sábado, 23 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5689: Parabéns a você (67): Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753 e José Albino, ex-Fur Mil do Pel Mort 2117 (Editores)

1. Mais dois camaradas que nasceram no dealbar do ano. Neste dia 22 de Janeiro de 2010 estão de parabéns os camaradas Francisco Godinho e José Albino.

Com estes dois camaradas tenho pessoais afinidades.

Com o Francisco que pertencia à açoriana CCAÇ 2753, porque me foi render a Mansabá. Esta Companhia, como a monha (CART 2732) fizeram parte das forças de protecção à construção do troço da estrada Mansoa/Farim, a partir do Bironque até se ver Farim do outro lado do Rio Cacheu. Uma árdua tarefa transformada em vitória, à custa de muito sange e suor, literalmente. Estes nossos irmãos de armas jamais serão esquecidos.

Com o José Albino porque é um velho colega dos tempos de estudante na Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, onde curiosamente ambos tirámos a mesma licenciatura de Montador Electricista. Fazemos parte de uma geração de alunos que deu muitos homens para a guerra, em particular para a Guiné. Assim de memória, lembro que além de nós os dois, ainda fazem parte do nosso Blogue o ex-Fur Mil Cav António da Costa Maria e o ex-1.º Cabo Enf Amaro Munhoz Samúdio, também alunos da mesma Escola, agora chamada Gonçalves Zarco.

Hoje, e desta forma, vem a tertúlia desejar a estes dois camaradas um bem passado dia de aniversário, na companhia dos familiares e amigos mais chegados. Que esta data tenha festejos de igual intensidade por mais uns bons anos, sempre com a nossa atenção virada para eles. Será um prazer, num futuro que se quer longo, lembrar este dia, publicar e enviar-lhes as nossas felicitações.


2. Vamos lembrar a chegada de cada um deles ao nosso convívio.


i. Francisco Godinho*, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, K3 e Mansabá, em mensagem de 14 de Maio de 2008, dizia-nos:

Nome: Francisco Godinho
Posto: Fur Mil
Companhia: CCaç 2753 (Os Barões do K3)
Local / Zonas de Intervenção: Mansabá, Bironque, Madina Fula e K3 (Farim);
Tempo de comissão: 1970/1972;
Local Residência: Vale Milhaços, Seixal;
Meu endereço electrónico: baraok3@hotmail.com
Meu blog: http://www.deserdadosdaguerra.blogspot.com/


ii. José Albino P. Sousa**, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117, Bula e Tite, 1969/71, em mensagem de 30 de Junho de 2009, confiava-nos:

Caro Carlos Vinhal:

A vontade de entrar na Tabanca, já vem de algum tempo atrás, mas agora, e por insistência do António Maria, resolvi avançar.

Entretanto, já elaborei o texto que me parece relatar a minha história na Guiné.

Entretanto te direi que estive em Bula com o Pelotão de Morteiros 2117, Maio, Junho e Julho de 1969, tendo depois sido chamado a Bissau para tirar um curso de obuses, avançando depois para Tite com um Pelotão de guineenses onde passei o resto da comissão.
Ao fim de um ano fui baptisado com os famosos foguetões a que se seguiram mais três ataques.

Abraço do Zé Albino


APRESENTAÇÃO

Nome: José Albino Pereira de Sousa
Nascido em 23.1.1946
Natural do Porto (fui nascer à Maternidade) mas considero-me de Matosinhos.
Casado
Dois filhos e dois netos

Morada: Senhora da Hora
Curso Industrial de Montador Electricista (Matosinhos)
Ex-técnico da Portugal Telecom na Pré-reforma

Ex-Fur Mil Inf

Dois instantâneos de José Albino na Guiné
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2865: Tabanca Grande (68): Francisco Godinho, ex-Fur Mil da CCAÇ 2753 (Mansabá, Bironque, Madina Fula e K3/Farim, 1970/72)

(**) Vd. poste de 4 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4640: Tabanca Grande (158): José Albino P. Sousa, ex-Fur Mil Inf do Pel Mort 2117 e BAC 1 (Bula e Tite, 1969/71)

Vd. último poste da série de 22 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5685: Parabéns a você (66): Rogério Freire, ex-Alf Mil da CART 1525 (Editores)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5688: CART 1525, Bissorã, 1966/67: 1/3 do pessoal frequentou as aulas regimentais (Armando Benfeito da Costa / Rogério Freire)

1. Em homenagem ao Rogério Freire, que faz hoje anos, e à sua CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67), publica-se um texto, retirado - com a devida vénia - da sua página, uma das mais antigas, dedicada à história de uma sub-unidade operacional no TO da Guiné.


O pequeno texto que se segue e que gostaria de divulgar foi em tempos enviado ao nosso saudoso coronel Piçarra Mourão, como um pequeníssimo contributo para o seu segundo livro. Nele se refere a acção educativa e de alfabetização levada a cabo pela Companhia durante os 22 meses que permaneceu na Guiné.


GUINÉ 1966/67 > Recordações … contributo para um livro

por Armando Benfeito da Costa, ex-Fur Mil


Da leitura do livro Guiné Sempre - [Testemunho de uma guerra] do mui ilustre coronel Piçarra Mourão, [ Editora Quarteto, 2001,] ressalta toda uma epopeia na qual é descrita a passagem, pela Guiné, da companhia de artilharia 1525, companhia independente adstrita ao Batalhão 1876.

Na resenha histórica, bem documentada naquele livro, o autor descreve histórias pessoais protagonizadas por ele próprio e por outros intervenientes, oficiais, sargentos e praças, ligadas sobretudo aos aspectos de âmbito militar em termos de relevância operacional e pouco mais.

Faltava, porém, algo que completasse essa passagem da companhia 1525 por terras da Guiné [...], o devido destaque e relato de outros eventos que, pelo seu valor e incidência, não deixaram de ser também importantes e marcaram, de uma outra forma, aqueles que estiveram envolvidos num projecto de índole educacional.

Passavam pouco mais de três meses de estada da 1525 na Guiné e já em Bissorã, foi proposto ao comandante de companhia a abertura de aulas regimentais dado que cerca de 1/3 das praças não possuía diploma oficial do ensino primário e, dentre elas, muitos analfabetos.

A proposta foi aceite e as aulas regimentais abriram a 19 de Maio de 1966. Muitos soldados frequentaram essas aulas a partir dessa data, repartindo-se pelas quatro classes que então se formaram, tendo em vista a obtenção do diploma da 3ª ou 4ª classe.

O horário de funcionamento era repartido por dois turnos, 17 às 18H30 e 21 ÀS 22h30, o primeiro dirigido às primeiras classes e o segundo às mais avançadas.

A actividade lectiva desenvolvia-se sempre com normalidade e os "estudantes" procuravam estar atentos e responder às exigências dos cursos que frequentavam. Todo este esforço era muitas vezes interrompido por um outro esforço, muito maior, provocado pelo desgaste físico e moral desenvolvido ao longo das "operações militares".

