Guiné > Zona Leste > Mansambo > CART 2339 (1968/69) > O regresso à metrópole, em Dezembro de 1969, com escolta (de honra) da CCAç 12 (2º Grupo de Combate, o do Humberto Reis).
Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
© Humberto Reis (2006)
1. Mensagem do Hugo Moura Ferreira:
Caro Dr. Santos Almeida (1)
Não cheguei a conhecê-lo quando da passagem dos nossos aventureiros pelo Porto Alto, onde me desloquei para lhes desejar boa viagem até à Guiné (2).
Sei que tinha estado com o Francisco Allen dias antes, no Norte, pelo que naquele dia tão chuvoso não pode aparecer.
Gostaria da mesma forma de me deslocar ao aeroporto na próxima 6ª feira para transmitir os mesmos votos, a si e ao outros camaradas tertulianos que vão seguir no mesmo vôo (3).
Com muita tristeza minha não me vai ser possível pois que nesse dia estarei em Arganil.
Não deixo, no entanto passar esta oportunidade, para lhe desejar, e aos outros camaradas, as melhores venturas e aventuras, na deslocação que vão iniciar no dia 14.
Mais agradeço que transmita aos viajantes de superfície (Francisco Allen, A. Marques Lopes, Inês, Hugo, Manuel Costa e o Armindo Pereira) os mesmos votos e um abraço de amizade.
Para si, naturalmente, outro abraço.
Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf.Mil.Inf.(1966/1968)
CCaç. 1621 e CCaç 6
2. Comentário de L.G.:
Quero, naturalmente, desejar boa viagem ao nosso tertuliano António Santos Almeida e ao seu infortunado camarada Saagum, ambos da CART 2339, e desejar-lhes uma óptimo (re)encontro com o passado e o com presente da Guiné, para eles e os restantes companheiros (do Porto).
A estória (singular) do Almeida já aqui ficou registada no blogue, em post de 9 de Junho de 2005... Por outro lado, o Saagum ficou gravemente ferido (tendo perdido uma vista) na famigerada emboscada ao pessoal da fonte de Mansambo (19 de Setembro de 1968). Recorde-se que houve um outro camarada que foi apanhado pelo PAIGC nessa ocasião e de quem nunca se fala (segundo informação do Almeida).
Aliás, o Almeida acabou, agora mesmo, de me ligar da sua casa em Samora Correia, perto do Porto Alto, Vila Franca de Xira. Anda atarefadíssimo, como se imagina, com os preparativos da viagem ( na próxima sexta-feira, 14 de Abril) e tem recebidos muitos e-mails dos nossos tertulianos e de outros camaradas. Através de mim, ele quis-se despedir da nossa tertúlia. Vai estar 15 dias na Guiné, com o Saagum e mais dois camaradas do Porto. Lá encontrar-se-ão com o outro nosso grupo (Allen & companhia).
Quanto ao Hugo, só posso louvar a sua simpática iniciativa. Mas, se ele me permite um pequeno reparo (protocolar), aqui na tertúlia a regra (tacitamente assumida) é a do tratamento por tu... Entre camaradas de caserna, deixa-se lá fora os títulos (académicos ou outros) que nos podem separar ou inibir... Mas, claro, todas as regras têm excepções... E nem isso é o mais importante. O mais importante é comunicar (do latim, communicare, pôr em comum)...
A propósito, tomem nota do novo endereço de e-mail do António Santos Almeida.
___________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 9 de Junho de 2005 > Guiné 63/74 - LIII: Notícias da CART 2339 ('Os Viriatos', Fá e Mansambo, 1968/69)
(...) "O Almeida [, hoje jurista, reformado dos seguros,] era, na altura, soldado de artilharia. Tinha habilitações literárias superiores à 4ª classe mas chumbou no curso de milicianos (sargentos ou oficiais, não sei ao certo).
"Recorda-se de também haver em Bambadinca um médico que estava na mesma situação, como soldado raso, e com quem ele convivia, quando lá ia à sede de batalhão (BCAÇ 2852).
"Lembra-se de ir beber, de vez em quando, um copo, acompanhado da boa mancarra, na esplanada do bar de um dos dois comerciantes brancos que havia em Bambadinca, com vista para o rio. Esse mesmo que era suspeito, no nosso tempo, de estar feito com os turras. Eu e malta da CCAÇ 12 íamos lá sempre que o homem arranjava uns camarões tigres, do Rio Geba, pescados em zona de risco... Fazia-nos pagá-los a preço de ouro (50 pesos o quilo, se a memória me não falha; o equivalente ao que te pedia uma bajuda de mama firme para partir catota contigo)" (...).
(2) Vd post de 6 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXVII: Do Porto a Bissau (3): o pequeno almoço no Porto Alto (Moura Ferreira)
(3) Vd. post de 20 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXIII: O Rali Porto-Bissau (1): Jantar em Moreira de Cónegos
(...) "Esta iniciativa, do Allen, teve como objectivo juntar os elementos que vão participar no, já anunciado, Rali Porto-Bissau, a fim de afinar alguns aspectos da sua preparação. E os participantes serão: Allen, M. Lopes, Hugo Costa (filho do Albano), Manuel Costa (primo do mesmo Albano) e Armindo.
A data da partida ficou marcada para 5 de Abril às 07H00. A ideia é chegarmos um dia antes dos participantes no Rali por via aérea, que irão a 14 de Abril (ou para podermos estar nessa data em Bissau, no caso de haver algum atraso pelo caminho), e que são:
(i) Carlos Marques dos Santos, de Coimbra,
(ii) Casimiro e Ernesto, do Porto,
(iii) António Almeida e um camarada DFA, o José Clímaco Saagum, soldado do 1.º Pelotão da Cart 2339 ferido, em 19 de Setembro de 1968 (segundo informação do Carlos Marques dos Santos)" (...).
O Carlos Marques dos Santos desistiu, por razões de saúde, pelo que o grupo que se vai juntar aos que viajaram por terra (Allen, Marques Lopes, etc.) ficou reduzido a quatro (o Almeida não conhece os dois camaradas do Porto).
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 12 de abril de 2006
Guiné 63/74 - P688: Reflexão de Jorge Cabral (Pel Caç Nat 63): recordar ou esquecer a Guiné? E qual delas?
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Estrada Finte-Missirá > 1970 > O Humberto Reis e outros camaradas da CCAÇ 12 kexaminem o estado em que ficou a viatura (Unimog 404) em seguia o Alf Mil Beja Santos, comandante do Pel Caç Nat 52, quando accionou uam mina anticarro. O Pel Caç Nat 52 foi depois substituído pelo Pel Caç Nat 63, comandado pelo Alf Mil Cabral, até então destacado em Fá Mandinga.
Arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
© Humberto Reis (2006).
Texto de Jorge Cabral (ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, destacado em Fá Mandinga e depois em Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71).
Caro Amigo, Companheiro e Camarada,
Atarefado pelo exercício de duas profissões exigentes [advogado e professor universitário], guardei um fim-de-semana inteiro para me pôr em dia, face à avalanche de material recordatório do teu/nosso blogue.
Fiel ao meu único propósito tertuliano – relato de vividos, gozados e ridículos episódios – a leitura de tantas e tão válidas intervenções tem-me porém obrigado a reflectir.
Reflectir sobre a guerra, mas talvez principalmente sobre nós próprios de então e de hoje. Porque lembramos o que lembramos? Que significou esse tempo nas nossas vidas? Sentimos saudades? Recordar ou esquecer a Guiné?
As nossas experiências foram diferentes. Cada um de nós, guardou uma memória única, de acordo com o meio onde esteve integrado e as características da própria personalidade (o Missirá do Beja Santos não foi o meu Missirá…)(1).
Tivesse eu pertencido a uma companhia, ou batalhão, e outras seriam as minhas lembranças…
Mas não, pertenci à tropa mais macaca de todas – um pelotão de caçadores nativos. Os meus soldados faziam a guerra desde o início. Muitos tinham mais de quarenta anos e viviam em companhia das mulheres, dos filhos, das cabras, das galinhas… Com eles qualquer quartel se transformava em Tabanca.
No meio, nós, os brancos, todos mobilizados em rendição individual, coexistindo sempre velhinhos e periquitos, encaixados como peças num puzzle já existente, caíamos de surpresa, sem qualquer preparação, num universo desconhecido.
Por mim, apresentei-me às 14 horas em Bambadinca, tendo o Alferes substituído partido às 18. Pelas 22 horas, o Comandante mandou-me sair para Ponta Coli [,na estrada Bambadinca-Xime], entre Amedalai e Xime] por via de uma qualquer flagelação. Lá fui atrás do pelotão apanhar invólucros.
Com esses homens vivi vinte e sete meses, em Destacamentos no meio do mato, sem energia eléctrica, comendo conservas… A maior parte dos meus amigos brancos foram soldados, o pastor transmontano, o vidreiro da Marinha Grande, o picheleiro do Porto, com os quais eu, jovem universitário, diletante antifascista, com pretensões intelectuais, conheci o Portugal real, da ignorância e da miséria.
Em Missirá habitavam cerca de 150 pessoas (população, milícias, mulheres, filhos e familiares). Comandante responsável, eu, pacífica criatura, cinéfilo militante, leitor de Ionesco (2), recitador de Prévert (3), escrevinhador de versos, sonhador de radiosos amanhãs que afinal nunca chegaram…
Claro que atravessei o espelho, e afundei-me no meio cultural envolvente, quando era suposto ser eu o colonizador…
- Alfero bem cume!- convidavam as mulheres que viviam no meu abrigo, e lá fazia eu uma bola de arroz que metia à boca.
- Alfero Cabral murri - choravam mães diante dos seus bebés mortos, aos quais tinham dado o meu nome.
Comi macaco, onça, cobra, crocodilo, mastiguei cola. Frequentei curandeiros e feiticeiros. Jejuei durante trinta dias, preparando-me para falar com os mortos. Ouvi estórias incríveis, mas também as contei.
Essa é a Guiné, que quero guardar na memória. E dessa gostei e gosto. Dos chefes militares, dos tiros, dos mortos que sofri, das minas que vi pisar, da angústia e do medo, dos crimes e da violência que presenciei, não falarei.
Por isso Amigo, continuarei a escrever estórias, convicto de que o humor também faz parte da História.
Grande, Grande Abraço
Jorge
PS1 – Falei muitas vezes com o senhor Teófilo. Penso que não era, nem Turra, nem Pide. Apenas um bom e lúcido Homem.
PS2 – Op Boga Destemida (4): é certo, também lá estive. Afinal na Guiné, não fui apenas consertador de catotas (5)…
PS3 – A estória que hoje remeto, não aconteceu na Guiné, mas sim em Lisboa. Ao longo de todos estes anos, constituiu sempre para mim uma alegria encontrar camaradas. Já deparei com alguns em péssimas situações. Doentes, presos, sem abrigo. A todos considero, dever solidariedade.
_____________
Notas de L.G.
(1) Alferes Miliciano Beja Santos foi o comandante do Pel Caç Nat 52, estando estado nomeadamente em Missirá (1968/70).
(2) Eugène Ionesco (19003-1994), escritor francês,de origem romena, um dos maiores dramaturgos do Século XX (autor, por exemplo, de A Cantora Careca, 1949 ou o Rinoceronte, 1960).
(3)Jacques Prévert (1900-1977): Um dos mais notáveis e admirados poetas do Séc. XX, de língua francesa. O seu libvrod e poemas Paroles, editado em 1945, foi um verdadeiro best-seller pós-guerra. È também um dos meus poetas preferidos.
(4)Vd. pots de 9d e Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970)
(...) "A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A) e forças da CART 2520, reforçadas com o Pel Caç Nat 63 (Dest B)" (...).
(5) Vd. post de 17 de Abril de 2005 > Guiné 63/74 - DCXXXIX: Estórias cabralianas (7): Alfero poi catota noba
(...) "Espalhada a minha fama, acorreram noivas de todo o lado. Ponderei mesmo montar um gabinete especializado, tendo chegado a escrever um folheto publicitário a informar que Alfero poi catota noba, dam trezbintim".
Arquivo de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71)
© Humberto Reis (2006).
Texto de Jorge Cabral (ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, destacado em Fá Mandinga e depois em Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71).
Caro Amigo, Companheiro e Camarada,
Atarefado pelo exercício de duas profissões exigentes [advogado e professor universitário], guardei um fim-de-semana inteiro para me pôr em dia, face à avalanche de material recordatório do teu/nosso blogue.
Fiel ao meu único propósito tertuliano – relato de vividos, gozados e ridículos episódios – a leitura de tantas e tão válidas intervenções tem-me porém obrigado a reflectir.
Reflectir sobre a guerra, mas talvez principalmente sobre nós próprios de então e de hoje. Porque lembramos o que lembramos? Que significou esse tempo nas nossas vidas? Sentimos saudades? Recordar ou esquecer a Guiné?
As nossas experiências foram diferentes. Cada um de nós, guardou uma memória única, de acordo com o meio onde esteve integrado e as características da própria personalidade (o Missirá do Beja Santos não foi o meu Missirá…)(1).
Tivesse eu pertencido a uma companhia, ou batalhão, e outras seriam as minhas lembranças…
Mas não, pertenci à tropa mais macaca de todas – um pelotão de caçadores nativos. Os meus soldados faziam a guerra desde o início. Muitos tinham mais de quarenta anos e viviam em companhia das mulheres, dos filhos, das cabras, das galinhas… Com eles qualquer quartel se transformava em Tabanca.
No meio, nós, os brancos, todos mobilizados em rendição individual, coexistindo sempre velhinhos e periquitos, encaixados como peças num puzzle já existente, caíamos de surpresa, sem qualquer preparação, num universo desconhecido.
Por mim, apresentei-me às 14 horas em Bambadinca, tendo o Alferes substituído partido às 18. Pelas 22 horas, o Comandante mandou-me sair para Ponta Coli [,na estrada Bambadinca-Xime], entre Amedalai e Xime] por via de uma qualquer flagelação. Lá fui atrás do pelotão apanhar invólucros.
Com esses homens vivi vinte e sete meses, em Destacamentos no meio do mato, sem energia eléctrica, comendo conservas… A maior parte dos meus amigos brancos foram soldados, o pastor transmontano, o vidreiro da Marinha Grande, o picheleiro do Porto, com os quais eu, jovem universitário, diletante antifascista, com pretensões intelectuais, conheci o Portugal real, da ignorância e da miséria.
Em Missirá habitavam cerca de 150 pessoas (população, milícias, mulheres, filhos e familiares). Comandante responsável, eu, pacífica criatura, cinéfilo militante, leitor de Ionesco (2), recitador de Prévert (3), escrevinhador de versos, sonhador de radiosos amanhãs que afinal nunca chegaram…
Claro que atravessei o espelho, e afundei-me no meio cultural envolvente, quando era suposto ser eu o colonizador…
- Alfero bem cume!- convidavam as mulheres que viviam no meu abrigo, e lá fazia eu uma bola de arroz que metia à boca.
- Alfero Cabral murri - choravam mães diante dos seus bebés mortos, aos quais tinham dado o meu nome.
Comi macaco, onça, cobra, crocodilo, mastiguei cola. Frequentei curandeiros e feiticeiros. Jejuei durante trinta dias, preparando-me para falar com os mortos. Ouvi estórias incríveis, mas também as contei.
Essa é a Guiné, que quero guardar na memória. E dessa gostei e gosto. Dos chefes militares, dos tiros, dos mortos que sofri, das minas que vi pisar, da angústia e do medo, dos crimes e da violência que presenciei, não falarei.
Por isso Amigo, continuarei a escrever estórias, convicto de que o humor também faz parte da História.
Grande, Grande Abraço
Jorge
PS1 – Falei muitas vezes com o senhor Teófilo. Penso que não era, nem Turra, nem Pide. Apenas um bom e lúcido Homem.
PS2 – Op Boga Destemida (4): é certo, também lá estive. Afinal na Guiné, não fui apenas consertador de catotas (5)…
PS3 – A estória que hoje remeto, não aconteceu na Guiné, mas sim em Lisboa. Ao longo de todos estes anos, constituiu sempre para mim uma alegria encontrar camaradas. Já deparei com alguns em péssimas situações. Doentes, presos, sem abrigo. A todos considero, dever solidariedade.
_____________
Notas de L.G.
(1) Alferes Miliciano Beja Santos foi o comandante do Pel Caç Nat 52, estando estado nomeadamente em Missirá (1968/70).
(2) Eugène Ionesco (19003-1994), escritor francês,de origem romena, um dos maiores dramaturgos do Século XX (autor, por exemplo, de A Cantora Careca, 1949 ou o Rinoceronte, 1960).
(3)Jacques Prévert (1900-1977): Um dos mais notáveis e admirados poetas do Séc. XX, de língua francesa. O seu libvrod e poemas Paroles, editado em 1945, foi um verdadeiro best-seller pós-guerra. È também um dos meus poetas preferidos.
(4)Vd. pots de 9d e Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXXVIII: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970)
(...) "A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A) e forças da CART 2520, reforçadas com o Pel Caç Nat 63 (Dest B)" (...).
(5) Vd. post de 17 de Abril de 2005 > Guiné 63/74 - DCXXXIX: Estórias cabralianas (7): Alfero poi catota noba
(...) "Espalhada a minha fama, acorreram noivas de todo o lado. Ponderei mesmo montar um gabinete especializado, tendo chegado a escrever um folheto publicitário a informar que Alfero poi catota noba, dam trezbintim".
Guiné 63/74 - P687: Do Porto a Bissau (7): a 200 km da fronteira da 'nossa terra' (Albano Costa)
Notícias da última hora (11 de Abril de 2006, 23h33), enviadas pelo Albano (que está a vibrar, à distância, com esta viagem que ele não pôde, desta vez, fazer):
Caro amigo LG:
Estive a falar com quase todos os mosqueteiros, por volta das 21 horas, estavam desde as quatro horas da tarde nas boxes, já no hotel que fica a 200 km da nossa Guiné. Contam, se tudo correr bem, chegar a Bissau para almoçar [no dia de hoje, 12 de Abril].
Disseram-me eles que apanharam muito calor, o tal, o verdadeiro, porque na noite anterior [10 de Abril] ainda se queixaram de um pouco fresco, os elementos é obra...
Ainda não tiveram uma discussão, também era melhor: sempre levam uma menina e têm de ter respeito... O Armindo está radiante com a aventura, mas sempre foi dizendo que é cansativo, mas que vale a pena...
E mais não, isso vai ficar para o Marques Lopes, muito bem disposto, contar as estórias e são muitas e que estórias mas só quem não conhece Àfrica é que fica admirado.
Eu julgo que amanhã [ hoje, 12 de Abril] já vamos ter mais fotos e os primeiros relatos da viagem contados pelos próprios.
Um abraço,
Albano
Caro amigo LG:
Estive a falar com quase todos os mosqueteiros, por volta das 21 horas, estavam desde as quatro horas da tarde nas boxes, já no hotel que fica a 200 km da nossa Guiné. Contam, se tudo correr bem, chegar a Bissau para almoçar [no dia de hoje, 12 de Abril].
