terça-feira, 27 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17517: Blogoterapia (287): Não é fácil ser português (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas)



1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 25 de Junho de 2017:

Ser português não é fácil, e penso que nunca foi fácil para a grande maioria do povo. Lançados à conquista de um império, que nunca resultou numa maior distribuição das riquezas, modernidade nem bem estar, fica-nos o orgulho de que os nossos antepassados fizeram o impensável para um país tão pequeno como o nosso, tanto na expansão como na defesa da nossa nação. Não foi pois por falta de coragem que não chegamos ao tão almejado estádio em que seria equiparada a nossa grandeza exterior, com a riqueza e bem estar interno e que nos elevaria a estatuto entre as nações mais avançadas na arquitectura, na medicina, nas ciências, na educação e, por conseguinte, no progresso que dita o bem estar da sua população.

Os nossos antepassados regaram com o seu sangue terras longínquas, repeliram invasões, guerras civis, revoluções e, por fim, acabamos a construir as cidades para os outros.

Assim chegou a vez da nossa geração e fomos quase um milhão.

Durante 13 anos fomos actores principais numa guerra que nos sangrou, apartou das nossas famílias e, pior, tornou o futuro irremediavelmente perdido para muitos.

Aqui chegados, constato que continuamos a ser usados na nossa boa vontade e orgulho patriótico.

No 20 de Maio fui receber a minha Medalha Comemorativa de Campanha. No momento senti um misto de orgulho e algumas dúvidas.

Orgulho por ir receber a medalha que foi finalmente imposta, quarenta e tal anos depois do meu regresso. Independentemente das razões, entendo que é meu direito reivindicar a mesma, como uma coisa que me é devida.

Dúvidas. Qual real valor que esta condecoração tem. Na mesma cerimónia vi militares no activo receberem também distinções por serviços prestados. Terá sido na Bósnia? No Iraque, em África, onde se fazem hoje comissões de 6 meses como voluntários, mais bem armados, equipados, treinados e remunerados? No caso, as ditas Medalhas por Serviços Distintos tinham a categoria de ouro, prata e bronze. É aqui que começa a minha incompreensão.

Será que no meio de vinte e tal ex-combatentes que foram receber a Medalha Comemorativa das Campanhas, não estariam homens, que no seu tempo praticaram actos de bravura em combate durante as suas comissões, em especial em Angola, Guiné e Moçambique?
Vinte e tal meses em zonas 100% operacionais que até a água se ia buscar com risco de vida. Isto é comparável a quê nos dias de hoje?

O nosso exército é hoje profissional e voluntário, os seus membros relativamente bem remunerados, direi mais, excelentemente remunerados, quando prestam serviço em qualquer zona de conflito, normalmente em missões de policiamento ou de interposição.

Note-se que não estou contra a nossa participação nessas acções, uma vez que a integridade nacional se defende hoje a milhares de quilómetros das nossas fronteiras. Talvez se deva pôr em causa as razões que provocaram a instabilidade neste Mundo e que levaram ao actual estado de coisas, mas isso é outra questão.

Será possível que aqueles jovens soldados (todos graduados alguns com o peito carregado de medalhas), que no sábado foram condecorados por serviços prestados, tenham feito alguma coisa que transcendesse os actos de bravura de alguns de nós há 45 ou mais anos.

Estavam lá veteranos das três frentes, Comandos, tropa normal e paraquedistas, que naquela guerra sofreram o que só nós sabemos. Perfilámo-nos, emocionámo-nos com a homenagem aos mortos (cada um se lembrou dos seus) recebemos as honras dos militares em parada, seguidamente almoçámos no quartel no meio das fardas de gala e camuflados, mas será que nem um de nós merecia uma daquelas medalhas, de bronze ou prata, para já não falar na de ouro?

Quantos ex-combatentes receberam alguma? Soldados anónimos que contribuíram com a sua coragem para salvarem outros. Quem não conheceu um pelo menos? Algumas provas disso foram ignoradas e apagadas, para assim não serem prova viva da gravidade dos ataques. Chegou-se ao cúmulo de mencionar as munições gastas para repelir o ataque como sendo gastas em exercícios.

As provas de heroísmo foram apagadas como apagaram os buracos feitos pelas armas do inimigo e, quanto muito, foram as companhias ou batalhões galardoados no final das comissões pelo cômputo geral do serviço, beneficiado destes louvores os comandantes que viram assim averbadas estas às suas folhas de serviços.

Quanto à medalha, vou guardar a minha como memória daquele tempo, mas lamento que ela cheire a prémio de consolação e que, ao nos serem entregues hoje, se queiram justificar perante nós de alguma coisa, em vez de praticarem a mais elementar justiça para quem deu tanto si.

Dentro de alguns anos haverá milhares de veteranos a viver sozinhos, sem rendimentos para irem para um lar, com valores hoje a rondar os 1000 € (que muitos casais de reformados hoje não aufere), mais medicamentos, fraldas e cuidados de saúde complementares.

Nessa altura para que servirão as medalhas?
Que nos irão fazer?

A Pátria sempre teve filhos e enteados, mas une-nos, apesar das nossas diferenças sociais e até politicas, um sentimento que nos enche o peito. Podemos não estar de acordo com governos e governantes mas a Pátria somos nós, ama-se, não se discute, não se vende e não se renega, por muito que em nome dela nos maltratem.

Dela espera-se só o reconhecimento, pelo amor que lhe damos, na maioria das vezes sem retribuição alguma.

Um abraço
Juvenal Amado

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2. Comentário do editor:

Não é meu hábito "deitar faladura" a seguir aos textos dos camaradas, mas o tema que o Juvenal traz à liça, sugere-me alguns comentários.

Quanto à atribuição da Medalha Comemorativa das Campanhas, logo no fim da nossa comissão ficou registada na Caderneta Militar de cada um. Vejam a página 12.
Conclusão, a Medalha devia ter sido distribuída na altura. Como não foi, e todos nós mudámos de residência inúmeras vezes depois de passarmos à disponibilidade, digamos que as autoridades militares perderam o nosso rasto, não sabendo sequer se somos vivos. Restava fazer o que agora vem a ser feito, requerer a Medalha, dando sinal de que ainda estamos vivos. "Estes" nunca a negaram e estão a distribuí-las às centenas, anualmente.
Já agora, a culpa disto tudo foi da "outra senhora", a quem poucos afrontavam então.

Quanto às Medalhas de Serviços Distintos, a coisa é mais complicada, pois a sua atribuição dependeria de proposta dos respectivos Comandantes.
Já se sabe que conforme a hierarquia ia descendo, mais difícil era o acesso às mesmas. E nós, caro Juvenal só tínhamos direito à de cobre, à de folheta, melhor dizendo.
Voltamos à mesma, não vale a pena pensarmos nisso agora.

E o mais sensível para nós, as actuais missões no estrangeiro.
Não há comparação possível com o nosso tempo. Quantas localidades tinham telefone na Guiné?
Os militares de hoje têm ao seu dispor toda uma panóplia de meios de comunicação que há cinquenta anos eram impensáveis.
Os vencimentos são tão diferentes que é pecaminoso fazer qualquer comparação.
Os actuais militares ganham muito? Não, nós é que ganhávamos pouco. O problema foi nosso, que vivemos noutros tempos de míngua.
O tempo de missão foi consideravelmente reduzido porque os efectivos são suficientes para a rotação dos mesmos.

Os militares de hoje são  considerados e reconhecidos? Ainda bem, pena que não tenha sucedido isso connosco.
Não te esqueças Juvenal, que pela esquerda radical, a seguir ao 25 de Abril, fomos considerados fascistas, colonialistas e outras coisas terminadas em istas, sorte tivemos em não sermos presos. Talvez  porque éramos muitos. Já nem falo na entronização daqueles que se negaram a ir para a guerra, transformados em verdadeiros patriotas.

Finalmente, o nosso fim de vida, para uns em carência, para outros mais desafogado.
A falta de condições básicas terá a ver com a condição de ex-combatente? Em alguns casos sim, mas não podemos generalizar. Cada caso tem de ser analisado, e arranjar-se a solução adequada. A nossa condição de ex-combatente não se pode sobrepor à daqueles que por serem mulheres ou homens mais afortunados, não foram à guerra.

Que queremos afinal? Respeito, reconhecimento pelo nosso esforço e apoio aos estropiados e afectados física e psicologicamente pela guerra.