De qualquer maneira ficou-nos na memória que valeu a pena ter investido num projecto que veio a dar os seus frutos no final do ano lectivo de 1967 quando, após a realização dos exames do 1º e 2º graus (3ª e 4ª classes) os resultados falaram por si:
- Os 44 alunos que haviam frequentado a escola regimental da Companhia de Artilharia 1525, o haviam feito com sucesso, pois tinham obtido aproveitamento (11 da 3ª e 33 da 4ª), conseguindo regressar à metrópole com um diploma que lhes permitia inserir-se muito melhor na sociedade civil e responder melhor às exigências burocráticas dessa mesma sociedade.

Um outro aspecto ligado à influência da Companhia 1525 relaciona-se com a nomeação, por parte dos Serviços de Educação da Guiné, de um furriel miliciano, com o Curso do Magistério Primário, para exercer funções docentes na Escola Primária de Bissorã, onde teve a seu cargo o processo de ensino/aprendizagem das 3ª e 4ª classes, sendo que as duas primeiras classes eram leccionadas por um regente escolar nativo.

Obviamente que a população civil não deixou de reconhecer o facto de a escola primária ter passado a usufruir do trabalho especializado de um professor branco, o que permitiu uma maior procura para a frequência daquele estabelecimento de ensino.

Acresce dizer que, apesar de não ter havido, naquele tempo, qualquer reconhecimento oficial pelo trabalho desenvolvido, foi gratificante ter-se verificado o grau de satisfação dos soldados e alunos autóctones, porque, uns, regressariam à metrópole mais apetrechados e mais aptos; os outros por terem adquirido conhecimentos que lhes permitiu a obtenção de diploma que abria, aos que pudessem, a possibilidade de prosseguirem estudos, em Bissau.

Ainda houve, ligado ao primitivo projecto educacional, um outro sub-projecto que consistia em alguns soldados frequentarem turnos de "explicações" para poderem vir a fazer exame do 2º ano do liceu, sub-projecto esse que não se revelou exequível, mormente por falta de meios.

Importa salientar que todo o trabalho lectivo não prejudicava o esforço de guerra quer ao nível docente como discente, pois na hora da verdade todos eram chamados a cumprir os seus deveres militares operacionais.

Mesmo assim e ainda hoje, passados que foram já 35 anos alguns têm recordado, num misto de saudade e alegria, a sua passagem pela Escola Regimental da Companhia de Artilharia 1525, aquando dos "Encontros" anuais que se vêm concretizando e em boa hora iniciados.

Que este modesto contributo para o novo livro que o coronel Piçarra Mourão pensa escrever sirva para relembrar que a Companhia 1525 não só combateu com valentia no teatro de operações e isso está bem patente no livro "Guiné, Sempre!", mas desenvolveu um outro combate, dirigido ao analfabetismo que grassava no seio da própria Companhia, contribuindo, também, para que um pouco da Língua e Cultura portuguesas fossem divulgadas pelos jovens que então frequentaram a Escola de Bissorã, alguns dos quais conseguiram obter o diploma do ensino primário.

Galifonge, 2002. 12. 03
(Armando Benfeito da Costa)

Imagens: Cortesia de CART 1525 (Bissirã, 1966/67)

Guiné 63/74 - P5687: Notas de leitura (56): Armor Pires Mota (1): Tarrafo e Baga-baga, duas surpresas de um combatente repórter (Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Janeiro de 2010:

Queridos amigos,

Trabalho não falta.
Primeiro, ler o Armor Pires Mota de fio a pavio. Aqui está o primeiro diário da Guiné, não percebo a injustiça dos homens, só faltou sepultá-lo vivo, talvez por ter acreditado que a Pátria não se discute, defende-se.
Depois, tenho aqui um calhamaço do Manuel Fialho “Além do Bojador”, uma edição patrocinar pela Câmara de Moura. Na Associação 25 de Abril há também cofres para abrir.
E depois o CIDAC, a Guiné também mais escritos do que muitos supunham. Resta saber o que vamos pedir aos nossos amigos guineenses, eles têm obrigação de abrir os seus cofres. Indo directo ao assunto, é importante que pessoas como o Leopoldo Amado e o Pepito agitem as hostes. O primeiro recado está dado.

Um abraço do
Mário



Armor Pires Mota:
"Tarrafo" e "Baga-Baga", duas surpresas de um combatente repórter


Beja Santos

É incompreensível o manto de silêncio que tem coberto o nome de Armor Pires Mota, nas últimas décadas, como combatente-escritor da Guiné. “Tarrafo” é um livro único: é o primeiro diário de um oficial que escreve no teatro de operações e publica quinzenalmente num órgão da imprensa regional da metrópole. Estamos em 1964, os vigilantes da censura não se apercebem que o repórter revela em directo o que se está a passar na Guiné: que há T6 que bombardeiam os objectivos para onde se dirigem tropas especiais ou unidades em que vai o autor do diário; ele fala de nomes e localidades, data os seus textos, esmiúça o comportamento dos guerrilheiros, fala em santuários como o Morés ou descreve a batalha do Como, dia após dia, semana após semana, mês após mês. Outro valor histórico não tivesse e ficariam parágrafos indesmentíveis, solenes, melancólicos, pensamentos que ocorreram a qualquer um de nós, como se transcreve:

“Escrevo do meu abrigo, onde o dia é longo e a noite dolorosa, quase uma eternidade. No princípio sofria o cacimbo, mas olhava o céu azul, tropical, a lua, as estrelas e um satélite vagabundo riscando os espaços ou mesmo um avião desconhecido, voando alto (15 de Março de 1964, ilha do Como).”

"Jantei. E o tempo correu no rio, no escuro e na vida, com aquela caixa de papelão que deitei fora e agora fugia, carregada de estrelas e azul, não sei para onde. E a noite continuou a divagar nos meus olhos e nos meus ombros, até que acordei ancorado ao largo de Bambadinca, porque a maré estava na vazante. E ergui-me ao sol claro com uma gazela correndo timidamente (24 de Maio de 1964, Bafatá).”

“As prisioneiras, sentadas num tronco de árvore, devoravam a sopa e o pão que os soldados lhe davam. E uma delas, ainda de olhos húmidos, contou a história: ela e a outra (e apontou uma mulher nova, de lábios carnudos, que andava grávida), eram mulheres de um Balanta a quem os terroristas espancaram, obrigando-o a agarrar em armas contra o branco. Ele agora estava doente e tinha ficado com uma menina de três anos. E chorava:

- Mim ter menina... (27 de Maio de 1964, Sitató).”

“A palavra que o podia ter salvo, condenou-o, porque se sentiu cúmplice como tantos outros. Tomado de espanto e ao mesmo tempo de um frio a varar-lhe os ossos, largou a bicicleta, mas os passos iriam tropeçar-lhe no fim do caminho da existência.

- Fogo!

E as balas crivaram-no imediatamente. Caiu como uma pedra. Mas, num estertor febril, ergueu-se. Voltou os olhos para nós, para a vereda. Uns olhos terrivelmente raiados de sangue, negros, por detrás dos quais havia palavras para dizer, mas que não lhe vinham à boca, ligeiramente aberta, e maldições a lançar sobre as nossas cabeças ou, talvez, um grito de perdão.

Eu, como um criminoso, (mas que, de facto, não era), atirei a arma por terra e berrei-lhe:

- Cá fuge! Bó cá fuge! (11 de Junho de 1964, Lamel).”

