Cabo Verde > Ilha de santigao > Praia > Sede da Rádio Voz di Povo, no edifício da ex-Rádio Clube de Cabo Verde, ornamentada por ocasião do 5 de Julho de 1975. O escudo de Cabo Verde ficaria ali até 1987! (*)
Foto (e legenda) : © Carlos Filipe Gonçalves (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
1. Postagem publicada na página do Facebook de Carlos Filipe Gonçalves | terça, 1 de julho de 2025, 12: 46, bem como na página da Tabanca Grande:
Algumas casas de «colonialistas/fascistas» na Prainha, agora nacionalizadas, servem para alojar personalidades mais importantes a nível do protocolo! Os menos importantes são alojados em camaratas improvisadas, no edifício de repartições na Ponta Belém, sedes dos serviços da Agricultura e Obras Públicas. Há ainda casas particulares nos arredores, Achadinha e Fazenda, que acolhem pessoal jornalista e outro. Foi o nosso caso. Para comer, há uma «messe» instalada ali na Rua Sá da Bandeira, numa cave de um edifício.
Motivos de reportagem e notícias, há muitos, mas passamos o resto dos dias a conversar e andar por aí, temos muito material gravado, mas não fazíamos notícias nem escrevíamos nada, pois o contacto com Bissau é impossível, não há linha telefónica disponível!
O António Óscar Barbosa lembra-se das dificuldades:
O Carlos Filipe Gonçalves, nosso antigo camarada na Guiné (foi fur mil amanuense, CefInt/QG/CTIG, Bissau, 1973/74), é uma figura pública no seu país, Cabo Verde (ver aqui entrada na Wikipedia). Natural do Mindelo, vive na Praia. É autor, no nosso blogue, da série "Recordações de um furriel miliciano amanuense (Chefia dos Serviços de Intendência, QG/CTIG, Bissau, 1973/74) (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo)"
Cabo Verde - Reportagem por Ocasião do 5 de Julho de 1975 - Parte I
por Carlos Filipe Gonçalves (**)
50 anos depois, venho a saber, dois dias antes e três dias depois das eeições de 30 de junho de 1975, segunda feira, que todas as comunicações telefónicas tinahm sido colocadas à inteira disposição da Comissão Eleitoral.
Imagino, pois, terá sido esta a causa da maior dificuldade que eu e o colega António Óscar Barbosa encontrámos na reportagem das eleições do dia 30 de junho e da Festa da Proclamação da Independência.
Quando íamos aos CTT justificavam os funcionários ao balcão: há problemas nas ligações telefónicas. Assim, ingloriamente, recorremos à boa vontade de dois «radioamadores», um deles o conhecido Hilário Brito. Mas, em vão… Ninguém respondia do outro lado…. Desistimos!
Proponho a continuação das minhas memórias nesses dias, hoje históricos para Cabo Verde.
Na terça-feira, dia 1 de julho, à tarde apanhei o voo para a Praia, onde vou encontrar os colegas da rádio de Bissau, Cancan e Zeca Martins e a malta do cinema que está encarregue de filmar todos os acontecimentos.
A missão agora é a reportagem do dia 5 de julho, no próximo sábado. Foi um dos maiores desafios que tive como profissional!
Quando íamos aos CTT justificavam os funcionários ao balcão: há problemas nas ligações telefónicas. Assim, ingloriamente, recorremos à boa vontade de dois «radioamadores», um deles o conhecido Hilário Brito. Mas, em vão… Ninguém respondia do outro lado…. Desistimos!
Proponho a continuação das minhas memórias nesses dias, hoje históricos para Cabo Verde.
Na terça-feira, dia 1 de julho, à tarde apanhei o voo para a Praia, onde vou encontrar os colegas da rádio de Bissau, Cancan e Zeca Martins e a malta do cinema que está encarregue de filmar todos os acontecimentos.
A missão agora é a reportagem do dia 5 de julho, no próximo sábado. Foi um dos maiores desafios que tive como profissional!
O platô da cidade da Praia [ zona histórica ] está abarrotado de gente! No aeroporto é um chegar constante de aviões, que trazem delegações e personalidades estrangeiras que vêm assistir ao acontecimento; chegam dezenas e dezenas de jornalistas que vêm fazer a cobertura do evento.