CV
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17491: Blogoterapia (286): Uma memória daquele espaço em Casal dos Matos, Pedrógão Grande (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17516: Parabéns a você (1278): Vítor Caseiro, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 4641 (Guiné, 1973/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 24 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17506: Parabéns a você (1277): António Branco, ex-1.º Cabo Reabast de Material da CCAÇ 16 (Guiné, 1972/74) e Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17515: Facebook...ando (45): A cotovia dançante (Manuel Luís R. Sousa, SAj Reformado)

Cotovia
Com a devida vénia ao autor da foto


1. "A cotovia dançante" é um texto do nosso camarada Manuel Luís R. Sousa, Sargento-Ajudante da GNR na situação de Reforma, (ex-Soldado da 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4512/72, Jumbembem, 1972/74), publicado por ele no Facebook que não resisti e incluir no nosso Blogue. 
As memórias e as gentes de Trás-os-Montes são para mim um fascínio.
Carlos Vinhal


A cotovia dançante

Nos anos sessenta do século passado, ainda durante a vigência do Estado Novo, as famílias mais abastadas ou remediadas de Trás-os-Montes, tinham como um dos seus principais objectivos mandar educar os seus filhos, afastando-os do trabalho duro do campo de onde provinham os seus principais rendimentos, recorrendo ao trabalho de assalariados, daqueles que não estudavam, para manterem as suas terras granjeadas.
Terem um filho doutor, engenheiro, professor, médico, ou outras profissões qualificadas, era algo que lhes dava orgulho, estatuto.

Era notório o frenético bulício em casa dessas famílias com a ansiedade de receberem os meninos ou as meninas, ainda na fase dos estudos ou já a trabalharem, por altura das férias da Páscoa, Natal e, eventualmente, em fins-de-semana, reservando-lhes os miminhos da época que a terra dava, ou, então, desdobravam-se em canseiras, quando eles não vinham a casa, a despachar-lhes esses mimos através do Caminho-de-ferro ou mesmo pelos correios.
Destas iguarias, destaco as frutas da época, os folares por altura da Páscoa, por exemplo.

Quando estes seus rebentos vinham à terra destacavam-se, em relação aos trabalhadores do campo, pelo seu aspecto citadino, bem vestidos e mais polidos no trato, mantendo-se um pouco distantes, conscientemente ou não, dos jovens da aldeia seus contemporâneos que não tiveram possibilidades de estudar, ainda que, alguns, com capacidade para tal, não abrindo mão do seu estatuto maior. “Que tirassem o cavalinho da chuva” um ou outro jovem “inculto” da aldeia se sonhassem sequer fazer a corte a algum ou alguma dessas criaturas “eruditas”, que até tinham sido colegas de classe e de carteira durante o ensino primário.
“Cada macaco no seu galho”, melhor dizendo, as diferenças sociais, naquele tempo, tinham uma fronteira bem definida.

Depois, a partir de 1974, após a revolução de Abril, com a generalização do ensino, abrangendo todas as famílias, esbateram-se todas aquelas diferenças sociais.
Alargou-se, portanto, a um maior número de jovens a possibilidade de saírem da terra para estudarem e trabalharem também nos grandes centros urbanos, enveredando por profissões mais ou menos qualificadas no sector terciário da economia, nos serviços, regressando também a casa por altura das festas do ano, onde os pais e restantes familiares os recebiam rejubilando de alegria.
Só que, com esta mudança, em total desequilíbrio, a sangria das gentes das aldeias aumentou exponencialmente, até porque coincidiu também com o fenómeno migratório do país, concretamente a emigração, levando à desertificação do interior, particularmente de Trás-os-Montes.
Ou seja, aquelas gerações de jovens, hoje já “entradotes”, com filhos adultos, outrora recebidos com exultação e mimados pela família quando periodicamente regressavam a casa, actualmente chegam à aldeia e notam, com mágoa, que as cortinas da janela da casa que os acolhia se mantêm estáticas no interior da vidraça, eventualmente com teias de aranha, por entre as quais, tantas vezes, surgia o primeiro sorriso de boas-vindas, sinal de que os que antes os recebiam em festa já partiram, dando lugar a um silêncio sepulcral que faz doer a alma.

Hoje, no meu caso pessoal, embora morando longe pelas razões já referidas, e ligado que estou sentimentalmente a essas terras de família parcialmente abandonadas naquelas circunstâncias, desloco-me frequentemente a Freixiel, Vila Flor, em que se concentra toda esta história, a fim de, na medida do possível, ir adiando o abandono completo de uma ou outra propriedade: podar algumas videiras para, no tempo, ter a possibilidade de comer uns “mouriscos”, aplicar herbicida, apanhar azeitona, etc.

Nesta rotina anual de tentar preservar essas humildes leiras que a geração anterior nos deixou, no mês de Fevereiro deste ano, 2017, pondo as rodas ao caminho de cerca de duzentos quilómetros, a partir de Vila do Conde, podei as videiras nas “Melaínhas”, é assim que se chama uma das propriedades, e, nessa altura, podei também um grande damasqueiro, almejando deliciar-me com os frutos, cuja maturação ocorre em Junho.
Com vista a recuperar a excelente qualidade de uma macieira existente na propriedade já na fase decadente do tempo útil de vida, enxertei uma outra pequena de duas que tinha ali plantado em Novembro do ano passado, precisamente para esse efeito.

Em Março, voltei ali para aplicar o herbicida, tendo verificado que o referido damasqueiro já mostrava umas dúzias de damascos na fase inicial da sua formação que espreitavam por entre a rebentação da ramagem depois da poda.

Chegado agora o mês de Junho, pelos meus cálculos, achei que estava na altura de ali regressar com alguns objectivos bem definidos: aplicar novamente o herbicida nas ervas que germinaram no verão; inteirar-me do estado de evolução da enxertia da macieira; apanhar os damascos do damasqueiro que tinha podado; saborear as cerejas de três cerejeiras, duas das quais ainda pequenas que, entretanto, eu também tinha enxertado há dois ou três anos; apalpar uns figos lampos e deleitar-me com eles caso estivessem maduros.

Cheguei à aldeia num dia particularmente quente, cerca do meio-dia, o que me obrigou a fazer uma sesta prolongada até ao fim da tarde.
Já a serra “Tinta” se entrepunha entre o sol- poente e as “Melaínhas” ao fim da tarde, quando ali cheguei, agora pela fresca, para aferir do estado do terreno para no dia seguinte, bem cedo, aplicar o herbicida e particularmente curioso em ver o estado de tudo o que acima enumerei:
A pequena macieira, uma das duas que plantei, para minha satisfação, apresentava a enxertia consolidada, com dois rebentos já bem desenvolvidos;
Dirigindo-me ao damasqueiro, de pujante de ramagem, apenas encontrei três ou quatro damascos no chão, apressando-me a apanhá-los e a disputar a minha parte com as formigas, neles engalfinhadas aos centos, desalojando-as com duas assopradelas, que com sofreguidão saboreei a sua excepcional doçura;
As cerejas, nem uma para a prova. Já os pássaros tinham passado com a “cesta” antes de mim;
Os figos lampos estavam ainda duros como cabaças e nem um pude tragar. Portanto, apenas com a boca doce dos damascos, que resgatei da voracidade das formigas, limitei-me a acabar de dar volta à propriedade, constatando também que as oliveiras já mostravam a azeitona formada, depois da floração, do tamanho aproximado de grãos de chumbo, deixando antever, se tudo correr bem, uma generosa colheita.

Ao lusco-fusco, entrei no caminho que ladeia a terra para voltar a casa.
Sem viva alma por ali àquela hora, do outro lado do caminho, pousada nos arames da vinha do vizinho Pedro Melo, vi uma cotovia a executar eventualmente os últimos acordes do dia do seu canto, como que a assinalar a hora do recolher, visto que a noite já avançava.
Por cortesia para com a ave, parei e procurei imitar o seu canto com o meu assobio natural, vocal.
Ora, esta apercebendo-se de que eu falava a mesma linguagem, com algum sotaque, eventualmente, ou seja, que cantava a mesma canção, circundou-me algumas vezes em voo lento, como curiosa em observar-me. Depois, ora pousava na parede da nossa propriedade no meu lado esquerdo, ora nos arames da vinha do vizinho, do lado direito, à minha frente, a responder-me a cada vez que eu assobiava e a imitava, exibindo-se numa espécie de bailado.

Como se não bastasse já estar fascinado pela simpatia e destreza da ave, ali imobilizado como uma estátua, esta, a dada altura, pousou no caminho à minha frente, a escassa meia dúzia de metros, numa sucessão de vénias, ora envolvendo-se no pó do caminho, rojando sucessivas vezes o peito no chão, ora exibindo a plumagem eriçada como a querer atingir o meu tamanho, pondo em destaque a crista de plumagem que caracteriza a espécie, num ritual idêntico ao de, sendo macho, atrair uma fêmea.
- Por quem és, cotovia, quem sou eu para merecer de ti tanta deferência…! Pensei cá comigo.

Inebriado com todo aquele episódio, de repente fui tomado por um estranho arrepio na espinha, ao lembrar-me de alguém, que já partiu, de cujo rosto irradiava o sorriso com que nos recebia, feliz, habitualmente por entre aquelas cortinas de renda branca da janela, ao ser alertado pelo trabalhar do motor do carro quando chegávamos. Cortinas que, nostálgico, vi imóveis, como habitualmente acontece depois da sua partida, nessa manhã quando ali parei o carro em frente a casa ao terminar a viagem.