O combatente repórter segue para Jumbembem, aí vai combater, patrulhar e emboscar. Escreverá o seu diário em localidades como Farincó Mandinga, Canjanbari ou Cuntima. São apontamentos curtos, incisivos, por vezes metálicos, onde não escapa o volteio poético, a descrição brutal, os gemidos, os desalentos, um olhar quase etnógrafo, o anseio por regressar. Em 11 de Junho de 1965, em Jumbembem, regista as suas últimas notas íntimas:

“Mas que é para nós um calendário? Uma estrada monótona de cômoros sem amoras e borboletas; um pedaço de papel que podia não ter existido, um ponto morto. Mas diz-me tanto o calendário cravado na parede! Quadradinhos vermelhos: dias doridos de poentes de sangue; carne anavalhada por estilhaços de morte, enrodilhada de medo, atrás de uma árvore ou nas bermas das picadas, ou montada em gloriosos corcéis de batalha, vencendo tudo e todos; combates ensopados em chuva ou lama para lavar as feridas; minas que desfazem viaturas, levando-as pelo ar com os homens; sangue, muito sangue, morte.

Quadradinhos negros: dias feitos de nada, inúteis, como uma folha que o cacimbo apodreceu; dias impossíveis de construir, em que atiramos a alma para trás das costas, de braços caídos nos braços da cadeira...”.

O poeta que se anunciava neste diário confirmou-se com o livro “Baga-Baga”, galardoado com o prémio Camilo Pessanha. Armor Pires Mota revisita a Guiné, exalta tocadores de Korá, os ritmos de batuque, a beleza da mulher africana, apela a uma reconciliação dos homens, comove-se com as crianças, é tudo um lirismo singelo onde cabem as suas recordações de combatente como o Natal, o batuque dos bombolons, o sentido épico da missão cumprida.

Todos aqueles que versejaram, que rabiscaram as suas odes, sonetos, poemetos e outros arroubos poéticos, sentem como é sincero o entusiasmo do poeta quando regista o que sente o que vê os outros sentir, como em


Sambaro tocador de Korá

Sambaro, à sombra do mangueiro em flor,
torso nu, dedos longos,
canta tristezas no seu Korá

E crianças, de olhos gregos,
cigarras da tarde lenta,
procuram a música branca
que fica do rio manso
na ponte de pedra.

Sambaro, à sombra do mangueiro em flor,
torso nu, dedos longos,
canta tristezas no seu Korá

Quem entende Sambaro, olhar macilento,
cantando não sei quê no seu Korá?

Chora, coração dentro da voz do vento,
terras longe, destino que não há.







Este “Baga-Baga” é de 1968, ano em que publica, também na Editora Pax, “Guiné Sol e Sangue, contos e narrativas”, de que iremos falar a seguir.

Estes livros de Armor Pires Mota passam a ser pertença do blogue.

MBS








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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 16 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5657: Notas de leitura (55): No Regresso Vinham Todos, de Vasco Lourenço (Beja Santos)

Guiné 63/74 - P5686: José Corceiro na CCAÇ 5 (1): A cabritinha do mato

1. O nosso Camarada José Corceiro* (ex-1.º Cabo TRMS, CCaç 5 - Gatos Pretos -, Canjadude, 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 20 de Janeiro de 2010:

Camaradas,

É com imenso prazer que me dirijo a vós, para testemunhar uma historiazinha banal e simples, sem pretensões nenhumas para mim.

Estava como que esquecida, no fundo do meu subconsciente.Depois de 40 anos de silêncio, nos contactos que tenho feito com camaradas que estiveram em Canjadude comigo, há meia dúzia de factos que todos têm vindo a relembrar e a referenciar espontaneamente. Um deles jamais o esqueceram, foi o caso da cabritinha.

Junto fotos dos elementos que faziam parte da secção de transmissões na altura, (foto 4 a 14 inclusive).

Esta história, “A CABRITINHA DO MATO”, com cariz pueril, foi escrita em 1970 inspirada em factos verídicos que aconteceram na secção de transmissões da CCAÇ. 5, em Canjadude, com uma cabra do mato bebé, que um nativo apanhou.

A intenção inicial, quando escrevi, era que a história fosse publicada no jornal da CCAÇ. 5 “O GATO PRETO”. Mas, por atraso na entrega do texto, por minha culpa, ao coordenador dos artigos do jornal, a história não foi publicada. Enquanto estive em Canjadude, só foram editados o nº 1 e 2 do jornal, mas creio que saíram meia dúzia de números, não os tenho todos, mas gostava de tê-los, mesmo digitalizados.

O argumento subjacente, quando escrevi a história, tinha por objectivo transmitir uma imagem puerícia, que enfatizasse o valor excessivo que se dava no teatro de guerra e da solidão, ainda que rodeado de camaradas, a pequenas coisas tais como: - os nervos à flor da pele originando dramatismos, por banalidades, que à luz da razão eram difíceis de compreender e aceitar; - emoções exacerbadas sem causa aparente; - implicações inconsistentes; - crendices; brincadeiras inconsequentes, cujas condutas perigosas, por vezes davam origem a acidentes que podiam ser evitados.

Eram exageros comportamentais face a padrões admissíveis vigentes… (ainda que isto sejam predicados ou defeitos da juventude, no palco de guerra estavam muito amplificados).

A vida, na guerra, devido a carências, tensões e isolamento, era vivida noutra dimensão.Vamos pois à história:

"CABRITINHA DO MATO" mascote da Secção dos cognominados “BARÕES DE TRANSMISSÕES” da CCAÇ. 5

Era uma vez, uma cabritinha que foi encontrada só e abandonada no mato, devido à acção do homem, que a tornou órfã. Por unanimidade, a Secção de Transmissões da CCAÇ. 5 "Os Gatos Pretos", de Canjadude, perfilharam-na.Foi acarinhada, tratada, protegida, alimentada e amada por todos, pois era a sua mascote e artifício de escape para libertar as emoções e tensões nefastas, do dia-a-dia na guerra dos “Barões” da CCAÇ. 5.

Uns, davam-lhe o leite com uma tetina; outros com uma chupeta improvisada, concebida dum garrote tubular de enfermagem. Alguns alimentavam-na com uma seringa, outros adaptaram uma colher para lhe dar a paparoca e outros davam-lhe de beber com um copo.Todos, em aturada competição se desfaziam empenhadamente em carinhos, para ver qual ganhava e cativava a atenção e afeição da cabritinha. O interesse era uníssono, torná-la livre e feliz.

Para mitigar a solidão da infeliz e amenizar as marcas e trauma, deixadas pela perda da mãe, arranjou-se um amiguinho para companhia, o Nicolau, um “macaquinho”, que também precisava de atenções especiais. Envolveram-se, conheceram-se, tornando-se cúmplices e amigos e era vê-los nas suas brincadeiras infantis, que a todos atraiam e fascinavam.

Para gáudio de todos a cabritinha a nenhum singularizava. Preferia todos por igual, olhava-nos e agradecia dando graciosos pulinhos, que mais pareciam passos de ballet.Os Barões ficavam todos babados e enternecidos, com olhar esbugalhado, manifestando admiração e orgulho, por serem brindados com ondulantes movimentos artísticos, delicados, graciosos e com reflexos de coordenação muscular comedida; cuja suavidade, mais parecia magia!Não era raro, ouvir murmúrios de vozes emocionadas a dizer: “Esta baronesa que mais parece princesa tem futuro garantido, pois com este odor almiscarado, esta destreza, elegância harmoniosa e olhar tão cândido, a todos vai enlaçar e conquistar!”