Disseram-me eles que apanharam muito calor, o tal, o verdadeiro, porque na noite anterior [10 de Abril] ainda se queixaram de um pouco fresco, os elementos é obra...
Ainda não tiveram uma discussão, também era melhor: sempre levam uma menina e têm de ter respeito... O Armindo está radiante com a aventura, mas sempre foi dizendo que é cansativo, mas que vale a pena...
E mais não, isso vai ficar para o Marques Lopes, muito bem disposto, contar as estórias e são muitas e que estórias mas só quem não conhece Àfrica é que fica admirado.
Eu julgo que amanhã [ hoje, 12 de Abril] já vamos ter mais fotos e os primeiros relatos da viagem contados pelos próprios.
Um abraço,
Albano
Guiné 63/74 - P686: O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 2405, 1968/70) (1): Mafra
Mafra > Escola Prática de Infantaria (EPI) > 1968 > Cerimónia do Juramento de Bandeira > Desfile dos novos militares, onde se integrava o Paulo Raposo, frente ao Convento de Mafra.
© Paulo Raposo (2006)
O Paulo Enes Lage Raposo foi Alferes Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 (Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70).
Durante a sua comissão, passou esteve em Mansoa e sobretudo na zona leste (Galomaro e Dulombi), a sul de Bafatá.
A sua companhia perdeu 17 militares na travessia do Rio Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé (1).
O Paulo mandou-me, já há um mês e tal, um documento policopiado, de 65 páginas, com o seu "testemunho e visão da Guerra de África", mais concretamente sobre a história da sua vida militar, desde a sua incorporação, como soldado cadete, em Abril de 1967, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, até à sua mobilização para a Guiné, como Alferes Miliciano da CCAÇ 2405, onde teve como camaradas os membros da nossa tertúlia Rui Felício e Victor David (2). Esta unidade partiu para a Guiné em Julho de 1968. O Paulo regressou passou à vida civil "ao fim de 37 meses de tropa".
O Paulo teve a gentileza de me escrever as seguintes palavras no exemplar que me ofereceu: "Como testemunho de gratidão pela tertúlia que proporcionaste na Net. Com amizade. Paulo Enes Lage Raposo. Março 2006".
O Paulo não esconde que tem uma visão própia da "guerra de África" (pp. 55-65), que não coincide (nem tem que coincidir) com a minha mas que eu respeito. Essa, é de resto, a regra nº 1 da nossa tertúlia. Escreveu ele, em papel timbrado da Herdade da Ameira (Montemor-o-Novo):
"Meu caro Luís: Junto te envio uma cópia do escrito que fiz [, em Dezembro de 1977, ] da minha/nossa vivência na Guiné.
"Tenho poucos mas bons amigos, mas os de África são especiais.
"Quanto à estratégia global que nos envolveu na guerra em África, vou apenas deixar-te um aperitivo. A guerra do Vietname tinha como objectivo puxar as forças americanas para o Pacífico e fechá-las lá. Como ? Com Allende no Chile, com os sandinistas no Panamá e com a Fretilin em Timor. Assim a União Soviética avançaria até alcançar um porto de águas quentes.
"Um abraço amigo. Paulo Lage Raposo".
Começamos hoje a divulgar o essencial de O meu testemunho, do Paulo Raposo. Agradecemos-lhe a gentileza da sua oferta e a autorização para publicitar o seu testemunho, de interesse documental para a nossa tertúlia e atépara os nossos amigos e visitantes. Começamos justamente pela sua passagem por Mafra. Os nossos camaradas que foram alferes milicianos irão, por certo, rever-se nesta evocação dos velhos tempos da Escola Prática de Infantaria de Mafra.
O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 24005, 1968/70) - I Parte: Mafra
Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 4-7.
Entrei para o Convento de Mafra - E.P.I., como soldado Cadete, na 2ª incorporação do ano de 1967, mais precisamente no dia 10 de Abril. Escolhi esta incorporação para não apanhar os rigores do inverno dentro daquele grande Convento.
O choque da entrada foi grande, passar de civil a militar não é fácil. Após a entrada, só podiamos sair depois de saber marchar, conhecer as patentes e saber fazer a continência.
Aquela primeira semana parecia que nunca mais acabava.
Na parte de trás do Convento, na grande parada, formava-se o Batalhão de Instrução. O seu Comandante era o Major Rocha, que passava o tempo a dizer:
- Comigo não há figos. - Devia estar apanhado pelo clima de África nalguma Comissão de serviço que lá devia ter feito.
Encontrei-o mais tarde na Messe de Bissau e logo Ihe perguntei:
- Então, meu Major, não há figos?
- Comigo não há - respondeu ele de seguida.
O Comandante da companhia era o Capitão Ferro, com quem nunca mais me cruzei. O adjunto do Comandante era o irrequieto Ten. Garcia Lopes, a quemn voltei a encontrar na Guiné a comandar uma companhia de Comandos.
O nosso instrutor era um rapaz da nossa idade, o Alferes Leonel de Carvalho, sempre muito aprumado. Vi-o na televisão já como coronel, a comandar as forças militares que estavam na ponte 25 de Abril, aquando do grande bloqueio de 1994. Coitado, deve ter passado por situações muito desagradáveis.
Uma vez passada a primeira impressão entramos na rotina de um quartel. Há horas para tudo, no fundo também nos educa e auto-disciplina.
Recordo aqui alguns momentos que me custaram bastante.
O primeiro foi a dor que me causou, nos tímpanos, o estampido que a G3 dava quando fazia fogo. Até nos habituarmos, aqueles primeiros momentos passados na carreira de tiro eram dolorosos.
O segundo foi o lançamento de uma granada de mão, também na carreira de tiro. Só olhar para a granada me metia medo, quanto mais agarrá-la, tirar-lhe a cavilha e lancá-la.
Foi o Ten. Garcia Lopes que me acompanhou. Disse-me:
- Agarra a granada com a mão direita, tira a cavilha de segurança com a esquerda e lança-a; vê onde a granada cai e depois é que te metes no buraco.
Assim foi, mas não foi fácil.
O terceiro foi o campo de obstáculos que havia na Tapada Real, a que chamávamos a Aldeia dos Macacos. Havia dois obstáculos que eram difíceis de vencer. No fundo, o propósito era o de nos libertar dos medos e de nos vencermos a nos próprios.
© Paulo Raposo (2006)
Um deles era o salto ao galho. Este obstáculo era constituído por uma plataforma que ficava elevada a uns três metres do chão. A
frente da plataforma, a uma distância de um ou dois metros, estava um poste que tinha no topo um galho. Tínhamos, portanto, de nos lançarmos para o galho. Se falhássemos, caíamos, agarrados ou não, ao poste.
O outro obstáculo era o pórtico. Era constituído por uma vigas que faziam um quadrado, que tinha uma largura de 40 cm e estava a uma altura do chão de 6 metros. Tínhamos de subir por uma corda, trepar para a viga, fazer o perímetro e descer pela mesma e única via.
Outro era o trabalho de estrada. Uma vez por semana fazíamos este exercício: íamos a correr de Mafra ao João Franco, no Sobreiro, e regressávamos. As subidas eram feitas em passo rápido, o resto do percurso a correr, com as belas botas que nos enchiam os pés de bolhas, mais os 3,9 kg da G3 que levávamos às costas.
O dia da Infantaria é o dia 15 de Agosto. Este dia representa a vitória da Infantaria (rainha de todas as batalhas) no célebre quadrado da Batalha de Aljubarrota, em 1385, realizado por D. Nuno Alvares Pereira. Naquele momento, D. Nuno implorou a protecção de Nossa Senhora. Em seu louvor foi construído o Mosteiro da Batalha.
Durante a batalha, D. Nuno e os soldados passaram tanta sede naqueles dias de Agosto, que, simbolicamente, D. Nuno mandou lá colocar uma bilha com água que está junto a uma pequena capela, para mais ninguém ter sede naquele local.
Esta vitória representa também e acima de tudo a força de vontade popular (Infantaria) contra a aristocracia espanhola (Cavalaria) e, de um certo modo, também contra a aristocracia portuguesa vendida aos espanhóis.
Foi feito um convite aos cadetes para irem ate Fátima pelo dia 13 de Agosto. Fomos alguns. Fardados como cadetes, acompanhámos o andor de Nossa Senhora. Terminada a cerimónia fomos todos dormir para casa de um rapaz nosso colega, que tinha a sua quinta perto de Ourém. Uns dormiram em camas e outros no chão.
Foi uma noite passada cheia de alegria, com o José Megre a animar o serão, a contar as suas histórias das corridas de automóvel, por que tinha passado em Inglaterra. É um excelente contador de Histórias.
Tudo se passou. Aquele Convento de Mafra era sem dúvida uma fábrica de Oficiais.
(Continua)
_____
Nota de L.G.
(1)Vd. post de 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)
(2) Vd. posts de:
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXV: Paulo Raposo e Rui Felício, dois novos camaradas (CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)
16 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIV: Victor David, CCAÇ 2405 (Dulombi, 1968/70)
© Paulo Raposo (2006)
O Paulo Enes Lage Raposo foi Alferes Miliciano de Infantaria, com a especialidade de Minas e Armadilhas, na CCAÇ 2405, pertencente ao BCAÇ 2852 (Guiné, Zona Leste, Sector L1, Bambadinca, 1968/70).
Durante a sua comissão, passou esteve em Mansoa e sobretudo na zona leste (Galomaro e Dulombi), a sul de Bafatá.
A sua companhia perdeu 17 militares na travessia do Rio Corubal, na sequência da retirada de Madina do Boé (1).
O Paulo mandou-me, já há um mês e tal, um documento policopiado, de 65 páginas, com o seu "testemunho e visão da Guerra de África", mais concretamente sobre a história da sua vida militar, desde a sua incorporação, como soldado cadete, em Abril de 1967, na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, até à sua mobilização para a Guiné, como Alferes Miliciano da CCAÇ 2405, onde teve como camaradas os membros da nossa tertúlia Rui Felício e Victor David (2). Esta unidade partiu para a Guiné em Julho de 1968. O Paulo regressou passou à vida civil "ao fim de 37 meses de tropa".
O Paulo teve a gentileza de me escrever as seguintes palavras no exemplar que me ofereceu: "Como testemunho de gratidão pela tertúlia que proporcionaste na Net. Com amizade. Paulo Enes Lage Raposo. Março 2006".
O Paulo não esconde que tem uma visão própia da "guerra de África" (pp. 55-65), que não coincide (nem tem que coincidir) com a minha mas que eu respeito. Essa, é de resto, a regra nº 1 da nossa tertúlia. Escreveu ele, em papel timbrado da Herdade da Ameira (Montemor-o-Novo):
"Meu caro Luís: Junto te envio uma cópia do escrito que fiz [, em Dezembro de 1977, ] da minha/nossa vivência na Guiné.
"Tenho poucos mas bons amigos, mas os de África são especiais.
"Quanto à estratégia global que nos envolveu na guerra em África, vou apenas deixar-te um aperitivo. A guerra do Vietname tinha como objectivo puxar as forças americanas para o Pacífico e fechá-las lá. Como ? Com Allende no Chile, com os sandinistas no Panamá e com a Fretilin em Timor. Assim a União Soviética avançaria até alcançar um porto de águas quentes.
"Um abraço amigo. Paulo Lage Raposo".
Começamos hoje a divulgar o essencial de O meu testemunho, do Paulo Raposo. Agradecemos-lhe a gentileza da sua oferta e a autorização para publicitar o seu testemunho, de interesse documental para a nossa tertúlia e atépara os nossos amigos e visitantes. Começamos justamente pela sua passagem por Mafra. Os nossos camaradas que foram alferes milicianos irão, por certo, rever-se nesta evocação dos velhos tempos da Escola Prática de Infantaria de Mafra.
O meu testemunho (Paulo Raposo, CCAÇ 24005, 1968/70) - I Parte: Mafra
Extractos de: Raposo, P. E. L. (1997) - O meu testemunho e visão da guerra de África.[Montemor-o-Novo, Herdade da Ameira]. Documento policopiado. Dezembro de 1997. pp. 4-7.
Entrei para o Convento de Mafra - E.P.I., como soldado Cadete, na 2ª incorporação do ano de 1967, mais precisamente no dia 10 de Abril. Escolhi esta incorporação para não apanhar os rigores do inverno dentro daquele grande Convento.
O choque da entrada foi grande, passar de civil a militar não é fácil. Após a entrada, só podiamos sair depois de saber marchar, conhecer as patentes e saber fazer a continência.
Aquela primeira semana parecia que nunca mais acabava.
Na parte de trás do Convento, na grande parada, formava-se o Batalhão de Instrução. O seu Comandante era o Major Rocha, que passava o tempo a dizer:
- Comigo não há figos. - Devia estar apanhado pelo clima de África nalguma Comissão de serviço que lá devia ter feito.
Encontrei-o mais tarde na Messe de Bissau e logo Ihe perguntei:
- Então, meu Major, não há figos?
- Comigo não há - respondeu ele de seguida.
O Comandante da companhia era o Capitão Ferro, com quem nunca mais me cruzei. O adjunto do Comandante era o irrequieto Ten. Garcia Lopes, a quemn voltei a encontrar na Guiné a comandar uma companhia de Comandos.
O nosso instrutor era um rapaz da nossa idade, o Alferes Leonel de Carvalho, sempre muito aprumado. Vi-o na televisão já como coronel, a comandar as forças militares que estavam na ponte 25 de Abril, aquando do grande bloqueio de 1994. Coitado, deve ter passado por situações muito desagradáveis.
Uma vez passada a primeira impressão entramos na rotina de um quartel. Há horas para tudo, no fundo também nos educa e auto-disciplina.
Recordo aqui alguns momentos que me custaram bastante.
O primeiro foi a dor que me causou, nos tímpanos, o estampido que a G3 dava quando fazia fogo. Até nos habituarmos, aqueles primeiros momentos passados na carreira de tiro eram dolorosos.
O segundo foi o lançamento de uma granada de mão, também na carreira de tiro. Só olhar para a granada me metia medo, quanto mais agarrá-la, tirar-lhe a cavilha e lancá-la.
Foi o Ten. Garcia Lopes que me acompanhou. Disse-me:
- Agarra a granada com a mão direita, tira a cavilha de segurança com a esquerda e lança-a; vê onde a granada cai e depois é que te metes no buraco.
Assim foi, mas não foi fácil.
O terceiro foi o campo de obstáculos que havia na Tapada Real, a que chamávamos a Aldeia dos Macacos. Havia dois obstáculos que eram difíceis de vencer. No fundo, o propósito era o de nos libertar dos medos e de nos vencermos a nos próprios.
© Paulo Raposo (2006)
Um deles era o salto ao galho. Este obstáculo era constituído por uma plataforma que ficava elevada a uns três metres do chão. A
frente da plataforma, a uma distância de um ou dois metros, estava um poste que tinha no topo um galho. Tínhamos, portanto, de nos lançarmos para o galho. Se falhássemos, caíamos, agarrados ou não, ao poste.
O outro obstáculo era o pórtico. Era constituído por uma vigas que faziam um quadrado, que tinha uma largura de 40 cm e estava a uma altura do chão de 6 metros. Tínhamos de subir por uma corda, trepar para a viga, fazer o perímetro e descer pela mesma e única via.
Outro era o trabalho de estrada. Uma vez por semana fazíamos este exercício: íamos a correr de Mafra ao João Franco, no Sobreiro, e regressávamos. As subidas eram feitas em passo rápido, o resto do percurso a correr, com as belas botas que nos enchiam os pés de bolhas, mais os 3,9 kg da G3 que levávamos às costas.
O dia da Infantaria é o dia 15 de Agosto. Este dia representa a vitória da Infantaria (rainha de todas as batalhas) no célebre quadrado da Batalha de Aljubarrota, em 1385, realizado por D. Nuno Alvares Pereira. Naquele momento, D. Nuno implorou a protecção de Nossa Senhora. Em seu louvor foi construído o Mosteiro da Batalha.
Durante a batalha, D. Nuno e os soldados passaram tanta sede naqueles dias de Agosto, que, simbolicamente, D. Nuno mandou lá colocar uma bilha com água que está junto a uma pequena capela, para mais ninguém ter sede naquele local.
Esta vitória representa também e acima de tudo a força de vontade popular (Infantaria) contra a aristocracia espanhola (Cavalaria) e, de um certo modo, também contra a aristocracia portuguesa vendida aos espanhóis.
Foi feito um convite aos cadetes para irem ate Fátima pelo dia 13 de Agosto. Fomos alguns. Fardados como cadetes, acompanhámos o andor de Nossa Senhora. Terminada a cerimónia fomos todos dormir para casa de um rapaz nosso colega, que tinha a sua quinta perto de Ourém. Uns dormiram em camas e outros no chão.
Foi uma noite passada cheia de alegria, com o José Megre a animar o serão, a contar as suas histórias das corridas de automóvel, por que tinha passado em Inglaterra. É um excelente contador de Histórias.
Tudo se passou. Aquele Convento de Mafra era sem dúvida uma fábrica de Oficiais.
(Continua)
_____
Nota de L.G.
(1)Vd. post de 3 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXCV: Madina do Boé: 37º aniversário do desastre de Cheche (José Martins)
(2) Vd. posts de:
12 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXV: Paulo Raposo e Rui Felício, dois novos camaradas (CCAÇ 2405, Galomaro, 1968/70)
16 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXIV: Victor David, CCAÇ 2405 (Dulombi, 1968/70)
terça-feira, 11 de abril de 2006
Guiné 63/74 - P685: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (4): Lavantamento de rancho
Cancioneiro do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá (1969/71).
Autor das letras: José Luís Tavares.
Recolha: Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47.
Levantamento de rancho no R.C. 8
Dizem mal do regimento
Mas isto não é nada mal,
Há sempre duas refeições
Como é habitual.
Ontem à refeição da tarde,
É caso para relembrar,
Puseram-nos batatas cruas
Que nem as podíamos esmagar.
Isto acvonteceu ontem,
À refeição do meio-dia,
Vimos que não podia ser,
Fizémos queixa ao Oficial-Dia.
O Oficial-Dia chegou,
A fazer-se muito valente
E para livrar responsabilidades
Foi dar parte ao Comandante.
O Comandante chegou e disse,
Cheio de força e mania:
"Vós sois do R. C. 8,
Soldados de cavalaria".
Eu estava cheio de fome,
A cair quadse morto,
E ele, ainda por cima,
Desafiou-nos para o sôco.
Ai, triste da nossa vida,
Ai, pobres de nós, coitados,
Com a barriga a dar horas,
Ainda somos desafiados.
Nós ouvimos o discurso,
Contentes e satisfeitos,
Bem lhe olhámos para os ombros
Mas tinha uma larga e dois estreitos (1).
Eram já três da tarde
Quando o discurso acabava,
Eu olhei para o meu ombro
E tinha a platina sem nada.
Voltou as costas, foi-se embora,
Cheio de nervos e a tremer,
Virou-se para nós e disse:
"Isto não volte a aconteceer".
