Primeira página do sítio oficial do doclisboa 2009, festival do cinema documental, a decorrer em Lisboa em várias salas de cinema (Culturgest, São Jorge e Londres) desde hoje, até 25 de Outubro de 2009.
Destaques de Luís Graça:
(i) Homenagem a Jonas Mekas, "uma lenda viva do cinema vanguardista norte-americano", e que será "o convidado de honra do doclisboa 2009". Segundo os organizadores do festival, "aos 86 anos, Jonas Mekas continua a produzir obras de referência em campos artísticos totalmente distintos".
(ii) Love stories:
"As grandes histórias de amor sempre marcaram a história do cinema. Mas sobretudo no domínio da ficção. Esta programação do doclisboa destina-se a revelar histórias de amor únicas, registadas especialmente no campo do documentário".
(iii) Balcãs em Foco, retrospectiva sobre o documentário da ex-Jugoslávia:
Winston Churchill (de cujas citações se usa e abusa...) "terá dito que os Balcãs produzem mais história do que aquela que têm capacidade para consumir. Cinismo à parte, talvez esta afirmação se aplique de uma forma consistente aos trágicos acontecimentos que tiveram lugar no território da ex-Jugoslávia, depois da sua desintegração em 1991" (...).
(...) "A zona do mundo em cuja cinematografia mergulhamos este ano é particularmente explosiva. A Jugoslávia, que até 1992 era um único país, está hoje dividida em 7 estados independentes: Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Croácia, Eslovénia, Montenegro, Kosovo e Macedónia.
"A mostra Balcãs em Foco pretende simultaneamente dar a conhecer a extraordinária cinematografia dessa região (onde as escolas e a tradição de documentário foram excepcionais ao longo do século XX) e permitir-nos compreender melhor o que se passou e o que se passa naquele território, habitado por povos e religiões em conflito, mas com tanto em comum. Como são vistas as guerras fratricidas pelos vários participantes? O que é que sobrevive e passa ao lado das guerras? Como é a vida do dia-a-dia?"
Título: MGM Sarajevo: Man, God, Monster
Realização: Colectivo SAGA (Ismet Arnautalic, Mirsad Idrizovic, Ademir Kenovic, Pjer Žalica)
Produção: Bósnia-Herzegovina, 1994
Duracção: 45’
Realizado pelo Grupo SAGA, colectivo de autores criado durante o cerco de Sarajevo, este documentário capta extraordinários relatos de guerra ocorridos durante o conflito. Cruzam-se elementos díspares como o testemunho perturbador de um jovem degolador, condenado à morte, com a visita da escritora Susan Sontag ao palco da peça 'À Espera de Godot'.
(iv) Investigações:
A secção competitiva que "reúne filmes que procuram dar a conhecer situações críticas do presente e do passado. Por revelarem algo de novo, por se posicionarem perante a realidade, estes filmes podem interferir sobre a própria realidade ou enriquecer a nossa visão da história"
Título: Indochine
Realizadores: Stewart Binns, Adrian Wood
Produção: Reino Unido, 2009
Duração: 91’
Construído a partir de fabulosas imagens de arquivo a cores, Indochine conta a história trágica e corajosa dos povos da Indochina (Vietname, Laos, Camboja), que viveram uma sucessão de guerras ao longo de quatro décadas. A história do colonialismo francês e da opressão, da brava resistência travada contra o Japão, da sangrenta intervenção Norte-Americana em plena Guerra Fria e das sucessivas guerras.
(v) Filmes de realização e/ou produção portuguesa (ou em língua portuguesa)
Sou fã do Doclisboa, já hoje considerado um dos melhores do mundo, no âmbito do cinema documental. A minha primeira selecção, au vol d'oiseau (dos mais de 180 filmes em exibição, legendados em português), vai para alguns portugueses (ou em língua portuguesa), de temática africana, colonial e pós-colonial, com referência especial às nossas antigas colónias de África... (Infelizmente não encontrei nada sobre a nossa querida Guiné-Bissau).
