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sábado, 15 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26586: O melhor de... Mário Gaspar (1943-2025), ex-fur mil, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68) - Parte I: "Estou cego, cego..., não vejo, nada, merda!"

1. Mário Vitorino Gaspar (1943-2025) vai hoje descer à terra da verdade, no cemitério de Camarate, Loures (*). 

Em sua homenagem vamos selecionar alguns dos seus melhores postes. Além de ter escrito o livro "O Corredor da mortes" (2014), foi autor, no nosso blogyue, da série "Recordações de um Zorba".

 Foi fur mil, MA, CART 1659, "Zorba (Gadamael e Ganturé, 1967/68) (divisa,: "Os Homens Não Morrem").


Excerto do capítulo 15 do livro de memórias do “O Corredor da Morte” (ed. autor, 2014):


Dia 15 de Janeiro de 1968 (…), tinha sido chamado na véspera ao capitão que considerou a utilidade de irmos buscar o correio a Sangonhá, assim patrulharíamos a zona. (…).

As tabancas alinhavam-se à direita. Aproximavam -se os Soldados Nativos e as Praças “U”.

Dei um nó no lenço que colocara ao pescoço. Um lenço de seda que me dera a minha namorada quando estivera de licença em Portugal. Era também “ronco”, como lhe chamavam os nativos.

O cabelo estava demasiado comprido. Gostava assim. Além disso, a barba. Há quantos dias que não a fazia.

O camuflado, uma miséria, parecia que velhice o engolia aos poucos. Tinha que me confundir com os negros no mato. Assemelhava-me, talvez.

Com o pessoal todo preparado, encaminhámos os nossos passos para a “porta de armas”, se é que poderíamos chamar àquilo tal nome. Seriam duas secções e os Caçadores Nativos e as Praças “U”. O total seria de uns quarenta homens. Não ia qualquer Oficial, seria eu a comandar.

Logo que passada a porta de armas, ficámos automaticamente com as distâncias controladas. Nunca íamos a monte, nem sequer era necessário dizer-se. As picas avançavam ao solo, massacrando-o com ato delicioso. Os arames rompiam pela terra. O trilho estava seco. A pica chocava no terreno, procurando um objecto que impedisse a perfuração. Eram as “carícias” daqueles arames de ferro, instrumentos improvisados. Eram sem dúvida nenhuma os melhores detetores de engenhos explosivos.

À frente ia o guia, logo a seguir, a uma distância de sete ou oito metros, um soldado. Separava-nos por volta dos sete metros da frente para trás. À esquerda e à direita. Todos a picar. Eu seguia o guia, Praça “U”, que picava, com uma certa minúcia. 

Tinha notado, já há algum tempo, que dois soldados que iam à minha frente depois de eu recuar, mais parecia quererem brincadeira. Algo de estranho se passava entre os dois. Saltei para a berma direita, colocando-me entre os dois, fiz sinal para terem cuidado. Mudei-me logo para de trás dos dois soldados e continuei a picar.

No meio daquele silêncio profundo, senti um frio percorrer-me o corpo. O cérebro, a espaços, estagnara oco. Nem o vento, as folhas ou viva força da natureza.

 Vamos a ter cuidado  – disse-lhe em voz baixa – é picar como deve ser.



Capa do livro, publicado em 2014, em edição de autor.
Prefácio do psiquiatra Afonso de Albiquerque.


Olharam-me, quase como envergonhados, sorrindo de seguida. Transportava, como todos, a G3 sobre o ombro esquerdo, enquanto a mão direita segurava a pica. As Praças “U” e os Caçadores Nativos batiam com a pica na terra que parecia ser acarinhada pelo arame. Continuei a avisar os dois soldados que me antecediam. Afastei-me para a berma contrária. O silêncio preocupava-me.

Olhei para trás. Estavam algo eufóricos. Desconhecia o motivo de tal. Seria a correspondência? Não sabia explicar. A verdade é que a alegria é contagiante. Estávamos na guerra, ali não havia espaço nem tempo para a nostalgia daquelas paragens sufocantes e doentias. O meu lenço de seda estava encharcado em suor. Coloquei o nó mais à frente. Notava a anormalidade de comportamento nos dois soldados da minha secção, colocados na berma do lado direito.

A uns vinte metros à frente, do mesmo lado, o guia parou por instantes, enquanto picava. Os dois soldados seguiam-no, ouvindo aquilo que a Praça “U”, transmitira baixo. O soldado que vai à minha frente espeta a pica, com raiva. Um estoiro. Um rebentamento forte. O guia foge para a frente. Apontei-lhe a G3, não sabendo explicar tal ato.

 Alto! – gritei-lhe. – Para aqui já!

O militar negro parou e aproximou-se de nós. Num ápice todos se lançaram para a berma. Era o conhecimento prático, os ensinamentos daquela guerra de guerrilha. O guia estava entre nós.

 
– Mina! – gritou o soldado que vinha na minha retaguarda, respirando fundo.