Não sejam tão desordeiros,
Que isto não pode continuar,
E deu ordens ao Oficial-Dia (2)
Para nos mandar destroçar.
Tudo isto é verdade,
Sem exagero nem mania,
Se nos dessem sempre bife,
Nada disto acontecia.
Visado pela censura em 27-10-69.
Tavares - Radiotelegarfista
______
Nota de L.G.
(1) Galões correspondentes ao posto de tenente-coronel
Nota do autor dos versos:
(2) O Oficial-Dia era o Alferes Caturra
Autor das letras: José Luís Tavares.
Recolha: Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47.
Levantamento de rancho no R.C. 8
Dizem mal do regimento
Mas isto não é nada mal,
Há sempre duas refeições
Como é habitual.
Ontem à refeição da tarde,
É caso para relembrar,
Puseram-nos batatas cruas
Que nem as podíamos esmagar.
Isto acvonteceu ontem,
À refeição do meio-dia,
Vimos que não podia ser,
Fizémos queixa ao Oficial-Dia.
O Oficial-Dia chegou,
A fazer-se muito valente
E para livrar responsabilidades
Foi dar parte ao Comandante.
O Comandante chegou e disse,
Cheio de força e mania:
"Vós sois do R. C. 8,
Soldados de cavalaria".
Eu estava cheio de fome,
A cair quadse morto,
E ele, ainda por cima,
Desafiou-nos para o sôco.
Ai, triste da nossa vida,
Ai, pobres de nós, coitados,
Com a barriga a dar horas,
Ainda somos desafiados.
Nós ouvimos o discurso,
Contentes e satisfeitos,
Bem lhe olhámos para os ombros
Mas tinha uma larga e dois estreitos (1).
Eram já três da tarde
Quando o discurso acabava,
Eu olhei para o meu ombro
E tinha a platina sem nada.
Voltou as costas, foi-se embora,
Cheio de nervos e a tremer,
Virou-se para nós e disse:
"Isto não volte a aconteceer".
Não sejam tão desordeiros,
Que isto não pode continuar,
E deu ordens ao Oficial-Dia (2)
Para nos mandar destroçar.
Tudo isto é verdade,
Sem exagero nem mania,
Se nos dessem sempre bife,
Nada disto acontecia.
Visado pela censura em 27-10-69.
Tavares - Radiotelegarfista
______
Nota de L.G.
(1) Galões correspondentes ao posto de tenente-coronel
Nota do autor dos versos:
(2) O Oficial-Dia era o Alferes Caturra
Guiné 63/74 - P684: Panfleto de propaganda, em crioulo, do PAIGC: Irmãos...(1970) (Manuel Mata / Mário Dias)
Guiné > Zona Leste > Bafatá > 1970 > Panfleto de propaganda do PAIGC, escrito em crioulo. Cópia de exemplar oferecido ao Manuel Mata pelo seu amigo, o comerciante Sr. Teófilo, dono do Café Teófilo, e um deportado político no início dos anos 30, conhecido pelas suas simpatias para com o PAIGC, aos olhos dos tugas... © Manuel Mata (2006) (1)
IRMÃOS,
Para além de todas as canseiras
que já passastes e continuais ainda a passar,
Há já sete anos que vós sofreis sem razão,
muitos de vós perderam a vida sem razão,
porque aceitaram ouvir as aldrabices dos tugas
e dos seus cães!
Já há sete anos que os tugas vos prometeram
que a guerra estava prestes a acabar,
mas até agora ainda não,
e mais se escondem por detrás de vós nas tabancas,
porque a nossa força não pára de crescer,
como vós dais conta!
Sete anos chegam para entenderdes
como nada pode parar o nosso ataque
contra os inimigos do nosso povo,
inimigos da independência da nossa terra
IRMÃOS,
Saiam dos lugares onde os tugas põem quartel,
porque as balas não têm olhos! (2)
Deixai os estrangeiros exploradores colonialistas
a sós com as suas dificuldades!
Vem e junta-te aos teus irmãos!
VIVA P. A. I. G. C.!
Morte aos estrangeiros tugas, e aos seus cachorros de dois pés.
Tradução do crioulo:
© Mário Dias (2006)
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (5): Foguetões 122 mm no Gabu
Nota do tradutor (M.D.):
(2) ... pabia bála ca ten udju dé! > dé! é uma partícula de realce, sem tradução em português, e que expressa como que um sério aviso.
IRMÃOS,
Para além de todas as canseiras
que já passastes e continuais ainda a passar,
Há já sete anos que vós sofreis sem razão,
muitos de vós perderam a vida sem razão,
porque aceitaram ouvir as aldrabices dos tugas
e dos seus cães!
Já há sete anos que os tugas vos prometeram
que a guerra estava prestes a acabar,
mas até agora ainda não,
e mais se escondem por detrás de vós nas tabancas,
porque a nossa força não pára de crescer,
como vós dais conta!
Sete anos chegam para entenderdes
como nada pode parar o nosso ataque
contra os inimigos do nosso povo,
inimigos da independência da nossa terra
IRMÃOS,
Saiam dos lugares onde os tugas põem quartel,
porque as balas não têm olhos! (2)
Deixai os estrangeiros exploradores colonialistas
a sós com as suas dificuldades!
Vem e junta-te aos teus irmãos!
VIVA P. A. I. G. C.!
Morte aos estrangeiros tugas, e aos seus cachorros de dois pés.
Tradução do crioulo:
© Mário Dias (2006)
__________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 2 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXXII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Manuel Mata) (5): Foguetões 122 mm no Gabu
Nota do tradutor (M.D.):
(2) ... pabia bála ca ten udju dé! > dé! é uma partícula de realce, sem tradução em português, e que expressa como que um sério aviso.
Guiné 63/74 - P683: Notícias do Zé Teixeira: da Ponderosa (CCAÇ 616) a Gandembel (CCAÇ 2317)
Bom Dia, caríssimo.
Logo de manhã para dar três notícias:
1ª Os nossos aventureiros já estão em Touba ( que eu conheço), no Senegal. Devem entrar ainda hoje na Guiné, ou amanhã de manhã.
2ª A Ana Ferreira diz que o pai esteve na tabanca Ponderosa, cujo nome nome verdadeiron não conhece. Pois bem, trata-se da Tabanca de UALADA.
Houve uma Companhia que em memória da célebre série da TV Bonanza fez um pórtico com o nome RANCHO DA PONDEROSA e este vingou, ficando a ser conhecida por todo o branco como Ponderosa.Em 1969 a Tabanca estava deserta. Tinha sido abandonada e a população recolhida em Empada. Como tinha um bolanha muito produtiva, a população ia todos os dias para lá trabalhar nos campos de arroz e a minha Companhia fazia deslocar 2 Secções para o local, no sentido de proteger a população. Algumas das fotos que te enviei (Em cima de um bagabaga) foi tirada lá.Vou ver se consigo um foto que já vi, com o pórtico do Ranco da Ponderosa.
3º Dando seguimento ao apelo do Pepito. Contactei o ex-Alferes Reis da CCAÇ de Guilhege/Gandembel. Esta Companhia foi a mártir de Gandembel de que já falei no Blogue. Só estiveram 2 meses em Guileje. E tiveram 2 mortos. O Resto da comissão foi passada em Gandembel e Buba, onde tive o prazer de conviver com tão boa gente.
O Reis tem como intenção, logo que passe à reforma, escrever sobre a Guiné. Claro que o desafiei a visitar o Blogue e entrar para a Tertúlia.
Esperemos que aceite o meu desafio, pois tem muito que contar (1).
Um abraço e até sempre
J.Teixeira
___________
Nota de L.G.
(1) O Zé Neto (vejam o post anterior) diz que armámos para aqui uma grande confusão com as CCAÇ 2317 e 2316… A 2317 é a de Gandembel, embora tenha passado por Guileje uns tempos… A confusão, involuntária, foi provocada por uma notícia do Jorge Santos sobre o 23º convívio desta unidade, em Fátima (contacto: Soares > tel. 93 683 15 17 e 22 200 02 00) que ele recolheu do ponto de encontro da ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas). De facto, aqui a CCAÇ 2317 aparece como sendo de 1967/68.
Acabei de telefonar ao Soares (que me remeteu para o alferes Reis, que comandou a unidade): ele confirmou que a CCAÇ 2317 é de 1968/70 e que foram eles que construíram o quartel de Gandembel… Disse-me também que alguém já lhe tinha ligado para ele anteriormente. (Sei agora que foi o Zé Teixeira). O homem não tem e-mail. Falei-lhe do nosso blogue… A propósito, voltei a publicar o famoso hino de Gandembel (recolha do Zé Teixeira)…Adoraria que o Reis nos contasse as peripécias deles lá por Gandembel...
Logo de manhã para dar três notícias:
1ª Os nossos aventureiros já estão em Touba ( que eu conheço), no Senegal. Devem entrar ainda hoje na Guiné, ou amanhã de manhã.
2ª A Ana Ferreira diz que o pai esteve na tabanca Ponderosa, cujo nome nome verdadeiron não conhece. Pois bem, trata-se da Tabanca de UALADA.
Houve uma Companhia que em memória da célebre série da TV Bonanza fez um pórtico com o nome RANCHO DA PONDEROSA e este vingou, ficando a ser conhecida por todo o branco como Ponderosa.Em 1969 a Tabanca estava deserta. Tinha sido abandonada e a população recolhida em Empada. Como tinha um bolanha muito produtiva, a população ia todos os dias para lá trabalhar nos campos de arroz e a minha Companhia fazia deslocar 2 Secções para o local, no sentido de proteger a população. Algumas das fotos que te enviei (Em cima de um bagabaga) foi tirada lá.Vou ver se consigo um foto que já vi, com o pórtico do Ranco da Ponderosa.
3º Dando seguimento ao apelo do Pepito. Contactei o ex-Alferes Reis da CCAÇ de Guilhege/Gandembel. Esta Companhia foi a mártir de Gandembel de que já falei no Blogue. Só estiveram 2 meses em Guileje. E tiveram 2 mortos. O Resto da comissão foi passada em Gandembel e Buba, onde tive o prazer de conviver com tão boa gente.
O Reis tem como intenção, logo que passe à reforma, escrever sobre a Guiné. Claro que o desafiei a visitar o Blogue e entrar para a Tertúlia.
Esperemos que aceite o meu desafio, pois tem muito que contar (1).
Um abraço e até sempre
J.Teixeira
___________
Nota de L.G.
(1) O Zé Neto (vejam o post anterior) diz que armámos para aqui uma grande confusão com as CCAÇ 2317 e 2316… A 2317 é a de Gandembel, embora tenha passado por Guileje uns tempos… A confusão, involuntária, foi provocada por uma notícia do Jorge Santos sobre o 23º convívio desta unidade, em Fátima (contacto: Soares > tel. 93 683 15 17 e 22 200 02 00) que ele recolheu do ponto de encontro da ADFA – Associação dos Deficientes das Forças Armadas). De facto, aqui a CCAÇ 2317 aparece como sendo de 1967/68.
Acabei de telefonar ao Soares (que me remeteu para o alferes Reis, que comandou a unidade): ele confirmou que a CCAÇ 2317 é de 1968/70 e que foram eles que construíram o quartel de Gandembel… Disse-me também que alguém já lhe tinha ligado para ele anteriormente. (Sei agora que foi o Zé Teixeira). O homem não tem e-mail. Falei-lhe do nosso blogue… A propósito, voltei a publicar o famoso hino de Gandembel (recolha do Zé Teixeira)…Adoraria que o Reis nos contasse as peripécias deles lá por Gandembel...
Guiné 63/74 - P682: Confusão acerca da CCAÇ 2317 (Gandembel, 1968/69) e da CCAÇ 2316 (Guileje, 1968/69) (Zé Neto)
Texto do Zé Neto, que mudou de endereço de e-mail e que estoicamente deixou de fumar há umas semanas atrás, para bem da saúde dele e da alegria geral da caserna...
Meus amigos:
Deve haver uma enorme confusão sobre a CCAÇ 2317. Esta companhia, comandada pelo Cap. Barroso de Moura, esteve na área de Guileje em 1968/69 e não 1967/68,. como vem referido em blogue anterior.
Propriamente na tabanca de Guileje (ou Guiledje) apenas esteve de 20 de Março a 8 de Abril [de 1968]. Nesta data seguiu para a heróica e desastrosa aventura de Gandembel que consta dos meus escritos anteriores (1) (2). A sua irmã CCAÇ 2316 é que ficou estabelecida em Guilege. (Notem Guile...para todos os gostos).
Por agora é tudo, não esquecendo o meu agradecimento pelas muitas mensagens de "força, Zé; resiste ao cigarro" que tu, Luis, desencadeaste na malta do blogue.
Abraça-vos o velho Zé Neto.
___________
Nota de L.G.
(1) Vd. post de 25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (Fim): o descanso em Buba
(2) Vd. post de 30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel
Hino a Gandembel
Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.
- Meu Alferes, uma saída!
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte!,
Logo se ouve dizer.
Oh!, Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (i) e morteiradas.
Oh!, Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.
A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (ii)
É preciso protecção.
Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.
Temos por v’zinhos Balana (iii),
Do outro lado o Guilleje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.
Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!
Recolha: José Teixeira / Revisão de texto: L.G.
(i) Verylights
(ii) WC
(iii) A famosa ponte Balana
(iv) A espingarda automática G-3
Meus amigos:
Deve haver uma enorme confusão sobre a CCAÇ 2317. Esta companhia, comandada pelo Cap. Barroso de Moura, esteve na área de Guileje em 1968/69 e não 1967/68,. como vem referido em blogue anterior.
Propriamente na tabanca de Guileje (ou Guiledje) apenas esteve de 20 de Março a 8 de Abril [de 1968]. Nesta data seguiu para a heróica e desastrosa aventura de Gandembel que consta dos meus escritos anteriores (1) (2). A sua irmã CCAÇ 2316 é que ficou estabelecida em Guilege. (Notem Guile...para todos os gostos).
Por agora é tudo, não esquecendo o meu agradecimento pelas muitas mensagens de "força, Zé; resiste ao cigarro" que tu, Luis, desencadeaste na malta do blogue.
Abraça-vos o velho Zé Neto.
___________
Nota de L.G.
(1) Vd. post de 25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (Fim): o descanso em Buba
(2) Vd. post de 30 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDII: O Hino de Gandembel
Hino a Gandembel
Gandembel das morteiradas,
Dos abrigos de madeira
Onde nós, pobres soldados,
Imitamos a toupeira.
- Meu Alferes, uma saída!
Tudo começa a correr.
- Não é pr’aqui, é pr’ponte!,
Logo se ouve dizer.
Oh!, Gandembel,
És alvo das canhoadas,
Verilaites (i) e morteiradas.
Oh!, Gandembel,
Refúgio de vampiros,
Onde se ligam os rádios
Ao som de estrondos e tiros.
A comida principal
É arroz, massa e feijão.
P’ra se ir ao dabliucê (ii)
É preciso protecção.
Gandembel, encantador,
És um campo de nudismo,
Onde o fogo de artifício
É feito p’lo terrorismo.
Temos por v’zinhos Balana (iii),
Do outro lado o Guilleje,
E ao som das canhoadas
Só a Gê-Três (iv) te protege.
Bebida, diz que nem pó,
Só chocolate ou leitinho;
Patacão, diz que não há,
Acontece o mesmo ao vinho!
Recolha: José Teixeira / Revisão de texto: L.G.
(i) Verylights
(ii) WC
(iii) A famosa ponte Balana
(iv) A espingarda automática G-3
Guiné 63/74 - P681: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (3): O Hotel do RC 8
Cancioneiro do Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá (1969/71). Autor das letras: José Luís Tavares. Recolha: Manuel Mata, ex-1º cabo apontador de Carros de Combate M 47 (1).
Hotel do R.C. 8 - Castelo Branco (2)(3)
De certo falo verdade,
Sem exagero nem mania,
Derivado ao fraco trato
Aqui em cavalaria.
Hoje que é Segunda-feira
E como mais nada não há,
É feijão à Castelo Branco
Com toucinho à moda de cá.
À Terça-feira é melhor
Mas de certo não é mau,
Batatas mal temperadas
E com peixe bacalhau.
À Quarta-feira, isso então
É que não vale mesmo nada,
Dão-nos então feijão crú,
Misturado com dobrada.
À Quinta-feira, que delícia,
Aquilo até mete medo,
Põem-nos arroz mal cozido
Com chouriço do vermelho.
À Sexta-feira não digo nada
É para nós um segredo
E então, para variar,
Dão-nos batatas com sebo.
Ao Sábado, que é fim de semana,
Eu digo e volto a dizer,
Fazem um rancho tão bom
Que nem se pode comer.
Ao Domingo é dia grande
E as comidas sempre fracas,
Dão-nos então arroz de frango
Com as asas e as patas.
Há água todos os dias
Que até é um regalo
E o pão sempre fresco,
Cozido o ano pasasdo.
E pronto, cheguei ao fim,
Acabei, vou terminar,
Não me falem mais em Rancho
Que estou quase a vomitar.
Tudo se passa no quartel
E ainda esta me resta,
Que o que dão melhor é a água
E mesmo essa não presta.
Já morri, não sou poeta,
De escrever cansei a mão,
De muitas quadras que eu fiz
Ainda estas aqui estão.
Visadas pela censura em 10-10-69
Tavares - Radiotelegrafista
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. pots de 2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DXCVII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (1)
O convívio anual do Esq Rec Fox 2640, este ano, vai realizar-se no dia 30 de Abril, em Pombal. Contactos: Manuel Mata > Tel. 245 996 260 / 939 344 816; José Tavares > Tel> 214 685 597 /965 119 117.
(2) R.C. = Regimento de Cavalaria
(3) Vd. posts anteriores:
31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXVI: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (2): Piche, BART 2857
31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXV: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (1): Obras em Piche
Hotel do R.C. 8 - Castelo Branco (2)(3)
De certo falo verdade,
Sem exagero nem mania,
Derivado ao fraco trato
Aqui em cavalaria.
Hoje que é Segunda-feira
E como mais nada não há,
É feijão à Castelo Branco
Com toucinho à moda de cá.
À Terça-feira é melhor
Mas de certo não é mau,
Batatas mal temperadas
E com peixe bacalhau.
À Quarta-feira, isso então
É que não vale mesmo nada,
Dão-nos então feijão crú,
Misturado com dobrada.
À Quinta-feira, que delícia,
Aquilo até mete medo,
Põem-nos arroz mal cozido
Com chouriço do vermelho.
À Sexta-feira não digo nada
É para nós um segredo
E então, para variar,
Dão-nos batatas com sebo.
Ao Sábado, que é fim de semana,
Eu digo e volto a dizer,
Fazem um rancho tão bom
Que nem se pode comer.
Ao Domingo é dia grande
E as comidas sempre fracas,
Dão-nos então arroz de frango
Com as asas e as patas.
Há água todos os dias
Que até é um regalo
E o pão sempre fresco,
Cozido o ano pasasdo.
E pronto, cheguei ao fim,
Acabei, vou terminar,
Não me falem mais em Rancho
Que estou quase a vomitar.