Hoje, na sessão das 23h, no Cinema Londres-2, a nossa amiga Diana Andringa, nascida em Angola, em 1947, no Lundo (o menos é dizer, a província onde operava a toda poderosa Diamang), co-autora, com o guineense Flora Gomes, As duas Faces da Guerra, 2007, e membro do nosso blogue) aprensenta o seu filme de 60 minutos Dundo, memória colonial. Já comprei bilhete (3 euros e meio) (Pode-se também comprar um voucher, com 10 bilhetes, por 25 euros).
Titulo: Dundo, Memória ColonialRealizadora: Diana Andringa
Pordução: Portugal, 2009
Duração: 60’
A realizadora Diana Andringa nasceu em 1947 no Dundo, centro de uma das mais importantes companhias coloniais de Angola, a Diamang. Ali foi feliz. Ali aprendeu o racismo e o colonialismo. Agora volta, porque o Dundo é a sua única pátria, a mais antiga das suas memórias.
Título: Com Que VozRealizador: Nicholas Oulman
Produção: Portugal, 2009
Duração: 108’
Alain Oulman nasceu em Lisboa, no seio de uma família conservadora. Era um homem apaixonado por livros, por música e por Amália, com quem colaborou de forma muito próxima. Perseguido pelo regime de Salazar e mais tarde exilado em França, Alain Oulman parece ter vivido várias existências – todas elas brilhantes– que este filme nos permite finalmente conhecer.
Título: Luanda, Fábrica da Música
Realizadores: Inês Gonçalves, Kiluanje Liberdade.
Produção: Portugal, 2009
Duração: 56’
Num musseque de Luanda vivem os miúdos poetas. Todos querem gravar na máquina de sons de DJ Buda, que dá vida a ritmos electrizantes – essencialmente kuduro. Todos gritam poemas para o velho microfone. Algo nunca ouvido. Luanda, Fábrica da Música é um hino à criatividade dos angolanos.
Título: Escrever, Escrever, Viver
Realizadora: Solveig Nordlund
Produção: Portugal, 2009
Duração: 53’
António Lobo Antunes, no auge da sua carreira, recebe o grande prémio de literatura da Feira Internacional do Livro em Guadalajara, México. A entrega do prémio é o ponto de partida para uma passagem em revista da sua vida e obra. A infância, a psiquiatria, a guerra colonial, o 25 de Abril, os livros, o cancro que em 2006 lhe foi diagnosticado e as marcas que deixou.
Título: Mãe Fátima
Realizadora: Christine Reeh
Produção: Portugal, 2009
Duração: 80’
Fátima, uma enfermeira angolana de 70 anos, decidiu, após décadas de trabalho em Portugal, regressar ao seu país de origem e dar início a uma missão de saúde humanitária, numa das regiões mais afectadas pela guerra civil. Em Menongue,é necessário recuperar o hospital local, sem água corrente nem oxigénio. O cheiro a lixo e a morte infiltra-se na alma e na pele das pessoas. É preciso acreditar em algo para enfrentar o dia seguinte.
Título: Acácio
Realizadora: Marília Rocha
Produção: Brasil, 2009
Duração: 88’
Acácio e a mulher são um invulgar casal de transmontanos. Dentro do total anonimato, representam uma certa história portuguesa. As memórias pessoais e os magníficos arquivos de imagem de Acácio permitem-nos reviver uma vida entre o Portugal rural dos anos 50, a miragem do sonho colonial em Angola (nas minas do Dundo, onde Acácio era fotógrafo), o traumático regresso a Portugal, onde não se adapta, e um novo refazer de vida em Minas Gerais (Brasil).