Eu era o único que continuava de pé. Rebentando mina, armadilho ou fornilho, acontecia haver uma forte probabilidade de emboscada. De pé e o coração rompia do peito martelando-o, mas como sempre, mais lúcido, uma lucidez difícil de explicar. Numa fracção de segundo. Mais calmo que anteriormente. Também não entendo. A serenidade fazia parte integrante do “eu”. Era talvez como se tivesse ingerido um calmante. O cérebro respondia na íntegra. Deixei de tremer. Transformara-me,  como por milagre, num ser diferente.

Ouvi gritos que penetravam não só nos ouvidos, mas também no corpo e no espírito. Excluindo eu e o guia,  todos tinham sido atingidos pela mina. 

A minha experiência como especialista de explosivos, minas e armadilhas dizia-me que era, mais uma vez, uma PMD 6, vulgarmente conhecida por “saboneteira”. Uma antipessoal, que possuía mais o efeito psicológico. O que parecia estar pior era o soldado que ia à minha frente, com o rosto de menino, coberto de sangue. Fechava os olhos. O camuflado estava repleto de estilhaços e também de sangue que haviam atingido também o rosto, na zona da vista. Sofria. Aquele sangue do corpo jovem molhava o trapo.

O outro que o seguia era quase o vivo espelho do primeiro, com mais estilhaços talvez. Continuava a não entender porque teria picado com tanta violência. Quereria matar a mina? 

Gritei para o radiotelegrafista, depois de pedir a um soldado que o chamasse:

– Aqui já! – fiz sinal ao condutor para virar a viatura.

–  Informe Gadamael Porto que temos evacuações para fazer, umas seis ou sete.

Disse ao radiotelegrafista com calma: 

 – Não é grave!

A GMC tinha já dado a volta. Havia que evacuar os feridos. O soldado que tinha sido atingido no rosto, desabafou, com dores:

– Estou cego, cego..., não vejo nada, merda. Estes filhos de uma puta nem nos deixam ir buscar o correio!

Não via as lágrimas, elas agarravam-se ao sangue que continuava a correr do seu rosto.

 
– Calma rapaz, vamos para Gadamael, não fazemos aqui nada, as evacuações não podem ser feitas daqui! – disse eu.

Aproximei-me dos feridos. Um gemia em tom demasiado baixo:

– É pá como vai isso? – perguntei-lhe, sorridente, pretendo incutir-lhe a calma e fé que necessitava, enquanto pedia ao telegrafista que pedisse as evacuações.

–  Sinto picadas nas pernas. São os mosquitos todos da Guiné que me chupam o sangue – respondeu.

O sangue manchava os camuflados. Julgava serem os três únicos que necessitavam de evacuação, muito embora outros tivessem sido atingidos. A mina era de fraca potência. Feita de madeira, com algum arame. Disse para o condutor:

 
– É a abrir sempre até Gadamael, não é necessário picar... – disse-lhe em altos berros.

Logo que arrumados na caixa da GMC, a mesma arrancou, com sete feridos e mais quatros homens. Uma secção de Ganturé, chegava com três viaturas. Subimos todos e com alguma velocidade, chegámos ao cruzamento. A secção de Ganturé saiu e continuámos até Gadamael Porto. Não era necessário picar. Gadamael estava à vista. Já se viam os militares da nossa companhia de calções e tronco nu. A GMC estava junto daquilo a que chamavam pista. Todos aqueles a evacuar estavam deitados em macas.

O furriel enfermeiro e o 1º cabo auxiliar enfermeiro encontravam-se junto dando o apoio, limpando os ferimentos e retirando os camuflados. O primeiro soldado atingido, e o que estava em situação mais grave, estava mais sereno. Aproximei-me, eram cinco corpos.

Um murmúrio aqui, outro acolá, nasciam das gargantas daqueles jovens, mas homens de verdade. Homens com um “H” grande.

Ouvia-se o roncar dos helicópteros. Eram dois.

O meu cabelo comprido foi sacudido pelo ar em movimento. Vento.

O capitão estava junto do primeiro helicóptero. Desceu a enfermeira paraquedista de calça camuflada e camisola de um branco lavado. Sobressaíam uns seios rígidos. A enfermeira era de cor branca. A única branca naquele local afastado da civilização. Uma mulher branca, era impensável. Bem torneada!
Aproximou-se das macas, balanceando as ancas.

 
– Como está? – perguntou ao soldado que tinha sido atingido na vista. – Está bem?

- É muito boa! – respondeu rapidamente o soldado.


Via-se um sorriso naquele homem. Já havia ganho esse estatuto há algum tempo. O capitão, referiu:

– Não ligue, ele não sabe aquilo que diz!

– Já estou habituada! – respondeu a enfermeira com um sorriso.

Os helicópteros levantaram dos torrões da pista e desapareceram no horizonte.