Tudo se passa no quartel
E ainda esta me resta,
Que o que dão melhor é a água
E mesmo essa não presta.
Já morri, não sou poeta,
De escrever cansei a mão,
De muitas quadras que eu fiz
Ainda estas aqui estão.
Visadas pela censura em 10-10-69
Tavares - Radiotelegrafista
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. pots de 2 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DXCVII: Esquadrão de Reconhecimento Fox 2640 (Bafatá, 1969/71) (Manuel Mata) (1)
O convívio anual do Esq Rec Fox 2640, este ano, vai realizar-se no dia 30 de Abril, em Pombal. Contactos: Manuel Mata > Tel. 245 996 260 / 939 344 816; José Tavares > Tel> 214 685 597 /965 119 117.
(2) R.C. = Regimento de Cavalaria
(3) Vd. posts anteriores:
31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXVI: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (2): Piche, BART 2857
31 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCLXV: Cancioneiro da Cavalaria de Bafatá (Radiotelegrafista Tavares) (1): Obras em Piche
segunda-feira, 10 de abril de 2006
Guiné 63/74 - P680: Tu Português de Portugal, eu Português de Guiné (José Teixeira)
Guiné-Bissau > Saltinho > 2005 > O Zé deixou amigos que ele reencontrou trinta e cinco anos depois... Como, por exemplo, a viúva Régulo Sambel, de Contabane, e a mulher do seu filho (aqui na foto). Foi uma viagem de saudade que não deu, este ano, para repetir, como ele pretendia.
© José Teixeira (2006),
O Zé Teixeira foi ao baú da memória buscar mais um texto que nos manda, para o blogue... É um sentida e belíssima evocação da sua viagem à Guiné, em 2005, escrita, para matar saudades, enquanto vai seguindo a par e passo, pelo mapa, a viagem de 2006 dos nossos camaradas e amigos do Norte...
VOLTAR À GUINÉ É RE-VIVER UM PASSADO NO PRESENTE
Como já sabem, tive recentemente o privilégio de, após 35 anos de separação, voltar à Guiné e reencontrar velhos amigos, companheiros de aventuras de guerra e sofrimento. Reconhecemo-nos. Chamaram os outros amigos comuns de outrora, apresentaram-me as mulheres, os filhos, os netos, os amigos (alguns combatentes da outra banda) e confraternizámos.
Recordámos tantos momentos juntos. Recordámos pessoas que já partiram. Perguntaram por companheiros (ainda sabiam os nomes) que nunca mais viram. As lágrimas saltaram teimosamente enquanto o coração rejubilava por um momento tão grandioso.
Para ilustrar o que afirmo vou tentar descrever o diálogo com a Dadá, que localizei em Sinchã Sambel (Saltinho). Ouço uma voz atrás de mim:
- Tissera, tu lembra Aliu de Mampatá ?
Olho e reparo numa mulher linda dos seus sessenta, bem vestida de sorriso rasgado.
Não a reconheci como sendo a lindíssima Dadá, que conheci em Mampatá em 1968.
- Sim lembro: Aliu Baldé, Chefe de Tabanca e Alferes de Mílicia. Sei que já morreu há muito tempo (1).
- Tu lembra Hamadú, milícia de Mampatá, filho do Régulo Sambel de Contabane ? - Conheci vários Hamadú.
- Minha marido e chefe de Tabanca de Sinchã Sambel.
-Tu Lembra da Filha de Aliu, a Dadá ?
- És tu ?
- Sim. Eu mesmo. (Colámo-nos num longo e fraternal abraço, deixámos que o coração falasse)
- Minha filha, meus neto, tudo gente de mim !
A alegria e o orgulho em me apresentar a família. De seguida foi vestir o mais bonito vestido, “pra tira foto cum Tissera”.
Correu a chamar a sogra, ainda viva, mulher do Régulo Sambel de Contabane (1). Esta velhinha de cabelos brancos abraçou-se a mim a soluçar e só sabia dizer:
- Branco e na volta ! branco e na volta ! - Por mais que lhe dissesse que agora só lá íamos para ver amigos e matar saudades, ela insistia:
- Branco e na volta !
O tempo livre que tive, passei-o na Tabanca a conviver. Sentia-me em casa. Toda a gente me chamava para papea um pouco. Alguns antigos milícias em Mampatá e em Aldeia Formosa, agora, a viver nesta Tabanca, vieram ter comigo, apresentavam-me a família. Falavam-me de outros cujos rostos já se tinham esvanecido da minha memória. Relembravam aventuras comuns. Queriam ficar no postal (fotografia) para eu trazer, de recordação.
A marcha do tempo não perdoa, bem pelo contrário. Desta vez, contrariamente aos anos de guerra, foi rápida de mais. Tive de regressar. A partida foi dolorosa. Quando me fui despedir, soube que no dia seguinte (o da minha partida) vinham pessoas de Mampatá para estar comigo. Tive pena e prometi a mim mesmo lá voltar.
Regressei à Guiné para recordar. Rever amigos e espantar fantasmas. À partida pensava que arrumava a Guiné do meu pensamento. Agora, a Guiné está-me no coração. É a minha segunda pátria, tal como ouvi por lá:
- Tu Português de Portugal. Eu Português de Guiné.
Zé Teixeira (1)
_____________
(1) Vd. post de 14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi
© José Teixeira (2006),
O Zé Teixeira foi ao baú da memória buscar mais um texto que nos manda, para o blogue... É um sentida e belíssima evocação da sua viagem à Guiné, em 2005, escrita, para matar saudades, enquanto vai seguindo a par e passo, pelo mapa, a viagem de 2006 dos nossos camaradas e amigos do Norte...
VOLTAR À GUINÉ É RE-VIVER UM PASSADO NO PRESENTE
Como já sabem, tive recentemente o privilégio de, após 35 anos de separação, voltar à Guiné e reencontrar velhos amigos, companheiros de aventuras de guerra e sofrimento. Reconhecemo-nos. Chamaram os outros amigos comuns de outrora, apresentaram-me as mulheres, os filhos, os netos, os amigos (alguns combatentes da outra banda) e confraternizámos.
Recordámos tantos momentos juntos. Recordámos pessoas que já partiram. Perguntaram por companheiros (ainda sabiam os nomes) que nunca mais viram. As lágrimas saltaram teimosamente enquanto o coração rejubilava por um momento tão grandioso.
Para ilustrar o que afirmo vou tentar descrever o diálogo com a Dadá, que localizei em Sinchã Sambel (Saltinho). Ouço uma voz atrás de mim:
- Tissera, tu lembra Aliu de Mampatá ?
Olho e reparo numa mulher linda dos seus sessenta, bem vestida de sorriso rasgado.
Não a reconheci como sendo a lindíssima Dadá, que conheci em Mampatá em 1968.
- Sim lembro: Aliu Baldé, Chefe de Tabanca e Alferes de Mílicia. Sei que já morreu há muito tempo (1).
- Tu lembra Hamadú, milícia de Mampatá, filho do Régulo Sambel de Contabane ? - Conheci vários Hamadú.
- Minha marido e chefe de Tabanca de Sinchã Sambel.
-Tu Lembra da Filha de Aliu, a Dadá ?
- És tu ?
- Sim. Eu mesmo. (Colámo-nos num longo e fraternal abraço, deixámos que o coração falasse)
- Minha filha, meus neto, tudo gente de mim !
A alegria e o orgulho em me apresentar a família. De seguida foi vestir o mais bonito vestido, “pra tira foto cum Tissera”.
Correu a chamar a sogra, ainda viva, mulher do Régulo Sambel de Contabane (1). Esta velhinha de cabelos brancos abraçou-se a mim a soluçar e só sabia dizer:
- Branco e na volta ! branco e na volta ! - Por mais que lhe dissesse que agora só lá íamos para ver amigos e matar saudades, ela insistia:
- Branco e na volta !
O tempo livre que tive, passei-o na Tabanca a conviver. Sentia-me em casa. Toda a gente me chamava para papea um pouco. Alguns antigos milícias em Mampatá e em Aldeia Formosa, agora, a viver nesta Tabanca, vieram ter comigo, apresentavam-me a família. Falavam-me de outros cujos rostos já se tinham esvanecido da minha memória. Relembravam aventuras comuns. Queriam ficar no postal (fotografia) para eu trazer, de recordação.
A marcha do tempo não perdoa, bem pelo contrário. Desta vez, contrariamente aos anos de guerra, foi rápida de mais. Tive de regressar. A partida foi dolorosa. Quando me fui despedir, soube que no dia seguinte (o da minha partida) vinham pessoas de Mampatá para estar comigo. Tive pena e prometi a mim mesmo lá voltar.
Regressei à Guiné para recordar. Rever amigos e espantar fantasmas. À partida pensava que arrumava a Guiné do meu pensamento. Agora, a Guiné está-me no coração. É a minha segunda pátria, tal como ouvi por lá:
- Tu Português de Portugal. Eu Português de Guiné.
Zé Teixeira (1)
_____________
(1) Vd. post de 14 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVI: O meu diário (Zé Teixeira) (fim): Confesso que vi e vivi
Guiné 63/74 - P679: Apelo ao pessoal da CCAÇ 2317 (Guileje, 1967/68)
Guiné-Bissau > Guileje > 1998 > Restos do aquartelamento, abandonado pelas NT em 22 de Maio de 1973.
© Xico Allen (2005)
Texto do director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau):
Tive conhecimento, através do Blogue-fora-nada, que o pessoal que pertenceu à CCAÇ 2317 (Guiledje, 1967/68) se prepara para a sua reunião de convívio anual, a realizar no dia 3 de Junho próximo, em Fátima (Contacto: Soares > Tel. 936 831 517 ou 222 000 200)
Sucede que a Acção para o Desenvolvimento (AD) é uma organização não-governamental guineense que está a promover a Iniciativa de Guiledje que visa recuperar aquele local, recolhendo testemunhos de um lado e de outro, com o objectivo de transformar aquele ex-quartel num local histórico onde se poderá ter acesso à memória de então e também para aqueles que desejem voltar com as famílias poderem fazer ecoturismo na Mata de Cantanhez (onde há chimpanzés, búfalos e elefantes).
Temos recebido excelente colaboração de outras Companhias que por lá passaram em termos de envio de relatórios, fotos e testemunhos.
Gostariamos de saber se da parte da vossa Companhia haverá também essa disponibilidade (1).
Nós temos uma organização portuguesa que é nossa parceira, o Instituto Marquês Valle Flôr, que poderá fazer a ponte, ou então eu próprio que normalmente vou a Portugal em Julho-Agosto, poderei entrar directamente em contacto com quem queira colaborar.
Para os que estiverem mais interessados em conhecer esta Iniciativa, poderão ir ao site da nossa organização: www.adbissau.org
Cumprimentos a todos.
Carlos Scharwz (Pepito)
Director Executivo da AD
________
Nota de L.G.
(1) Sobre a CCAÇ 2317 (Guileje, 1967/68), vd. os seguintes posts:
23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(4): os azares dos sargentos
(...) "Um dos ataques deu-se quando já lá se encontrava a CCAÇ 2317 que, em princípio, nos ia substituir. Nós, como é natural, transmitimos aos novatos a experiência acumulada de como safar o pêlo quando havia festivais. Só que o manual não previa a situação caricata que se passou" (...).
30 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXXVI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (10): Abril/Maio de 1969, 'Senhora, nem Tu me salvaste!"
(...) "Buba, 5 de Maio 1969 :
"Outro domingo inesquecível. Foi o Miguel como poderia ter sido outro. Pisou uma antipessoal e ficou sem o pé esquerdo e com a perna toda esfacelada.
"Saíram de madrugada, com destio a Nhala, levar mantimentos. Depois da curva do Vilaça detectaram três minas A/P. Os nossos homens puseram-se em posição de defesa e o Sapador preparou-se para as levantar, quando o Miguel se decide avançar um pouco e pisa uma terceira que estava dissimulada junto a um tronco de palmeira. O IN que estava emboscado no local a assistir ao levantamento abriu fogo de imediato, mas nada mais aconteceu de grave.
"Rapidamente assistido pelo Catarino debaixo de fogo, o Miguel foi transportado em seguida para Buba, de onde o heli o levou até Bissau, enquanto a coluna seguia o seu destino, detectando-se mais duas minas e uma armadilha de tropeçar e um cemitério (em cenário) com pedidos para voltarmos para a Metrópole, deixando o povo da Guiné gerir o seu destino e ameaças de morte em que o falso cemitério era o exemplo do que nos esperava se continuassemos a fazer guerra. A CCAÇ 2317 ficou no local a levantar um campo de 38 minas antipessoais" (...).
14 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (8): Gazela com chouriço à moda do Celestino
(...) "O ano de 1968 entrou com uma novidade. O esforço sobre o corredor de Guilege diminuiu de intensidade e a actividade operacional concentrou-se mais para a zona da fronteira, com a prioridade de manter seguro o itinerário Gadamael Porto – Guilege. Estavam para chegar as CAÇ 2316 e 2317 que iam acantonar, em condições precárias, no Mejo e em Guilege com vista a qualquer acção em grande que estava no segredo dos Deuses de Bissau" (...).
© Xico Allen (2005)
Texto do director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau):
Tive conhecimento, através do Blogue-fora-nada, que o pessoal que pertenceu à CCAÇ 2317 (Guiledje, 1967/68) se prepara para a sua reunião de convívio anual, a realizar no dia 3 de Junho próximo, em Fátima (Contacto: Soares > Tel. 936 831 517 ou 222 000 200)
Sucede que a Acção para o Desenvolvimento (AD) é uma organização não-governamental guineense que está a promover a Iniciativa de Guiledje que visa recuperar aquele local, recolhendo testemunhos de um lado e de outro, com o objectivo de transformar aquele ex-quartel num local histórico onde se poderá ter acesso à memória de então e também para aqueles que desejem voltar com as famílias poderem fazer ecoturismo na Mata de Cantanhez (onde há chimpanzés, búfalos e elefantes).
Temos recebido excelente colaboração de outras Companhias que por lá passaram em termos de envio de relatórios, fotos e testemunhos.
Gostariamos de saber se da parte da vossa Companhia haverá também essa disponibilidade (1).
Nós temos uma organização portuguesa que é nossa parceira, o Instituto Marquês Valle Flôr, que poderá fazer a ponte, ou então eu próprio que normalmente vou a Portugal em Julho-Agosto, poderei entrar directamente em contacto com quem queira colaborar.
Para os que estiverem mais interessados em conhecer esta Iniciativa, poderão ir ao site da nossa organização: www.adbissau.org
Cumprimentos a todos.
Carlos Scharwz (Pepito)
Director Executivo da AD
________
Nota de L.G.
(1) Sobre a CCAÇ 2317 (Guileje, 1967/68), vd. os seguintes posts:
23 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXIII: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto)(4): os azares dos sargentos
(...) "Um dos ataques deu-se quando já lá se encontrava a CCAÇ 2317 que, em princípio, nos ia substituir. Nós, como é natural, transmitimos aos novatos a experiência acumulada de como safar o pêlo quando havia festivais. Só que o manual não previa a situação caricata que se passou" (...).
30 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLXXXVI: O meu diário (José Teixeira, enfermeiro, CCAÇ 2381) (10): Abril/Maio de 1969, 'Senhora, nem Tu me salvaste!"
(...) "Buba, 5 de Maio 1969 :
"Outro domingo inesquecível. Foi o Miguel como poderia ter sido outro. Pisou uma antipessoal e ficou sem o pé esquerdo e com a perna toda esfacelada.
"Saíram de madrugada, com destio a Nhala, levar mantimentos. Depois da curva do Vilaça detectaram três minas A/P. Os nossos homens puseram-se em posição de defesa e o Sapador preparou-se para as levantar, quando o Miguel se decide avançar um pouco e pisa uma terceira que estava dissimulada junto a um tronco de palmeira. O IN que estava emboscado no local a assistir ao levantamento abriu fogo de imediato, mas nada mais aconteceu de grave.
"Rapidamente assistido pelo Catarino debaixo de fogo, o Miguel foi transportado em seguida para Buba, de onde o heli o levou até Bissau, enquanto a coluna seguia o seu destino, detectando-se mais duas minas e uma armadilha de tropeçar e um cemitério (em cenário) com pedidos para voltarmos para a Metrópole, deixando o povo da Guiné gerir o seu destino e ameaças de morte em que o falso cemitério era o exemplo do que nos esperava se continuassemos a fazer guerra. A CCAÇ 2317 ficou no local a levantar um campo de 38 minas antipessoais" (...).
14 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DXXXIV: Memórias de Guileje (1967/68) (Zé Neto) (8): Gazela com chouriço à moda do Celestino
(...) "O ano de 1968 entrou com uma novidade. O esforço sobre o corredor de Guilege diminuiu de intensidade e a actividade operacional concentrou-se mais para a zona da fronteira, com a prioridade de manter seguro o itinerário Gadamael Porto – Guilege. Estavam para chegar as CAÇ 2316 e 2317 que iam acantonar, em condições precárias, no Mejo e em Guilege com vista a qualquer acção em grande que estava no segredo dos Deuses de Bissau" (...).
Guiné 63/74- P678: Do Porto a Bissau (6): Atravessando o deserto do Sahará (Albano e Hugo Costa)
As primeiras imagens do norte de África. De baixo para cima: (i) o Hugo; (ii) uma paragem para desentorpecer as pernas; (iii) o Manuel Costa e o Armindo Pereira junto a uma manada de camelos; (iv) um pequeno percalço e a solidariedade dos viajantes do deserto.
Créditos fotográficos: © Hugo Costa (2006)
1. Notícias dos nossos amigos e camaradas que vão a caminho da Guiné. Fonte: Albano Costa (sábado, 8 de Abril de 2004, 23h58; fotos: domingo, 9 de Abril, 21h32).
Caro amigo LG
Mais um dia se passou, e mais uns quilómetros foram percorridos na viagem dos nossos amigos e camaradas até à Guine-Bissau. Neste momento [sábado, à noite] estão a jantar num hotel (não sei o nome) a 70 km da fronteira com a Mauritânia.
A comitiva tem-se portado bem. O jipe ficou preso na areia mas com um pouco de sacrifício lá saiu, e a aventura - como eles dizem - continua a bom ritmo e com muita alegria. Já falei com todos os elementos e todos estão a gostar.
Eles esperam, amanhã domingo, chegar próximo da fronteira ou até já ao Senegal, tudo vai depender dos imprevistos que possam surjir ou não. Segundo a opinião do Allen, e se tudo correr - como esperam(os) - lá para quarta-feira estarão na Guiné-Bissau.
Já os informei, a conselho do Paulo Salgado, a não tentar atravessar Casamança e entrar por S. Domingos que seria melhor e mais rápido...Eles devem evitar Casamança e entrar por Pirada, Gabú, Bafatá e então finalmente chegar a Bissau, aonde estão o Paulo e Conceição Salgado prontos para os receber e os informar do que for possível (Estive a falar ao telefone com eles, mas já deu para entender que são pessoas muitos afáveis).
A história da viagem, essa será depois contado pelo Marques Lopes e restantes elementos. Eles vão enviar fotos logo que saiam do deserto e consigam uma ligação à Net [o que veio a acontecer no domingo].
Um abraço, Albano Costa
2. Também a Zélia, mulher do Allen e mãe da Inês, me telefonou no sábado à noite, de Lisboa, do bairro de São Miguel onde estava de visita a familiares (Aproveitou a vinda de um irmão, que veio ver o desafio de futebol Sporting-Porto). Dei-me boas notícias do pessoal, apesar do pequeno percalço do jipe que se enterrou na areia... Espero poder estar com ela e o Albano, no Porto, nas próximas miniférias da Páscoa. Agardeço-lhe a gentileza de me ter telefonado. Infelizmente eu estava em viagem para Lisboa e ela esperava regressar ao Porto ainda de madrugada... Para os nossos morcões que a esta hora já devem estar no Senegal, a vitória do Porto sobre o Sporting deve ter sido a melhor notícia que receberam no deserto... Julgo que não há nenhum sportinguista infiltrado na comitiva...
3. No dia 6 de Abril, o Paulo Salgado mandou a seguinte mensagem ao Albano:
Caríssimo Albano:
Cá espero por ti (não percebi se tu vens ou não) e pelo resto da malta. Agora, algumas ideias:
(i) O teu filho que não se preocupe, pode utilizar o meu computador para o que for necessário, inclusive mandar mensagens. Só tem que trazer a ligação dele ao computador.
(ii) Quando chegardes, eu acompanho-vos à GuinéTelecom para adquirirdes um cartão e aplicá-lo no telemóvel - custa pouco. Mas tem que estar desbloqueado o telemóvel que trouxerem. Depois há zonas donde se pode falar para Portugal. Ou então compra-se noutra central - AREEBA, em vez da Telecom.
(iii) Desaconselho vivamente, fortemente, a passagem por S. Domingos. A coisa lá ainda não acabou, está preta! Nada de expor a perigos que podem acontecer.Sugiro uma volta maior, por Gabu, no Leste, para fugirem à zona de Casamance. Onde ouviste essa de os civis estrangeiros estarem "imunizados"?
Ao dispor. Podes ligar-me para 00245 - 720 40 25 ou 00245 720 4011 (este é da minha Mulher).
Mantenhas, Paulo Salgado.
domingo, 9 de abril de 2006
Guiné 63/74 - P677: Violenta emboscada em L (Op Boga Destemida, CCAÇ 12, CART 2520 e Pel Caç Nat 63, em Gundagué Beafada, Fevereiro de 1970) (Luís Graça)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Fporças da CCAÇ 12, mais concretamente o 2º Gr Comb da CCAÇ 12, na estrada para Mansambo.
Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
© Humberto Reis (2006).
Extractos de:
História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 26-28.
(Documento policopiado, elaborado pelo ex-furriel miliciano Henriques, com a colaboração e a cumplicidade de muita gente, a começar pelo sargento Piça, mandado classificar como reservado pelo comandante da unidade, Capitão Brito, e distribuído, à sua revelia, aos quadros metropolitanos, na véspera da sua rendição individual, em finais de Fevereiro e princípios de Março de 1971... Não creio que tenha sido nenhum crime de alta traição ou de lesa-pátria... A sua divulgação é, pelo contrário, uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de outro) (LG).
(8) Fevereiro de 1970:
(8.1) Uma emboscada em L as HT (Op Boga Destemida)
As declarações dos prisioneiros Jomel Nanquitande (capturado em Satecuta durante a Op Navalha Polida) (1) e Festa Na Lona (capturado em Ponta do Inglês durante a Op Safira Única)(2) trouxeram os seguintes elementos sobre o acampamento IN do Baio/Buruntoni:
(i) Localização: Xime 2D-81;
(ii) A vegetação à volta do acampamento e nas imediações do Rio Buruntoni é do tipo floresta tropical, composta por árvores de grande porte;
(iii) Efectivos: 30 elementos;
(iv) A população sob o controle IN é numerosa na área, havendo uma tabanca cerca de 150 metros a SE do acampamento;
(v) Armamento: 1 morteiro 60, 5 bazucas (RPG), 4 metralhadoras ligeiras e armas automáticas;
(vi) Chefes: Ponhe, Xito Mané, Tchuda Ada;
(vii) Segurança: 1 sentinela para norte, a cerca de 100 metros do acampamento;
(viii) Diariamente, pelas 0h [ilegível], sai uma patrulha de 15 elementos fortemente armados que reconhece a área para norte até ao Rio Buruntoni. Há aqui uma cambança sobre troncos de árvore;
(ix) Devido à intensa actividade das NT que levou à captura do vários elementos conhecedores da região, é de admitir que o IN se encontre alertado e até mesmo reforçado;
A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A) e forças da CART 2520, reforçadas com o Pel Caç Nat 63 (Dest B) (3).
Desenrolar da acção:
Em 8 de Fevereiro de 1970, pelas 9.00h, os 2 Dest saíram do Xime, seguindo por Madina Colhido e Gundagué Beafada até próximo de Darsalame Baio onde se emboscaram.
Da parte da tarde, 2 Gr Comb reconheceram com os prisioneiros o local de cambança do Rio Buruntoni, tendo encontrado uma ponte de rachas de cibe, soltas, com uma extensão de 20 metros, que oferecia pouca segurança, obrigando a travessia a efectuar-se somente de dia e muito lentamente, contrariamente ao que estava previsto.
Os 2 Gr Comb regressaram ao local da emboscada tendo depois os 2 Dest seguido para perto do rio onde pernoitaram. O PCV, em face do reconhecimento da cambança, ordenou que a travessia se fizesse ao amanhecer.
Em 9 de Fevereiro, pelas 5.30h, iniciou-se a cambança que demorou cerca de uma hora.
Durante a travessia, o 1s Cabo Galvão ( 3º Gr Comb da CCAÇ 12) caiu, ficando lesionado na coxa direita, o que impossibilitava de prosseguir. De forma que teve de ficar o 3º Gr Comb do Dest A emboscado junto a cambança.
Como fossem encontrados trilhos e o prisioneiro Festa informasse que o acampamento distava cerca de meia hora, os 2 Dest separam-se, tendo o Dest B seguindo ao longo do Rio Buruntoni e montado urna linha de emboscada a oeste da região indicada como sendo a do acampamento IN.
O Dest A progrediu com o prisioneiro Festa em direcção ao objectivo, tendo passado por um acampamento com vestígios de abandono recente. Depois de progredir mais de 2 horas na direcção sul, e como o prisioneiro continuasse a dizer que era longe, contradizendo-se, o Dest A que só dispunha de 2 Gr Comb, entrou em ligação com o Dest B a fim de tomar uma decisão face à situação.
E de referir que o PCV ainda não aparecera visto que a respectiva DO-27 tivera de ir cumprir uma missão de evacuação outro sector. De modo que foi decidido pelos CMDT dos Dest regressar ao Xime.
Quando ia ao encontro do Dest B, o 1º e 2º Gr Comb do Dest A foram flagelados à distância com metralhadora e lança-rockets. Era evidente que o IN tentava localizar as NT através do reconhecimento pelo fogo.
Cerca das 11.30h, o PCV sobrevoou a zona, quando o Dest B, já feita a cambança, armadilhava o local onde havia vestígios recentes do IN.
Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.
Próximo da antiga tabanca beafada, cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets. A secção que ia na vanguarda do Dest B ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido.
Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da co¬luna) e mort 60 (retaguarda).
Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.
Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto e 7 feridos entre graves e ligeiros (urn dos quais viria a falecer mais tarde), sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, do 29 Gr Comb).
Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado. Levados os feridos para Gundagué Beafada, donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h.
Após esta operação o IN manifestar-se-ia de novo em 12 de Fevereiro (atacando uma embarcação em Ponta Varela, do que resultaram baixas civis) e flagelando também na região de Ponta Varela forças da CART 2520 durante a Op Tango Variado).
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 7 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXII: Assalto ao destacamento IN de Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (Janeiro de 1970, CCAÇ 12, CAÇ 2404, CART 2413)
(...) "O prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, foi deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (...)".
(2) Vd. pots de 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado
(...) "Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.
"Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos" (...).
(3) O comandante do Pel Caç Nat 63 era, nesta época, o Alf Mil Art Jorge Cabral: vd. post 17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXII: Vocês não tenham medo, não fujam, sou o Cabral (Fá, 1969/71)
Arquivo pessoal de Humberto Reis (ex-furriel miliciano de operações especiais, CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71).
© Humberto Reis (2006).
Extractos de:
História da CCAÇ. 12: Guiné 1969/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores 12. 1971. Capítulo II. 26-28.
(Documento policopiado, elaborado pelo ex-furriel miliciano Henriques, com a colaboração e a cumplicidade de muita gente, a começar pelo sargento Piça, mandado classificar como reservado pelo comandante da unidade, Capitão Brito, e distribuído, à sua revelia, aos quadros metropolitanos, na véspera da sua rendição individual, em finais de Fevereiro e princípios de Março de 1971... Não creio que tenha sido nenhum crime de alta traição ou de lesa-pátria... A sua divulgação é, pelo contrário, uma homenagem a todos os combatentes, de um lado e de outro) (LG).
(8) Fevereiro de 1970:
(8.1) Uma emboscada em L as HT (Op Boga Destemida)
As declarações dos prisioneiros Jomel Nanquitande (capturado em Satecuta durante a Op Navalha Polida) (1) e Festa Na Lona (capturado em Ponta do Inglês durante a Op Safira Única)(2) trouxeram os seguintes elementos sobre o acampamento IN do Baio/Buruntoni:
(i) Localização: Xime 2D-81;
(ii) A vegetação à volta do acampamento e nas imediações do Rio Buruntoni é do tipo floresta tropical, composta por árvores de grande porte;
(iii) Efectivos: 30 elementos;
(iv) A população sob o controle IN é numerosa na área, havendo uma tabanca cerca de 150 metros a SE do acampamento;
(v) Armamento: 1 morteiro 60, 5 bazucas (RPG), 4 metralhadoras ligeiras e armas automáticas;
(vi) Chefes: Ponhe, Xito Mané, Tchuda Ada;
(vii) Segurança: 1 sentinela para norte, a cerca de 100 metros do acampamento;
(viii) Diariamente, pelas 0h [ilegível], sai uma patrulha de 15 elementos fortemente armados que reconhece a área para norte até ao Rio Buruntoni. Há aqui uma cambança sobre troncos de árvore;
(ix) Devido à intensa actividade das NT que levou à captura do vários elementos conhecedores da região, é de admitir que o IN se encontre alertado e até mesmo reforçado;
A fim de bater a área do Baio/Buruntoni foi planeada a Op Boga Destemida em que tomaram parte 3 Gr Comb da CCAÇ 12 (Dest A) e forças da CART 2520, reforçadas com o Pel Caç Nat 63 (Dest B) (3).
Desenrolar da acção:
Em 8 de Fevereiro de 1970, pelas 9.00h, os 2 Dest saíram do Xime, seguindo por Madina Colhido e Gundagué Beafada até próximo de Darsalame Baio onde se emboscaram.
Da parte da tarde, 2 Gr Comb reconheceram com os prisioneiros o local de cambança do Rio Buruntoni, tendo encontrado uma ponte de rachas de cibe, soltas, com uma extensão de 20 metros, que oferecia pouca segurança, obrigando a travessia a efectuar-se somente de dia e muito lentamente, contrariamente ao que estava previsto.
Os 2 Gr Comb regressaram ao local da emboscada tendo depois os 2 Dest seguido para perto do rio onde pernoitaram. O PCV, em face do reconhecimento da cambança, ordenou que a travessia se fizesse ao amanhecer.
Em 9 de Fevereiro, pelas 5.30h, iniciou-se a cambança que demorou cerca de uma hora.
Durante a travessia, o 1s Cabo Galvão ( 3º Gr Comb da CCAÇ 12) caiu, ficando lesionado na coxa direita, o que impossibilitava de prosseguir. De forma que teve de ficar o 3º Gr Comb do Dest A emboscado junto a cambança.
Como fossem encontrados trilhos e o prisioneiro Festa informasse que o acampamento distava cerca de meia hora, os 2 Dest separam-se, tendo o Dest B seguindo ao longo do Rio Buruntoni e montado urna linha de emboscada a oeste da região indicada como sendo a do acampamento IN.
O Dest A progrediu com o prisioneiro Festa em direcção ao objectivo, tendo passado por um acampamento com vestígios de abandono recente. Depois de progredir mais de 2 horas na direcção sul, e como o prisioneiro continuasse a dizer que era longe, contradizendo-se, o Dest A que só dispunha de 2 Gr Comb, entrou em ligação com o Dest B a fim de tomar uma decisão face à situação.
E de referir que o PCV ainda não aparecera visto que a respectiva DO-27 tivera de ir cumprir uma missão de evacuação outro sector. De modo que foi decidido pelos CMDT dos Dest regressar ao Xime.
Quando ia ao encontro do Dest B, o 1º e 2º Gr Comb do Dest A foram flagelados à distância com metralhadora e lança-rockets. Era evidente que o IN tentava localizar as NT através do reconhecimento pelo fogo.
Cerca das 11.30h, o PCV sobrevoou a zona, quando o Dest B, já feita a cambança, armadilhava o local onde havia vestígios recentes do IN.
Em marcha lenta, devido ao transporte do ferido em maca, os 2 Dest seguiram o trilho de Darsalame Baio-Gundagué Beafada, através do capim alto.
Próximo da antiga tabanca beafada, cerca das 13h, as NT sofreriam uma violenta emboscada montada em L e com grande poder de fogo, especialmente de lança-rockets. A secção que ia na vanguarda do Dest B ficou praticamente fora de combate, tendo sido gravemente feridos, entre outros, o respectivo comandante e a praça encarregada da segurança do prisioneiro Jomel Nanquitande que, aproveitando a confusão, conseguiu fugir, embora algemado e muito provavelmente ferido.
Devido ao dispositivo da emboscada, quase todos os Gr Com foram atingidos pelo fogo de armas automáticas e lança-rockets (testa e meio da co¬luna) e mort 60 (retaguarda).
Devido à reacção das NT, o IN retirou na direcção de Poindon e Ponta Varela, tendo ateado o fogo ao capim para evitar a sua perseguição. O incêndio lançaria sobre as NT um enxame de abelhas, obrigando-as a fugir para uma mata próxima onde se trataram os feridos.
Em resultado da acção fulminante do IN, as NT sofreriam 1 morto e 7 feridos entre graves e ligeiros (urn dos quais viria a falecer mais tarde), sendo 2 da CCAÇ 12 (1º Cabo Galvão, do 3º Gr Comb, e Soldado Samba Camará, do 29 Gr Comb).
Feito o reconhecimento, não foi encontrado o prisioneiro. Apesar do incêndio provocado pelo fogo pegado ao capim, ainda se conseguiu recuperar parte do material abandonado. Levados os feridos para Gundagué Beafada, donde foram heli-evacuados, as NT retiraram para o Xime, protegidas por heli-canhão e T-6, tendo chegado ao aquartelamento por volta das 17h.
Após esta operação o IN manifestar-se-ia de novo em 12 de Fevereiro (atacando uma embarcação em Ponta Varela, do que resultaram baixas civis) e flagelando também na região de Ponta Varela forças da CART 2520 durante a Op Tango Variado).
____________
Notas de L.G.
(1) Vd. post de 7 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXII: Assalto ao destacamento IN de Seco Braima, na margem direita do Rio Corubal (Janeiro de 1970, CCAÇ 12, CAÇ 2404, CART 2413)
(...) "O prisioneiro, de nome Jomel Nanquitande, foi deixado para trás pelos seus companheiros, que no entanto recuperaram a sua arma. O seu ferimento não era grave, aos olhos de um tuga. Após uma semana de recuperação e de interrogatórios, o Jomel seria obrigado pelas NT a participar como guia para um assalto de mão ao acampamento IN de Ponta Varela que conhecia bem [, a sudoeste do Xime, na direcção de Madina Colhido]: Op Borboleta Destemida (...)".
(2) Vd. pots de 19 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado
(...) "Seguindo um dos trilhos, avistou-se um homem desarmado que seguia em direcção contrárias às NT. Capturado, informou que ia recolher vinho de palma, que a tabanca ficava próxima, que não havia elementos armados e que a maior parte da população estava àquela hora a trabalhar na bolanha.
"Feita a aproximação com envolvimento, capturaram-se mais 2 homens, 5 mulheres e 6 crianças. Um dos homens capturados disse chamar-se Festa Na Lona, de etnia Balanta, estar alí a passar férias e pertencer a uma unidade combatente do Gabu. Foi-lhe apreendido uma pistola Tokarev (7,62, m/ 1933) e vários documentos" (...).
(3) O comandante do Pel Caç Nat 63 era, nesta época, o Alf Mil Art Jorge Cabral: vd. post 17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXXII: Vocês não tenham medo, não fujam, sou o Cabral (Fá, 1969/71)
Guiné 63/74 - P676: A ternura dos sessenta (Paulo Raposo)
O Paulo Raposo, alferes miliciano de infantaria da CCAÇ 2405, a bordo do Uíge, a caminho da Guiné (1968)
©Paulo Raposo (2006)
Caro Luís
Comove-me profundamente as intervenções dos filhos dos nossos camaradas, Homens que fizeram a Guerra.
Só consigo falar da Guerra sempre na brincadeira, pois se fôr a sério cria-me amargura.
A passagem pela Guiné marcou-me muito, fomos uns Heróis, pois só com a G3 e ração de combate aguentámos 13 anos de guerra.
Em vez do país se enaltecer pelos filhos que tem, parece que andamos envergonhados pela nossa abnegação e grande generosidade.
Caro Luís, já que temos a informação de todos os documentários sobre a Guerra de África, faço a pergunta:
- Não podemos nós montar os filmes em CD em episódios ou por província para mostrar às gerações futuras aquilo por que nós passamos?
Camões até pode vir a ser um bom negócio.
Vai um quebra costelas do
Paulo Lage Raposo
Alf. Mil. Inf.
BCAÇ 2852
CCAÇ 2405
Guiné 68/70
Comentário de L.G.:
Paulo:
Respondo à tua pergunta com outra pergunto: o que faremos nós com este blogue ? Olha, para já vamos... blogando, rindo e chorando... Vejo, com muito agrado , que a rapaziada do nosso tempo se recusa a ser infoexcluída e já está a construir os seus próprios blogues ou sítios na Net relacionados com a sua experiência na Guiné... O último exemplo, para além da nossa amiga Ana Ferreira, que criou o seu próprio espaço na blogosfera, foi o Zé Teixeira, autor do sítio Os Maioriais de Empada (História da CCAÇ 2381).
©Paulo Raposo (2006)
Caro Luís
Comove-me profundamente as intervenções dos filhos dos nossos camaradas, Homens que fizeram a Guerra.
Só consigo falar da Guerra sempre na brincadeira, pois se fôr a sério cria-me amargura.
A passagem pela Guiné marcou-me muito, fomos uns Heróis, pois só com a G3 e ração de combate aguentámos 13 anos de guerra.