Fonte: Imagens e legendas: doclisboa 2009 > Filmes de A-Z.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5109: Meu pai, meu velho, meu camarada (18): Do Mindelo a... Bambadinca, com futebol pelo meio (Nelson Herbert / Luís Graça)
Guiné > Zona leste > Bambadinca > Rio Geba > Porto fluvial > 1970 > A grua Galion a operar no cais (um pontão de madeira!) de Bambadinca... O Rio Geba era navegável até Bafatá, mas do Xime para cima o curso do rio, sinuoso e mais estreito, só permitia a navegação de pequenas embarcações militares (LDM, LDP, lanchas) ou civis (por exemplo, da Casa Gouveia)... O pai do nosso Nelson Lopes Herbert, de seu nome Armando Duarte Lopes, uma antiga glória do futebol caboverdiano e guineense ("Armando Bufallo Bill, seu nome de guerra, o melhor futebolista da UDIB, do Benfica de Bissau, internacional pela selecção da antiga Guiné Portuguesa"...) , trabalhou na administração do porto fluvial de Bambadinca, entre 1969 e 1971 (L.G.)
Guiné > Zona Leste > Bambadinca > 1970 > A Galion a carregar vacas para o matedouro de Bissau...
"A Galion a carregar vacas no cais fez-me lembrar o episódio dela no percurso do Xime para Bambadinca. A Galion veio numa LDG [ Lancha de Desembarque Grande] desde Bissau até ao Xime. E daí para Bambadinca ia pelos seus próprios meios. Passou bem pelo destacamento da Ponte do Rio Undunduma, mas quando chegou a meio da bolanha a estrada não aguentou o peso e cedeu. Resultado, a Galion desequilibrou-se e ficou meio enterrada na bolanha.Julgo que isto se passou em Novembro de 69 (dia 24 ou 25 - aniversário do Tony) Tenho este episódio documentado mas, como era hábito naquele tempo, está em diapositivo (em português slide, como dizia o saudoso Fernando Peça) e não em fotografia" (Humberto Reis).
Guiné > Zona leste > Bambadinca > 1970 > O Geba Estreito, junto a porto fluvial de Bambadinca.
Fotos de 1970, gentilmente cedidas pelo Luís Moreira, ex-Alf Mil Sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), gravemenbte ferido numa mina anticarro em 13 de Janeiro de 1971, e evacuado para o HM 231.
Fotos: © Luís Moreira (2006). Direitos reservados.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (nordeste) do aquartelamento, a ligação (B) à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá (C), paralela à antiga estrada (A) que cortava a tabanca ao meio. Ao fundo, o Rio Geba Estreito (E). Junto ao rio, as instalações do Pelotão de Intendência (D), junto ao porto fluvial de Bambadinca.
Foto: Humberto Reis (2006). Direitos reservados.
Guiné-Bissau >Mansoa > 9 de Setembro de 1974 > Cerimónia de transferência de soberania. Foto de autor desconhecido
Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes portugueses (Benfica e Sporting). Foto de autor desconhecimento.
Imagens: Gentilmente cedidas por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora
Portugal > Cadaval > Adão Lobo > 1950 > Equipa de futebol do Sporting Clube Lourinhanense, da Lourinhã, no campo de jogos do Adão Lobo. O segundo da primeira fila, da esquerda para a dierieta, é o meu pai, Luís Henriques, então com 29 anos... Esteve toda a vida ligada ao futebol, quer como jojador quer como dirigente e treinador de futebol das camadas mais jovens... Tem hoje 89 anos... Esta foto foi tirada em 1950, no dia em que o Benfica (seu clube de eleição) ganhou a Taça Latina (pode-se ler-se na legenda da foto... Ao que parece foi o primeiro feito internacional do S.L. Benfica: ganhou à Lázio nas meias-finais e depois ao Bordéus na final) Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "A equpa do R. I. 5 [ Caldas da Rainha,] composta de sargentos e furriéis a qual bateu a do R.I. 7 [ Leiria,] por quatro a um, num jogo de camaradagem. Abril de 1943. Lu´si Henriques"... [Local: Lazareto ?, ao fundo o Monte Cara].
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Uma fase do jogo de voleibol no dia da festa da restuaração , organizada pelo Regimento de Infantaria nº 5. Lazaret, 1/12/1942. São Vicente, Cabo Verde. Luís Henriques".
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Uma jogada movimentada entre duas equipas que disputaram o jogo de basquetebol. Na festa de 23 de Julho [,1º aniversário da chegada das tropas expedicionárias à ilha,], no Lazareto, em 1942. Luís Henriques".
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados.
1. Mensagem do Nelson Herbert:
Caro Luis
Hábitos da educação africana...Mais velho é sempre mais velho.. Me obrigam a manter essas formalidades no nosso tratamento [, por você, e não por tu]. (*)
Indo entretanto à questão:
1- O meu velho entrou para a tropa a 15 de Agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [, a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,
Depois do juramento da bandeira (será esse o termo ?) é transferido para Lazareto e São Pedro [, na parte oeste, sudoeste da ilha].
Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metróçole. Termina o serviço militar em Janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos hegavam...
Participou de forma rotineira nos tais exercicios físicos da tropa, na Praia da Matiota ... (que melhor lugar para um exercício matinal!). Já naquela altura era futebolista do Amarante Futebol Clube, um dos históricos clubes de Mindelo. Ainda se recorda, e bem, da argumentação semanal para conseguir a devida licença da tropa, para os treinos e jogos do fim de semana...
Alias, é pois o futebol que o acaba por levar à então Guiné Portuguesa, para jogar na UDIB - União Desportiva e Internaconal de Bissau.
2- Sobre a passagem dele, por Bambadinca... Mandatado pela JAPG, foi ele quem implanta e organiza a administração local (serviço de escrituração -seré esse o termo) do porto local. Finda essa fase de estruturação da funcionalidade do porto local, é chamado à sede (Porto de Bissau) e em substituição é despachado um outro colega.
Lembra-se do batelão Poana , de umas 100 toneladas, e que, sob escolta da tropa, fazia o trajecto Bambadinca-Bissau e vice-versa com carga militar e civil (esta último sobretudo gado para os matadouros em Bissau).
E, era segundo ele, na gestão "da hora e da vez de cada um " na utilização da embarcação, que surgiam os inevitáveis "atritos" com a tropa .
Durante esse peróodo (uns dois anos passados em Bambadinca entre 1969 e 1971/72 ) nós, os filhos (seis), por questões de segurança, tivemos que nos manter em Bissau. Lembro-me entretanto da nossa mãe, tê-lo visitado uma ou duas vezes em Bambadinca e de lá ter regressado, de avião, um dia após um ataque da guerrilha!
Quanto a fotografias, a primeira deslocação dele a Mindelo, conto ter algo !
Djarama
Nelson Herbert
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)
(....) Comentário de Luís Graça:
Mando um abraço do meu para o teu velhote... Ambos ainda estão de pé, aos 89 anos... Árvores valentes, com muitas coisa em comum, entre eles, o futebol e o Mindelo... E o mais espantoso foi o teu pai, natural de Cabo Verde, ter trabalhado, já depois de retirado do futebol (presumo), em Bambadinca, em plena época da guerra colonial (1963/74)... Confirmas ?
Vê se consegues apurar melhor essa história de Bambadinca e do batelão que foi objecto de conflito entre a tropa (leia-se: Batalhão de Intendência, BINT, de Bissau ? Comando ou CCS do Batalhão de Bambadinca ? ) e a administração do porto fluvial...
De qualquer modo, mais ou menos em que época (1964/66, 66/68, 68/70, 70/72, etc.) ?
Recordo-te que eu conheci dois batalhões, em Bambadinca, o BCAÇ 2852 (1968/70) e o BART 2917 (1970/72)...
O porto fluviall de Bambadinca tinha muito movimento no meu tempo e nós gastávamos muita energia a montar segurança às embarcações que subiam e desciam o Geba Estreito... As famosas patrulhas a Mato Cão, de que temos falado aqui tanto...
Em Bambadinca havia um entreposto e um destacamento, a nível de Pelotão, da Intendência... Nunca convivi muito com eles, os intendentes... Talvez eles possam também esclarecer essa história...
PS - Nelson, não te esqueças: Os amigos e camaradas da Guiné tratam-se por tu... Podia tratar-te por irmãozinho!
Guiné > Zona Leste > Bambadinca > 1970 > A Galion a carregar vacas para o matedouro de Bissau...
"A Galion a carregar vacas no cais fez-me lembrar o episódio dela no percurso do Xime para Bambadinca. A Galion veio numa LDG [ Lancha de Desembarque Grande] desde Bissau até ao Xime. E daí para Bambadinca ia pelos seus próprios meios. Passou bem pelo destacamento da Ponte do Rio Undunduma, mas quando chegou a meio da bolanha a estrada não aguentou o peso e cedeu. Resultado, a Galion desequilibrou-se e ficou meio enterrada na bolanha.Julgo que isto se passou em Novembro de 69 (dia 24 ou 25 - aniversário do Tony) Tenho este episódio documentado mas, como era hábito naquele tempo, está em diapositivo (em português slide, como dizia o saudoso Fernando Peça) e não em fotografia" (Humberto Reis).
Guiné > Zona leste > Bambadinca > 1970 > O Geba Estreito, junto a porto fluvial de Bambadinca.
Fotos de 1970, gentilmente cedidas pelo Luís Moreira, ex-Alf Mil Sapador da CCS do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), gravemenbte ferido numa mina anticarro em 13 de Janeiro de 1971, e evacuado para o HM 231.
Fotos: © Luís Moreira (2006). Direitos reservados.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea da tabanca de Bambadinca, tirada no sentido sul-norte. Em primeiro plano, a saída (nordeste) do aquartelamento, a ligação (B) à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá (C), paralela à antiga estrada (A) que cortava a tabanca ao meio. Ao fundo, o Rio Geba Estreito (E). Junto ao rio, as instalações do Pelotão de Intendência (D), junto ao porto fluvial de Bambadinca.
Foto: Humberto Reis (2006). Direitos reservados.
Guiné-Bissau >Mansoa > 9 de Setembro de 1974 > Cerimónia de transferência de soberania. Foto de autor desconhecido
Guiné-Bissau > Bissau > s/d (pós-independência > Campo de jogos de Bissau > Um jogo de futebol, sob a bandeira da nova República, duas equipas locais, com equipamentos de clubes portugueses (Benfica e Sporting). Foto de autor desconhecimento.
Imagens: Gentilmente cedidas por Nelson Herbert / Maria da Conceição Silva Évora
Portugal > Cadaval > Adão Lobo > 1950 > Equipa de futebol do Sporting Clube Lourinhanense, da Lourinhã, no campo de jogos do Adão Lobo. O segundo da primeira fila, da esquerda para a dierieta, é o meu pai, Luís Henriques, então com 29 anos... Esteve toda a vida ligada ao futebol, quer como jojador quer como dirigente e treinador de futebol das camadas mais jovens... Tem hoje 89 anos... Esta foto foi tirada em 1950, no dia em que o Benfica (seu clube de eleição) ganhou a Taça Latina (pode-se ler-se na legenda da foto... Ao que parece foi o primeiro feito internacional do S.L. Benfica: ganhou à Lázio nas meias-finais e depois ao Bordéus na final) Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "A equpa do R. I. 5 [ Caldas da Rainha,] composta de sargentos e furriéis a qual bateu a do R.I. 7 [ Leiria,] por quatro a um, num jogo de camaradagem. Abril de 1943. Lu´si Henriques"... [Local: Lazareto ?, ao fundo o Monte Cara].
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Uma fase do jogo de voleibol no dia da festa da restuaração , organizada pelo Regimento de Infantaria nº 5. Lazaret, 1/12/1942. São Vicente, Cabo Verde. Luís Henriques".
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Uma jogada movimentada entre duas equipas que disputaram o jogo de basquetebol. Na festa de 23 de Julho [,1º aniversário da chegada das tropas expedicionárias à ilha,], no Lazareto, em 1942. Luís Henriques".
Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados.
1. Mensagem do Nelson Herbert:
Caro Luis
Hábitos da educação africana...Mais velho é sempre mais velho.. Me obrigam a manter essas formalidades no nosso tratamento [, por você, e não por tu]. (*)
Indo entretanto à questão:
1- O meu velho entrou para a tropa a 15 de Agosto de 1943. Fez a recruta e o treino militar em Chã de Alecrim [, a nordeste da cidade do Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde].,
Depois do juramento da bandeira (será esse o termo ?) é transferido para Lazareto e São Pedro [, na parte oeste, sudoeste da ilha].