(Revisão / fixação de texto, título: LG)


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Nota do editor:

(*) Vd. poste de 15 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26585: In Memoriam (539): Mário Vitorino Gaspar (1943-2025), ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)... O funeral é hoje, às 15h45, no Cemitério de Camarate, Loures

Guiné 61/74 - P26585: In Memoriam (540): Mário Vitorino Gaspar (1943-2025), ex-fur mil art, MA, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68)... O funeral é hoje, às 15h45, no Cemitério de Camarate, Loures

 

Mário Gaspar (1945-2025)

1. Mais uma notícia profundamente triste, que nos chega ao conhecimento, através da página do Facebook do Carlos  Pedro Marques Gaspar, filho do nosso camarada Mário Gaspar, com data de ontem, sexta, de manhã:

É com profundo pesar que comunico a morte do meu pai Mário Vitorino Gaspar e que as cerimónias fúnebres terão início hoje, a partir das 17h, com velório na Igreja do Campo Grande (Igreja dos Santos Reis Magos - Paróquia do Campo Grande).(*).

Amanhã, sábado, às 15h45, será realizada a despedida final no Cemitério de Camarate.

Obrigado.

Fonte: Página do Facebook de Carlos Pedro Marques Gaspar




Mário Gaspar
2. O Mário Vitorino Gaspar, ex-fur mil art,  minas e armadilhas, CART 1659, "Zorba" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), integrava a Tabanca Grande desde  8/12/2013 (*). 

Tem 144 referências no blogue (**). Eis uma breve nota biográfica:

(i) nasceu a 9 de abril de 1943  na freguesia de Santa Maria, em Sintra;

(ii)  foi alistado em 27/7/63 e incorporado em 3/5/65, de acordo com a sua caderneta militar;

(iii) viveu em Alhandra desde os 3 anos; "vila industrial, foi aí que aprendi a ser Homem, embora tenha estudado no então famoso Externato Sousa Martins, em Vila Franca de Xira";

(iv) "desde os meus treze anos namorei com uma sueca, linda boneca, Ingrid Margaretha Gustavsom: Alhandra foi a minha Universidade, tive como Professores Sábios Avieiros e os Operários";

(v) à vila de Alhandra, no concelho de Vila Franca de Xira, estão ligados os nomes de grandes portugueses como Afonso de Albuquerque (Alhandra, 1452 -Goa, 1515), o médico Sousa Martins (Alhandra, 1843- Alhandra, 1897) (que o povo transformou em santo) ou o escritor Soeiro Pereira Gomes (Baião, 1909 - Lisboa, 1949), autor de "Esteiros" (1941) (obra ilustrada por Álvaro Cunhal, e dedicada aos "filhos dos homens que nunca foram meninos");

(vi) durante a pandemia de Covid-19, o Mário foi  também um dos nossos bons e fiéis companheiros, mandando-nos quase todos os dias emails, alimentando o nosso blogue com imenso material, desde poemas a vídeos, mesmo que muito desse material  não fosse publicável, por razões editoriais (por exemplo, tudo o que era referente à atualidade política, social e cultural);

(vii) foi também um exemplo, corajoso, de um camarada nosso que, apesar dos seus inúmeros problemas de saúde nos últimos anos, conseguiu remar contra a maré da infelicidade, e ensinar-nos a maneira como podíamos envelhecer,  ativa, proativa, produtiva e saudável:  escrever no nosso blogue ou em boletins como  "O Olhar do Mocho", era  um dos muitos meios que ele apontava, e que praticava;

(viii)  trabalhou  perto de 30 anos na Dialap - Sociedade Portuguesa de Lapidação de Diamantes, SA : "éramos nós, Portugueses, os Melhores Lapidadores de Diamantes do Mundo, e a Dialap talvez a maior Empresa de Portugal";

(ix) era DFA - Deficiente das Forças Armadas;

(x) foi cofundador e dirigente da APOIAR -  Associação de Apoio aos Ex-Combatentes Vítimas do Stress de Guerra.

O último mail que recebemos dele,  foi no dia 9, há seis dias. A Tabanca Grande apresenta à família os votos de pesar pela morte do seu familiar, e nosso amigo e camarada Mário Gaspar. Que descanse finalmente em paz.


 
Capa do livro de memórias que publicou em vida, em 2014, 
com prefácio do psiquiatra dr. Afonso de Albuquer

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sexta-feira, 14 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26584: Notas de leitura (1780): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2025:

Queridos amigos,
Se é verdade que uma imagem pode valer por mil palavras, a fotografia que mostra o governador Carvalho Viegas em Canhabaque, no início de 1937, é dada então como pacificada toda a região dos Bijagós, bem como a Guiné por inteiro, veja-se a encenação da postura, o branco imaculado da indumentária, apagando tudo o resto, de facto o que fica atrás é uma sombra, ele representa a civilização, uma cultura superior, é mesmo um agente político da Cristandade, a tal Babel Negra tem as suas hierarquias entre as etnias superiores e as que estão no último escalão, as animistas. O que Philip Havik trata primorosamente neste seu ensaio é a evolução a partir desses anos da pacificação de como o branco vê o negro, escalpeliza esse imenso manancial que são os relatórios que vão para Bolama e de Bolama para o Terreiro do Paço.