Ai de quem se atrevesse a aproximar dela sem ser com o intuito de a acarinhar ou afagar, era logo corrido à paulada e à pedrada, e, em sua defesa, saltavam todos, mesmo os que nada sabiam sobre as efectivas intenções do intruso, afirmando, se necessário, a pés juntos, como testemunhas abonatórias, que as suas reais intenções não eram mimar nem acarinhar a cabritinha, mas sim abusar, ou tirar proveito, quiçá o seu rapto ou morte!

Cada um contribuía, segundo sabia e podia, pondo em prática o seu jeitinho de dar e tratar não se poupando, se necessário fosse com risco da própria vida, caso alguém ousasse atentar contra a tranquilidade, o sossego e bem-estar da cabritinha.

Os seus idólatras, sempre que havia coluna a Nova Lamego, traziam-lhe uma guloseima ou ”piteuzinho” para ela se deliciar.Paulatinamente, desenvolveu-se e cresceu e, cada dia que passava, ficava mais “atraente” e formosa, o seu pêlo ficava cada vez mais luzidio, o seu olhar mais lânguido e cativante, o seu corpo tomou contornos e formas de adulta, começando a ser cobiçada e querida, sob forma de outras intenções e ambições que foram nascendo e desenvolvendo, no seio dos “Barões de Transmissões”, despoletando zangas e confrontos.

O ano de 1969, estava no auge prestes a findar, e 1970 aprontava-se para entrar e não se adivinhavam nem previam bons augúrios para a melhor integridade física da cabritinha.

Reunidos em assembleia-geral, os tão zelosos e diligentes amantes da cabritinha - “Barões de Transmissões” -, que durante cinco ou seis meses com tanto enlevo e fervor contribuíram para o desenvolvimento gracioso e harmonioso dela, discutiram acaloradamente, cada um explanando a sua opinião, para se decidir o que lhe fazer.

Uns, salivando quais cães de Pavlov, defendiam com unhas e dentes, pois eram as suas pupilas gustativas que os comandam, que já estava na hora do “estorvo” dar o seu contributo à sociedade!

Outros, cujo centro de decisões está localizado no ventre, já arrotavam ao indigesto alho, entendiam ser necessário esperar algum tempo mais, para rentabilizar eficazmente o investimento já feito.

Outros, pensavam com o coração, opinando que se devia deixá-la andar livremente e à vontade, pois a pobre não incomodava ninguém: “Para quê desfazermo-nos dela já?” – Diziam eles.

Outros ainda, sentiam-se embaraçados com o desenrolar dos acontecimentos, sentindo-se feridos na sua dignidade e sensibilidade, por terem de se alhear dos seus sentimentos e afectos mais nobres, raciocinando com os seus neurónios, defendiam que se devia libertar a infeliz, devolvendo-a ao seu habitat natural, de forma que fosse ela a decidir o seu destino e padrão de felicidade, onde pudesse escolher sem “coação” o seu caminho e reencontrar-se com os seus irmãos.

Não havia consenso possível, pois as opiniões e desejos divergiam com tal antagonismo e o diálogo não era possível.Assim, decidiu-se: “Que seja através de voto secreto que se determine o futuro da cabritinha.”Constituiu-se então um juízo, presidido pelo “Barão” mais velho da Secção e procedeu-se à votação. Fez-se a contagem dos votos e a sorte da infeliz estava traçada! O juiz, analisou os votos e, sentenciou, que a baronesa tinha que ser abatida à Secção de Transmissões.

Lavrou-se a sentença e, não havendo direito a recurso, a audiência encerrou.O juiz, em consciência, sentenciou a morte da desgraçada, havia agora que fazer cumprir a sentença e distribuir as tarefas a cada “Barão”, para organizar o altar da imolação, o fausto banquete e definir quais as ilustres personalidades que deviam ser convidadas, para a pomposa cerimónia do sacrifício da transformação. Sim, porque nada se perdeu, tudo se transformou.

Para tanto, definiram-se as seguintes tarefas:
  • Carrascos – Francisco Manuel Pia Loupa e Rogério Fernando Sampaio Carneiro (já faleceu);
  • Preparativos dos géneros – Armando Jorge Ferreira Pinto (já faleceu) e José Natividade Cardoso Silva;
  • Fraccionar as peças alimentícias – Alexandre Franklim Estrela Justino;
  • Tratar da lenha e da imagem – José Manuel Silva Corceiro;
  • Acender o forno e manutenção do mesmo – José Joaquim Teles Coias;
  • Tratar das bebidas – Albino Joaquim Martins da Costa (cripto);Tratar da loiça – João Alberto Dias Graça; Mensageiro e extras – Fernando Manuel Ramos Nora;
  • Assegurar posto de transmissões – José Carlos Freitas;
  • Convidados – Furriel José da Silva Marcelino Martins,Capitão Manuel Ferreira de Oliveira (já faleceu) e Major do Q. G.Para os intervenientes na história já falecidos, o nosso momento de respeito.


1 – Cabritinha do mato, bebé.

2 - Nicolau, o macaquinho.

3 – Alferes Sousa a afagar a cabritinha.

4 - Corceiro no abrigo dos barões.

5 - Loupa e Rogério (já faleceu).

5a - Loupa e Rogério (já faleceu).

6 – Pinto (já faleceu), o Silva e o Coias.

7 – O Alex.

8 – O Corceiro.

9 – O Coias.

10 – O Costa (ao lado direito), o Corceiro (ao centro) e o Enfermeiro “Tó Mané” (lado esquerdo).

11 – O Nora (lado esquerdo) e o Corceiro.

12 – O Graça.

13 – O José Carlos.

14 – O Furriel José da Silva Marcelino Martins.

15 – Em primeiro plano de frente: O Costa, o Alex, o Coias, o Silva, o Corceiro, o José Carlos. Em primeiro plano de costas: o Loupa, o Rogério (já faleceu), o Sr. Major do QG, o Capitão Ferreira de Oliveira (comandante da companhia CCaç. 5 na altura, entretanto já falecido), o Furriel José Martins (na altura chefiava a Secção de Transmissões) e o Graça. Falta nesta foto, para completar a secção de transmissões, o Pinto (já falecido), a quem eu devo ter pedido para tirar esta foto e o Nora.

Um abraço para todos os tertulianos,
José Corceiro
1º Cabo Trms da CCaç 5

Fotos: © José Corceiro (2009). Direitos reservados
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5685: Parabéns a você (66): Rogério Freire, ex-Alf Mil da CART 1525 (Editores)

1. Hoje, dia 22 de Janeiro de 2010, estamos a festejar mais um aniversário. Desta feita homenageamos o nosso camarada Rogério Freire, ex-Alf Mil da CART 1525, que esteve em Bissorã nos idos anos de 1966/67.

Ao Rogério vimos desejar um alegre e festivo dia, na companhia dos seus mais queridos familiares e amigos.

Que some muitos e bons anos à sua ainda jovem vida, sempre tendo por perto quem mais o ama, são os votos de seus amigos e camaradas do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.