Perante esta sensação estranha, interiorizei em mim, sem que para isso tenha qualquer explicação plausível, que esse ente querido estava a comunicar comigo através da dança daquela pequena ave, saudando-me por me empenhar em zelar aquelas terrinhas que nos deixou, e perguntando-me por novas de toda a prole, que ela, como matriarca que era, devotada e incondicionalmente amava. Fantasias ou ilusões minhas, claro.
Ou não...

Depois daquele nosso “diálogo” de um ou dois minutos, a cotovia dançante circundou-me mais uma vez em voo rasante, como a despedir-se, e partiu embrenhando-se na noite que já caía.

Manuel Sousa
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17012: Facebook...ando (44): Quem não chora não mama e, para a tosse, um chazinho de cascas de cebola com limão, adoçado com um pouco de mel (Manuel Luís R. Sousa)

Guiné 61/74 - P17514: (In)citações (109): Portugal a arder - destruição, desolação e morte (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

Floresta Portuguesa
(Imagem editada)


1. Em mensagem de hoje, dia 26 de Junho de 2017, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), manda-nos uma reflexão sobre o assunto da actualidade, os incêndios em Portugal.


PORTUGAL A ARDER - DESTRUIÇÃO, DESOLAÇÃO E MORTE

Os grandes incêndios começaram no dia 17 de Junho, sábado, em Pedrogão Grande, e foram-se espalhando por Castanheira de Pera, Góis e Pampilhosa da Serra na zona centro do país

A nossa alma foi queimando as asas na contemplação da grande tragédia que as televisões relatavam e mostravam, que atingiu o que melhor tem a Pátria, as suas gentes, as suas árvores, arbustos, plantas, as suas florestas. E ficou a dor, uma dor amarga e negra que nos roubou a alegria dos dias claros e luminosos de Verão com a partida desta gente, tão autentica, tão próxima da vida da natureza, mulheres, homens, meninos que eram a energia, a simpatia, a alegria e o futuro, e se perderam no imenso braseiro deste desastre nacional. As plantas que na primavera despontam e cobrem a terra de verde e de flores variadas, numa sinfonia de cores que só as aves sabem cantar, os arbustos e as árvores plantadas ou semeadas pelos homens, pelos ventos ou pelas aves, que na sua quietude nos pintam em altura o olhar em tons variados, e nos dão uma sombra amiga que nos protege e refresca para além doutras dádivas mais palpáveis, arderam em grandes labaredas.

Os culpados destas tragédias anuais, este ano mais cruel pelo sacrifício e morte de tantos seres humanos, que ainda ontem falavam, riam, gritavam, cantavam choravam, liam, escreviam, dançavam, amavam, cresciam, construíam, plantavam couves, flores, batatas, tomates, vagens, pereiras, macieiras, videiras, somos nós. Os culpados destes fogos imensos que varrem os campos, somos todos nós que abandonámos os campos e fomos para as grandes cidades e deixámos alguns camponeses, poucos, a tratar do país interior cada vez mais pobre e mais desértico.

Alguns já vivem há longos anos nas grandes cidades do litoral onde a riqueza e o dinheiro fluem mais, como os grandes rios e as marés dos oceanos. Outros com muitas gerações anteriores a viver com dureza e fraco rendimento nos campos e montes do interior, estudaram pelos livros dos naturais das grandes cidades e aprenderam que o futuro da vida nos campos continuaria a ser pobre e miserável e fugiram desse destino sem futuro para outras paragens e outros litorais e as terras onde nasceram e se criaram, foram ficaram cada vez mais abandonadas.
Nesses terras do esquecimento, cada vez mais desérticas, ficaram os velhos, os simples e alguns que nascidos nelas criaram raízes tão fortes que não lhes permitiam sair.

Não se pode pedir a esses, tão poucos, que defendam a imensidão dos campos e das florestas que os rodeiam, que lhe embelezam os dias mas também os ameaçam sempre que chegam as estações quentes.

Portugal não pode ser um país de praias e de cidades monumentais do litoral, por onde os naturais e os turistas se passeiam e fotografam que esconde uma natureza negra e morta pelas calores e chamas dos Verões, cheio de cruzes a assinalar a memória dos mortos que arderam nessas fogueiras quando tentavam fugir-lhes.

Nós homens atraídos pelos mares, já numa fase adulta da humanidade, não somos filhos deles. Nós homens somos filhos da terra, dos campos, das florestas, durante milhares e milhares de anos fomos caçadores, pastores, agricultores não podemos abandonar a terra-mãe que nos gerou e nos criou.

Não basta chorar os mortos, sentir o desgosto enorme dos seus familiares e amigos, lamentar a miséria em que muitos ficaram, importa sobretudo criar um amplo movimento de solidariedade activa que nos responsabilize a todos. E porque a caridade só se manifesta em força em tempo de calamidades deviam ser tomadas medidas, acordadas por todos os políticos dos vários quadrantes, que tivessem a adesão da grande maioria dos portugueses, a fim de ser criado um fundo a nível nacional, para prevenir os incêndios pela limpeza das matas a par de outras medidas necessárias

A tarefa imensa de preservação dos campos, das suas culturas, das suas florestas, da beleza das suas paisagens é uma tarefa patriótica que deve contar com o contributo de todos os portugueses, pois os que ainda vivem no meio rural, sozinhos, não têm todos os meios necessários para esse fim.

Falo duma culpa colectiva pela passividade e sonolência das consciências ao não exigirem aos políticos dos sucessivos governos, desde há décadas, a atenção que todo o país no seu conjunto merece. Quando os problemas existem longe da nossa casa temos tendência a esquecê-los depois do desgosto e do choque inicial.

Não pretendo discutir as culpas circunstanciais do incêndio em Pedrogão Grande e nas terras próximas já que não me compete a mim nem pertence ao âmbito do nosso blogue. Essa discussão está já a ser feita pelas forças políticas e por outras entidades que têm competência para tal.

Estes grandes incêndios irromperam duma forma súbita e explosiva no dia 17 de Junho de 2017, num dia quente de fins de Primavera. Longos dias quentes tem o Verão, com muitos incêndios, oxalá não se volte a repetir um desastre semelhante.

Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17504: (In)citações (108): Incêndios florestais - Catástrofe nacional anual, até quando? (Coutinho e Lima, Coronel Art Ref)

Guiné 61/74 - P17513: Notas de leitura (972): “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha (4) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Com a apreciação da política do Estado Novo na Guiné (1930-1960), dá-se por terminada a recensão da investigação de João Freire que merece encómios pela forma como foi entrosando a presença da Marinha na colónia da Guiné, como foi determinante em operações militares e na sufocação de revoltas, como ofereceu sempre figuras de prestígio na governação, caso de Manuel Sarmento Rodrigues.
O autor possibilita novos ângulos de visão sobre o papel da Marinha na consolidação colonial, repertoria um elevadíssimo número de iniciativas e destaca a importância do trabalho da Missão Geo-Hidrográfica da Guiné.
Uma obra de referência, um cabouco valioso para que um dia se constituirá como a História da Guiné Portuguesa.

Um abraço do
Mário


A colonização portuguesa da Guiné, 1880-1960, por João Freire (4)

Beja Santos

“A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha, foi uma das edições preeminentes do ano transato, no que tange à investigação guineense no período colonial. João Freire manipula expeditamente a heurística e a hermenêutica, por cada capítulo abordado tece conclusões, assume responsabilidades interpretativas, nunca deixa o leitor à deriva ou no território das especulações. É uma viagem cronológica onde os assuntos da Marinha colonial têm peso preponderante.

O Estado Novo revê em profundidade a política colonial, mas logo no tempo dos governos militares procura-se na Guiné uma nova moldura jurídica de intervenção. Foi o caso do “Regulamento de Trânsito, Fixação e Deslocação dos Indígenas”, com data de 6 de Junho de 1932, prevê-se a existência da “Caderneta Indígena”, foi uma tentativa para fixar e sedentarizar as populações. O imposto de palhota passou a ser designado por imposto indígena, ganha foros de obrigação individual, ativaram-se os serviços de recenseamento e cobrando do imposto indígena.