Um abraço do
Mário



Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné:
Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 2


Mário Beja Santos

Importa recapitular o que já se escreveu quanto ao conteúdo deste artigo. Em concreto, ao lingo da história da presença portuguesa na região da Senegâmbia a observação do Outro pelo cronista, navegador, viajante, autoridade local, missionário, não podia, por razões óbvias, proceder a inventários de etnias, áreas ocupadas, dados culturais e religiosos, modos de vida, natureza do potencial económico, etc., etc., só a consagração de um espaço que devia ser ocupado levou a que os governadores fossem obrigados a enviar ao ministro da Marinha e do Ultramar relatórios, e que a partir do Bolama fossem implicados os administrados de circunscrição e chefes de posto a emitirem relatórios, com base em questionários que se foram modificando ao longo de décadas.

Não se pode pedir a Zurara, Diogo Gomes, Cadamosto, Pedro de Sintra, Valentim Fernandes, André Álvares de Almada, André de Faro, André Donelha, Francisco Lemos Coelho, e mais tarde, entre os séculos XVIII e século XIX, aos autores de memórias e documentos endereçados às autoridades de Lisboa, o que se vai agora pedir à administração colonial local. Como se viu, foi necessária também um quadro de pacificação e ocupação relativa, começam a aparecer monografias dirigidas a Bolama, há peças sugestivas que tive a possibilidade de ler nos Reservados da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Tudo começa com estudos etnográficos incipientes, o governador Carlos Pereira publica em 1914 um documento importante com base na sua participação numa conferência internacional, ganha realce o anuário de 1925, começam a aparecer dados do primeiro recenseamento colonial de 1924, atiram-se números incomportáveis como o de dizer que havia 770 mil habitantes na Guiné, constata-se hoje que a produção do departamento de assuntos indígenas foi menor, o governador Vellez Caroço conduzirá no cargo um sobrinho seu que deu uma certa consistência e qualidade às informações dadas.

As autoridades locais nunca deixam de revelar nos seus relatórios a penúria constante de fundos e a inexistência de um estudo etnográfico com fundamentos científicos. Philip Havik chama à atenção para uma missão de um etnógrafo austríaco, Hugo Bernatzik, que no fundo vem fazer o que os portugueses não faziam, não se escondia a clamorosa existência de dados que dessem expressão a um estudo para o conhecimento das etnias (naqueles tempos falava-se em raças). O major Carvalho Viegas, será governador durante alguns anos, fez da segregação entre africanos e europeus a pedra angular da sua política, importa não esquecer que havia legislação que consagrava a compartimentação de espaços entre brancos e negros, seria o caso de uma viagem de comboio de 3ª classe, o europeu podia transferir-se para a 2.ª classe, caso a viagem fosse demorada. Havia a ideia de “degenerescência” racial nas comunidades etnicamente puras, não esquecer que em toda a documentação oficial ou não se refere de forma trivial o civilizado e o indígena.

Mas a realidade era mais forte. A mobilidade populacional incitava a que se procurasse ter uma compreensão para os hábitos, costumes e tradições, e mesmo o estudo das instituições sociais e políticas destes diferentes povos, pensava-se que era a única maneira de os ganhar para a nossa civilização cristã. Daí o modo como foi recebida a publicação Babel Negra, em 1935, de autoria de Landerset Simões (um funcionário que virá a ser expulso dos quadros da administração), apareceu como um acontecimento importante na etnografia colonial da época.

O autor vai agora abordar a produção de dados etnográficos no decurso de três fases distintas: durante todos os últimos anos que precedem a ocupação militar, nos anos de 1920, quando a administração portuguesa se estabeleceu sobre o território, e nos anos 1930 quando o Estado Novo se impregnou do discurso colonial. Os primeiros relatórios vindos das residências utilizam a norma de referência masculina, dá-se pouca atenção às mulheres, o nível de submissão feminina é sempre revelado, as mulheres são dadas em casamento numa idade muito precoce, é obediente ao marido e quando este morre é transferida para a posse do herdeiro. A tradição da poligamia reserva à mulher a maioria dos trabalhos, inibe-a da mobilidade social. Ela está desprovida de direitos de propriedade, de herança ou de sucessão, são pessoas secundárias; os homens, ao contrário, aparecem imbuídos de autoridade, são eles que tomam decisões. O espaço social é segregado em função dos sexos.

A monografia de Ernesto Vasconcelos, datada de 1917, segue exatamente este itinerário, fala em raças semitas ou hamitas e na raça negra repartidas em numerosas tribos e subtribos. A inferioridade que se dava aos africanos, aparece escrita como uma verdade definitiva: o africano não tem a noção da palavra honra, ele não se sente constrangido por qualquer compromisso a não ser sob juramento ou profundas razões de religiosidade. E daí, os autores destes relatórios puderem livremente hierarquizar as “civilizações”, no topo estão os grupos islamizados e na base os animistas, caso dos Nalus e dos Bijagós. Há ainda também uns tipos sociais indeterminados, caso dos Grumetes, dos mulatos e “Brancos”.

