos ódios de estimação, dos preconceitos... de cada um. Fizemos, de algum modo, também a catarse de muitas das nossas perdas, nestes últimos anos ou até décadas, a começar pela perda de entes queridos, de amigos, de valores, de memórias, de líderes e de figuras de referência... É para isso também que o luto serve. (LG)


2. Depoimentos de amigos e camaradas (*)

(i) Cherno Baldé:


Caros amigos: Quem não se lembra da imagem do Eusébio, o Pantera Negra, banhado em lágrimas, à saida do mítico e fascinante estádio de Wembley e a legenda de "A Bola" com as palavras cheias de perplexidade e de interrogações sobre a derrota que Portugal e Eusébio acabavam de sofrer, assim nesses termos: "Quando um Homem chora, alguma razão há".

Em 1966, quando isso aconteceu, eu teria mais ou menos 6 anos e, é claro, , na altura, não podia nem ver e muito menos ler estas palavras de "A Bola", mas acontece que este acontecimento foi tao badalado e a imagem tão sacralizada que nos 10 ou 15 anos que se seguiram,  ninguém podia ficar indeferente.

Contou-me um colega de infância que, em 1987,  o Cavaco Silva,  então Primeiro Ministro de Portugal, veio a Guiné e com ele veio o Eusébio. E no decorrer de uma visita que fez ao Clube do Benfica de Bissau, afirmara que a derrota com a Inglaterra,  em 1966, tinha sido, antes de tudo, uma derrota política, isto é, que o regime de então, através da PIDE, não queriam perder um aliado tão importante como a Inglaterra, humilhando-a com uma derrota.

Hoje parece incompreensível que isto tenha acontecido, mas entra perfeitamente na lógica dos difíceis tempos de então, com Portugal cada vez mais isolado e a enfrentar várias frentes de guerra subversiva e com forte cariz ideológico, ao mesmo tempo.

Obrigado aos editores por terem repescado este pequeno naco das minhas lembranças de infância.

O caso de Eusebio serve também para relembrar,  aos que ainda duvidam,  que na altura não era importante e imprescindível nascer na Metrópole (Portugal de hoje) ou nascer branco e Europeu para amar, chorar, lutar e morrer por Portugal e a sua bandeira.

A proposito, há menos de um mês, durante uma viagem à aldeia, gravei a voz de um antigo milícia, meu familiar, iletrado,  que, ainda hoje, passados mais de 40 anos de recruta, consegue reproduzir na íntegra o hino de Portugal e o texto do cerimonial de jurar bandeira. Vou guardar, como diz o nosso amigo Torcato Mendonça.

Um abraço amigo,

Cherno Baldé

(ii)  António Rosinha:

Eusébio representou a imagem da Selecção de Portugal durante a nossa geração. Mas mais que os simples pontapés na bola, Eusébio para Portugal e para a Europa representou uma mudança no olhar de toda a Europa sobre os africanos.

Eusébio foi uma "lança na Europa".

Eusébio representa uma portugalidade com mais de 500 anos.

Eusébio, embora através da bola, é de um simbolismo que ultrapassa o futebol.

(iii) Hélder Sousa: 

Caros camaradas: A 'magia do futebol' não tem nenhuma culpa do que os 'poderes instituídos' fazem, ou possam fazer, para aproveitar as emoções populares.

Isto vem a propósito de já ter visto escrito por aí, na net, aliás como é costume em situações similares, algumas palavras mais 'azedas' por causa da 'excessiva visibilidade' dada a este caso do falecimento de Eusébio. E o facto do Poder, que tanto descontentamento tem produzido, ter decretado 3 dias de luto nacional também contribui para essas animosidades.

Mas a grande verdade é que o futebol, para além dos grandes negócios e interesses que move, é um desporto ao alcance das grandes massas populares, em qualquer lugar se pode jogar, estreita relações, fomenta amizades e pode ajudar a esbater diferenças. Daí que o poder, em qualquer tempo, em qualquer lugar, tenha sempre a tentação de o utilizar.

Não são raros os relatos que contam como durante os tempos dos grandes jogos, fossem da Selecção, fossem entre clubes com maior visibilidade, não haviam 'ataques' ou 'flagelações' às nossa posições.

E este relembrar do que o Cherno nos dá conta é igualmente uma indicação forte de como o futebol fascina, atrai e consolida relações e recordações.

Que viva Eusébio!

Abraços, Hélder S.

(iv) António  Carvalho:

Caríssimos:b Esta figura muito real do Cherno, nosso amigo muito querido, continua com as suas interessantíssimas crónicas, para nosso regalo e para proveito da história e dos historiadores que a hão de fazer.
Na verdade, o ângulo sob o qual o Cherno narra a "guerra", é de uma importância crucial para a percebermos. Então, como se depreende dos episódios que aqui nos vai narrando, os meninos da tabanca funcionavam como elos de ligação entre nós combatentes e a população, assumindo-se assim como portas netre o espaço do quartel e a comunidade autóctone. É certo que, nalguns casos, a geografia do quartel coincidia com a da comunidade civil mas, mesmo assim, era de grande utilidade a colaboração da criançada no estabelecimento de uma boa relação com a população senior até pela sua rápida aprendizagem da nossa língua. Lembro-me bem da doçura de muitas meninas e meninos e como os seus sorrisos mitigavam o nosso sofrimento.Na verdade, nem sempre retribuíamos essa doçura. O Cherno fala disso com toda a verdade e com alguma diplomacia...ele é um fazedor de paz. Por isso a minha gratidão.

Um abração, Carvalho de Mampatá.

(v) C. Martins:

Estou triste .. muito triste..morreu o meu ídolo de infância.

Conheci-o pessoalmente através de um amigo comum e posso assegurar que era mesmo como dizem.. humilde.. generoso.. companheiro.. preservava a amizade acima de tudo.

Partiu cedo demais..mas como esse meu amigo, infelizmente também já desaparecido, dizia..."foi-se mas gozou a vida".

EUSÉBIO É ETERNO..VIVA O EUSÉBIO.

C.Martins


(vi) Tony Borié

 Olá,  Cherno:  "…nós éramos crianças e naturais da terra, na altura, não sentíamos o efeito do calor…". Era verdade, vocês viviam em redor de nós, lá no aquartelamento, que tínhamos vindo da Europa, com roupa camuflada, sofríamos entre outras coisas o efeito do calor e cá dentro, no fundo, também queríamos brincar à bola, também tínhamos os nossos heróis da bola, pois ainda éramos "umas crianças", mas um pouco mais crescidas.

Cherno, gostei do teu poste, onde lembras os teus amigos e heróis de criança, o Eusébio, não passava despercebido a quase ninguém, também era o meu herói, esteve comigo por duas vezes, uma vez em sentido, na "formatura" na parada de recolher, no Depósito Geral de Adidos, em Lisboa, onde eu estive temporariamente, no final, quando "sargento dia" mandou destroçar, fui junto dele e cumprimentei-o, outra vez aqui na cidade de Atlantic City, onde houve uma festa num Casino, assinalando o "Dia de Portugal".

Era uma figura de Portugal, era um "Embaixador", por sinal muito educado, paz à sua alma.

Um abraço Cherno, Tony Borie.

(vii) J. L. Fernandes:

Caro amigo Cherno Baldé

Os dois últimos parágrafos do teu comentário, atingiram-me o coração e os olhos arrasaram-se de água, água pura... pela dor imensa, de tanto sofrimento em vão.

Que pelo menos nos fique esta certeza;
- A de podermos continuar a ser irmãos.

Um abraço fraterno
JLFernande

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Nota do editor: