Guiné > Bissau > Outubro de 1973 > O António Graça de Abreu, em boa forma, no regresso de férias na Metrópole, na piscina do Clube de Oficiais, Santa Luzia, enquanto aguardava transporte para o CAOP1, em Cufar, no Sul].
Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné ]
Guiné > Bissau > c- 1973/74 > Clube de Oficiais, QG/CTIG em Santa Luzia > "Eu, na messe e piscina em Santa Luzia; ao fundo vê-se o ecrã de cinema, que funcionava à noite... Os sargentos podiam frequentar a piscina aos sábados, o cinema era acessível a oficiais e sargentos.
Foto (e legenda): © Carlos Filipe Gonçalves (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. É uma história hilariante (*), esta, vivida e contada pelo Abílio Magro, um dos seis manos Magro que a Pátria chamou ao seu serviço em Portugal e terras de alé-mar em Áfriica:
Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pijiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 23 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)
(i) foi fur mil, CSJD/QG/CTIG, 1973/74);
(ii) trocado por miúdos, a sigla quer dizer "Chefia do Serviço de Justiça e Disciplina do Quartel-General do Comando Territorial Independente da Guiné";
(iii) entrou para a Tabanca Grande em 2013;
(iv) é nosso colaborador e tem mais de seis dezenas e meia de referências no blogue;
(v) vive no Porto.
"Bomba" no Clube de Oficiais do QG/CTIG, em Santa Luzia, Bissau, em plena sessão de cinema ao ar livre
por Abílio Magro
Nas Instalações Militares de Santa Luzia existia um Clube de Oficiais, composto de acomodações, messe, piscina, esplanada bar e cinema ao ar livre. (Podia-se fumar enquanto se via uma "sessão"... "Porreiro, pá!").
A classe de Sargentos tinha acesso a esse Clube para assistir à exibição de filmes e, uma vez por semana (às quintas, julgo eu) [e/ou sábados, segundo o Carlos Filipe Gonçalves, que trabalhava na ChefInt] tinha também acesso à piscina.
O local era circundado por um muro formado com aqueles tijolos geométricos que permitem ver de um lado para o outro.
O cinema era montado no recinto da piscina e a tela era composta de um grande pano branco suportado por duas altas estacas.
A classe de Sargentos tinha acesso a esse Clube para assistir à exibição de filmes e, uma vez por semana (às quintas, julgo eu) [e/ou sábados, segundo o Carlos Filipe Gonçalves, que trabalhava na ChefInt] tinha também acesso à piscina.
O local era circundado por um muro formado com aqueles tijolos geométricos que permitem ver de um lado para o outro.
O cinema era montado no recinto da piscina e a tela era composta de um grande pano branco suportado por duas altas estacas.
As cadeiras eram metálicas, daquelas de fechar, usadas normalmente nos parques de campismo e nas nossas praias.
Nestas circuntâncias, as sessões de cinema eram efetuadas à noite, como é óbvio, e, como do outro lado do muro existiam tabancas, os respetivos habitantes viam o filme do outro lado da tela com as legendas do avesso, o que nunca impedia uma razoável assistência nativa.
Quando no filme se desenrolava uma qualquer cena de pancadaria entre um branco e um negro (Sidney Poitier, por ex.) e o negro dava um murro no branco, invariavelmente se ouvia uma grande salva de palmas vinda do outro lado do muro. Compreensível, diga-se de passagem.
Alguns soldados sentavam-se nos muros e também assistiam ao espectáculo.
Naquela altura pairavam no ar receios fundados de provável início de guerrilha urbana em Bissau. Ali, no cinema ao ar livre e com as luzes apagadas por via da exibição cinematográfica, e com as tabancas do outro lado do muro, uma bombita era "canja!"
O pessoal andava nervoso.
Naquela noite o cinema estava cheio, como de costume. Eu também lá estava a ver uma "sessãozita".
De repente vê-se um clarão... e a debandada foi geral! Com a confusão, algumas cadeiras "ensarilharam-se", provocando tropeções e quedas e os que caíam ao chão eram, espezinhados pelos outros, como foi o meu caso.
No chão, a ser espezinhado e com as cadeiras a atrapalhar, não conseguia fugir e entrei em pânico! Ouvia o som das "Kalashnikov"! Ia ser apanhado à mão, despedi-me da família!
Passadas longos minutos, lá me consegui erguer e, já pronto para saltar o muro, ouço risadas!
O pessoal da primeira fila tinha-se safado bem das cadeiras e, junto à tela, deliciava-se com o espectáculo.
Nestas circuntâncias, as sessões de cinema eram efetuadas à noite, como é óbvio, e, como do outro lado do muro existiam tabancas, os respetivos habitantes viam o filme do outro lado da tela com as legendas do avesso, o que nunca impedia uma razoável assistência nativa.