Estamos num tempo em que se consolida a autoridade colonial, e adverte-se os interessados que para tirar partido destas raças guerreiras, destes agricultores e gente preguiçosa impõe-se um fino espírito político, é preciso guiá-los como um jogador de xadrez que dispõe as suas peças para a vitória final. Tomando como referência as observações dos administradores que responderam ao inquérito de 1927, constata-se que eles fornecem um panorama um pouco mais detalhado das tradições indígenas, mas continua-se a falar nas diferentes raças, sub-raças e tribos. Os autores destes relatórios não escondem a sua falta de conhecimento em etnologia, mas procuram uma abordagem, mesmo que superficial das tradições e práticas africanas. Se no inquérito anterior se punha uma grande insistência nas características físicas, agora relevam as tradições apresentadas face a exemplos concretos e que se fazem acompanhar de medições corporais de classificações segundo uma tipologia racial e começam a fazer-se descrições detalhadas da circuncisão praticada em homens e mulheres nos diferentes grupos; e quase com uma precisão médica aborda-se a gravidez e o parto e até a escarificação. O adultério feminino considerado habitual merece destaque pelas formas de punição, a transmissão matrilinear também passa a ser descrita com frequência, insinuando sempre a suspeita de infidelidade das mulheres do pai. Continuando neste itinerário, os relatórios falam sobre a divisão de trabalho entre os sexos, as hierarquias internas no grupo familiar, etc.

Estamos chegados aos anos 1930, aparece a primeira monografia etnográfica com o inventário das tradições orais das principais “raças ou tribos”.

Carnaval na Guiné-Bissau: toda a diversidade étnica à mostra
Os Balantas
Os Fulas
Os Manjacos
Os Mandingas
Os Bijagós
(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 7 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26561: Notas de leitura (1778): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 1 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 10 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26571: Notas de leitura (1779): Habitação para indígenas em Bissau, 1968 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26583: Agenda cultural (879): "Guerra à Guerra", pelo Grupo de Teatro Lethes, dia 14 de Março de 2025, pelas 21h30, no Auditório do Instituto Português do Desporto e Juventude


1. Mensagem do nosso camarada Eduardo Estrela, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 2592/CCAÇ 14, (Cuntima e Farim, 1969/71) com data de hoje, 14 de Março de 2025:

Só agora me lembrei mas ainda vou a tempo de dar conhecimento do espectáculo que hoje vamos dar no auditório do IPDJ em Faro.
Vamos repetir em 5 de abril no Clube Farense, em duas sessões.
Andamos a lutar com falta de espaço para desenvolver a nossa actividade. Hoje e em 5 de Abril, eu, o Joaquim Teixeira e o Madeira Guerreiro, três oponentes do PAIGC e do poder político instalado em Lisboa, vamos contribuir com mais uns quantos "guerrilheiros" da fraternidade, para um pequeno engrandecimento das coisas da arte e da vida.


Grande abraço
Eduardo Estrela

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Notas do editor

- Ver aqui notícia do evento: https://ipdj.gov.pt/eventos/teatro-guerra-a-guerra

- Último post da série de 17 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26505: Agenda cultural (878): Convite para o lançamento do livro "Liberdade ou Evasão", da autoria do Major Piloto-Aviador António Lobato (1938-2024), dia 28 de fevereiro de 2025, às 16h30, no Salão Nobre da Liga dos Combatentes - Rua João Pereira da Rosa, 18 - Lisboa

Guiné 61/74 - P26582: As nossas geografias emocionais (48): Bissau, Bairro da Ajuda (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)



Foto nº 1A - Guiné > Bissau  Bairro da Ajuda > Outubro de 1967 > "Iniciado em 1965. Mandado construir por Sua Excelência o Governador da Província,  General Arnaldo Schulz, sob a direção da Administração do Concelho de Bissau". 


Foto nº 1 - Guiné > Bissau > Bairro da Ajuda > Outubro de 1967 > O alf mil SAM Virgílio Ferreira, mais um militar guineense, junto ao monumento que sinalizava a construção deste bairro suburbano.



Foto nº 2  - Guiné > Bissau > Bairro da Ajuda > Outubro de 1967 > Vista parcial do bairro (1)


Foto nº 2A  - Guiné > Bissau > Bairro da Ajuda > Outubro de 1967 > Vista parcial do bairro (2)


Foto nº 3  - Guiné > Bissau > Bairro de Santa Luzia > 1969 >  Estrada de Santa Luzia, ao cair da noite.


Foto nº 4  - Guiné > Bissau > Bairro de Santa Luzia  > Outubro de 1967 >  Uma moça cabo-verdiana com quem convivivi.


Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Bissau >  Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil) > Posição relativa do bairro do Cupelon, ou "Pilão", como diziam os "tugas" (assinalado com retângulo a amarelo)... Hoje é conhecido como Cupelum. 