As questões etnológicas e etnográficas passam a merecer algum cuidado. Jorge Velez Caroço (familiar do antigo governador) lança um questionário etnográfico, já está de pé uma “Comissão de Civilização e Assistência a Indígenas”. As grandes mudanças formais vão emergir nos anos 1950, já numa atmosfera internacional favorável à descolonização. O Ato Colonial de 1930 conhece modificações: onde havia colónias passaram a existir províncias ultramarinas, o Concelho do Império Colonial passou a Concelho Ultramarino. Na Guiné, este templo político é de uma enorme lentidão. A administração pretende enquadrar e identificar os indígenas, a ideia é que cada um deles tenha um documento com fotografia, impressão digital e dados antropométricos, saber-se se satisfez o pagamento do imposto, registam-se os castigos e condenações sofridos, os contratos de trabalho assalariado, a situação militar, as vacinas recebidas, o registo de eventuais diagnósticos médicos. Em 1954 é aprovado o Estatuto do Indigenato: “Consideram-se indígenas os indivíduos de raça negra ou seus descendentes que, tendo nascido ou vivendo habitualmente na província, não possuam ainda a ilustração e os hábitos individuais e sociais pressupostos para a integral aplicação do direito público e privado dos cidadãos portugueses”. A par deste paternalismo e da lentidão habitual das reformas legislativas, adota-se a Lei da Nacionalidade, em 1959, que constituiu mais um pequenino passo no sentido da igualdade jurídica de todos aqueles que estavam sujeitos à soberania portuguesa: “Os indivíduos nascidos em território português presumem-se portugueses, desde que o respetivo nascimento não contenha a menção de qualquer circunstância, que nos termos da lei, contrarie essa presunção”.

João Freire faz-nos uma apreciação da Guiné no período ditatorial, e desvela alguns elementos esclarecedores da governação de Luís Carvalho Viegas, que chegou à colónia em Março de 1933, é do seu tempo a última campanha de pacificação, a abertura de novas estradas, a construção de uma ponte sobre o rio Corubal (permitindo uma futura ligação de Buba para as regiões do Boé e do Gabu), passaram a existir novas carreiras rodoviárias, melhoram os seus serviços meteorológicos bem como os cuidados de saúde, isto para já não falar nos progressos realizados no fornecimento de energia elétrica para iluminação pública e particular. Em 1941 assinala-se a chegada de um novo governador, Ricardo Vaz Monteiro, procede-se à transferência da sede do governo de Bolama para Bissau. Carlos Alberto da Encarnação Gomes escreverá na Revista da Armada em 2012: “Bolama, cidade que havia sido capital mas que, ao tempo, se encontrava num processo de degradação e abandono significativos. Grande parte dos edifícios, para evitar a derrocada, estavam escorados com troncos de palmeira, e dos serviços que anteriormente dispunha somente funcionavam a Imprensa Nacional, o hospital que dispunha de um único médico formado pela Escola Médica de Goa, e o grande hotel, que de grande somente tinhas as instalações […] Para além de um clima mais temperado, verificava-se, em Bolama, um fenómeno raro que consistia na migração diária de vários milhares de morcegos que, ao amanhecer, vinham do continente e ao anoitecer para lá regressavam”. Surge na época a figura do Comandante Militar da Guiné, pensa-se na construção de um aeródromo internacional junto de Bissau, chega a radiodifusão.

Considera-se a chegada do novo governador, Manuel Sarmento Rodrigues, como o momento de grande viragem. Como observa João Freire, foi Sarmento Rodrigues quem soube mobilizar vontades e obter ajudas financeiras e institucionais para dar impacto às comemorações do V Centenário da Descoberta da Guiné; vão ser tempos de melhoria para os serviços de saúde, novas estradas, nova imagem da capital da colónia. Basta ler os elucidativos Anuários da Guiné Portuguesa de 1946 e 1948 organizados por Fausto Duarte para se perceber a dimensão das transformações. Em 1949 chega a Bissau o novo governador, Raimundo Serrão, que irá prosseguir as obras públicas iniciadas pelo seu antecessor. É na governação de Diogo de Melo e Alvim, que chegara à Guiné em 1954, que ocorrerá a primeira visita de um Presidente da República à Guiné, Craveiro Lopes fará uma demorada viagem em 1955. Em Agosto de 1956 assume funções Álvaro Silva Tavares, o único civil a exercer o cargo, se nos lembrarmos que Correia e Lança apenas o fez a título de interino, no século anterior. António Peixoto Correia governará a Guiné entre 1959 e 1962. De acordo com uma publicação oficial, em 1960 existiriam na Guiné 3300 km de estradas (das quais 60 km eram asfaltadas). Quando ao domínio da saúde, estavam em funcionamento o Hospital Central de Bissau, o hospital sub-regional de Bolama, 9 hospitais regionais, 1 hospital de tuberculosos, 1 hospital de leprosos, 1 maternidade central e 15 regionais. Em 21 de Dezembro de 1962 aterra em Bissau o novo Governador, Vasco Martins Rodrigues. Um mês depois, estala oficialmente a guerrilha. O autor desenha a evolução da economia com relevo a partir do pós-guerra, carreia elementos sobre a demografia, a vida social, recreativa e cultural da Guiné. Na síntese de interpretação conclusiva, dirá: a Guiné nunca foi uma prioridade nas preocupações do governo de Portugal, não constituía uma posição-chave no domínio da geoestratégia; para os portugueses foi sempre fascinante o mosaico étnico, o território sulcado por braços de rios e matas exuberantes, no entanto foi sempre claro que o território não atraía os colonizadores, tão somente os mercadores e os agentes da administração; é a partir da segunda metade do século XIX que se desenvolvem focos de agitação e preocupações com a ocupação efetiva da colónia, os comerciantes europeus traziam armas de fogo, panos de algodão e produtos ao gosto dos africanos e transacionavam oleaginosas, couro, algum marfim, desenvolve-se um pequeno funcionalismo, ingrediente indispensável para legitimar a presença portuguesa, na alfândega e na fazenda; é igualmente na segunda metade do século XIX que se irão dar mudanças demográficas elas próprias conducentes a lutas interétnicas e disputas permanentes para a ocupação do solo, o ocupante colonial, à semelhança do que outros ocupantes noutras colónias fizeram, dividiram para reinar, viveu-se sempre num equilíbrio precário de antagonismos em que os interesses comerciais, quando se sentiam lesados, promoviam campanhas de descrédito dos governantes, na colónia e em Lisboa.

E em jeito de despedida, o autor recorda que à Marina coube sempre a organização dos fluxos de movimentação marítima e o controlo dos espaços costeiros e fluviais, teve um desempenho determinante nas operações militares entre 1890 e 1915.

Insista-se nos méritos do trabalho de João Freire, ao consorciar em permanência a política guineense e os contributos da Marinha ao longo dos séculos, um olhar refrescado sobre a presença portuguesa na Guiné.
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17505: Notas de leitura (971): “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17512: (De) Caras (79): Francisco Augusto Regalla (1871-1937), médico militar: a história de uma família ou de um clã (Juvenal Amado / Manuel Coelho / Armando Tavares da Silva / Patrício Ribeiro / Ricardo Regalla Dias-Pinto)


Guiné-Bissau > Galomaro > 2017 > O ramo da família Regalla em Galomaro


Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2017). Todos os direitos reservados. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)


1. Mensagem de Juvenal Amado

23/06/2017



Luís,  talvez o Ricardo (*) tenha vontade de ver esta foto publicada por uma neta do Sr Regála, o nosso grupo de Galomaro Destino Passagem, do Facebook.

Pensei que iriam gostar de ver a minha Avó Maria e os herdeiros do Sr. Regalla, como estão Hoje!! Os filhos, por or ordem:

Agnelo, 
Celina,
Crisanta (minha mãe),
 Augusto, 
Hazel,
Fatima, 
Nair


2. Mensagem de Manuel Coelho:

24/06/2017




 Caro Luis, por mim podes usar as fotos que entender, livremente.

Vejam só os laços familiares que se descobrem com algum trabalho.
Boa sorte para o livro sobre a família,
abraço

3. Comentário de Armando Tavares da Silva (*):


O capitão/major-médico Francisco Augusto Resgalla vem largamente referido no meu livro "A Presença Portuguesa na Guiné,História Política e Militar, 1897-1926" (Caminhos Romanos, 2016).


4. Comentário de Patricio Ribeiro (*):

Meus amigos,

A  família Regala é muito grande, desde Golomaro, Cabedu, Cobumba e Bissau, com quem privo com frequência.

São pessoas influentes e muito envolvidas com Guiné em diversos sectores, e fazem o favor de serem meus amigos. (**)

Desde o calor de Bissau,
O vosso amigo. Patrício Ribeiro

5. Comentário de Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto (*):

Desde já e mais uma vez o meu agradecimento a todos.

Certamente o livro que estou prestes a publicar irá esclarecer muito mesmo sobre este personagem que é meu bisavô, pai da minha avó Idalina com quem tive a sorte de privar durante longos anos e marido de minha bisavó e sua mulher Palmira Alice Pinheiro Sanches Moreira Regalla (Corujeira),  de Mira, que infelizmente morreu muito cedo.

Muito gostaria de poder adquirir o livro publicado por Armando Tavares da Silva, "A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar, 1897 - 1926)" pelo que peço que me digam onde o poderei comprar.

Cumprimentos e um caloroso abraço a todos,

Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto

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Notas  do editor:

(*)  Vd. poste de  25 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17509: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (43): o coronel médico, meu bisavô, Francisco Augusto Regalla (Aveiro, 1871 - Mindelo, 1937): pedido de utilização de foto da fortaleza da Amura de cuja guarnição ele fez parte em 1915 (Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto, Cascais)


  (**) Último poste da série > 20 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17489: (De) Caras (85): o testemunho de Manuel Amante da Rosa, embaixador plenipotenciário de Cabo Verde em Itália, sobre o Fausto Teixeira: "era uma figura distinta, opositor ao regime de Salazar, vigiado pela PIDE/DGS, amigo do meu pai que lhe comprou, no início dos anos 70, o último navio que ele levou para a Guiné, um antigo cacilheiro que fazia carreiras regulares para o Xime e para os Bijagós ...Morreu depois do 25 de Abril em Portugal".

domingo, 25 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17511: In Memoriam (299): Dr. Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017), ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 675, Binta e Guidaje, 1964/66 (José Eduardo R. Oliveira)



1. Mensagem do nosso camarada José Eduardo Oliveira (JERO) (ex-Fur Mil da CCAÇ 675, Quinhamel, Binta e Farim, 1964/66), com data de 25 de Junho de 2017, dando-nos conta do falecimento do ex-Alf Mil Médico, Dr. Alfredo Roque Gameiro Martins Barata, sepultado no passado dia 20 de Junho:

Caro Amigo Carlos

Assunto: In memoriam do Médico da CCaç 675

Votos de que esteja tudo bem contigo e com os teus.
Depois de longa ausência volto à tua presença com uma notícia sempre difícil de transmitir: - partiu desta vida o Alferes Alfredo Roque Gameiro Martins Barata, que foi Médico da CCaç 675, que esteve no Norte da Guiné (Binta e Guidage) entre Junho de 1964 e Abril 1966.
Depois de doença prolongada foi a sepultar no passado dia 20 de Junho corrente.
Contava 79 anos.

Além de admirável ser humano foi excelente médico não só na Guiné mas também depois do regresso a Lisboa , onde continuou a ser “Anjo protector” dos antigos militares da “675” e dos seus familiares, quando precisaram de apoio médico.

Junto um texto e uma foto.
Grande abraço de Alcobaça.
JERO


IN MEMORIAM

Dr. Alfredo Roque Gameiro Martins Barata (1938-2017)
Ex-Alferes Mil. Médico da CCAÇ 675

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Médicos da Tropa!

Para situar o leitor há que referir que o Médico da nossa “estória” estava destacado no norte da Guiné já há cerca de um ano. Vinha de férias para a Metrópole e como o avião da TAP não fazia escala na “nossa guerra” tinha que utilizar alguns meios de transporte alternativos para chegar até Bissau.

Como o seu “Hospital” ficava em Binta, junto ao Rio Cacheu, a primeira fase para chegar a Lisboa obrigava a uma viagem de barco até à sede do Batalhão, que se situava em Farim.
Depois seguia-se uma viagem de “Dakota” (um velho avião da 2.ª Grande Guerra Mundial) que transportava passageiros e carga para Bissau, a capital da Província. Perto de Bissau, mais propriamente em Bissalanca, pousavam os “SuperConstelation” da TAP que nos transportavam para a Lisboa que ficava apenas a …9 horas de voo!
A partir daqui o registo é do”nosso Alferes Médico” e consta das páginas do Diário da CCaç 675, que prestou serviço na Guiné de princípios de Maio de 1964 a finais de Abril de 1966.


"…Estávamos em Binta havia 7 meses, nenhum barco tinha ainda sido atacado e, para ir à Metrópole como seria o meu caso dentro de pouco tempo, qualquer um de nós seria capaz de se meter a caminho nem que fosse a nado.
Porque apesar de todos os melhoramentos que tornam a vida menos dura em Binta, Binta é Binta e Lisboa é Lisboa.
Ora a primeira meta da viagem era precisamente Farim e foi fardado de «ronco» amarelo, de galões dourados e tudo, com máquina fotográfica na mão direita e o saco de bagagem na esquerda que embarquei, despreocupadamente, (e por que não?) certa manhã de Fevereiro numa ronceira LDM rumo àquela vila.
Não ia só. Comigo ia uma pequena multidão colorida e palradora: eram mulheres indígenas cuidadosamente sentadas no chão, com as saias bem enroladas entre as pernas, tendo a seu lado um estendal de tachos e meias-cabaças cheias de tomates e arroz, era um cabrito barulhento e saltitante, eram pretos acocorados fumando cachimbo ou mastigando cola, eram alguns companheiros de Binta (entre os quais o nosso Primeiro Santos) que na proa conversavam.
Toda esta feira flutuante dava uma nota colorida e alegre àquela austeridade cinzenta-bélica tão característica dos navios de guerra. Abandonada a um canto, uma metralhadora apontava para o ar e chamava-nos à verdade: estávamos em guerra. Uns tiros isolados podiam atingir toda esta gente amontoada...
Mas, logo a seguir, a nossa atenção saltava para a vida, para o Sol e para a natureza que nos envolvia.
Chegámos finalmente a Farim, onde, depois de umas horas de espera inútil soubemos que o voo do Dakota tinha sido adiado para o dia seguinte. Paciência só no dia imediato chegaria a Bissau.

Para não ter de dormir numa cama estranha, num ambiente estranho, numa terra estranha, aproveitando o transporte da LDM resolvi deixar a bagagem e voltar rio abaixo até Binta.
A viagem de regresso com os mesmos companheiros foi mais calma. Entardecia. A lancha empurrava as águas paradas, levantando com o seu barulho bandos de pássaros e macacos que na margem, escolhiam poiso para a noite.
No dia seguinte de madrugada, embarquei novamente a caminho de Farim, Bissau e Metrópole, desta vez só, sem o bulício da véspera.
O dia começava a amanhecer, cinzento e húmido; mais tarde viria o sol brilhante e quente. Agora pairava uma neblina ténue junto ao tarrafo que escondia os ramos mais altos e que pouco a pouco se ia desvanecendo com o romper da claridade.
No interior do barco a tripulação tomava a seu café. Em cima, o piloto olhava atento o rio pela vigia largamente aberta na cabine blindada, cortando curvas para abreviar caminho.

Encostado à torre da peça desguarnecida, passava os olhos pelas margens do rio sempre belo, pensando comigo mesmo: - Aqui é a foz do Caur, mais adiante Tambato Mandinga... Mas há aqui uma aberta nas árvores das margens... Se não me engano... Que deixa ver as moranças da tabanca... Sim, é ali. (Já lá tínhamos chegado e com efeito era ali).


De repente, ali mesmo, um clarão reluz, e outro e mais outro.
Antes que me pudesse aperceber do sucedido, caí, não sei se obedecendo ao instintivo "deitar" das instruções de combate, se por ter sentido uma pancada quente e indolor no flanco esquerdo que me puxava para o chão.
As ideias de baço, de hemorragia, de esplenectomia que passaram no espírito, desapareceram rapidamente logo que verifiquei que tudo não passava de um ferimento muscular parietal.
Entretanto a lancha virara de bordo, a fim de conseguir melhor posição de tiro.
O artilheiro subiu ao seu posto de combate e com umas rajadas potentes de calibre 20 mm "calou" o tiroteio inimigo.
Aproveitei para acenar para o local onde deveriam estar os terroristas para que eles, quando fizessem o relatório da "operação", não dissessem que tinham abatido um alferes da tropa de Binta... A lancha voltou ao seu primitivo rumo e continuou Cacheu acima, a caminho de Farim.
Fez-se o balanço da situação; quando souberam que tinha sido atingido de raspão os homens da lancha excederam-se em cuidados pondo ao dispor o material de enfermagem de bordo e oferecendo café quente que aceitei com agrado. Estava em jejum e à minha volta percebia um estranho cheiro a carne assada que depois vi que provinha das feridas.
Discutia-se o ataque; uns diziam que tínhamos sido atingidos com uma bazucada, outros, como eu, sustentavam que os rebentamentos ouvidos não passavam de granadas de mão lançadas da margem para "ronco".
Os malandros tinham visto um oficial a 80 metros, de pé, isolado na coberta da lancha, feito "pato" com as mãos cruzadas ao fundo das costas e esperaram que o alvo ficasse no enfiamento de tiro para abrir fogo.
Pouco depois desembarquei em Farim. O "Dakota" já tinha chegado e, quando a correr a1cancei o Comando, já o avião se preparava para deslocar.
Ainda não era dessa vez que ia para Bissau.
Teria que esperar mais um dia, talvez dois, e, à noite dormi numa cama estranha, num ambiente estranho e numa terra estranha.

Alferes Mil. Médico Alfredo Roque Gameiro Martins Barata".


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O tempo passa e há poucos dias estive na festa de aniversário dos 70 anos do meu Médico.
Setenta anos. Continua jovem, tranquilo, amável e …distraído.
Como não podia deixar de ser recordámos a viagem acidentada do Rio Cacheu.
"Ah sim, lembro-me. Teve um bocado a ver com a guerra do Raul Solnado".
Os filhos a seu lado olhavam-no espantados pois não conheciam essa aventura de seu Pai.
Dei-lhes a ler a “estória” do Diário da CCaç 675, que aqui reproduzo.
De espantados passaram a… pasmados.