Em vez do país se enaltecer pelos filhos que tem, parece que andamos envergonhados pela nossa abnegação e grande generosidade.
Caro Luís, já que temos a informação de todos os documentários sobre a Guerra de África, faço a pergunta:
- Não podemos nós montar os filmes em CD em episódios ou por província para mostrar às gerações futuras aquilo por que nós passamos?
Camões até pode vir a ser um bom negócio.
Vai um quebra costelas do
Paulo Lage Raposo
Alf. Mil. Inf.
BCAÇ 2852
CCAÇ 2405
Guiné 68/70
Comentário de L.G.:
Paulo:
Respondo à tua pergunta com outra pergunto: o que faremos nós com este blogue ? Olha, para já vamos... blogando, rindo e chorando... Vejo, com muito agrado , que a rapaziada do nosso tempo se recusa a ser infoexcluída e já está a construir os seus próprios blogues ou sítios na Net relacionados com a sua experiência na Guiné... O último exemplo, para além da nossa amiga Ana Ferreira, que criou o seu próprio espaço na blogosfera, foi o Zé Teixeira, autor do sítio Os Maioriais de Empada (História da CCAÇ 2381).
Guiné 63/74 - P675: Cabo 14: pergunto-me se ele alguma vez regressou, de facto (Ana Ferreira)
Guiné > O 1.º Cabo n.º 2514, Fernando das Neves Ferreira, CCAÇ 616, do BCAÇ 619, Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como, Bafatá, 1964/66).
© Ana Ferreira (2006)
Texto da Ana Ferreira, Braga:
Agradeço-lhe imenso as suas palavras de apoio e aceito com muito prazer o convite para integrar a tertúlia. Sinto-me um pouco como uma intrusa, mas sei também que a partilha de memórias e de sentimentos há muito me fez entrar no vosso mundo.
Tenho uma longa tarefa pela frente... o livro que meu pai insistia que deveria escrever, vai ter um eco remoto neste blog que iniciei.
O tempo é sempre pouco, mas a perseverança não.
Como já sabe o meu pai esteve na Guiné de 64 a 66, mais exactamante de oito de Janeiro de 1964 a três de Fevereiro de 1966, partindo de Lisboa, onde vivia. Julgo que o quartel onde se encontrava era o da Amadora. Não tinha nenhuma especialidade, era apenas atirador, mas terei que confirmar nos documentos que ainda restam .
Pelos remetentes que encontrei nos aerogramas vejo que percorreu um pouco toda a Guiné: Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como (que pelas suas descrições, terá sido um dos piores sítios), Ponderosa, embora, não seja este o verdadeiro nome, ignoro qual seja, Bafatá e mais alguns de certeza, pois sei que já não me lembro com exactidão de tudo o que me contou.
Bolanhas, G3 carregadas em braços no ar, queimada de aldeias, tabancas destruidas, estadias surrealistas e fugas do hospital de Bissau .... Castigos, louvores, viagens prometidas e desprometidas à metrópole, a guia de marcha, o embarque e o regresso. Mas pergunto-me se alguma vez regressou, de facto.
Saudações,
Ana Ferreira,
Braga
Blogue> Cabo14Guine
© Ana Ferreira (2006)
Texto da Ana Ferreira, Braga:
Agradeço-lhe imenso as suas palavras de apoio e aceito com muito prazer o convite para integrar a tertúlia. Sinto-me um pouco como uma intrusa, mas sei também que a partilha de memórias e de sentimentos há muito me fez entrar no vosso mundo.
Tenho uma longa tarefa pela frente... o livro que meu pai insistia que deveria escrever, vai ter um eco remoto neste blog que iniciei.
O tempo é sempre pouco, mas a perseverança não.
Como já sabe o meu pai esteve na Guiné de 64 a 66, mais exactamante de oito de Janeiro de 1964 a três de Fevereiro de 1966, partindo de Lisboa, onde vivia. Julgo que o quartel onde se encontrava era o da Amadora. Não tinha nenhuma especialidade, era apenas atirador, mas terei que confirmar nos documentos que ainda restam .
Pelos remetentes que encontrei nos aerogramas vejo que percorreu um pouco toda a Guiné: Bissau, Empada, Pirada, Bigene, Ilha do Como (que pelas suas descrições, terá sido um dos piores sítios), Ponderosa, embora, não seja este o verdadeiro nome, ignoro qual seja, Bafatá e mais alguns de certeza, pois sei que já não me lembro com exactidão de tudo o que me contou.
Bolanhas, G3 carregadas em braços no ar, queimada de aldeias, tabancas destruidas, estadias surrealistas e fugas do hospital de Bissau .... Castigos, louvores, viagens prometidas e desprometidas à metrópole, a guia de marcha, o embarque e o regresso. Mas pergunto-me se alguma vez regressou, de facto.
Saudações,
Ana Ferreira,
Braga
Blogue> Cabo14Guine
sábado, 8 de abril de 2006
Guiné 63/4 - P674: Aerograma de Ana Paula Ferreira: o meu pai, o 1º cabo Ferreira (CCAÇ 617, BCAÇ 619, 1964/66)
Mensagem de Ana Paula Ferreira (que nos mandou um aerograma de hoje):
Não poderia deixar de lhe agradecer pelo seu blogue: procurando algumas informações sobre a Guiné, onde o meu pai esteve de 64 a 66 (Fernando das Neves Ferreira, 1º Cabo, nº 2514, CCAÇ 616, do BCAÇ 619), deparei-me com as suas páginas repletas de testemunhos, fotografias, ou seja, algo que me é tão familiar, não porque lá estive, mas porque conheço as histórias através do meu pai.
Por coincidência iniciei também hoje um blogue sobre este assunto. Há muito tempo que pensava numa forma de dar a conhecer tudo aquilo que ouvi e senti através das palavras do meu pai. Tanta coisa aconteceu e muita gente não esqueceu. Eu não esqueci.
Eu sei que deve parecer estranho falar assim, não embarquei para a Guiné, não peguei em armas, não matei ou vi morrer, mas as palavras são poderosas, principalmente quando proferidas por quem viu a sua vida mudada para sempre.
A minha mãe guarda centenas de aerogramas, fotografias e memórias de um cais de onde viu partir um jovem, que voltou homem amargurado.
Os meus parabéns pela sua iniciativa!
Atentamente,
Ana Paula Ferreira
Comentário de L.G.
Ana: Fico/amos muito sensibilizado(s) pelas suas palavras de carinho e de amor pelo seu pai, que foi nosso camarada, bem como de simpatia pelo nosso blogue. Este é também um ponto de encontro entre gerações, entre nós e os nossos filhos... Você não esqueceu, nós também não.
Gostaria de a convidar para integrar a nossa tertúlia, se assim o desejar. Dê-nos mais notícias suas, diga-nos qual o endereço do seu blogue... Temos ainda poucos testemunhos e documentos do tempo em que o seu pai esteve na Guiné (1964/66). Teremos muito gosto também em divulgar o seu blogue.
Fica aqui também a notícia do 12º almoço/convívio da Companhia de Caçadores 617 – BCAÇ 619 (Guiné 1964/66) em Guimarães, no próximo dia 28 de Maio de 2006.
3. Também o nosso histórico Sousa de Castro quis transmitir à Ana Paula algumas palavras de boas-vindas ao nosso blogue (Como eu faço questão de lembrar, ele é o tertuliano nº 1, o mais antigo, o primeiro a trazer outros camaradas para a nossa tertúlia, e nessa medida um dos co-responsáveis pela abertura das comportas deste rio de memórias da Guiné, cujas águas continuam a correr e a engrossar):
Ana Paula, fiquei muito sensibilizado pelo testemunho e pelo interesse demonstrado sobre estórias da guerra colonial. Graças ao nosso comandante Luís Graça, porque sem ele não teria sido possível o trabalho extraordinário que é o blogue-fora-nada.
Não se encontram, todos os dias, filhos interessados nas estórias que os pais contam sobre aquele tempo desperdiçado. Foram os melhores anos da nossa juventude, embora no meu caso pessoal não estou minimamente arrependido de ter ido para a Guiné, creio que fiquei muito mais rico com aquela experiência. Um dia hei-de lá voltar.
Cumprimentos e, como o Luís diz, faça o favor de entrar para a nossa tertúlia e conte as estórias do seu pai. Se achar bem, pode publicar no seu blogue.
Sousa de Castro (ex- 1º Cabo TRMS, CART 3494, Xime e Mansambo, Jan 72 a Abr 74)
Não poderia deixar de lhe agradecer pelo seu blogue: procurando algumas informações sobre a Guiné, onde o meu pai esteve de 64 a 66 (Fernando das Neves Ferreira, 1º Cabo, nº 2514, CCAÇ 616, do BCAÇ 619), deparei-me com as suas páginas repletas de testemunhos, fotografias, ou seja, algo que me é tão familiar, não porque lá estive, mas porque conheço as histórias através do meu pai.
Por coincidência iniciei também hoje um blogue sobre este assunto. Há muito tempo que pensava numa forma de dar a conhecer tudo aquilo que ouvi e senti através das palavras do meu pai. Tanta coisa aconteceu e muita gente não esqueceu. Eu não esqueci.
Eu sei que deve parecer estranho falar assim, não embarquei para a Guiné, não peguei em armas, não matei ou vi morrer, mas as palavras são poderosas, principalmente quando proferidas por quem viu a sua vida mudada para sempre.
A minha mãe guarda centenas de aerogramas, fotografias e memórias de um cais de onde viu partir um jovem, que voltou homem amargurado.
Os meus parabéns pela sua iniciativa!
Atentamente,
Ana Paula Ferreira
Comentário de L.G.
Ana: Fico/amos muito sensibilizado(s) pelas suas palavras de carinho e de amor pelo seu pai, que foi nosso camarada, bem como de simpatia pelo nosso blogue. Este é também um ponto de encontro entre gerações, entre nós e os nossos filhos... Você não esqueceu, nós também não.
Gostaria de a convidar para integrar a nossa tertúlia, se assim o desejar. Dê-nos mais notícias suas, diga-nos qual o endereço do seu blogue... Temos ainda poucos testemunhos e documentos do tempo em que o seu pai esteve na Guiné (1964/66). Teremos muito gosto também em divulgar o seu blogue.
Fica aqui também a notícia do 12º almoço/convívio da Companhia de Caçadores 617 – BCAÇ 619 (Guiné 1964/66) em Guimarães, no próximo dia 28 de Maio de 2006.
3. Também o nosso histórico Sousa de Castro quis transmitir à Ana Paula algumas palavras de boas-vindas ao nosso blogue (Como eu faço questão de lembrar, ele é o tertuliano nº 1, o mais antigo, o primeiro a trazer outros camaradas para a nossa tertúlia, e nessa medida um dos co-responsáveis pela abertura das comportas deste rio de memórias da Guiné, cujas águas continuam a correr e a engrossar):
Ana Paula, fiquei muito sensibilizado pelo testemunho e pelo interesse demonstrado sobre estórias da guerra colonial. Graças ao nosso comandante Luís Graça, porque sem ele não teria sido possível o trabalho extraordinário que é o blogue-fora-nada.
Não se encontram, todos os dias, filhos interessados nas estórias que os pais contam sobre aquele tempo desperdiçado. Foram os melhores anos da nossa juventude, embora no meu caso pessoal não estou minimamente arrependido de ter ido para a Guiné, creio que fiquei muito mais rico com aquela experiência. Um dia hei-de lá voltar.
Cumprimentos e, como o Luís diz, faça o favor de entrar para a nossa tertúlia e conte as estórias do seu pai. Se achar bem, pode publicar no seu blogue.
Sousa de Castro (ex- 1º Cabo TRMS, CART 3494, Xime e Mansambo, Jan 72 a Abr 74)
Guiné 63/74 - P673: Antologia (37): Carlos Fabião, o conciliador (Luís Graça)
Texto publicado no Diário de Notícias 'on line', de 3 de Abril de 2006
Carlos Fabião, um conciliador entre dois fogos
Podia ter sido primeiro-ministro. Podia ter ascendido à Presidência da República em 1976. Mas Carlos Fabião acabou por ficar a meio caminho entre dois golpes - a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, em que participou, e o 25 de Novembro de 1975, em que já não desempenhou nenhum papel de relevo. Tudo se jogou nesse período de efémera fama, em que o coronel que se distinguira por acções militares na Guiné ostentou as estrelas de general. Fabião, chefe do Estado-Maior do Exército e membro do Conselho da Revolução no Verão quente de 1975, faleceu ontem, em Lisboa. Tinha 76 anos.
Carlos Alberto Idães Soares Fabião, lisboeta da freguesia da Graça, ingressou como voluntário na Escola do Exército aos 20 anos, em 1950. Desempenhou várias comissões de serviço em África, designadamente em Angola e na Guiné, onde se notabilizou como um dos colaboradores mais próximos do então governador António de Spínola. Foi louvado e medalhado. Após o 25 de Abril, viria a ser investido como governador do território até Setembro de 1974, quando a Guiné-Bissau ascendeu à independência.
Ao regressar a Lisboa, Fabião verificou como a unidade dos militares revolucionários fora drasticamente quebrada. Tentou então o impossível: conciliar as facções em conflito. E foi como conciliador que atravessou o período mais turbulento do processo revolucionário, já graduado em general. No comando do Exército, afasta-se da ala spinolista e aproxima-se da esquerda mais radical. "Não há revolução sem leis revolucionárias", proclamava a 18 de Janeiro de 1975, em entrevista ao Expresso. À época era presença assídua nos telejornais: distinguia-se pelo porte altivo e pela pera aristocrática que ostentava. Quem o conhecia garante que era um homem com mais dúvidas do que certezas. Nada que se ajustasse a esses tempos de verdades inflamadas e vociferantes.
Em Agosto de 1975, já a esquerda militar estava em perda acentuada, o então Presidente da República, General Costa Gomes, convidou-o a formar governo, em substituição de Vasco Gonçalves. Fabião pediu para reflectir, acabando por recusar. Em vez dele, avançou Pinheiro de Azevedo, que passou à História como chefe do VI Governo Provisório. Em Novembro, acabaria substituído na chefia do Exército por Vasco Lourenço, regressando ao posto de coronel, que manteve até ao fim. A hora era de outros, como Ramalho Eanes, que sete meses depois chegaria a Belém. Fabião jamais voltou à ribalta: em 1983 pediu a passagem à reserva, depois reformou-se.
"Naquela altura andava com a mania das conciliações", recordaria em 1994, numa entrevista ao Público, este militar reservado, que confessava não ser ambicioso. O Almirante Rosa Coutinho, também protagonista do 25 de Abril, recordava-o ontem, em declarações ao DN, como "um homem muito digno, que teve o azar de ser cilindrado pela revolução, mas deixou saudades em todos quantos o conheceram". Outro militar de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, disse ao DN que Fabião foi "um grande oficial" com quem partilhou "alguns dos momentos mais difíceis" do processo revolucionário.
O funeral de Carlos Fabião parte hoje, pelas 12h30, do Grémio Lusitano para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Carlos Fabião, um conciliador entre dois fogos
Podia ter sido primeiro-ministro. Podia ter ascendido à Presidência da República em 1976. Mas Carlos Fabião acabou por ficar a meio caminho entre dois golpes - a Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974, em que participou, e o 25 de Novembro de 1975, em que já não desempenhou nenhum papel de relevo. Tudo se jogou nesse período de efémera fama, em que o coronel que se distinguira por acções militares na Guiné ostentou as estrelas de general. Fabião, chefe do Estado-Maior do Exército e membro do Conselho da Revolução no Verão quente de 1975, faleceu ontem, em Lisboa. Tinha 76 anos.
Carlos Alberto Idães Soares Fabião, lisboeta da freguesia da Graça, ingressou como voluntário na Escola do Exército aos 20 anos, em 1950. Desempenhou várias comissões de serviço em África, designadamente em Angola e na Guiné, onde se notabilizou como um dos colaboradores mais próximos do então governador António de Spínola. Foi louvado e medalhado. Após o 25 de Abril, viria a ser investido como governador do território até Setembro de 1974, quando a Guiné-Bissau ascendeu à independência.
Ao regressar a Lisboa, Fabião verificou como a unidade dos militares revolucionários fora drasticamente quebrada. Tentou então o impossível: conciliar as facções em conflito. E foi como conciliador que atravessou o período mais turbulento do processo revolucionário, já graduado em general. No comando do Exército, afasta-se da ala spinolista e aproxima-se da esquerda mais radical. "Não há revolução sem leis revolucionárias", proclamava a 18 de Janeiro de 1975, em entrevista ao Expresso. À época era presença assídua nos telejornais: distinguia-se pelo porte altivo e pela pera aristocrática que ostentava. Quem o conhecia garante que era um homem com mais dúvidas do que certezas. Nada que se ajustasse a esses tempos de verdades inflamadas e vociferantes.
Em Agosto de 1975, já a esquerda militar estava em perda acentuada, o então Presidente da República, General Costa Gomes, convidou-o a formar governo, em substituição de Vasco Gonçalves. Fabião pediu para reflectir, acabando por recusar. Em vez dele, avançou Pinheiro de Azevedo, que passou à História como chefe do VI Governo Provisório. Em Novembro, acabaria substituído na chefia do Exército por Vasco Lourenço, regressando ao posto de coronel, que manteve até ao fim. A hora era de outros, como Ramalho Eanes, que sete meses depois chegaria a Belém. Fabião jamais voltou à ribalta: em 1983 pediu a passagem à reserva, depois reformou-se.
"Naquela altura andava com a mania das conciliações", recordaria em 1994, numa entrevista ao Público, este militar reservado, que confessava não ser ambicioso. O Almirante Rosa Coutinho, também protagonista do 25 de Abril, recordava-o ontem, em declarações ao DN, como "um homem muito digno, que teve o azar de ser cilindrado pela revolução, mas deixou saudades em todos quantos o conheceram". Outro militar de Abril, Otelo Saraiva de Carvalho, disse ao DN que Fabião foi "um grande oficial" com quem partilhou "alguns dos momentos mais difíceis" do processo revolucionário.
O funeral de Carlos Fabião parte hoje, pelas 12h30, do Grémio Lusitano para o cemitério do Alto de São João, em Lisboa.
Guiné 63/74 - P672: O outro Carlos Fabião (5) (Carlos Vinhal)
Texto do do Carlos Vinhal, ex-furriel miliciano da CART 2732 (Mansabá, 1970/72):
O homem é o resultado do seu tempo e das suas ideias. Não há democratas sem democracia nem ditadores sem ditadura. Ambos estão manietados se não estiverem integrados no seu tempo e meio.
O que acabei de escrever será discutível, muito, mas conheci alguns democratas e ditadores que pacientemente esperaram pela queda da ditadura. Muitos a milhares de quilómetros. Conheci outros que lutaram pelos seus ideais, mas as suas lutas eram pouco produtivas face ao que lhes custava, a eles pessoalmente e às suas famílias. A estes últimos as minhas homenagens. O nosso colega Rui Felício reforça a minha ideia da capacidade que o homem tem de adaptar as suas ideias e acções ao seu meio, conveniências e momento da sua vida.