Fica(va) à esquerda da nossa conhecida estrada de Santa Luzia, portanto paredes meias com o QG/CTIG, em Santa Luzia... O Pilão fazia parte das nossas geografias emocionais... 

A noroeste,  a seguir a Missirá, no sentido de Brá e Bissalanca, ficava o bairro da Ajuda, reconstruído entre 1965 e 1968 (assinalado a azul), após um pavoroso incêndio. Do outro lado da estrada, era o HM 241.

A oeste e sudoeste da cidade, ficava Bandim (famosa pelo seu mercado a céu aberto) e Chão de Papel (onde nasceu o nosso querdido Estácio)
´
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



1. Mensagem do Virgílio Teixeira (ex-mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 19567/69):


Data - quinta, 27/02/2025, 02:08

 Luis, boa madrugada.

Acerca deste poste de hoje sobre as entranhas do Pilão e outras (*), estou a ficar confuso, acho que não há nada certo.

As pessoas devem saber pouco do assunto e alguns falam aquilo que ouviram e acrescentam 10 pontos.

Quem sabe mais disto do meu tempo sou eu, que tinha uma grande facilidade de transporte para percorrer aquilo tudo (**) e o Pilão em particular, ao ponto de lá ficar muitas noites, sozinho e nunca me aconteceu nada nem vi nada de estranho, mas ouvíamos falar!

Já estão a pôr o Pilão no bairro de Bandin à entrada da capital!

O bairro da Ajuda está aqui documentado, ficava perto do HM241,em frente, para  quem seguia para Bissalanca. Fiz uma visita pormenorizada ao novo Bairro, mas não sabia da tal explosão e fogo em 1965. (***)

O Pilão ficava atrás do Palácio do Governador, quem descia de Santa Luzia, ver foto, virava à direita e aí estava ele. Não sei se era preciso coragem ou não, na minha motoreta ia a todo lado sem depender de ninguém.

A minha ingenuidade levava aquilo que eu chamo de "as minhas loucuras na Guiné". Posso dar mais um contributo para a procura da verdade, que não é uma questão sagrada.

Isso dá trabalho e pode causar conflitos de interesse, tenho muitas histórias, umas de contar aqui e outras não é possível. E posso desiludir muita gente como a mim me desiludiram sobre o trabalho que tive com os CA dos BR no CTIG (****). (E não houve nenhum comentário ou pergunta a não ser da tua parte. Hoje já não o faria se soubesse o que ligavam a isso. Mas ficou escrito, coisa que nunca tinha pensado fazer.)

Temos de ter em atenção os períodos a que nos referimos e só respondo pelo meu tempo. Não havia nada que não fosse visitavel, eu além da vantagem de não depender de ninguém, não tinha mais ninguém a mandar em mim. Só as minhas motorizadas e a lanterna, além das câmaras fotográficas.

A minha pena, que não tem remédio,  é que centenas de fotos foram queimadas devido a um acidente doméstico, além das milhares de folhas de cartas que as perdi, à exceção de 5 que guardo. Ali tinha a minha história toda e hoje só aquilo que me lembro.

Ontem tive um dia cheio de acontecimentos, a começar pelos exames, TAC s e fui para a cama com uma grande dor de cabeça, que já passou. A ansiedade também mata!

Diz por favor o que achas do meu projecto a que chamo de "O Pilão do Meu Tempo". Acho que tive muita sorte no fim de tudo.

Agora passadas as coisas das guerras,  temos o que nos resta, aquilo que deixamos ficar com aquela boa gente..

São 2h da madrugada é quando tenho mais disposição para escrever.

Abraço, Virgílio.

2. Comentário do editor LG:

Virgílio, não gosto da expressão elistista, preconceituosa, "dar pérolas a porcos"... Quando fui professor, tinha colegas que me diziam isso, por causa da "minha excessiva" preocupação em dar textos de apoio (meus!) aos alunos...

A gente partilha o que sabe e pode, e a mais não é obrigado... Como editor do blogue, só tenho que agradecer a tua generosidade. Os interesses e conhecimentos dos nossos leitores são muito variados, leem e comentam o que lhes interessa... É verdade que  nem sempre os autores têm aqui o "feedback" que deviam merecer. Mas também temos que saber captar a atenção dos outros... 

Foi se calhar o caso do teu poste, que te deu tanto trabalho,  sobre os conselhos de administração dos batalhões de reforço no CTIG. Mas é como dizes, o assunto ficou documentado, é  menos  um buraco no "puzzle" da nossa memória da Guiné (que é uma manta de retalhos). 

A gente não está aqui para ganhar audiências.  Como dizes, e bem, "agora passadas as coisas das guerras temos o que nos resta, aquilo que deixamos ficar com aquela boa gente"... 

Por exemplo, considero um "achado" a tua foto no bairro da Ajuda,  tu posando junto à placa comemorativa do início daquele "reordenamento",  depois do incêndio de 1965. Claro que hoje já não está lá, deve ter sido sido vandalizada, destruída, arrancada.  Mas tudo tem uma história, princípio, meio e fim, e há por certo gente que lá vive e continua a adorar o seu bairro, que faz este ano 60 anos...