2. De Rogério Freire e da CART 1525 encontrei estas referências no nosso Blogue.

Fotografia em que Rogério Freire, assinalado pelo círculo, espreita por cima da cabeça do então Alf Mil Giberto Madail.


Página da CART 1525 que pode ser visitada em http://www.cart1525.com/


Poste da I Série de 14 de Outubro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXXIX: CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67)

Postes da II Série de:

21 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P978: Futebol em Bissorã no tempo do Rogério Freire (CART 1525) e do Gilberto Madail
e
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1263: Os Falcões de Bissorã, festejando os 39 anos de regresso a casa (Rogério Freire, CART 1525)

Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5684: Parabéns a você (65): Continua livre e feliz, João Graça! (Os editores)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Guiné 63/74 - P5684: Parabéns a você (65): Continua livre e feliz, João Graça, agora com 26 aninhos! (Os editores)















Guiné-Bissau > Dezembro de 2009 > O novo membro da nossa Tabanca Grande, João Graça, que faz hoje 26 anos, esteve de férias na Guiné-Bissau, quinze dias, metade dos quais passados em Iemberém onde prestou cuidados médicos à população local, como voluntário.

O resto do tempo quis conhecer um pouco melhor a Guiné: as duas primeiras fotos a contar de cima, por exemplo,  são de Bafatá onde pernoitou em 15 de Dezembro. A mim, mata-me as saudades do Rio Geba e dos seus barqueiros, mas também da magia do entardecer em África... A terceira foto foi tirada na Ilha de Bubaque, no sábado, 12 (regressou a Bissau, no dia seguinte). 

A 4ª foto foi tirada em Bissau, na conhecida e conceituada Residencial Coimbra, sita na Av Amílcar Cabral, em pleno centro: da esquerda para a direita, o João, o Mamadu (músico da tabanca mandinga de Tabatô de onde é natural o Djabaté), o Vitor (cooperante espanhol), a Catarina Meireles (médica, portuguesa, de saúde pública, minha antiga aluna na Escola Nacional de Saúde Pública, natural de Vila Verde, a terra dos lenços namorados)... Os restabtes cinco elementos não sei, de momento, identificá-los.

A 5ª foto foi tirada num bar da Bissau Velha, onde o João  tocou violino com músicos locais. Ao centro, aparece o Antero, o dedicado motorista, balanta, da AD - Acção para o Desenvolvimento, que o acompanhou por todo o lado (Já fora ele que me levara, a mim e ao Nuno Rubim, à Alice e à Júlia, na viagem de visita ao sul da Guiné, de 1 a 3 de Março de 2008, por ocasião do Simpósio Internacional de Guiledje). Um grande abraço, Antero, meu e do Nuno!

As duas  últimas fotos são de Iemberém, de 9 de Dezembro: o nosso médico no centro de saúde materno-infantil; e a seguir a Cadi... A Cadi, que se tornara amiga dos casais Nuno/Júlia Rubim  e Luís Graça/Maria Alice, em Março de 2008, viemos depois a saber que tinha dado à luz um menino, a que foi dado o nome de Nuninho. Não sobreviveu ao um ataque de paludismo, aos quatro meses. E a própria Cadi esteve em risco de vida (*). Espantosa coincidência, o João vem descobri-la em Iemberém, novamente grávida. Trabalha agora na estrtutura hoteleira da AD, em Iemberém, servindo à mesa. A família vive em Farim do Cantanhez, onde o João foi uma manhã, muito cedo, com os guias, para observar um dos grupos de daris (chimpanzés) que circulam pelo Parque Nacional do Cantanhez.

O João observou a Cadi como médico, e ganhou um nova amiga. A grávida parecia estar de boa saúde e o bebé também. O João deixou-lhe roupas, dinheiro e um telemóvel. A Cadi acaba de nos telefonar hoje (!) a dizer que pariu uma minina, no domingo passado, a que pôs o nome Maria Alice...

O pai da Cadi é um antigo guerrilheiro do PAIGC ("combatente da liberddade da Pátria"). Vive em Farim do Cantanhez.

O João Graça, músico do grupo Melech Mechaya, e médico interno de psiquiatria no Hospital Fernando da Fonseca (Amadora / Sintra), ficou visivelmente apaixonado pela Guiné e pela sua gente, simples, generosa, afável, hospitaleira e talentosa (para a música, por exemplo). Deixou lá muitos amigos (a começar pelo Pepito, a Isabel, as filhas do casal, o Patrício Ribeiro, o Domingos, o Ali, o Antero...). Promete lá voltar. E promete, um dia destes, publicar aqui alguns notas do seu diário de viagem. Quanto à fotos, agora publicadas, ou já publicadas em postes anteriores (**), têm sido "roubadas" pelo seu pai... com a melhor das intenções do mundo.

Ficam aqui as palavras que o velhote dele lhe escreveu, em 2005, há cinco anos, na toalha de papel do restaurante onde se festejou  o seu 21º aniversário. Essas palavras continuam a ter plena actualidade: é preciso que nós e a geração dos nossos filhos continuemos a lutar pelo direito à liberdade e à felicidade, para eles e para todas as Cadis deste mundo. O João e a Cadi, que são da mesma geração, não tiveram, ao nascer, a mesma igualdade de oportunidades.

Para o João:

Viva quem é um sortudo
por fazer hoje vinte e um anos,
no dia 21 de Janeiro
do ano da graça de 2005!
Mais do que a efeméride,
e a capicua que não se repetirará mais,
tu és um homem privilegiado
por teres um pai e uma mãe
que te amam muito,
que sempre te amaram muito,
uma irmã que te adora,
sem falar do resto:
a tua namorada,
os teus amigos,
o teu curso,
dois violinos,
um computador,
um quarto,
uma casa,
muitos livros,
muitos CD!...
Só não tens um... cão!
Dá graças à vida por seres feliz.
É certo que o mereces
e tens procurado merecê-lo,
mas nunca te esqueças
que tens vivido
na parte habitável do planeta!...
É que quando nasceste,
o ar já era respirável
neste país
e neste recanto do mundo.
Nasceste livre e feliz!
Continua livre e feliz!
E luta sempre
para que os outros também sejam livres e felizes!

O teu velhote.
21/Janeiro/2005

Fotos: © João Graça (2009). Direitos reservados
__________

Notas de L.G.:

(*) Sobre a Cadi:

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3168: Ser solidário (20): Bissau: O triste caso da Cadi e a ajuda extraordinária do Tino, que trabalha na AD (Nuno Rubim)

3 de Setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)

(**) Vd. postes de:

17 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5662: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (3): Algumas fotos do João Graça

27 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5548: Álbum fotográfico de João Graça (2): O Fatango ou macaco fidalgo (Procolobus badius) do Parque Nacional do Cantanhez

 24 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5531: Álbum fotográfico de João Graça (1): Médico em Iemberém por cinco dias

Guiné 63/74 - P5683: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (8): Seguir o exemplo do meu pai e do seu amor por essa terra (Maria Eugénia Neto)

1.  Comentário de Maria Eugénia Neto, filha de José Neto e Júlua Neto, ao poste de 19 de Janeiro de 2010> Guiné 63/74 - P5677: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (6): Júlia Neto em Bissau, com a família do Dauda Viegas (Pepito)


É com muita emoção que leio o relato do Pepito (perdoe-me a familiaridade) e vejo as fotos da minha mãe  nessa estadia memorável na Guiné [ Foto à esquerda]. Com emoção e uma pontinha de inveja, devo confessar.