Os militares do QP que fizeram múltiplas comissões em África, mais não fizeram que alimentar o regime que não queria, ou não sabia, dar a liberdade de escolha aos povos das Províncias Ultramarinas, mas muitos deles depois do 25 de Abril foram essenciais para a consolidação da democracia. Assim de momento, e sem pensar muito, lembro os nomes Salgueiro Maia, Melo Antunes e Ramalho Eanes a quem tanto devemos.
Os militares recrutados por imposição por sua vez, independentemente das suas convicções políticas ou posição face à guerra, tinham que alinhar ou destruiam o seu futuro. Eramos apanhados na idade em que iniciávamos os cursos superiores ou consolidávamos os nossos conhecimentos profissionais.
Ainda hoje me pergunto se o 25 de Abril, que foi feito pelos capitães (classe mais explorada pela guerra), teve como fim principal derrubar o regime ou se se aproveitou do estado de podridão do mesmo, para acabar com uma guerra sem solução.
Felizmente correu tudo bem; a guerra acabou, o regime caiu e a democracia foi imposta (no melhor dos sentidos) para nosso bem. Pode-se discutir os diversos modelos de democracia (se os há) que as diversas facções do MFA preconizavam e nos queriam impor.
Lá voltamos ao artigo do nosso camarada Felício (1) que em palavras directas retrata essas pessoas e esses tempos, imediatamente antes e depois do levantamento militar. Havia militares adaptados (ou inadaptados?) ao seu meio e ao seu tempo. A História falará deles com menos paixão do que nós o fazemos hoje. Há-de discutir-se no futuro o 28 de Setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro e, dependendo dos ideais de cada observador, os resultados serão considerados negativos ou positivos.
Saudações para todos os camaradas e amigos.
Carlos Vinhal
____________
Nota de L.G.
(1) Vd. post de 5 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 : DCLXXV: O outro Carlos Fabião (3) (Rui Felício)
"(...)Ficaria sossegado no meu canto, a observar as opiniões dos tertulianos a propósito da morte do CARLOS FABIÃO, sem nenhuma intenção de intervir, se não acabasse neste mesmo momento de ler um e-mail do Zé Teixeira em resposta a um outro do J.Vacas de Carvalho (meu contemporâneo na E.P.I. em Mafra).
"O Zé Teixeira afirma que o Carlos Fabião que conheceu na Guiné não é o mesmo que o Vacas de Carvalho retrata no seu e-mail. E eu acredito que o Zé Teixeira fale verdade. Mas não precisava que o Vacas de Carvalho escrevesse o que escreveu para saber que o que este diz também é verdade... Ou seja, ambos retratam o mesmo homem, em tempos diferentes mas próximos, com dois comportamentos completamente antagónicos!" (...)
O homem é o resultado do seu tempo e das suas ideias. Não há democratas sem democracia nem ditadores sem ditadura. Ambos estão manietados se não estiverem integrados no seu tempo e meio.
O que acabei de escrever será discutível, muito, mas conheci alguns democratas e ditadores que pacientemente esperaram pela queda da ditadura. Muitos a milhares de quilómetros. Conheci outros que lutaram pelos seus ideais, mas as suas lutas eram pouco produtivas face ao que lhes custava, a eles pessoalmente e às suas famílias. A estes últimos as minhas homenagens. O nosso colega Rui Felício reforça a minha ideia da capacidade que o homem tem de adaptar as suas ideias e acções ao seu meio, conveniências e momento da sua vida.
Os militares do QP que fizeram múltiplas comissões em África, mais não fizeram que alimentar o regime que não queria, ou não sabia, dar a liberdade de escolha aos povos das Províncias Ultramarinas, mas muitos deles depois do 25 de Abril foram essenciais para a consolidação da democracia. Assim de momento, e sem pensar muito, lembro os nomes Salgueiro Maia, Melo Antunes e Ramalho Eanes a quem tanto devemos.
Os militares recrutados por imposição por sua vez, independentemente das suas convicções políticas ou posição face à guerra, tinham que alinhar ou destruiam o seu futuro. Eramos apanhados na idade em que iniciávamos os cursos superiores ou consolidávamos os nossos conhecimentos profissionais.
Ainda hoje me pergunto se o 25 de Abril, que foi feito pelos capitães (classe mais explorada pela guerra), teve como fim principal derrubar o regime ou se se aproveitou do estado de podridão do mesmo, para acabar com uma guerra sem solução.
Felizmente correu tudo bem; a guerra acabou, o regime caiu e a democracia foi imposta (no melhor dos sentidos) para nosso bem. Pode-se discutir os diversos modelos de democracia (se os há) que as diversas facções do MFA preconizavam e nos queriam impor.
Lá voltamos ao artigo do nosso camarada Felício (1) que em palavras directas retrata essas pessoas e esses tempos, imediatamente antes e depois do levantamento militar. Havia militares adaptados (ou inadaptados?) ao seu meio e ao seu tempo. A História falará deles com menos paixão do que nós o fazemos hoje. Há-de discutir-se no futuro o 28 de Setembro, o 11 de Março e o 25 de Novembro e, dependendo dos ideais de cada observador, os resultados serão considerados negativos ou positivos.
Saudações para todos os camaradas e amigos.
Carlos Vinhal
____________
Nota de L.G.
(1) Vd. post de 5 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 : DCLXXV: O outro Carlos Fabião (3) (Rui Felício)
"(...)Ficaria sossegado no meu canto, a observar as opiniões dos tertulianos a propósito da morte do CARLOS FABIÃO, sem nenhuma intenção de intervir, se não acabasse neste mesmo momento de ler um e-mail do Zé Teixeira em resposta a um outro do J.Vacas de Carvalho (meu contemporâneo na E.P.I. em Mafra).
"O Zé Teixeira afirma que o Carlos Fabião que conheceu na Guiné não é o mesmo que o Vacas de Carvalho retrata no seu e-mail. E eu acredito que o Zé Teixeira fale verdade. Mas não precisava que o Vacas de Carvalho escrevesse o que escreveu para saber que o que este diz também é verdade... Ou seja, ambos retratam o mesmo homem, em tempos diferentes mas próximos, com dois comportamentos completamente antagónicos!" (...)
Guiné 63/74 - P671: O outro Carlos Fabião (4) (Paulo Raposo)
Texto do Paulo Raposo:
Os mesmos militares que antes do 25 de Abril nos exigiam os maiores sacrifícios, que à conta disso muitos dos nossos não regressaram, depois do 25 [de Abril] andaram aos abraços com aqueles que eram nossos inimigos.
Ainda vinham dizer com todo despudor que a guerra que faziam era contra o governo e não contra o povo. Ao que eu saiba, o Governo estava no Terreiro do Paço, e nós povo é que estavamos no mato.
Em que ficamos, que raio de homens são estes? Não podem ser a mesma pessoa. Onde está a integridade? Spínola queixou-se amargamente de Fabião quando o tinha como homem de sua confiança.
E bem podem limpar bem as mãos á parede pelo trabalho que fizeram, só falta vender os Açores e a Madeira em talhões.
Mas respeitemos os que já partiram. A verdadeira história far-se-à um dia.
Paulo Lage Raposo
Alf. Mil. Inf.
BCAÇ 2852
CCAÇ 2405
Guiné 68/70
Os mesmos militares que antes do 25 de Abril nos exigiam os maiores sacrifícios, que à conta disso muitos dos nossos não regressaram, depois do 25 [de Abril] andaram aos abraços com aqueles que eram nossos inimigos.
Ainda vinham dizer com todo despudor que a guerra que faziam era contra o governo e não contra o povo. Ao que eu saiba, o Governo estava no Terreiro do Paço, e nós povo é que estavamos no mato.
Em que ficamos, que raio de homens são estes? Não podem ser a mesma pessoa. Onde está a integridade? Spínola queixou-se amargamente de Fabião quando o tinha como homem de sua confiança.
E bem podem limpar bem as mãos á parede pelo trabalho que fizeram, só falta vender os Açores e a Madeira em talhões.
Mas respeitemos os que já partiram. A verdadeira história far-se-à um dia.
Paulo Lage Raposo
Alf. Mil. Inf.
BCAÇ 2852
CCAÇ 2405
Guiné 68/70
sexta-feira, 7 de abril de 2006
Guiné 63/74 - P670: CCAÇ 5 - Os Gatos Pretos de Canjadude (José Martins)
Guiné > Região do Gabu > Canjadude > CCAÇ 5 > Brazão da unidade
© José Martins (2006)
História da Companhia de Caçadores nº 5 - Os Gatos Pretos de Canjadude (por José Martins, ex-fur mil transmissões, CCAÇ 5, 1968/70)
Caros amigos
Alguns contributos para a história das unidades da Guiné. Ainda faltam muitos elementos, nomeadamente situados nas datas de 1 de Abril de 1967 a Janeiro de 1970 e após Julho de 1973.
Tenho nomes e factos, mas toda a colaboração é benvinda.
Um abraço
José Martins
_____________
A legislação publicada em 16 de Agosto de 1895 retirou a feição administrativa policial às tropas ultramarinas.
A Conferência de Berlim, realizada entre 15 de Novembro de 1884 e 26 de Fevereiro de 1885, estabelece que nos territórios descobertos e colonizados em África, entre os quais se encontrava o antigo ultramar português, é abolido o direito de posse obtido pelo descobrimento, passando a vigorar o direito de posse por ocupação efectiva, dando voz ao interesse das potências que não tinham territórios no continente africano.
Há referências a diversas unidades existentes na Guiné, constituídas por tropas indígenas enquadradas por oficiais e sargentos pertencentes aos quadros coloniais, e designadas como:
· Exército de Terra
· Companhia de Guerra de Angola e Guiné
· Companhia de Infantaria da Guiné
· 1ª Companhia Indígena de Infantaria da Guiné
· 2ª Companhia Indígena de Infantaria da Guiné
· 2ª Companhia Indígena Mista de Artilharia e Infantaria da Guiné.
A partir de 14 de Novembro de 1901, data da remodelação da Organização Militar do Ultramar, que contemplava as experiências obtidas nas Campanhas de África de 1895, existe diversa legislação que, além de dispersa, se aplicava, normalmente, a uma só Província Ultramarina.
Em 10 de Junho de 1926, o Decreto-Lei nº 11746, na sua Base VI, visa extinguir os quadros privativos coloniais, avançando na unificação dos Exércitos Ultramarino e Metropolitano. No entanto, as forças militares das províncias ultramarinas continuam a ter a sua estrutura assente em quadros oriundos da metrópole que enquadravam militares do recrutamento provincial.
Os Decretos-Leis nºs 425654 e 43351 de 7 de Outubro de 1959 e 24 de Novembro de 1960, respectivamente, definem e desenvolvem o que deveria ser o Dispositivo Militar Metropolitano e Ultramarino.
Para a Província da Guiné, constituída como Comando Territorial Independente, além do Quartel-General, estava previsto a existência de quatro companhias de caçadores e uma bateria de artilharia de campanha. Além destas unidades, as províncias ultramarinas eram reforçadas com unidades expedicionárias, idas da metrópole, de acordo com as necessidades e/ou a situação de cada província.
No início das Campanhas de África (1961-1974) havia a 1ª Companhia de Caçadores e a 4ª Companhia de Caçadores. Para completar o dispositivo previsto faltava constituir, ainda, duas companhias de caçadores.
Em 1 de Fevereiro de 1961, constitui-se um pelotão, adstrito à 1ª Companhia de Caçadores, que viria a ser o embrião de uma nova unidade. Assim, com um dispositivo de 2 pelotões, foi criada a 3ª Companhia de Caçadores Indígenas que, em 1 de Agosto de 1961, foi colocada em Nova Lamego, ficando integrada no dispositivo de manobra do Batalhão de Caçadores 238, estacionada em Bambadinca que tinha à sua responsabilidade o Sector Leste, que abrangia os concelhos de Bafatá e Gabú (Nova Lamego).
Esta nova companhia de recrutamento local, enquadrada por metropolitanos, deslocou efectivos para Piche e Pirada. Posteriormente, deslocou forças para guarnecer as povoações de Buruntuma, Bajucunda, Cabuca e Canquelifá. Efectuou diversas operações de patrulhamento nas regiões de Beli e Madina do Boé, onde instalou dois pelotões em 6 de Maio de 1963. Destacou ainda, em diversas ocasiões e de acordo com as necessidades operacionais, forças para reforço ou guarnição de diversas localidades, além das já referidas, nomeadamente Geba, Contubuel, Canjadude e Cheche.
Em 1 de Abril de 1967 e no âmbito da reestruturação das unidades de recrutamento local já definidas no final da década de 50, passa a designar-se como Companhia de Caçadores nº 5 e fixa a sua localização em Nova Lamego, mantendo forças destacadas em Canjadude, Cheche e Cabuca.
Com a criação do subsector de Canjadude e integrado no dispositivo de manobra do Batalhão estacionado em Nova Lamego e responsável pelo entretanto criado Sector L3, foi a Companhia de Caçadores nº 5 transferida em 14 de Julho de 1968 para este subsector, do qual assumiu a responsabilidade.
Como a Unidade ainda mantinha pelotões a guarnecer os aquartelamentos de Cabuca e Cheche, foi o subsector de Canjadude reforçado pela Companhia de Artilharia nº 2238, que fez deslocar um grupo de combate para reforço da guarnição do Che-che em 4 de Julho de 1968. O dispositivo era complementado com uma Esquadra do Pelotão de Morteiros nº 2105 e o Pelotão de Milícia nº 254 da Companhia de Milícias nº 18.
Com o fim da Operação Mabecos Bravios, realizada entre 2 e 7 de Fevereiro de 1969 e que procedeu à retirada da guarnição do aquartelamento de Madina do Boé e do destacamento do Cheche, junto ao Rio Corubal, a guarnição deste destacamento reuniu-se à sua unidade em Canjadude.
Quando em 20 de Abril de 1969, o grupo de combate destacado em Cabuca foi rendido por outra unidade, e a CART 2338 foi transferida para Nova Lamego, o aquartelamento de Canjadude passou a dispor da totalidade dos elementos da CCA5 5, passando a ser a unidade de fronteira com a zona do Boé, a partir de Nova Lamego.
Como todas as unidades em quadrícula, teve a seu cargo o reordenamento da povoação de Canjadude, com a construção de casas em adobe e, no início, cobertas de capim. Em 1969 iniciou, em local construído para o efeito, as aulas para as crianças e escola regimental, que eram leccionadas, respectivamente, pelo sargento enfermeiro e o sargento de transmissões. Posteriormente, e com melhor organização, foi constituído o Posto Escolar Militar nº 45, tendo nele leccionado além de vários oficiais e sargentos, soldados de Acção Psicossocial.
Esta unidade sempre dispôs de praças do recrutamento provincial, não só nas especialidades combatentes mas também em vários serviços, à excepção de transmissões. Só em Junho de 1973 foi aumentado ao efectivo um soldado do recrutamento local com a especialidade de Transmissões de Infantaria.
No que respeita a sargentos, desde o início da unidade até Outubro de 1970, teve ao seu serviço um 2º Sargento Enfermeiro, do recrutamento local, que prestou inúmeros serviços não só aos militares, mas também à população civil. Só em Maio de 1973 é que foram colocados cinco Furriéis Milicianos do rutamento local com a especialidade de Atiradores.
A Companhia de Caçadores nº 5 teve como comandantes:
- o Capitão Miliciano de Infantaria Barros e Silva (Abril de 1967 -Junho de 1968);
- o Capitão de Cavalaria Pacífico dos Reis (Junho de 1968- Setembro de 1969);
- o Capitão de Infantaria Ferreira de Oliveira (Setembro de 1969-Março de 1970);
- o Capitão de Infantaria Gaspar Guerra (Março de 1970- Maio de 1970);
- o Capitão de Infantaria Silveira Costeira (Maio de 1970-Abril de 1972);
- o Capitão de Cavalaria Figueiredo de Barros (Abrild e 1972-Maio de 1973);
- e o Capitão Miliciano de Infantaria Silva de Mendonça (Maio de 1973-Agosto de 1974).
Como comandantes interinos houve vários Alferes Milicianos que assumiam o comando na ausência e/ou impedimento dos titulares.
Apesar da vasta Zona de Acção que tinha de patrulhar, ainda em diversos períodos de 1970 e 1971, destacou pelotões para reforço de Nova Lamego, Buruntuma e Copá, cuja ausência se reflectiu no estado psicológico e de estado de saúde geral, devido ao esforço dispendido, apesar de os patrulhamentos não poderem ser efectuados por períodos longos nem muito para além das áreas adjacentes ao aquartelamento.
Nas diversas operações que efectuou ao longo do período da sua existência, destacam-se a intercepção de um grupo IN que atravessava o Rio Corubal, num barco pneumático, cujos ocupantes foram abatidos ou se afogaram na tentativa de fuga, e outra na região do Siai em que se destaca a captura de 70 granadas de armas pesadas, 10 minas e 650 quilos de munições de armas ligeiras.
De composição maioritariamente da etnia Fula instalada em chão Mandinga, registaram-se alguns atritos com a população civil, nomeadamente após o ataque ao aquartelamento de Canjadude efectuado em 3 de Agosto de 1970 e, quando na época seca, os civis fechavam os poços para que os militares não pudessem utilizar a água, mas que foram rapidamente sanados.
O número de militares que passaram por esta unidade deve rondar o milhar, correspondendo três quartos destes a efectivos do recrutamento local.
Quanto a baixas teve, no período da sua existência, 16 mortos em combate ou por doença, incluindo 5 metropolitanos, sofrendo ainda, no período de Janeiro de 1970 a Julho de 1973, pelos registos existentes, 23 feridos dos quais alguns tiverem de ser evacuados para o Hospital Militar de Bissau.
À Companhia de Caçadores nº 5 foi conferido um louvor pelo Comandante do Batalhão de Caçadores nº 2893, em Ordem de Serviço nº 231 de 7 de Setembro de 1971, tendo o mesmo sido considerado como concedido pelo Brigadeiro Comandante Militar, por despacho de 18 de Outubro de 1971.
Grande parte dos elementos da unidade foram louvados pelo seu comandante em exercício, sendo a maior parte destes considerado como concedidos pelo Comando do Batalhão e muitos destes foram considerados como concedidos pelo Brigadeiro Comandante Militar. Em 1967 um dos soldados africanos foi condecorado com a Cruz de Guerra de 4ª Classe.
Em 20 de Agosto de 1974 e já na fase de retracção do dispositivo, depois de todos os militares do recrutamento local terem passado à disponibilidade, foi o aquartelamento de Canjadude desactivado e entregue aos militares do PAIGC, sendo extinta a Companhia que usou como emblema as armas da Guiné Portuguesa, tendo sobreposto um GATO PRETO e usando a divisa JUSTOS E VALOROSOS.
_______________
Bibliografia:
Resenha Histórico-Militar das Campanhas de Africa (1961-1974) Edição do Estado Maior do Exército – 1º Volumes; 3º Volume, 7º Volume (Tomo II) e 8º Volume (Tomo II – Livros 1 e 2).