Já que tinhas uma motoreta e fizeste a  fotorreportagem possível da Bissau do teu tempo, pois então continua a partilhar connosco essas tuas memórias. Mas tens que aceitar que a maior parte de nós só conheceu Bissau "de passagem"... Eu, por exemplo, não sabia nada sobre  este e outros bairros populares, que cresceram com o êxodo provocado pela guerra: no teu tempo, a periferia de Bissau já teria mais de 30 mil habitantes... Hoje deve viver meio milhão de pessoas em Bissau, a maior parte em condições muito precárias...

Bissau, a Bissau, de ontem, hoje e amanhã, continuará a fazer a parte das nossas "geografias emocionais"... 

quinta-feira, 13 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26581: Consultório Militar do José Martins (86): Direitos do Antigo Combatente após o seu falecimento e dos cônjuges sobrevivos


1. José da Silva, numa troca de mensagens por ocasião da morte do seu pai, o nosso camarada Valdemar Queiroz, punha ao editor Luís Graça a seguinte questão:

Sr. Graça,
[...]
Não sei se me poderá responder a esta pergunta, e é em relação a uma pensão dos combatentes da guerra colonial. O meu pai usufruia dessa pensão? E onde posso eventualmente informar disso. Para ser sincero não me recordo de ele me falar deste assunto...

Com os melhores cumprimentos,
Zé da Silva



2. Fomos consultar o nosso colaborador permanente, José Martins, que respondeu com a mensagem abaixo, que reproduzimos por ser de interesse dos demais camaradas combatentes e familiares:

Caro José Silva

Permite que apresente as minhas condolências, pelo sucedido. Todos estamos na "fila de espera".

- Quanto ao corpo ser velado coberto pela Bandeira Nacional, não é consensual a forma da concessão da Bandeira.

Essa parte tem que ser requisitada ao Gabinete de Protocolo da Câmara Municipal de residência.

Uns municípios entregam à família a Bandeira Nacional de 4 panos, cujas medidas cobrem a totalidade da urna que, a no meu entender, era o que devia acontecer.

Porém, como no articulado existe a expressão "devem ceder", alguns municípios entendem que apenas deve ser emprestada, passando essa cedência para a funerária.

Verão o que vos dizem e, como já vi que o prestador do serviço é conhecido, poder-vos-á ajudar. Há quem não queira ficar com a bandeira em casa, depois do serviço que prestou.

- As funerárias, normalmente, ocupam-se de várias demarches quanto ao encaminhamento da documentação, sobretudo com a segurança social.

- Se, na altura da apresentação do pedido de reforma o Valdemar solicitou o Complemento Especial de Pensão, que é pago uma única vez por ano, em outubro,
 deveria receber um montante que varia com o tempo de comissão em zona de guerra. No caso a Guiné era, na totalidade, zona de guerra ou zona de 100%.
O Suplemento Especial de Pensão varia em função da duração da bonificação do tempo de serviço militar. Os valores em 2025, são os seguintes:

• Até 11 meses: 93,50€
• Entre 12 e 23 meses: 124,65€
• Igual ou superior a 24 meses: 186,95€

O Suplemento Especial de Pensão é pago uma vez por ano.

- Os direitos que o combatente tinha - pensão, direito a transportes públicos gratuitos - passarão para o conjuge sobrevivo, e terá direito a eles, assim que receber o cartão de "viúva(o) de combatente".

Caro Zé Silva. Se puder esclarecer mais alguma coisa, dispõe.

"Os Filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são"

Abraço
José Martins

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Notas do editor:

1 - Ver no nosso Blogue a Página dedicada à Legislação de interesse para os Antigos Combatentes

2 - Para se perceber a diferença entre Complemento Especial de Pensão (CEP), Acréscimo Vitalício de Pensão (AVP) e Suplemento Especial de Pensão (SEP), aceder aqui: https://www.defesa.gov.pt/pt/adefesaeeu/ac/direitos/ar/cep/Paginas/default.aspx

3 - Último post da série de 26 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26080: Consultório Militar do José Martins (85): Protocolo de Colaboração entre a Direção-Geral de Recursos da Defesa Nacional e a Associação Nacional de Freguesias para concessão de benefícios aos Antigos Combatentes

Guiné 61/74 - P26580: Ser solidário (279): Ajude sem gastar nada! Consigne 1% do seu IRS à Afectos com Letras - ONGD


1. Mensagem da Associação Afectos Com Letras - ONGD, com data de 7 de Março de 2025:

AJUDE SEM GASTAR NADA!

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📌 Como funciona?
Ao preencher o seu IRS, indique o nosso NIF 509 301 878 na entidade a consignar.
Não paga nada, mas ajuda-nos a continuar a mudar a vida de muitas meninas na Guiné-Bissau!