Estas experiências, e estes relatos acerca do meu pai (*), saber dele detalhes que não conhecíamos, conhecê-lo através dos olhos dos outros, são de repente muito perturbadores. Perturbadores, mas agradáveis. Contribuem para o contínuo processo de actualização do "retrato" que a nossa memória selectivamente faz daqueles que nos deixaram.


Espero que esta viagem seja a primeira, e que outras se lhe sigam; que possamos lá ir, a mãe e nós, as irmâs, com os filhos. Que encontremos forma de contribuir e cooperar com a AD ou outras entidades, seguindo o exemplo do meu pai e do seu amor por essa terra [ Foto à direita].

Muito obrigada pelo que nos proporcionaram. Até breve,

Maria Eugénia Neto
(segunda filha do Zé Neto)


  ______________

Nota de L.G.:

(*) José Neto (1929-2007), que foi 2º Sargento CART 1613 (Guileje, 1967/68); esteve 10 anos em serviço em Macau; passou também pela Guarda Fiscal; reformou-se como Capitão; foi o primeiro membro da nossa tertúlia que a morte nos roubou. Teria sido para ele uma enorme alegria voltar a ver, erguida das cinzas, a sua capela, nessa  terra de fé e de coragem que foi Guileje.

Guiné 63/74 – P5682: Armamento (1): Morteiros, Lança-Granadas, Granadas e Dilagrama (Luís Dias)

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1. O nosso Camarada Luís Dias*, ex-Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74, enviou-nos em 13 de Janeiro de 2010, a seguinte mensagem:
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ARMAMENTO E EQUIPAMENTO DAS FORÇAS ARMADAS PORTUGUESAS E DOS GUERRILHEIROS DO PAIGC NA GUERRA COLONIAL

GUINÉ
1971 - 1974

2ª PARTE

1. OS MORTEIROS 60 mm

1.1 FORÇAS PORTUGUESAS

No apoio imediato às tropas portuguesas foi largamente utilizado o morteiro 60 mm, quer na defesa de aquartelamentos, quer nas deslocações, tanto apeadas, como em colunas auto. De facto, face à falta de um lança granadas foguete que se adequasse ao combate na selva, os grupos de combate utilizavam o morteiro 60 mm, retirando o prato base para o tornar mais leve e transportável.

Depois, com o desenvolvimento do denominado morteirete, que era composto unicamente pelo tubo e com uma base arredondada e um pouco mais larga para não se enterrar no chão, contendo uma bandoleira onde estavam fixadas chapas com as distâncias alcançáveis, era este o modelo amplamente utilizado.

O morteiro é uma arma de tiro curvo, capaz de bater alvos desenfiados ou em contra-encosta.O morteiro 60 mm mais utilizado era o M2 m/952, de origem norte americana.

Morteiro M2 60 mm m/952

Características desta arma:
  • TIPO: morteiro ligeiro
  • PESO: 17 kg
  • COMPRIMENTO: 720 mm
  • ALCANCE MÁXIMO (para carga explosiva): 1815 m
  • CADÊNCIA DE TIRO: 18 g p/m
  • GRANADAS: explosivas, de iluminação, de fumos e de exercício
  • COMPOSIÇÃO GERAL DA ARMA: cano, suporte, prato base e aparelho de pontaria
  • FUNCIONAMENTO: arma de ante carga, culatra roscada, de alma lisa e percutor fixo. O lançamento é proporcionado pelos gases que se formam na explosão da carga propulsora e suplementares (se for necessário), quando a granada é percutida, após percorrer o cano por inércia.
O morteirete atribuído às forças armadas portuguesa foi desenvolvido pela FBP, com conceito de origem francesa (o Hotchkiss-Brandt 60 mm commando mortar), como sendo o modelo FBP m/68.

Morteirete 60 mm FBP m/68

Características desta arma:
  • TIPO: morteiro comando
  • PESO: 5 kg
  • COMPRIMENTO: 650 mm
  • ALCANCE MÁXIMO (para carga explosiva): 1070 m
  • CADÊNCIA DE TIRO: 30 g p/m
  • GRANADAS: explosivas, iluminantes e de fumos
  • COMPOSIÇÃO GERAL DA ARMA: cano, bandoleira graduada, polinómetro, tampa de boca em borracha.
  • FUNCIONAMENTO: arma de ante carga, de alma lisa e percutor fixo, sendo que o lançamento da granada é efectuado por acção dos gases que se formam, aquando da percussão da carga propulsora, depois da granada atingir o percutor por inércia.

1.2 FORÇAS DO PAIGC

O PAIGC usava morteiros 60 mm de diversas procedências, nomeadamente da antiga URSS, da China (T-31 e T-63) e de outros países do Leste Europeu.

1.3 OBSERVAÇÕES

Deve ser salientado o nosso morteirete, pelo seu peso, pela facilidade de utilização, aliado a um jeito natural que o soldado português tem para este tipo de armas, que já vem dos tempos da Iª Guerra Mundial, segundo rezam algumas crónicas da época.

Face à base arredondada, pudemos testemunhar o feito que um soldado africano, de forte compleição física, numa situação de contacto com guerrilheiros do PAIGC (Operação “Alma Forte”, no dia 11 de Março de 1972, pelas 18h00, 2 grupos de combate da C.CAÇ 3491 – Dulombi) em que fomos emboscados pelo IN, junto ao Rio de Lemenei/Paiai Lemenei, foi de grande influência a intervenção do soldado Manga Camará, que colocando o morteirete à barriga e aguentando o forte coice da arma, lançou algumas granadas que vieram a atingir o IN, pondo-o em retirada com diversas baixas.

2. OS LANÇA GRANADAS FOGUETE (LGF)

2.1 FORÇAS PORTUGUESAS

O lança granadas foguete (LGF) é, como se sabe, uma arma essencialmente anti-carro, e será por esse facto que Portugal não terá procurado para a guerra que suportava nas colónias um LGF que se adaptasse às necessidades que as tropas sentiam naqueles específicos terrenos de ter uma arma deste tipo, mas mais manejável que as que estavam distribuídas. Os LGF (vulgarmente conhecidos como Bazukas, do inglês Bazooka) existiam em Portugal nos modelos de 6 cm M/955 e 8,9 cm M/952, foram largamente utilizados durante a guerra colonial, em especial o último modelo, embora, na maior parte das vezes, unicamente utilizando granadas anti-carro (Heat – High Explosive Anti Tank), de pouca eficácia anti-pessoal, compensando com o poder contundente do troar da sua explosão.

Para concorrer com os RPG do IN, os portugueses desenvolveram em Angola um lança “rockets” originalmente concebido para tiro ar-solo (utilizado nos aviões T-6), que foi também muito utilizado na Guiné, em especial pelas forças pára-quedistas, o SNEB de 37 mm, de origem francesa, bastante mais leve e manejável que a bazuca, a que alguns chamavam de “roquetim”, facilmente reconhecível pela manga do tubo furada.