Além de excelente Médico foi “Anjo da Guarda” de muita gente - desde os tempos da Guiné até aos dias de hoje ajudou inúmeros ex-militares da sua Companhia e …passou ao lado de uma carreira de escritor.
Digo eu.
JERO

Nota: - Os desenhos que reproduzimos parcialmente são da autoria de seu irmão, Arquitecto José Pedro Roque Gameiro Martins Barata.

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2. Comentário do editor:

Caro JERO,
Bonita esta tua homenagem ao Dr. Pedro Roque Gameiro Martins Barata, publicando esta estória tragico-cómica.

Para ti o nosso abraço solidário porque sabemos estás a sentir a partida deste teu companheiro das horas que ambos dedicaram a favor de quem precisava de cuidados sanitários. Como referes, continuou a dedicar o seu saber, ajudando os antigos camaradas, e seus familiares, quando dele precisassem.

À sua família enlutada apresentamos as nossas condolências.

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17362: In Memoriam (298): Agostinho Valentim Sousa Jesus (1950-2016), ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CCS/BCAÇ 4612/72, Mansoa, 1972/74)

Guiné 61/74 - P17510: Blogpoesia (516): "Paz e a justiça..."; "Sermão da natureza" e "Raridade...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Paz e a Justiça... 

Duas faces da mesma moeda. 
Numa, tem a bandeira. 
Na outra, a caravela. 
Foi cunhada na eternidade. 
Para correr no mundo. 
Seu estalão é a fraternidade. 
De cotação constante. 
O seu giro é a troca. 
Ela só faz feliz 
Quem a arrecadar... 

Berlim, 25 de Junho de 2017 
10h12m
Jlmg

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Sermão da Natureza

Ó vós governantes desalmados deste País,
Ouvi bem a Natureza em altos berros:
Nem mais um só eucalipto nesta terra
E os que há sejam cortados rentes, um a um.
Vede bem o que fizestes,
Servindo o vil interesse de alguns mesquinhos
E esquecendo o bem geral, a troco de tudo que recebestes, ocultamente.

Muito antes da celulose está a pessoa de cada um.

Aprendei ao menos com esta lição.
Tantas vidas
Tantas casas e tantos sonhos.
Tanta dor que jamais se extingue.

Que os remorsos vos consumam
Até às cinzas.

Berlim, 24 de Junho de 2017
7h51m
Jlmg

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Raridade...

É raro um céu sem nuvens
E um mar sem ondas.
Como a paz da alma.
Há sempre sombras.
Roubam a luz e a alegria.

Viver com pouco é uma arte.
O caminho certo
Que nos faz felizes.

Sorrir à sorte
Que está sempre à espreita
E lutar por ela,
Quando ela falta,
É o remédio santo
Que a faz voltar.

A que saberia a vida
Sem o sabor da esperança?...

Bar do Reichelt em Berlim, 19 de Junho de 2017
9h32m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17483: Blogpoesia (515): "Coro dos pardais"; "Mergulho no passado" e "Não são precisas asas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P17509: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (43): o coronel médico, meu bisavô, Francisco Augusto Regalla (Aveiro, 1871 - Mindelo, 1937): pedido de utilização de foto da fortaleza da Amura de cuja guarnição ele fez parte em 1915 (Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto, Cascais)


Capa do livro de Ricardo Regalla Dias-Pinto, em preparação. Cortesia do autor



1. Mensagem do nosso leitor Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto

Data: 17 de maio de 2017 às 22:37
Assunto: Fotografia

Exmo. Senhor
Prof. Luís Graça

Estou a escrever um livro sobre a minha família.

O meu bisavô Francisco Augusto Regalla, combateu em 1915 na Coluna de Operações em Bissau pelo que gostava muito de pedir autorização para colocar uma vossa fotografia, mais propriamente a nº 3 da Fortaleza de Amura de cuja guarnição o meu bisavô fez parte durante algum tempo.

Naturalmente que, caso autorizem, terei o maior prazer em nomear o vosso blogue nos agradecimentos do referido livro que terá o título:

Família Regalla: A Hora da Verdade!

Agradeço desde já o tempo por vós dispensado aguardando com confiança a breve resposta.


Melhores e mais respeitosos cumprimentos,

Ricardo Moreira Regalla Dias-Pinto



 Guiné > Bissau >Fortaleza da Amura > Entrada do lado sul (frente ao porto e ao rio Geba).  Foto (º 3)  de Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589 / BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)

Foto ( e legenda): © Manuel Coelho (2011). Todos os direitos reservados. (Edição:  Blogue Luís Graça &  Camaradas da Guiné)


2. Resposta do nosso editor, em 22 do corrente:

Ricardo:

Em primeiro lugar, obrigado pelo seu contacto.

Em segundo lugar, parabéns pelo seu projeto: todos temos o "dever de memória", e no seu caso acho lindo que esteja a escrever a história de vida do seu bisavô Francisco Augusto Regalla.

Será que é o coronel médico Francisco Augusto Regalla, nascido em 1871, em Aveiro, e falecido em 1937, no Mindelo ? Pai de Agnelo Augusto Regalla; Mário Augusto Monteiro Regalla; Armanda Monteiro Regalla; Crizanta Monteiro Regalla e Hélia Regalla ?

Alguns dos meus camaradas (e eu próprio) passaram por Galomaro, estiveram em Galomaro ou fizeram operações no regulado do Cossé. Boa parte dos meus soldados africanos (da CCAÇ 12) eram oriundos do Cossé (, outros de Badora).

Em 1969/71, esse seu bisavô já não era vivo. Em todo o caso, nessa altura, havia um comerciante, casado e com família, que dava pelo nome de Regala (ou Regalla)...Seria mais provavelmente seu avô ou um dos seus tios-avôs... Não me lembro do nome próprio, só do apelido de família. Tinha em Galomaro um café e restaurante muito frequentado pelo tropa portuguesa, e em geral com agrado...Naturalmente, não se livrava da suspeita de simpatia pelo PAIGC...

Vou pô-lo em contacto com alguns dos meus camaradas que conheceram pessoalmente esses seus parentes, o sr. Regala e a família de Galomaro...

Quanto ao pedido que me faz, não tenho qualquer objeção, pelo contrário, em satisfazê-lo. Pode usar a foto, com indicação da fonte (autor e blogue)... Mas tenho dúvidas quanto à foto em causa... Será esta a foto nº 3 (Fortaleza da Amura, Bissau, entrada do lado sul, frente ao porto e ao rio Geba) ?

Se sim, os créditos fotográficos são de Manuel Coelho, a quem vou dar conhecimento do seu pedido. Gostaria que ele também lhe desse o seu OK, como autor da foto.

Para já é tudo, embora eu gostasse de saber, muito sumariamente, a razão de ser do título do seu livro: "Família Regalla: A Hora da Verdade!"...E, se nos der autorização, gostaríamos de divulgar também, no nosso blogue, o seu pedido. Haverá com certeza mais camaradas nossos que conheceram o sr. Regala (ou Regalla) de Galomaro e que podem até ter fotos dele (ou com ele) que disponibilizem, digitalizadas, para o seu projeto.

Disponha sempre,

Boa saúde, bom trabalho. Luís Graça

3. Mensagem do Ricardo Regalla Pinto-Dias na sua página do Facebook, de 22/12/2016, sobre o livro que está a escrever com a história da família:

Este é já mais do que um desejo, é uma realidade que surgirá a público no ano de 2017.

Será o livro que contará a história da minha família e o seu contributo para a sociedade portuguesa desde o ano de 1670!

Família essencialmemte de médicos e militares mas também de alguns homens de direito que, por junto, maravcaram aqui e ali a vida de portuguieses e até mesmo de Portugal.

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sábado, 24 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17508: Convívios (815): XXXII Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, a realizar-se no próximo dia 20 de Julho, em Carcavelos (Manuel Resende)



C O N V I T E

Em mensagem de ontem, dia 23 de Junho de 2017, o nosso camarada Manuel Resende (ex-Alf Mil Art da CCAÇ 2585/BCAÇ 2884, Jolmete, Pelundo e Teixeira Pinto, 1969/71) convida o pessoal da Magnífica Tabanca da Linha para o XXXII Convívio, a realizar-se no próximo dia 20 de Julho, em Carcavelos
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17493: Convívios (814): os Pel Caç Nat 51, 52 e 54, em Poceirão, na casa do ex-fur mil João Vaz (ex-prisioneiro de guerra em Conacri) (José Manuel Viegas)

Guiné 61/74 - P17507: Memória dos lugares (361): Mindelo em plena II Guerra Mundial, visto por Manuel Ferreira (1917-1992) (João Serra)


Manuel Ferreira (1917-1992), cap SGE reformado, escritor, professor universitário 
(Foto: cortesia de João  Serra / Página do Facebook Antifascistas da Resistência)


 


Capa da 1ª edição de Morabeza: contos de Cabo Verde, Lisboa: Agência Geral do Ultramar, 1958.