A sede do PAIGC [na Av Amílcar Cabral], ali em frente da Praça, é para esse ponto que convergem todas as pessoas, há pequenos grupos, conversas, gargalhadas, a esplanada da praça está repleta. O ambiente é de expectativa, ao mesmo tempo, tenso. Sente-se que para trás ficaram os acontecimentos dolorosos que ocorreram desde há um ano e tal. A conversa do momento gira sempre à volta do alojamento, a pousada de 12 quartos na Prainha está esgotada, assim como todas as três e únicas pensões da cidade!
A sede do PAIGC [na Av Amílcar Cabral], ali em frente da Praça, é para esse ponto que convergem todas as pessoas, há pequenos grupos, conversas, gargalhadas, a esplanada da praça está repleta. O ambiente é de expectativa, ao mesmo tempo, tenso. Sente-se que para trás ficaram os acontecimentos dolorosos que ocorreram desde há um ano e tal. A conversa do momento gira sempre à volta do alojamento, a pousada de 12 quartos na Prainha está esgotada, assim como todas as três e únicas pensões da cidade!
Algumas casas de «colonialistas/fascistas» na Prainha, agora nacionalizadas, servem para alojar personalidades mais importantes a nível do protocolo! Os menos importantes são alojados em camaratas improvisadas, no edifício de repartições na Ponta Belém, sedes dos serviços da Agricultura e Obras Públicas. Há ainda casas particulares nos arredores, Achadinha e Fazenda, que acolhem pessoal jornalista e outro. Foi o nosso caso. Para comer, há uma «messe» instalada ali na Rua Sá da Bandeira, numa cave de um edifício.
Motivos de reportagem e notícias, há muitos, mas passamos o resto dos dias a conversar e andar por aí, temos muito material gravado, mas não fazíamos notícias nem escrevíamos nada, pois o contacto com Bissau é impossível, não há linha telefónica disponível!
O António Óscar Barbosa lembra-se das dificuldades:
“Nós até recorremos a rádios amadores! Lembras? Para transmitir as nossas reportagens!”
E conta o que se passou na Praia:
“Havia um senhor, o Hilário (Brito) … ele e outro senhor… Ângelo Mendes! Eram radioamadores doentes… tinham tudo… Nós íamos lá… e em Bissau, estava o Rendall, ele era chamado… tudo o que nós gravámos, saiu, não em condições, mas deu a entender o que se estava a passar…”
(Continua)
(Revisão / fixação de texto, título: LG)
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Notas do editor LG:
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Notas do editor LG:
(*) O que queria dizer a sigla J. C.E., ao cimo da entrada do edifício ? Ao alto o brasão do PAIGC. Lateralmente, três cartazes com as figuras de Amílcar Cabarl, 'Che' (Guevara) e N'krumah.
Não encontrámos resposta (verosímel) para a pergunta na consulta da Net, nem com a ajuda da IA (u dos assistentes disse que era...a Juventude Católica Estudantil.
O Rádio Clube de Cabo Verde era a estação de rádio existente durante o período colonial, fundada na Praia em 1945. Com a independência de Cabo Verde em 1975, a Rádio Clube de Cabo Verde foi rebatizada; passou a chamar-se Rádio Voz di Cabo Verde, tornando-se a rádio nacional do país.
"Unidade, Trabalho e Progresso" era o lema do PAIGC... Foi alterado em 1980, em Cabo Verde. depois do golpe de Estado na Guiné-Bissau, liderado em Bissau por 'Nino' Vieira, e que depôs o presidente Luís Cabral, meio-irmão do Amílcar Cabral, filhos do mesmo pai (cabo-verdiano). A liderança cabo-verdiana do Partido considerou o golpe um ato de traição à causa da unidade Guiné-Bissau / Cabo Verde. Em 1981, seria fundado o Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV). O lema do partido em Cabo Verde foi então alterado para "Unidade e Luta".
"Unidade, Trabalho e Progresso" era o lema do PAIGC... Foi alterado em 1980, em Cabo Verde. depois do golpe de Estado na Guiné-Bissau, liderado em Bissau por 'Nino' Vieira, e que depôs o presidente Luís Cabral, meio-irmão do Amílcar Cabral, filhos do mesmo pai (cabo-verdiano). A liderança cabo-verdiana do Partido considerou o golpe um ato de traição à causa da unidade Guiné-Bissau / Cabo Verde. Em 1981, seria fundado o Partido Africano para a Independência de Cabo Verde (PAICV). O lema do partido em Cabo Verde foi então alterado para "Unidade e Luta".
O edifício na imagem exibe características que são próprias do estilo Arte Deco (estrutura angular, elementos decorativos geométricos, linhas horizontais das varandas ou saliências). Não sabemos a data. Possivelmente anos 30/40.
(**) Último poste da série > 1 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26973: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (5): em 30 de junho de 1975, vindo de Bissau, eu fazia a reportagem das primeiras eleições de deputados, para a Assembleia Nacional Popular (Carlos Filipe Gonçalves)
(**) Último poste da série > 1 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26973: Os 50 anos da independência de Cabo Verde (5): em 30 de junho de 1975, vindo de Bissau, eu fazia a reportagem das primeiras eleições de deputados, para a Assembleia Nacional Popular (Carlos Filipe Gonçalves)
4 comentários:
JCE: que sigla seria, em 1975, na Praia ?
Carlos Filipe Gonçalves (by email)
3 jul 2025 16:38
Olá Luis, Boa tarde,
Olha, respondi ontem no Post no FB a esta tua pergunta, mas aqui vai de novo:
O edifício ainda existe, é actualmente a sede do BCA - Banco Comercial do Atlântico, de capitais portugueses. Anteriormente foi a sede do BCV - Banco de Cabo Verde. O edifício foi inaugurado em 28 de Maio de 1954, pertencia ao serviço estatal SAGA - Serviço de Abastecimento de Géneros Alimentícios, criado para abastecer e controlar os preços nos períodos de seca. Depois foi transformado em JCE- Junta do Comercio Externo, em final de 1950, e tinha como objectivo controlar as importações e também importava géneros e produtos de Angola e Moçambique. Meados dos anos de 1960, mudou de nome para Serviço de Economia.
Curioso, foi que o primeiro andar do edifício foi concebido para alojar a Rádio Clube de Cabo Verde que, embora privada, era oficial, tinha um clube recreativo anexo, para os altos funcionários da época, comerciantes, etc. cujo acesso, era limitado. Vê os comentários anteriores meus e de outros neste post sobre o edifício.
(...)
(Continua)
Carlos Filipe Gonçalves (continuação)
Posts com mais informações
(i) Lino Públio Pinto Monteiro > O edifício era da SAGA, depois Junta do Comércio Externo e Serviços Provincial de Economia em 1974. O último piso estava alugada a um preço simbólico ao Rádio Clube de Cabo Verde, uma instituição privada e gerida pelos sócios. Os órgãos de gestão eram eleitos sem intervenções. Foi assim que depois de 25 Abril apareceram várias listas com tendências políticas.
(ii) Oscar Monteiro > O prédio onde estava instalado a Rádio Clube de Cabo Verde (RCCV), foi construído em 1954, pertencia à SAGA, depois Serviços da Economia, portanto era um edifício do Estado. A informação é facultada no n.º 57 da revista “Cabo Verde Boletim de Informação e Propaganda”, ed. 1 de Junho de 1954 pág. 8 através de uma foto que ocupa meia página com a seguinte legenda: “Perspectiva do edifício da SAGA (Serviço de Abastecimento de Géneros Alimentícios), inaugurado em 28 de Maio findo e onde ficam instalados os serviços respectivos e o Rádio Clube”. A RCCV pagava uma renda ao departamento governamental, até 1974. Sendo depois a rádio Emissora Oficial da Republica de Cabo Verde (departamento governamental), ocupou o prédio, este foi vendido pelo Governo ao BCV em 1984, a entretanto RNCV lá continuou até quando foi inaugurado a Casa da Rádio na Achada de Santo António.
Espero tenha ajudado. Obrigado pelo interesse. Desejos de vida e saúde sempre.
Forte abraço
Carlos Filipe Gonçalves
Jornalista Aposentado
Um assistente de IA deu-me esta resposta...hilariante:
P - O que quer dizer a sigla J.C.E. na portada do edifício do antigo Rádio Clube de Cabo Verde, na cidade da Praia ?
R - A sigla J.C.E. na portada do edifício do antigo Rádio Clube de Cabo Verde, na cidade da Praia, significa Juventude Católica Estudantil.
Este é um acrónimo que remete ao período em que o edifício foi construído ou utilizado por esta organização, que tinha um papel significativo na sociedade cabo-verdiana da época.
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