No entanto, o LGF mais utilizado como arma de apoio dos grupos de combate foi o LGF 8,9 cm M20 e M20A1, de origem EUA, conhecidos pela “bazooka” e “Super bazooka”, respectivamente. Algumas unidades possuíam o LGF Instalaza 8,9 cm, de origem espanhola, muito semelhante à bazuca americana, mas que tinha uma protecção para o atirador.

Elementos das Forças pára-quedistas, algures numa bolanha da Guiné, podendo ver-se que o elemento da frente transporta o LGF SNEB 37mm.

LGF M20A1 8, 9 cm

Características do LGF M20/M20A1 8,9 cm
  • TIPO: Lança granadas foguete
  • ORIGEM: EUA
  • ANO DE FABRICO (primeiros modelos): 1942
  • COMPRIMENTO: 153 cmPESO: 5,9 Kg
  • ALCANCE MÁXIMO 150/200 m
  • VELOCIDADE: 160 m/S
  • CAPACIDADE: Perfura 280 mm de blindagem
  • FUNCIONAMENTO: Arma de retro-carga, de disparo eléctrico, movendo-se a granada por acção de foguete propulsor.
2.2 FORÇAS DO PAIGC

Os guerrilheiros do PAIGC possuíam como lança granadas foguete o RPG-2 e o RPG-7, de origem soviética, que usavam com grande profusão. Outro LGF que foi utilizado era o P-27 Pancerovka, com origem na então Checoslováquia, mas já era menos visto nos anos em estudo.

RPG-2

Características do RPG-2
  • TIPO: Lança Granadas Foguete (RPG - Ruchnoy Protivotankovyi Granatomyot)
  • ORIGEM: URSS
  • ANO DE ENTRADA AO SERVIÇO: 1949
  • CALIBRE: 40 mm (diâmetro do tubo), 82 mm (diâmetro da cabeça explosiva da granada)
  • PESO: 2,83 Kg, 4,67 Kg com granada introduzida
  • COMPRIMENTO: 650 mm
  • VELOCIDADE: ALCANCE EFECTIVO: 100 a 150 m, ALCANCE MÁXIMO: 200/300 m
  • CAPACIDADE: Perfura 200 mm de blindagem
  • FUNCIONAMENTO: Arma de carregar pela frente, usando o tipo de granada HEAT, propulsionada por foguete acoplado ao corpo da granada, de percussão mecânica, com seis alhetas estabilizadoras que se soltam aquando da saída da granada.

RPG-7
Características do RPG-7
  • TIPO: Lança granadas foguete (RPG – Ruchnoy Protivotankovyi Granatomyot)
  • ORIGEM: URSS
  • DATA DE ENTRADA AO SERVIÇO: 1961
  • CALIBRE: 40 mm (diâmetro do tubo) e entre 70 a 105 mm (cabeça explosiva da granada)
  • PESO: 6, 3 Kg, 8, 5 Kg com granada introduzida
  • COMPRIMENTO: 650 mm
  • VELOCIDADE: Primeiramente a granada é lançada a cerca de 120 m/s, mas depois com a entrada em funcionamento do motor próprio acelera até aos 240 m/s
  • ALCANCE EFECTIVO: 500 mALCANCE MÁXIMO: 900 m
  • CAPACIDADE: Perfura 260 mm de blindagem
  • FUNCIONAMENTO: Arma de carregar pela frente, podendo usar diversos tipos de granadas, embora a mais utilizada fosse a HEAT, propulsionadas por foguete acoplado ao corpo da granada, de percussão mecânica, com estabilizadores articulados. Quando se dá a propulsão e a saída da granada do tubo e a cerca de 10/ 20 m depois, inicia-se uma aceleração, através do motor da propulsão, com a abertura dos estabilizadores que conferem uma melhor direcção ao projéctil.
Granada de RPG-7

2.3 OBSERVAÇÕES

Os RPG são armas desenvolvidas pela antiga URSS, com origem nos famosos “Panzerfaust” alemães da II Guerra Mundial. São armas bastante portáteis, relativamente baratas e de fácil manejo. Como todos os LGF tinha de haver cuidado com o cone posterior de fogo (20 a 30 m), mas eram mais fáceis de manobrar no terreno, em que nos defrontávamos, do que os nossos LGF. No caso do RPG-2 o atirador transportava, normalmente, 1 gr. na arma e 3 numa bolsa especial usada às costas, tendo ainda um municiador com mais duas granadas. No caso do RPG-7, o atirador podia transportar uma gr. na arma e mais duas numa bolsa adequada que levava às costas e um municiador com mais 3 granadas também em bolsa, que levava às costas.

No caso do nosso LGF não havia bolsas próprias e, normalmente, o atirador transportava uma gr. na arma e levava mais duas e o seu municiador outras duas ou quatro, dado tratarem-se de granadas pesadas.

O IN utilizava com grande à vontade este tipo de LGF, usando-o em todas as actividades operacionais, fossem elas contra aquartelamentos, contra viaturas ou em emboscadas sobre as nossas tropas. O RPG-2 não era uma arma muito eficiente, mas o RPG-7 já era um LGF de muita qualidade que perdurou no tempo e foi utilizado em muitas frentes e guerras. As granadas de RPG-2 explodiam por contacto, enquanto as de RPG-7, para além de explodirem por contacto, também explodiam ao fim de 4,5 segundos, caso não encontrassem um obstáculo, o que produzia estilhaços em chuva sobre o inimigo. Segundo um guerrilheiro capturado pela minha companhia, a dificuldade em apreendermos RPG-7, ao contrário dos RPG-2, era devido a que estes eram entregues aos melhores combatentes, sendo também em menor quantidade.

No meu caso pessoal, ao fim de alguns meses de mato, decidi que o meu grupo de combate só levasse a bazuca 8,9 cm na escolta a colunas, pois o seu peso, o das granadas e a dificuldade de manobrá-la (preocupações com o cone de fogo que produzia), não a tornavam apetecível para a progressão no mato. Lembro, contudo, de em vez de usarmos as granadas HEAT habituais para o LGF, usávamos umas granadas Energa (belgas), com ponta em mola, que originavam um coice na arma, praticamente impeditivo de atirar ao ombro. O disparo era efectuado à anca. Assim, a bazuca era mais utilizada na defesa do aquartelamento.

Neste tipo de armamento é que as forças portuguesas ficavam a perder. Logo no comprimento e envergadura dos LGF a vantagem era nítida do PAIGC. Também o peso das granadas não ajudava e o efeito das mesmas não era tão efectivo como, por exemplo, um tiro de dilagrama.

Cone de fogo produzido por um LGF, aquando do disparo de uma granada

Estilhaços de granadas de RPG-2 (esquerda) e de RPG-7 (direita), encontrados após uma das flagelações do PAIGC ao quartel do Dulombi, em 1972.

3. AS GRANADAS DE MÃO

3.1 FORÇAS PORTUGUESAS

As tropas portuguesas usavam, essencialmente, dois tipos de granadas de mão: as ofensivas e as defensivas. Eram também usuais as granadas de fumo (cores vivas) para assinalar locais no mato para aterragem urgente de hélios e para identificar a zona onde se encontravam as nossas forças, quando se solicitava ataque aéreo e muito raramente se utilizavam as incendiárias.

As granadas ofensivas eram de fraco raio de acção, essencialmente actuando por sopro e choque, podendo ser empregues quando as tropas que as lançavam estão a descoberto, dado que os seus poucos estilhaços, normalmente, não tinham alcances superiores a 15 m.