Quando no filme se desenrolava uma qualquer cena de pancadaria entre um branco e um negro (Sidney Poitier, por ex.) e o negro dava um murro no branco, invariavelmente se ouvia uma grande salva de palmas vinda do outro lado do muro. Compreensível, diga-se de passagem.
Alguns soldados sentavam-se nos muros e também assistiam ao espectáculo.
Naquela altura pairavam no ar receios fundados de provável início de guerrilha urbana em Bissau. Ali, no cinema ao ar livre e com as luzes apagadas por via da exibição cinematográfica, e com as tabancas do outro lado do muro, uma bombita era "canja!"
O pessoal andava nervoso.
Naquela noite o cinema estava cheio, como de costume. Eu também lá estava a ver uma "sessãozita".
De repente vê-se um clarão... e a debandada foi geral! Com a confusão, algumas cadeiras "ensarilharam-se", provocando tropeções e quedas e os que caíam ao chão eram, espezinhados pelos outros, como foi o meu caso.
No chão, a ser espezinhado e com as cadeiras a atrapalhar, não conseguia fugir e entrei em pânico! Ouvia o som das "Kalashnikov"! Ia ser apanhado à mão, despedi-me da família!
Passadas longos minutos, lá me consegui erguer e, já pronto para saltar o muro, ouço risadas!
O pessoal da primeira fila tinha-se safado bem das cadeiras e, junto à tela, deliciava-se com o espectáculo.
Extremamente nervoso e com o coração a bater a 200 r.p.m., mandei umas "bocas foleiras" aos de "tacha arreganhada" e dirigi-me ao chuveiro da piscina para lavar os arranhões (face, braços e pernas)... Tive a companhia do brig Galvão de Figueiredo que lá foi fazer o mesmo às mãos e que vociferou:
− Cambada de cretinos!
Entretanto:
− De quem são estas chaves?...
− Ó Magro, olha aqui o teu cartão!
Os meus "bens pessoais" lá foram aparecendo aos poucos.
Resumindo:
Acreditem que foi o maior susto que apanhei em 18 meses de Guiné. Acreditem que, em pânico, a ser pisado, sem me poder levantar, nem ver o que se passava ao redor, nem que fosse feijão fradinho entrava no "uropígio"!
No dia seguinte, quando entro na CSJD, vejo o cabo condutor-motorista do ten cor com a mão esquerda ligada.
− Então, que foi isso?
− Queimei-me ontem à noite no cinema.
Ali estava o autor do "crime"! (**)
− Cambada de cretinos!
Entretanto:
− De quem são estas chaves?...
− Ó Magro, olha aqui o teu cartão!
Os meus "bens pessoais" lá foram aparecendo aos poucos.
Resumindo:
- a "bomba" tinha sido uma caixa de fósforos que se incendiara a um soldado, enquanto acendia um cigarro em cima do muro e que se terá desequilibrado;
- na queda, terá arrastado consigo mais dois ou três camaradas;
- os longos minutos no chão a ser espezinhado, ter-se-ão resumido a meia dúzia de segundos;
- os tiros de Klashnikov seriam, afinal, as cadeiras metálicas a bater umas nas outras.
Acreditem que foi o maior susto que apanhei em 18 meses de Guiné. Acreditem que, em pânico, a ser pisado, sem me poder levantar, nem ver o que se passava ao redor, nem que fosse feijão fradinho entrava no "uropígio"!
No dia seguinte, quando entro na CSJD, vejo o cabo condutor-motorista do ten cor com a mão esquerda ligada.
− Então, que foi isso?
− Queimei-me ontem à noite no cinema.
Ali estava o autor do "crime"! (**)
(Revisão / fixação de texto / título: LG)
Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG / CTIG >"Cartão que nos foi distribuído para podermos circular no QG depois da bomba. Reparem nas datas de emissão e validade (parece que contavam comigo até ao fim da comissão)"
De facto, o cartão era válido de 27 de abril de 1974 a 27 de março de 1975... A bomba no QG/CTIG terá sido em 22 de fevereiro de 1974... A burocracia militar levou dois meses a emitir o cartão de acesso ao QG/CTIG!...
Foto (e legenda): © Abílio Magro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Santa Luzia e o Cupelon (já fora da malha urbana da "Bissau Velha") ficavam paredes meias...
Pensando bem, o QG/CTIG podia ser, teoricamente, um alvo fácil para uma ação terrorista do PAIGC... Até porque trabalhavam muitos civis naquelas instalações militares, onde se integrava o Clube de Oficiais e o "Biafra" (dormitório dos oficiais milicianos em trânsito por Bissau).
Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
_____________Notas do editor:
(*) Último poste da série > 23 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26835: Humor de caserna (199): O meu grande "bubu" azul!... Que pena não mo terem deixado levar, vestido, no avião da TAP, de regresso a casa !... (Jorge Cabral, 1943-2021)
(**) Excerto do poste de 7 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau