1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P26900 (*)
Quando o afirmam, deveriam poder dar evidências credíveis, mas não é isso que se vê nas imagens quando vemos a população e, inclusive, alguns soldados nativos a trabalhar na limpeza do sorgo (milho) para a sua alimentação.
Se não podiam produzir localmente, por causa do confinamento da guerra, então sempre podiam comprar em outros sitios da região ou fora dela.
A minha opinião é de que a tropa mal tinha o necessário para a sua própria alimentação nos diversos aquartelamentos fora das cidades.
E, sem esquecer que os muçulmanos, como seria o caso em Fulacunda, tinham algumas reservas de natureza religiosa em relação à comida dos portugueses em geral e da tropa (nos aquartelamentos) em particular, devido ao uso de certos produtos proibidos ou considerados ilícitos pela sua religião. (**)
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(*) Vd. poste de 9 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26900: Recordações de um fulacundense (Armando Oliveira, ex-1º cabo, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74) - Parte IX
9 comentários:
Cherno, a informação é do alferes Jorge Pinto.
Cultivvaa-se alguma mancarra e milho painço.
Não havia comércio.
O arroz era fornecido pela tropa (sic).
Amanhã consulto a história da unidade.
Retomando a nossa conversa... Bom dia, Cherno, desde Lisboa...A questão que tu levantas, é muito interessante...Como é que sobrevivia a população de Fulacunda, 400 pessoas, metidas numa "vila" (que já tinha sido sede de circunscrição antes da guerra), rodeadas de arame farpado, sem liberdade de movimentos...?!... Fulacunda era um "campo de concentração", isto é, estava isolada...As duas únicas vias de abastecimento eram a pista de aviação (onde podia aterrar uma avioneta) e o heliporto, bem como o porto fluvial (na foz do rio Fulacunda, a escassos 2/3 km)... Não havia comércio local. A tropa e a população eram reabastecidas de barco (civil ou LDM) quinzenalmente. Só de cerveja eram 6 mil garrafas que chegavam de todas as vezes para a malta da tropa (12 mil por mês!)... Era a tropa (a Intendência) que tinha de fornecer o arroz à população (e, claro, à tropa).
Um ponto a esclarecer: havia racionamento ? a distribuição de arroz era gratuita ? havia o risco de o arroz ir parar também às mãos do PAIGG ?
Fulacundenses, esclareçam estas dúvidas... Vou ver se encontro respostas na História da Unidade...que o Armando Oliveira teve a gentileza de me mandar, em formato pdf.
Já dei uma primeira vista de olhos à História da Unidade...Parece ser omissa sobre estes pontos... Em Tite, sede do batalhão, havia mais possibilidades de a população cultivar arroz e outros produtos (nomeadamente hortícolas). A tropa fornecia as sementes, que tinham de ser "pagas" no ano seguinte, a seguir à colheita...A região de Quínara era rica em bolanhas... Náo sabemos se em Fulacunda havia alguma bolanha a ser cultivada...
Se bem me lembro, após tantos anos (71/72, Gadamael) vendíamos, o "arroz do governador"( 5 pesos/kg?)
O cor art ref Morais Silva telefonou-me a esclaracer esta questão: depois de falar com o seu antigo vagomestre, o Oliveira, acrescentou os seguintes pontos:
(i) a população de Gadamael era autossuficiente (cultivava arroz de sequeiro, com alguma, discreta, proteção da tropa e das milícias), em terras a nordeste do aquartelamento;
(ii) em média, uma vez por semestre, era distribuída c. 1 tonelada de arroz, para suprir eventuais falhas nos stocks;
(iii) no máximo, num ano e tal, em que estiveram em Gadamael, terão sido distribuídas pela população, 2 a 3 toneladas de arroz;
(iv) era o "arroz da psico", o "arroz do Governador", distribuído gratuitamente (e fornecido pela Intendência);
(v) a tropa limitava-se a levar o arroz para a tabanca (reordenamento) e o chefe da tabanca é que se encarregava da distribuição;
(vi) tem a ideia que o preço que se praticava na época, na Guiné, era de facto os 5 pesos o quilo;
(vii) havia fulas, biafadas e nalus (uns originários de Cacoca e Sagonhá);
(viii) além da subunidade de quadrícula, e do pelotão de artilharia, e ainda do EREC Fox, Gadamael dispunha de 2 pelotões de milícias.
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