Meio Século de Lutas no Ultramar do Tenente-coronel BELLO DE ALMEIDA – edição da Sociedade de Geografia de Lisboa – 1937
C.Caç 5 – História da Unidade - Arquivo Histórico Militar.
Guiné 63/74 - P669: Do Porto a Bissau (5): já se vê neve no Atlas (Albano Costa / Zélia)
1. Notícias enviadas pelo Albano (9h13):
Caro amigo LG:
Cá estou eu mais uma vez para ir dando notícias, sobre os mosqueteiros... Tudo vai correndo bem, perderam-se um pouco por Tanger, mas já tudo voltou à estrada, e já chegaram a Marraqueche, e por lá vão pernoitar e conhecer um pouco a cidade.
Depois é meter os pés ao caminho e andar até à próxima cidade. Eu bem gostaria de ilustrar com umas fotos, já pedi ao Hugo mas não tem sido possível ele poder enviar nem que seja só uma imagem deles no deserto... Temos de compreender... não pode ser como nós estamos habituados.
Um abraço, Albano
2. Notícias enviadas pela Zélia, mulher do Allen e mãe da Inês, às 16h32:
A malta vai bem disposta, dormiram em Marraqueche e já hoje viram neve no cume do Atlas. Neste mesmo minuto estou a receber mensagem da minha filha, pois antes de iniciar este email, pedi-lhe a posição onde iam, mas a resposta dá mais logo pois vai a conduzir. A minha intenção era poder transmitir-te algo mais".
Caro amigo LG:
Cá estou eu mais uma vez para ir dando notícias, sobre os mosqueteiros... Tudo vai correndo bem, perderam-se um pouco por Tanger, mas já tudo voltou à estrada, e já chegaram a Marraqueche, e por lá vão pernoitar e conhecer um pouco a cidade.
Depois é meter os pés ao caminho e andar até à próxima cidade. Eu bem gostaria de ilustrar com umas fotos, já pedi ao Hugo mas não tem sido possível ele poder enviar nem que seja só uma imagem deles no deserto... Temos de compreender... não pode ser como nós estamos habituados.
Um abraço, Albano
2. Notícias enviadas pela Zélia, mulher do Allen e mãe da Inês, às 16h32:
A malta vai bem disposta, dormiram em Marraqueche e já hoje viram neve no cume do Atlas. Neste mesmo minuto estou a receber mensagem da minha filha, pois antes de iniciar este email, pedi-lhe a posição onde iam, mas a resposta dá mais logo pois vai a conduzir. A minha intenção era poder transmitir-te algo mais".
Guiné 63/74 - P668: Do Porto a Bissau (4): A fortaleza de Schengen retém 20 caixas de material médico-cirúrgico (Zélia)
A Zélia mandou-me ontem notícas, às 15h48, que não pude inserir no blogue por falta de tempo (tive que ir e vir Funchal), e que a assim (excerto):
(...) O principal motivo era dar-te noticias da nossa gente,pois ontem e já hoje lançaste notécias deles... Pois é, lá está um dos meus dois tesouros, a minha Inês que faz 27 anos em Agosto e tirou férias, incentivada por mim «,para ir conhecer a Guiné, pois ela tem Formatura em Design de Equipamentos e a partir de 1 Maio efectiva na fábrica de mobiliário onde vem trabalhando em part-time quase há um ano porque há 5 que trabalha no Jornal O JOGO, das 18 às 2 da manhã ,de onde se vai agora desvincular... Era lá efectiva.. Tem também o bacharelato em Design Gráfico e faz lá a montagem das páginas do jornal que concerteza já tantas vezes leste (se por acaso te interesses por desporto).
A talho de foice, posso dizer-te que nesta área ela praticou Atletismo como velocista, tendo passado por alguns clubes além do FCP. Chegou a subir ao Pódio como Campeã Nacional.Além disto é bonita (parece mal a mãe dizer?), simpática, prestativa e alegre, o que julgo ajudar nesta viagem.
Hoje,falando mesmo ou através de mensagens,já contactámos umas 6 vezes, pois como ontem e já em Ceuta o jipe teve que ficar no posto fronteiriço pois implicaram com as caixas de material cirúrgico(soro e seringas) destinadas aos hospitais... Pernoitaram no hotel IBIS, convencidos que seriam liberados logo pela manhã, mas acabei de saber que tiveram que deixar lá as 20 caixas desse material pois não deixaram seguir.
Vale a pena alguém de boa vontade tentar ajudar quem mais precisa, caso de países como a Guiné, quando a burocracia criada por OUTROS não deixa ou não quer?
Além do desalento causado por este incidente - pois conheço bem o Xico e o empenho que teve para angariar estas coisa -, foi o tempo que ali perderam, pois julgando eu que por esta altura já iriam bem mais adiante, seriam 14h de cá quando estavam a passar Tânger.
Agora, permita Deus que nada mais os atrapalhe pois sempre tem havido problemas na fronteira do Senegal.
Sempre que possível vou-te dando notícias, pois com a minha filha lá o meu telemóvel não vai ter descanso (estava habituada em situações idênticas a fazer o mesmo com o Xico, só que ele resmungava sempre).
Um grande abraço e até logo,quem sabe!?
Zélia
(...) O principal motivo era dar-te noticias da nossa gente,pois ontem e já hoje lançaste notécias deles... Pois é, lá está um dos meus dois tesouros, a minha Inês que faz 27 anos em Agosto e tirou férias, incentivada por mim «,para ir conhecer a Guiné, pois ela tem Formatura em Design de Equipamentos e a partir de 1 Maio efectiva na fábrica de mobiliário onde vem trabalhando em part-time quase há um ano porque há 5 que trabalha no Jornal O JOGO, das 18 às 2 da manhã ,de onde se vai agora desvincular... Era lá efectiva.. Tem também o bacharelato em Design Gráfico e faz lá a montagem das páginas do jornal que concerteza já tantas vezes leste (se por acaso te interesses por desporto).
A talho de foice, posso dizer-te que nesta área ela praticou Atletismo como velocista, tendo passado por alguns clubes além do FCP. Chegou a subir ao Pódio como Campeã Nacional.Além disto é bonita (parece mal a mãe dizer?), simpática, prestativa e alegre, o que julgo ajudar nesta viagem.
Hoje,falando mesmo ou através de mensagens,já contactámos umas 6 vezes, pois como ontem e já em Ceuta o jipe teve que ficar no posto fronteiriço pois implicaram com as caixas de material cirúrgico(soro e seringas) destinadas aos hospitais... Pernoitaram no hotel IBIS, convencidos que seriam liberados logo pela manhã, mas acabei de saber que tiveram que deixar lá as 20 caixas desse material pois não deixaram seguir.
Vale a pena alguém de boa vontade tentar ajudar quem mais precisa, caso de países como a Guiné, quando a burocracia criada por OUTROS não deixa ou não quer?
Além do desalento causado por este incidente - pois conheço bem o Xico e o empenho que teve para angariar estas coisa -, foi o tempo que ali perderam, pois julgando eu que por esta altura já iriam bem mais adiante, seriam 14h de cá quando estavam a passar Tânger.
Agora, permita Deus que nada mais os atrapalhe pois sempre tem havido problemas na fronteira do Senegal.
Sempre que possível vou-te dando notícias, pois com a minha filha lá o meu telemóvel não vai ter descanso (estava habituada em situações idênticas a fazer o mesmo com o Xico, só que ele resmungava sempre).
Um grande abraço e até logo,quem sabe!?
Zélia
quinta-feira, 6 de abril de 2006
Guiné 63/74 - P667: Do Porto a Bissau (3): o pequeno almoço no Porto Alto (Moura Ferreira)
Porto Alto, Vila Franca de Xira > 5 de Abril de 2006 > O Hugo Moura Ferreira estava à espera dos seis mosqueteiros (como lhes chama o Albano) para tomar com eles o pequeno almoço... Um gesto bonito, solidário, próprio de um verdadeiro amigo, camarada e tertuliano... (LG)
© Hugo Moura Ferreira (2006)
Texto do Moura Ferreira:
Caro Luís:
Aqui seguem já algumas das fotos referentes às primeiras horas de viagem dos nossos camaradas, com destino à Guiné-Bissau.
Foram fotos tomadas no Porto Alto, próximo de Vila Franca de Xira, onde eu os estava esperando, para tomarem o pequeno-almoço e para lhes desejar o melhor para a viagem.
Chovia que Deus a dava. Interpretámos isso como de bom augúrio e como que um baptismo.
Como podes verificar iam que "nem sardinhas em lata". Então a filha do Francisco Allen, coitada, até seguia instalada conjuntamente com as bagagens, como podes verificar. Só desejo é que quem vai nos bancos de trás não venha a sentir cãibras, pois se assim for muitas hão-de ter até lá. Mas como quem corre por gosto... Se tivesse tido possibilidade, até eu tinha ido em cima dos meus 183 cm.
Das fotos escolhe as que entenderes e usa-as como quiseres. Quanto a legendas, se fazes favor… imagina-as.
Um abraço.
Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf Mil Inf (1966/1968)
CCAÇ 1621 e CCAÇ 6
Como podes verificar iam que "nem sardinhas em lata". Então a filha do Francisco Allen, coitada, até seguia instalada conjuntamente com as bagagens, como podes verificar. Só desejo é que quem vai nos bancos de trás não venha a sentir cãibras, pois se assim for muitas hão-de ter até lá. Mas como quem corre por gosto... Se tivesse tido possibilidade, até eu tinha ido em cima dos meus 183 cm.
Das fotos escolhe as que entenderes e usa-as como quiseres. Quanto a legendas, se fazes favor… imagina-as.
Um abraço.
Hugo Moura Ferreira
Ex-Alf Mil Inf (1966/1968)
CCAÇ 1621 e CCAÇ 6
Guiné 63/74 - P666: Do Porto a Bissau (2): a partida (Albano Costa)
Do Porto a Bissau: O grupo de seis que partiu, de jipe, em viagem por terra, até à nossa querida Guiné-Bissau... De joelhos, o Hugo e o Allen (da esquerda para a direita); de pé, na segunda fila, reconheço a filha do Allen, a Inês, junto ao jipe e o A.Marques Lopes (o segundo, a contar da esquerda para a direita)...
Os outros dois elementos da comitiva são também antigos combatentes da Guiné. Segundo explicação do Albano, "o mais velho é o Armindo Pereira, esteve em Jumbembem [a norte de Farim, região do Oio], já é repetente nestas idas à Guiné e de de tal forma que quando o Allen lá vai ele vai sempre... O mais novo e calvo é o Manuel Costa (meu primo), esteve em Canjabari [ a oeste de Farim, na região do Oio] e Chugué [a norte de Bedanda, na região de Quínara] ".
Em cima, o Allen ao volante e junto à janela, do banco de trás, o nosso coronel Marques Lopes... Que a sorte os proteja, já que são audazes e solidários... Vê-se que o jipe vai cheio qe nem um ovo e que o Allen conseguiu alguns apoios e patrocínios de empresas do Norte. Em princípio, o jipe vai ficar em Bissau, como apoio logístico para futuras viagens, devendo o pessoal (os seis da comitiva) regressar de avião a Portugal (LG).
Duas notícias enviadas pelo Albano Costa, uma ontem, às 8h23 da manhâ; outra, já esta madrugada, às 00h23.
Texto e fotos do © Albano Costa (2006):
1. Caro LG
Às sete em ponto [do dia 5 de Abril de 2006] lá partiram os seis mosqueteiros , à aventura, com destino à Guiné-Bissau... Fez-me recordar um pouco aquelas partidas que se faziam para mais uma comissão, hà muitos anos atrás...
Sempre ia lá o Hugo e a Inês, dois jovens filhos de ex-combatentes (1)... Lembrei-me como as mães sofriam com a partida dos seus filhos...
Eles e os demais companheiros de viagem mostravam todos um misto de euforia contida e de apreensão mas no fundo todos iam contentes por esta aventura. Sempre é o baptismo nestas coisas para todos menos o Allen, que já é repetente (2)...
Vamos torcer todos para que daqui por cinco/seis dias eles cheguem à Guiné-Bissau com toda a segurança.
Um abraço para todos os tertulianos, Albano
2. Caro Luís Graça:
Estou só a informar que a comitiva lá vai andando de vagar, de vagarinho, mas lá vai indo... Fizeram a travessia para Marrocos, às 11 horas (hora espanhola). Neste momento já se encontram do lado de lá, agora vão pernoitar e descansar até amanhã, que já é outro dia, e cada vez a Guiné fica mais próxima.
Um abraço, Albano
____________
Notas de L.G.:
(1) O Hugo e a Inês são filhos, respectivamente, do Albano Costa e do Xico Allen (e da Zélia).
(2) O A. Marques Lopes já tinha ido à Guiné em 1998; mas, em termos de viagem por terra, é um novato, como os restantes (com excepção do Xico)...
quarta-feira, 5 de abril de 2006
Guiné 63/74 : P665: O outro Carlos Fabião (3) (Rui Felício)
Texto do Rui Felício (ex-Alf Mil Inf., CCAÇ 2405, Dulombi, 1968/70)
Meu Caro Luis Graça,
Sei que acabas por ser o pivot de desencontrados sentimentos que o teu blogue saudavelmente proporciona.
Tal como outros já o disseram, também eu preferia não alimentar polémicas sobre o passado da Guiné, que é afinal o espaço que nos une a todos, independentemente das naturais diferenças de pensamento que são próprias dos homens.
Assim consigamos respeitá-las mutuamente...que é isso que enobrece a alma humana.
Ficaria sossegado no meu canto, a observar as opiniões dos tertulianos a propósito da morte do CARLOS FABIÃO, sem nenhuma intenção de intervir, se não acabasse neste mesmo momento de ler um e-mail do Zé Teixeira em resposta a um outro do J.Vacas de Carvalho (meu contemporâneo na E.P.I. em Mafra).
O Zé Teixeira afirma que o Carlos Fabião que conheceu na Guiné não é o mesmo que o Vacas de Carvalho retrata no seu e-mail.
E eu acredito que o Zé Teixeira fale verdade. Mas não precisava que o Vacas de Carvalho escrevesse o que escreveu para saber que o que este diz também é verdade...
Ou seja, ambos retratam o mesmo homem, em tempos diferentes mas próximos, com dois comportamentos completamente antagónicos!
Como é isto possivel?
O problema é que os homens coerentes e verdadeiros não mudam de um ano para o outro!
Mas infelizmente outros que conheci na Guiné, do quadro permanente, também sofreram essa mudança pela simples varinha mágica do 25 de Abril, passando de oficiais louvados e até condecorados pelo regime então vigente, para de repente se transformarem em revolucionários que não eram, progressistas que antes eram conservadores, falsos emocratas que antes eram autoritários...
Em suma: Cavalgaram a onda que os trazia à praia, para se salvarem de morrer afogados!
Os verdadeiros homens mantêm seus ideais independentemente da onda que os carrega e são coerentes consigo mesmos.
Os outros, os que o não são, adulam o chefe seja ele qual for, para se manterem na crsita da onda.
Há uma enorme diferença entre os dois tipos de homem e eu, que quero continuar a pertencer aos primeiros, digo como o Vacas de Carvalho: Ainda admito, por respeito para com a morte de alguém, que a Família do Carlos Fabião sofra com o seu passamento.
Mas não me peçam para cantar loas aos que quase destruiram o nosso Portugal após o 25 de Abril!
Rui Felício
ex Alf Mil Inf
CCAÇ 2405
Meu Caro Luis Graça,
Sei que acabas por ser o pivot de desencontrados sentimentos que o teu blogue saudavelmente proporciona.
Tal como outros já o disseram, também eu preferia não alimentar polémicas sobre o passado da Guiné, que é afinal o espaço que nos une a todos, independentemente das naturais diferenças de pensamento que são próprias dos homens.
Assim consigamos respeitá-las mutuamente...que é isso que enobrece a alma humana.
Ficaria sossegado no meu canto, a observar as opiniões dos tertulianos a propósito da morte do CARLOS FABIÃO, sem nenhuma intenção de intervir, se não acabasse neste mesmo momento de ler um e-mail do Zé Teixeira em resposta a um outro do J.Vacas de Carvalho (meu contemporâneo na E.P.I. em Mafra).
O Zé Teixeira afirma que o Carlos Fabião que conheceu na Guiné não é o mesmo que o Vacas de Carvalho retrata no seu e-mail.
E eu acredito que o Zé Teixeira fale verdade. Mas não precisava que o Vacas de Carvalho escrevesse o que escreveu para saber que o que este diz também é verdade...
Ou seja, ambos retratam o mesmo homem, em tempos diferentes mas próximos, com dois comportamentos completamente antagónicos!
Como é isto possivel?
O problema é que os homens coerentes e verdadeiros não mudam de um ano para o outro!
Mas infelizmente outros que conheci na Guiné, do quadro permanente, também sofreram essa mudança pela simples varinha mágica do 25 de Abril, passando de oficiais louvados e até condecorados pelo regime então vigente, para de repente se transformarem em revolucionários que não eram, progressistas que antes eram conservadores, falsos emocratas que antes eram autoritários...
Em suma: Cavalgaram a onda que os trazia à praia, para se salvarem de morrer afogados!
Os verdadeiros homens mantêm seus ideais independentemente da onda que os carrega e são coerentes consigo mesmos.
Os outros, os que o não são, adulam o chefe seja ele qual for, para se manterem na crsita da onda.
Há uma enorme diferença entre os dois tipos de homem e eu, que quero continuar a pertencer aos primeiros, digo como o Vacas de Carvalho: Ainda admito, por respeito para com a morte de alguém, que a Família do Carlos Fabião sofra com o seu passamento.
Mas não me peçam para cantar loas aos que quase destruiram o nosso Portugal após o 25 de Abril!
Rui Felício
ex Alf Mil Inf
CCAÇ 2405
Guiné 63/74 - P664: O outro Carlos Fabião (2) (José Teixeira)
Texto do Zé Teixeira (ex- 1º cabo enfermeiro, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/70).
O homem e militar que conheci na Guiné, não foi o que o J. Vacas de Carvalho descreve.
Na conjuntura da guerra que vivi, considero-o um dos poucos oficiais do quadro permanente que sabiam assumir a sua missão de forma integra, cordial e respeitadora do pessoal sobre o seu comando.
A conjuntura que se viveu pós 25 de Abril teve outros contornos que me parece muitas vezes ultrapassaram as barreiras dos próprios órgãos de comando, isto sem querer desculpar ninguém, naturalmente.
Zé Teixeira
O homem e militar que conheci na Guiné, não foi o que o J. Vacas de Carvalho descreve.
Na conjuntura da guerra que vivi, considero-o um dos poucos oficiais do quadro permanente que sabiam assumir a sua missão de forma integra, cordial e respeitadora do pessoal sobre o seu comando.
A conjuntura que se viveu pós 25 de Abril teve outros contornos que me parece muitas vezes ultrapassaram as barreiras dos próprios órgãos de comando, isto sem querer desculpar ninguém, naturalmente.
Zé Teixeira
Subscrever:
Mensagens (Atom)