João Serra

1. M
ensagem de João Serra, com data de 20 do corrente:


Caro Luis Graça,


Preparei este texto sobre o Manuel Ferreira no Mindelo, em complemento da publicação e apelo que fizeste recentemente na tua Tabanca (termo aliás também referido pelo MF nesta selecção que te envio). (*)


Se achares que vale a pena publicá-lo, fica à tua disposição. (**)


Segue também duas fotos das capas de Morabeza.

Um forte abraço,
João Serra



2. Mindelo 1941-1946, visto por Manuel Ferreira

por João Serra



Capa da 2ª edição, refundada
e aumentada (Lisboa, Ulisseia, 1965)

Data de 1958, a 1ª edição de Morabeza, o livro de contos de Manuel Ferreira, escrito no ano anterior, nas Caldas da Rainha, onde chefiava a secretaria do Regimento de Infantaria 5.

A obra foi em 1957 distinguida com o prémio Fernão Mendes Pinto e editada pela Agência Geral do Ultramar. Uma segunda edição, “refundida e aumentada”, saiu em 1965, com prefácio de José Cardoso Pires. Desta edição não constam os textos iniciais da primeira, uma espécie de crónica da chegada e encontro do autor, furriel miliciano do exército expedicionário português, com São Vicente e o Mindelo. 

Recorde-se que Manuel Ferreira permaneceu em São Vicente entre 1941 e 1947, ali concluiu o antigo curso liceal (secção de letras), casou [,  com Orlanda Amarílis,] e teve o seu primeiro filho.

O texto que se segue é uma pequena antologia sobre a experiência cultural de Manuel Ferreira nesses longínquos anos 40 do século passado, organizada a partir dos textos da 1º edição de Morabeza (e que não constam da 2ª).


(i) A primeira impressão: 
terra de solidão


A primeira impressão que se colhe quando se fundeia no Porto Grande de São Vicente é a de estarmos diante de uma terra áspera, ardente, dominada pela solidão e pela tristeza, como se tivesse sido colocada em meio do oceano para penitência perpétua. [p. 11]

Por assim dizer, terra sem árvores, a ilha de São Vicente, por onde os cicerones de ocasião rebentam por todos os lados, na esperança de magras moedas, encaminhando, muitas vezes, o turista a locais de amor duvidoso - não possui nenhuma daquelas atracções que prendem logo de entrada o visitante. Há nela um ar tristonho, baço, em certos dias; carregado de luz crua, noutros. Pensões improvisadas, casas de café e chá sem espavento; desguarnecida de pontos tornados aprazíveis pela arborização cuidada ou jardinagem de esmero - forasteiro que a percorra mais do que uma escassa hora encontra-se saciado e convencido de que Mindelo está visto - e Cabo Verde é aquilo. Terra de calor. De montes secos e requeimados. Terra de solidão. [p. 13]


(ii) Impressão corrigida: 
amorabilidade


Não, poderei agora afirmar. Cabo Verde não era apenas a terra de solidão. A terra de calor. Terra de còladera e rochedos vulcânicos talhados a pique sobre o mar. Não, não era, amigos.

E além do que procurei dizer, dando uma tosca ideia de alguns aspectos e anotando, ao de leve, vários episódios, há ainda qualquer coisa mais que me escapa e não saberei definir, concretizar. [...].

Mas aquilo que assinalei a esse encanto indefinível e lírico que anda esparso, ao cair de certas tardes macias, ao pôr do Sol, mesmo ao rés do mar, e ainda a simplicidade das gentes, formarão, de algum modo, aquele conjunto de elementos que me levaram a admirar a também a amar, de maneira estranha, a terra mestiça plantada a meio do oceano Atlântico. [p. 37]

Por isso se precavenha o passageiro apressado, o turista à procura de exotismo. Cabo Verde não será apenas aquilo que os seus olhos observam quando o navio fundeia no Porto Grande de São Vicente. Nem tão-pouco a pobreza que depois se depara na cidade. Mesmo que vá a Santo Antão e oiça a toada plangente do trapiche e dê uma saltada ao interior de Santiago para se surpreender com o batuque ou a tabanca, corra à Brava a admirar as belas mulheres de tez clara - está longe de saber o que é a terra mestiça.

Cabo Verde tem de grande, e isso deve ser motivo de orgulho, uma afectividade que nos amarra e seduz. É a "morabeza", sentimento intrínseco do povo crioulo. Amorabilidade, característica da raça e se traduz nos seus modos ternos, na sua dedicação, na afabilidade da sua gente simples:


Gente do Mindelo
Nô abri nô braço
Nô pô coraçon na mão
Pá nô dâ um abraço

Abraço de morabeza
De nôs de São Vicente
...

Xavier Cruz, Morna [p. 39-40]




(iii) Encontro e descoberta: identificação 

com a gente das ilhas


Mas certa vez, na pensão nha Camila confraternizava um grupo de rapazes, moços do liceu, que se reencontravam em São Vicente, regressados de férias nesse dia. Brindes, abraços, canções. E, pressentindo-nos desembarcados de recente data, quiseram que se lhes juntássemos e bebêssemos em comum. Violas, cavaquinhos, e violinos deliciaram-nos com sambas e mornas. Retribuir-lhes com fados, como propuseram, não foi possível. Nem com uma simples canção popular - o mais apropriado ao ambiente. [p. 19]

Muitos de vocês, nos seus verdes dezassete anos, viviam um período de curiosidade e alguns mesmo de autêntica inquietação.

Eram poetas esses rapazes que eu fui encontrar. Novos, todos alunos do liceu, estudantes de sonho, queiriam descortinar e interpretar o mundo que os rodeava, nesse tempo ensanguentado pelas invasões nazis. [p. 20]

Nada conhecia de Cabo Verde, e nesse tempo, muito longe andava se pensar que ali começava a germinar uma literatura característica, mas de feição universalista. [p. 22]

E, um belo dia, apareceram com três números de Claridade. Revelação que me deu fundo contentamento por verificar fenómeno de inteligência e sensibilidade tão eloquentemente documentado naquelas terras distantes. Pouco depois lia Arquipélago e Ambiente, do Jorge Barbosa, nesse tempo "na ilha tão desolada rodeado pelo Mar" [Ilha do Sal] a ver passar os barcos, ficando

"... por instantes
construindo
fantasiando
cidades
terras distantes
..."


T
udo isto me dava uma sensação íntima, o gozo de imprevista descoberta! [p. 24]

Em resumo: um mundo novo nascia para mim, ali no meio do mar nas ilhas solitárias:
...

que não são
San Sebastian, Carlton ou Palm-Beach
Tantas
quantos
os dedos compridos da mão
...
Atentas vigias do mar

Nuno Miranda, nº 1 da Certeza, [p. 26]


E
ntretanto lia Chiquinho em folhas dactilografadas, o bom romance de Baltasar Lopes da Silva. [p. 26]

Ouvia de António Aurélio Gonçalves novelas de sua autoria e recebia dele os primeiros e grandes conselhos sobre o fenómeno da criação literária, técnica de romance, factura do conto - a propósito de capítulos e pequenas histórias que lhe levava a casa, trémulo e feliz, nas tardes serenas e pacatas do Mindelo... [p. 26]

... Mindelo, cidade sem imprensa, sem tertúlias, sem rádio durante o dia - e, de noite, só quando a central Bonnoci se dignava. [p. 26]

Eis como descobrira a grande, a bela face de Cabo Verde: a sua espiritualidade. A sua vida criadora, a sua integração no mundo do progresso das ideias, a sua participação no domínio da Cultura. [28]

Durante a última guerra, com a presença da tropa, o ritmo da vida do arquipélago, em muitos aspectos foi alterado, e daí terem surgido várias mornas alusivas a factos que mais chocaram a população, principalmente a de São Vicente [Bèlèza, pseudónimo de Xavier Cruz, compôs uma morna intitulada “punhal de vingança” onde refere que as moças agora só se encantam com “furrié”]. [p. 30]

E houve um momento em que comecei a sentir a morna na própria carne, comunicando-me emoção profunda, virgem. Ouvia um fado - e ele pouco me dizia à minha saudade de emigrante. Ouvia uma morna e sentia a força emocional a dominar-me, a percorrer-me de alto a baixo, como se este canto trouxesse o mistério da minha raça. E então chegava à conclusão de que se assim acontecia era porque eu estava identificado com a gente das ilhas. É porque lhes sentia o sofrimento, os anseios, comungava das suas dores, vivia o seu drama e a sua luta. [p. 31]

Evidentemente que para esta identificação com o povo cabo-verdiano muito contribuiu também a sua hospitalidade, o convívio. [p. 33]

O cabo-verdiano faz questão de receber a gente do Continente. Sem subserviências, sem mesuras. De coração nas mãos. Ama as reuniões íntimas, com chá, com música, com historietas e conversas alegres, limpas de linguagem. É um povo comunicativo e expansivo. [p. 33]


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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

21 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17499: Agenda cultural (568): Exposição comemorativa do 1º centenário do nascimento de Manuel Ferreira (1917-1992), a ser inaugurada em 18 de julho próximo, no Museu José Malhoa, Caldas da Rainha, e que deverá seguir depois, em setembro, para a terra natal do escritor e oficial do exército, Leiria (João B. Serra)

5 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17434: Efemérides (255): centenário do nascimento do escritor, investigador e professor de literatura africana de expressão portuguesa, o leiriense Manuel Ferreira (1917-1992), capitão SGE reformado, ex-furriel miliciano, expedicionário em Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, mobilizado em 1941 pelo RI 7 (Leiria)...Também fez comissões na Índia (1948-54) e em Angola (1965-67). "Creio que se pode perceber que estamos perante uma trajectória humana singular" (disse-nos o seu biógrafo, João B. Serra)

Guiné 61/74 - P17506: Parabéns a você (1277): António Branco, ex-1.º Cabo Reabast de Material da CCAÇ 16 (Guiné, 1972/74) e Vasco Joaquim, ex-1.º Cabo Escriturário do BCAÇ 2912 (Guiné, 1970/72)


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Nota do editor

Último poste da série de 23 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17503: Parabéns a você (1276): João Carvalho, ex-Fur Mil Enf.º da CCAÇ 5 (Guiné, 1973/74)

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Guiné 61/74 - P17505: Notas de leitura (971): “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Prossegue a análise do trabalho de João Freire, estamos agora na Guiné Portuguesa enquanto província autónoma, vamos assistir à ocupação e aos seus refluxos, pelo menos até às campanhas do Capitão Teixeira Pinto.
Numa obra que tem a inovação de cruzar os olhares entre as instituições político-militares e a obra da Marinha na Guiné, veremos como desenvolvidamente o contributo da Marinha se revelou determinante na Monarquia, na I República e na Ditadura Nacional, a Marinha terá um papel de indiscutível importância nos levantamentos hidrográfico, o autor recenseia os navios da Armada e as embarcações do governo da província que prestaram serviços na Guiné.
Veremos a atividade nas capitanias dos portos, nas oficinas navais. A Marinha foi objeto e protagonista de importantes mudança tecnológicas, dois fatores técnicos e económicos diminuíram o seu papel na Guiné: o progresso das vias de comunicação terrestres e a aviação. Se o papel da Armada se revelar preponderante no período anterior às campanhas de ocupação, voltou igualmente a tê-lo a partir de 1963. Mas isso é outra história que não cabe aqui contar.

Um abraço do
Mário


A colonização portuguesa da Guiné, 1880-1960, por João Freire (3)

Beja Santos

“A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha, foi uma das edições preeminentes do ano transato, no que tange à investigação guineense no período colonial. João Freire manipula expeditamente a heurística e a hermenêutica, por cada capítulo abordado tece conclusões, assume responsabilidades interpretativas, nunca deixa o leitor à deriva ou no território das especulações. É uma viagem cronológica onde os assuntos da Marinha colonial têm peso preponderante.

A Guiné Portuguesa passou a ser uma província autónoma diretamente dependente do Ministro da Marinha e Ultramar por lei de 18 de Março de 1879. O governo de Lisboa abriu os cordões à bolsa para a instalação da nova administração, que ficou com a capital em Bolama, e transferiu de S. Tiago para a Guiné o Batalhão de Caçadores n.º 1 da África Ocidental e anunciou-se a pretensão de adquirir alguns barcos a vapor, devidamente artilhados. O autor refere-se ao modo como se exerceu a administração colonial entre 1880 e 1910, aborda a legislação promulgada, os órgãos de governo e da administração, não esquece a justiça, os negócios eclesiásticos, a fazenda e alfândega. A questão de Bolama fora definitivamente superada, mas os litígios com as colónias francesas, a começar pelo Senegal, acentuaram-se, o Casamansa era cobiçado, o presídio de Ziguinchor na margem esquerda do rio Casamansa era o ponto mais desejado pelas autoridades francesas. Com a convenção luso-francesa de 12 de Maio de 1886 perdeu-se Ziguinchor e Casamansa e irão continuar as tensões para a definição das fronteiras na região de Cacine. E escreve:  
“As circunscrições administrativas da Guiné eram os presídios (aos quais ficavam adstritos os cadastrados do reino ali deportados, mas em liberdade), mas também existiam já câmaras municipais nas povoações onde se concentravam os europeus e comerciantes. Por estes anos 80, identificámos presídios em Ziguinchor, Farim e Geba, e munícipios em Bolama, Bissau, Cacheu, Buba e Bolola”.
A chegada de um governador era sempre um evento, saudada com salva de 21 tiros pela bateria de artilharia, guarda de honra pelo Batalhão de Caçadores, cortejo do cais até à igreja e celebração de um solene Té Deum, seguia-se a posse do cargo no Palácio perante as testemunhas, discursos, muitos cumprimentos e saudação final da janela ao povo presente, às vezes com foguetório. O autor recorda que a presença da igreja católica na Guiné era mínima ainda no século XIX, quer em termos de missionação, quer como administração eclesiástica do Estado. Num ofício datado de 31 de Dezembro de 1880 dirigido ao seu bispo, o Vigário-geral, Marcelino Marques de Barros, traça um cenário desértico da presença católica na província, sem qualquer esforço missionário e apenas assente nas paróquias urbanas de ocupação europeia, mas cheio de belas ideias e projetos de conversão de “todas estas raças altivas e sanguinárias”. Escusado é dizer que a Alfândega era uma das mais importantes instituições públicas da província, sempre interessada em taxar o que estivesse ao seu alcance. A partir de 1902, o governo de Lisboa atribuiu novas competências ao Banco Nacional Ultramarino, concedendo-lhe poderes alargados como banco emissor. João Freire procede a uma síntese das atividades dos sucessivos governadores, passando de imediato à análise das condições da população e à transição económica pós-escravatura, a economia guineense sofrera uma alteração de tomo, há muito que tinha ficado para trás a riqueza amealhada com o tráfico de escravos, estava agora a prosperar a economia das oleaginosas.

Estamos chegados à colónia republicana da Guiné, houve mudança de cadeiras, chegam novos militares, muda o secretário-geral, mais algum pessoal, em Lisboa dá-se a separação ministerial entre a Marinha e as Colónias, por exemplo um telegrama de Lisboa em Setembro de 1911 informa a Província da Guiné que o Dr. Celestino de Almeida é o primeiro titular do ministério das colónias. A I Guerra Mundial não chegou à Guiné, a despeito das restrições no aprovisionamento. Aos poucos, chegam os sinais da modernização, caso do telefone por fios e da telegrafia sem fios. Facto inédito ocorre em Novembro de 1920, uma parte do funcionalismo da colónia entrou em greve. A Guiné teve no final da primeira república um governador que passará à História, Jorge Velez Caroço, a administração ganha dinamismo, abrem-se estradas, as principais serão mesmo macadamizadas (compactação com areia e brita), constroem-se pontes e pontões, a força militar da Guiné foi reorganizada. Havia títulos completamente vazios, caso do quartel-general das forças navais de uma marinha que não disponha de um único navio de guerra em permanência. Velez Caroço encontrará uma contestação cerrada por parte do setor exportador, mas contará sempre com a confiança política em Lisboa. No anuário da Guiné de 1925 é mencionado que existem na colónia 12 estações telegráficas e 3 telefónicas.

No período da Ditadura Nacional, a ação governativa ficou reduzida ao mínimo. João Freire debruça-se sobre a cobrança do imposto de palhota e as contradições que a mesma suscitaram, passando depois para a evolução da economia, em que a expressão principal assenta no desenvolvimento agrícola.

Estamos agora chegados à análise da Marinha na ocupação efetiva, o autor disserta sobre a geografia, bacias hidrográficas e condições de navegação, o modo de funcionamento dos serviços da Marinha até à queda da monarquia e no período posterior, chama à atenção para a importância dos levantamentos hidrográficos, ilustra profusamente o seu trabalho mostrando-nos patachos, lanchas, caíques, chalupas, lugres, lugres-escunas, brigues, iates, galeras, lanchas canhoneiras e muito mais; dá-nos um quadro acabado sobre o funcionamento dos serviços da Marinha colonial na primeira república e no Estado Novo e naturalmente que superlativa a missão geoidrográfica da Guiné.

A investigação é enriquecida com vários apêndices: a Marinha nos arquipélagos de Cabo Verde e S. Tomé; a caça aos navios negreiros em Angola.
Chegamos agora à parte final do trabalho orientada para a política do Estado Novo (1930-1960).

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 19 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17487: Notas de leitura (970): “A Colonização Portuguesa da Guiné 1880-1960”, por João Freire, 2016, edição da Comissão Cultural da Marinha (2) (Mário Beja Santos)