❤️ Porque escolher a Afectos com Letras?
• Apoiamos crianças, jovens e famílias em situação vulnerável num dos países mais pobres e mais frágeis do mundo;
• Desenvolvemos projetos educativos e de empoderamento das meninas e mulheres em estreita ligação com as comunidades locais num registo 100 % voluntariado;
• Cada contribuição faz a diferença!

📢 Partilhe esta mensagem e ajude-nos a chegar mais longe! Só juntos, podemos fazer a diferença!

Associação Afectos com Letras, ONGD
Rua Engº Guilherme Santos, 2
Escoural , 3100-336 Pombal
NIF 509301878
tel - 91 87 86 792
venha estar connosco no https://www.facebook.com/afectoscomletrasongd

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Nota do editor

Último post da série de 6 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26559: Ser solidário (278): No próximo dia 19 de março de 2025 às 17h30, realizaremos a nossa Assembleia Geral, na qual analisaremos conjuntamente o Relatório de Atividades e Contas de 2024 e deliberaremos sobre a aprovação do Plano de Atividades e Orçamento para 2025 (Manuel Rei Vilar)

Guiné 61/74 - P26579: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (19)

Foto 148 > Fevereiro de 1971 > Olossato > Furriel Pereira (Pelotão de obuses) e João Moreira junto ao avião Nord Atlas que foi buscar a avioneta acidentada.
Foto 149 > Fevereiro de 1971 > Olossato > Furriel Pereira (Pelotão de obuses), João Moreira, Nogueira (transmissões) e Verde (mecânico). Carregar avioneta acidentada no avião Nord Atlas.
Foto 150 > Fevereiro de 1971 > Olossato > João Moreira junto ao avião Nord Atlas
Foto 151 > Fevereiro de 1971 > Olossato > João Moreira junto ao avião Nord Atlas
Foto 152 > Fevereiro de 1971 > Olossato > João Moreira na avioneta acidentada
Foto 153 > Fevereiro de 1971 > Olossato > João Moreira junto ao Nord Atlas
Foto 154 > Fevereiro de 1971 > Olossato > João Moreira junto â avioneta acidentada
Foto 155 > Fevereiro de 1971 > Olossato > João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 6 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26560: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (18)

Guiné 61/74 - P26578: Nunca tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (7): Cristina Silva, ten grad enf pqdt, a única das 46 que foi ferida em combate

Lisboa > 8º Festival Internacional do Cinema Independente > Culturgest > 13 de Maio de 2011 > Estreia do filme Quem Vai à Guerra (Portugal, 2011), de Marta Pessoa > No hall do Grande Auditório, a realizadora, Marta Pessoa, e a uma das participantes, a ex-enfermeira paraquedista, tenente graduada, Cristina Silva, ferida em combate em Moçambique.

 Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. A Maria Cristina Silva, tenente graduada enfermeira pqdt, foi a única, das 46 que prestaram serviço na guerra do ultramar / guerra colonial, que foi ferida em combate (em 1973, durante uma evacuação, no TO de Moçambique, na região de Mueda, alvejada com um tiro na cabeça que, felizmente, não foi fatal) (*). 

É uma história de guerra que, apesar de tudo, tem um feliz como ela já cá nos contou, quer no filme de Marta Pessoa, "Quem Vai à Guerra" (Portugal, 2011), quer no depoimento para o livro "Nós, as Enfermeiras" (coord ed. Rosa Serra, Porto, Fronteira do Caos, 2014).

Vale a pena dar a conhecer, para um público mais vasto, esse testemunho na 1ª pessoa. Ainda hoje ela guarda a bala que os médicos lhe extrairam da cabeça. Aliás, mostrou-o no filme. É agora um talismã. 

O cartaz do filme reproduz uma das fotos do seu ãlbum.





Quem Vai à Gerra (Portugal, 2011) > Ficha Técnica: Realização > Marta Pessoa
| Direcção de Fotografia > Inês Carvalho | Cenografia > Rui Francisco | Montagem > Rita Palma | Direcção de Som > Paulo Abelho, João Eleutério e Rodolfo Correia | Maquilhagem > | Eva Silva Graça | Marketing e Comunicação > Fátima Santos Filipe | Direcção de Produção > Jacinta Barros | Produtor > Rui Simões | Produção > Real Ficção



Moçambique > c. 1973 > Cristina Silva > A única enfermeira paraquedista que foi ferida em combate...



Foto (e legenda): Marta Pessoa / Quem Vai à Guerra (Facebook) (2011) (Reproduzido com a devida vénia)... Legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné










Excerto de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp. 289-2901 (com a devida vénia). 
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Nota do editor:

(*) Último poste da série >  12 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26575: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (6): Homenagem às enfermeiras paraquedistas em livro recente sobre a "História da Enfermagem em Portugal"... Por sua vez, reproduzimos excerto de um depoimento de Aura Teles sobre a morte da fur grad enfermeira pqdt Maria Celeste Ferreira da Costa (Tarouca, 1945 - Bissalanca, 1973)