As granadas defensivas eram de um raio de acção superior a 100 m, embora o raio de acção de eficácia fosse de 15/20 m, actuando por meio de fragmentação em estilhaços do seu próprio corpo e da espiral existente no seu interior. Destinam-se a ser empregues quando as forças que as lançam estão abrigadas, protegidas da acção dos efeitos da própria granada.

Outra utilização para as granadas defensivas era o seu arremesso, através de um dispositivo colocado na G3, com recurso à utilização de uma munição especial, para distâncias superiores aos atingidos pelo lançamento manual - este conjunto chamava-se dilagrama.

Características da Granada Ofensiva M/62
  • TIPO: Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
  • PESO: 310 g
  • CARGA: 190 g TNTRAIO DE ACÇÂO: 10 a 15 m
  • ALCANCE: Dependente da potência do braço do lançador
  • ESPOLETA: De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos.
  • FUNCIONAMENTO: Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.
Características da Granada Defensiva M/963 (M26 ou M26A1)
  • TIPO: Arma de arremesso, destinada ao combate próximo, podendo bater ângulos mortos
  • ORIGEM: EUA
  • PESO: 455 g
  • CARGA: 165 g de Composição B
  • RAIO DE ACÇÃO EFICAZ: 20/30 m
  • RAIO DE ACÇÃO PERIGOSO: 185 m
  • ALCANCE: Dependente da potência do braço do lançador
  • ESPOLETA: De tempos, de percussão prévia automática. Duração de combustão do misto retardador – 4 a 5 segundos
  • FRAGMENTAÇÃO: Através de uma espiral em aço em forma de barril, existente no interior do corpo. Mola fragmentada
  • FUNCIONAMENTO: Após ser retirada a cavilha de segurança, puxada pela argola existente na cabeça da granada, largando em seguida a alavanca de segurança, o percutor acciona a combustão do misto retardador e posteriormente atingindo o detonador, este acciona a carga ignidora e em seguida a carga base, dando-se a explosão.
A granada defensiva M26A1 M/63

O Dilagrama

O Dilagrama era um dispositivo que, conjuntamente com a granada de mão defensiva M/63, ao qual era fixado, aplicado na espingarda automática G3, permitia-nos obter alcances superiores aos conseguidos pelo arremesso manual da granada, reduzindo os riscos para as nossas tropas na sua utilização. O Dilagrama permitia bater ângulos mortos, sendo possível o seu emprego contra elementos IN abrigados.

O Dilagrama era constituído por:
  • Um adaptador da granada;
  • Um tubo em forma cilíndrica;
  • Uma empenagem;
  • A granada defensiva M/63 e
  • Um cartucho especial propulsor.
Retirada a cavilha da granada, a alavanca de segurança ficava presa pelo retentor. Quando se premia o gatilho da arma e o cartucho era percutido, a acção de gases que se seguia impulsionava o conjunto, lançando-o pelo ar e pela acção da inércia o grampo de armar recuava, partindo o retentor, soltando-se, então, a alavanca de segurança da granada, iniciando-se a combustão do misto retardador e consequentemente a explosão, com fragmentação de todo o conjunto.

Normalmente, a granada atirada por este dispositivo, rebentava acima do solo. Num disparo a 45º, verificávamos que, efectuando uma contagem rápida de 1 a 15, o rebentamento se dava, por norma, nesta altura.

O disparo deste dispositivo dava um forte coice, em especial no dedo que dava ao gatilho, por isso, os soldados eram instruídos para efectuarem o disparo como se dedilhassem uma guitarra (só usando a ponta do dedo) e dispararem a arma apoiada no chão, prendendo-se com um dos pés a bandoleira e colocando a arma no ângulo pretendido. No entanto, em acção, a maior parte dos atiradores que me acompanhavam e que utilizavam o dilagrama, efectuaram os disparos do mesmo ao ombro, sem quaisquer problemas.

Dilagrama M26A1

Características desta arma:
  • TIPO: Dispositivo de lançamento de granada defensiva através de uma espingarda
  • ORIGEM: EUAPESO: 455 g
  • EXPLOSIVO: Composição B
  • FRAGMENTAÇÃO: Espiral de aço em forma de barril no interior da granada, bem como o restante conjunto, fabricado em metal.
  • CAPACIDADE: Acção efectiva nos 15 m em redor do local da explosão.
  • ALCANCE MÀXIMO: 160 m
Durante o ano de 1973, surgiu outro tipo de dispositivo (ao que creio, o FRG-RFL 40BT, de origem belga), em que a granada não era acoplada, mas fazia parte integrante do conjunto (tipo bola), no calibre de 40 mm, rebentando por impacto e, dado ser um conjunto mais leve que o conjunto anterior (355 g), o seu alcance era sensivelmente o dobro (350 m), lançando cerca de 300 fragmentos, em 30 m envolta do local da explosão.

3.2 FORÇAS DO PAIGC

Os guerrilheiros do PAIGC utilizavam, normalmente, as granadas defensivas chinesas de cabo de madeira (alguma semelhança com as dos alemães utilizadas na 2ª Guerra Mundial) e as granadas de fragmentação russas RGD5 e F1, também fabricadas pela China.

Granadas defensivas F 1

Características da granada defensiva F 1
  • TIPO: Granada de fragmentação
  • ORIGEM: URSS
  • DATA: 2ª G.M.
  • PESO: 600 g
  • EXPLOSIVO: 60 g TNT
  • FRAGMENTAÇÂO: Pinha em aço
  • RAIO DE ACÇÂO EFICAZ: Acção efectiva até 20 m do local da explosão
  • ESPOLETA: De tempo, com temporizador regulado para os 3 a 4 segundos
  • FUNCIONAMENTO: Semelhante à nossa granada
3.3 OBSERVAÇÕES

A nossa granada, utilizada através do dispositivo denominado dilagrama, era mais útil que as utilizadas manualmente, tendo mais capacidade de causar baixas no IN. Também a M26A1 era uma granada mais moderna, produzindo mais estilhaços do que as do PAIGC, nomeadamente a F1, conhecida pelos russos como Limonka (granada limão) e que já não era fabricada pela URSS, mas era ainda utilizada nos países satélites e em várias guerras de libertação.

Nota do autor: Na recolha para este trabalho foram coligidos elementos, material e fotos, com a devida vénia, da Wikipédia/Internet; How stuff Works.com; Infantry Weapons of the World, da Brassens, Editor J.L.H. Owen; Guerra Colonial, de Aniceto Afonso e Carlos de Matos Gomes, Edição Diário de Notícias; Moderrn Firearms & Ammunition Encyclopedie; Armamento do Exército Português, Vol. I – Armamento Ligeiro, de António José Telo e Mário Álvares, da Prefácio; Armas de Fogo, seus Componentes, Capacidades e o seu Uso pelas Forças Policiais, de Luís Dias (PJ - Maio de 2004) e apontamentos e fotos diversas do próprio autor. Foto do LGF SNEB obtida do blogue do BCP 12 (com a devida vénia).

Um abraço,
Luís Dias
Alf Mil At Inf da CCAÇ 3491/BCAÇ 3872
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Nota de M.R.:

Este é o primeiro poste desta série.