Lembra-se perfeitamente do corpo expedicionário vindo da então Metróçole. Termina o serviço militar em Janeiro de 1945. Frequenta , como vários outros nativos crioulos, o Curso de Sargentos Milicianos, graduação a que entretanto dificilmente os nativos hegavam...
Participou de forma rotineira nos tais exercicios físicos da tropa, na Praia da Matiota ... (que melhor lugar para um exercício matinal!). Já naquela altura era futebolista do Amarante Futebol Clube, um dos históricos clubes de Mindelo. Ainda se recorda, e bem, da argumentação semanal para conseguir a devida licença da tropa, para os treinos e jogos do fim de semana...
Alias, é pois o futebol que o acaba por levar à então Guiné Portuguesa, para jogar na UDIB - União Desportiva e Internaconal de Bissau.
2- Sobre a passagem dele, por Bambadinca... Mandatado pela JAPG, foi ele quem implanta e organiza a administração local (serviço de escrituração -seré esse o termo) do porto local. Finda essa fase de estruturação da funcionalidade do porto local, é chamado à sede (Porto de Bissau) e em substituição é despachado um outro colega.
Lembra-se do batelão Poana , de umas 100 toneladas, e que, sob escolta da tropa, fazia o trajecto Bambadinca-Bissau e vice-versa com carga militar e civil (esta último sobretudo gado para os matadouros em Bissau).
E, era segundo ele, na gestão "da hora e da vez de cada um " na utilização da embarcação, que surgiam os inevitáveis "atritos" com a tropa .
Durante esse peróodo (uns dois anos passados em Bambadinca entre 1969 e 1971/72 ) nós, os filhos (seis), por questões de segurança, tivemos que nos manter em Bissau. Lembro-me entretanto da nossa mãe, tê-lo visitado uma ou duas vezes em Bambadinca e de lá ter regressado, de avião, um dia após um ataque da guerrilha!
Quanto a fotografias, a primeira deslocação dele a Mindelo, conto ter algo !
Djarama
Nelson Herbert
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5101: Meu pai, meu velho, meu camarada (17): Ilha de S. Vicente, S. Pedro, 1943: Armando Duarte Lopes (Nelson Herbert)
(....) Comentário de Luís Graça:
Mando um abraço do meu para o teu velhote... Ambos ainda estão de pé, aos 89 anos... Árvores valentes, com muitas coisa em comum, entre eles, o futebol e o Mindelo... E o mais espantoso foi o teu pai, natural de Cabo Verde, ter trabalhado, já depois de retirado do futebol (presumo), em Bambadinca, em plena época da guerra colonial (1963/74)... Confirmas ?
Vê se consegues apurar melhor essa história de Bambadinca e do batelão que foi objecto de conflito entre a tropa (leia-se: Batalhão de Intendência, BINT, de Bissau ? Comando ou CCS do Batalhão de Bambadinca ? ) e a administração do porto fluvial...
De qualquer modo, mais ou menos em que época (1964/66, 66/68, 68/70, 70/72, etc.) ?
Recordo-te que eu conheci dois batalhões, em Bambadinca, o BCAÇ 2852 (1968/70) e o BART 2917 (1970/72)...
O porto fluviall de Bambadinca tinha muito movimento no meu tempo e nós gastávamos muita energia a montar segurança às embarcações que subiam e desciam o Geba Estreito... As famosas patrulhas a Mato Cão, de que temos falado aqui tanto...
Em Bambadinca havia um entreposto e um destacamento, a nível de Pelotão, da Intendência... Nunca convivi muito com eles, os intendentes... Talvez eles possam também esclarecer essa história...
PS - Nelson, não te esqueças: Os amigos e camaradas da Guiné tratam-se por tu... Podia tratar-te por irmãozinho!
Guiné 63/74 - P5108: Direito à Indignação (4): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Fernando Chapouto)
1. O nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda, enviou-nos mais uma mensagem demonstrando, também ele, o seu repúdio e rejeição, pelos últimos “ASSALTOS” governativos de que foram vítimas os ex-Combatentes da Guerra do Ultramar, relativamente ao Suplemento Especial de Pensão - Antigos Combatentes:
Camaradas,
Brevemente vai continuar a publicação das minhas memórias, que dedico em especial a todos vós, caros Amigos ex Combatentes.
Pessoalmente, considero que todos fomos Heróis, pois, da melhor ou da pior maneira, conseguimos ultrapassar os sacrifícios que nos foram impostos, por vezes em condições adversas inimagináveis.
Acima de tudo sobrevivemos, apesar de muitos de nós ainda hoje sofrerem de subsequentes terríveis mazelas.
Mazelas estas que foram designadas pelos especialistas mundiais, como stresse pós-traumático de guerra.
Também eu tenho a minha quota parte desta gravíssima maleita.
Quando regressei da Guiné, se não fossem as ajudas da minha esposa e da minha mãe não sei o que seria de mim.
Os sintomas têm vindo a diluir-se aos poucos, ao longo do tempo, mas ainda hoje sinto que algo não está bem comigo. A minha esposa diz que eu ando meio doido, porque, mal que me levanto, ligo logo o computador para ler, neste nosso blogue, as vossas últimas histórias, meus Amigos e Camaradas.
A Guiné está sempre comigo e, pelo andar da carruagem, estará até à morte.
Agora vou ao assunto objectivo deste e-mail:
Sobre o “escarnoso” Suplemento Especial de Pensão - Antigos Combatentes, gostava de reforçar o que foi dito sobre a nossa indignação e revolta, em postes anteriores, pelo Mário Pinto e pelo Eduardo Campos, o seguinte:
Em 2004 recebi 125,42 € + 52,92 € (primeiro Acréscimo Vitalício de Pensão)
Em 2005 recebi 114,94 € + Nada (evaporou-se o acréscimo vitalício)
Em 2006 recebi 120,24 € + Nada (evaporou-se o acréscimo vitalício)
Em 2007 recebi 123,96 € + Nada (evaporou-se o acréscimo vitalício)
Em 2008 recebi 127.32 € + Nada (evaporou-se o acréscimo vitalício)
Diz textualmente a carta que recebi em 2004:
Estes benefícios, que agora recebe pela primeira vez, serão pagos todos os anos.
Como não podia deixar de ser, relativamente a 2009, recebi hoje uma carta da CGA, onde, pelo valor que me é apresentado, logo me senti mais uma vez vítima de um escandaloso e incompreensível roubo.
Por 20 meses e 16 dias de comissão de guerra apenas tenho direito a… 75 €.
Têm razão o Pinto e o Eduardo estamos a ser ROUBADOS.
Não sei como estes políticos sem escrúpulos, não têm vergonha, nem consideração, por Homens como nós.
No 25 de Abril andavam fugidos no estrangeiro, ou escondidos pelas escuras vielas deste nosso Portugal, a fugir da ida para a guerra e a conspirar contra a guerra a que nós não conseguimos e não quisemos escapar, e agora acham que nós é que fomos os traidores.
Eu digo TRAIDORES e COBARDES foram eles.
Como não sabem, nem querem saber, o que todos nós passamos por lá, em terras africanas, estão-se nas tintas para os ex-Combatentes, só pensando em tratar das suas “vidinhas” e “encherem-se” o mais possível enquanto é tempo disso.
Atenção ao velho ditado que diz: “Não mexas na barriga do macho quando está a comer sem lhe saberes a manha, que pode dar um coice.”
É assim com tristeza que vivemos num país em que somos tratados abaixo de cão.
Nunca temi NADA, quando sabia que podia estar a ser alvo do inimigo, quanto mais agora como alvo de ignorantes, hipócritas e ressabiados politizecos de pacotilha.
Vamos à luta… não podemos parar.
Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426
__________
Nota de MR:
Vd. poste anterior desta série em:
13 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5103: Direito à Indignação (3): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Eduardo Campos)
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5107: Recortes de Imprensa (21): Revista da Liga dos Combatentes - Homenagens aos Combatentes (Ribeiro Agostinho)
1. Mensagem de Ribeiro Agostinho, ex-Soldado Radiotelefonista, Condutor Auto e Escriturário, QG/Bissau, 1968/70, com data de 10 de Outubro de 2009:
Caros amigos
Acabei de receber a Revista da Liga dos Combatentes e encontrei lá estas duas Homenagens que achei por bem dar-vos a conhecer.
Um grande abraço para os camaradas e amigos.
Agostinho
2. Comentário de CV:
Atendendo a que estamos a dias da tomada de posse dos novíssimos autarcas, achamos que era momento para dar a conhecer estes dois exemplos, que podem ajudar a despoletar inciativas semelhantes noutras autarquias onde ainda hoje continuamos esquecidos.
Com a devida vénia à Liga dos Combatentes, reproduzimos os recortes enviados pelo nosso camarada Ribeiro Agostinho
OBS:-As imagens podem ser ampliadas para melhor leitura. Basta clicar
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4951: Parabéns a você (26): Manuel José Ribeiro Agostinho, Escriturário no QG/CTIG, 1968/70 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4445: Recortes de imprensa (20): Jornal "O Mirante" - As lágrimas de um ex-combatente (Sousa de Castro)
Caros amigos
Acabei de receber a Revista da Liga dos Combatentes e encontrei lá estas duas Homenagens que achei por bem dar-vos a conhecer.
Um grande abraço para os camaradas e amigos.
Agostinho
2. Comentário de CV:
Atendendo a que estamos a dias da tomada de posse dos novíssimos autarcas, achamos que era momento para dar a conhecer estes dois exemplos, que podem ajudar a despoletar inciativas semelhantes noutras autarquias onde ainda hoje continuamos esquecidos.
Com a devida vénia à Liga dos Combatentes, reproduzimos os recortes enviados pelo nosso camarada Ribeiro Agostinho
INAUGURAÇÕES EM CAMINHA
OBS:-As imagens podem ser ampliadas para melhor leitura. Basta clicar
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4951: Parabéns a você (26): Manuel José Ribeiro Agostinho, Escriturário no QG/CTIG, 1968/70 (Os Editores)
Vd. último poste da série de 31 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4445: Recortes de imprensa (20): Jornal "O Mirante" - As lágrimas de um ex-combatente (Sousa de Castro)
Guiné 63/74 - P5106: História da CCAÇ 2679 (28): Mais visões quotidianas (José Manuel M. Dinis)
1. Mais um episódio da série História da CCAÇ 2679 enviado em 11 de Outubro de 2009 por José Manuel M. Dinis, ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71.
Mais visões quotidianas
De alguma maneira, lá, a vida parecia-se com a de uma dessas terras do farwest americano: não havia xerife, mas havia a Sala do Comando; não havia o saloon nem duelos, mas havia a Cantina onde se produziram cenas de porrada por causa de um copito que extravazava a medida; não havia currais para leiloar o gado das planícies, mas havia o arame que delimitava a acção das bestas; não havia índios, mas havia a população de pretos que viviam como nas reservas; o pessoal não vestia os uniformes jeans, mas apresentava-se com característicos camuflados; o pessoal não usava coldres ou rifles, mas andava armado em parvo, ou de G3 nas unhas. Eram de facto muitas as semelhanças com o farwest que alimentava as nossas memórias da juventude, através de leituras e observação de desenhos alusivos a uma plêiade de heróis, Ciscos e Zorros, Tontos e Silveres. O avanço perene da civilização, todavia, fizera substituir o transporte com recurso a cavalgaduras, por esse invento mecânico das viaturas a gasolina ou diesel, desenvolvidas e adaptadas às dificuldades climatéricas e rodoviárias.
A incerteza do dia-a-dia em que viviam os homens que conquistaram o território americano, era comparável com a mesma incerteza dos militares que tinham por missão, defender e consolidar o território conquistado e demarcado havia décadas. Com algumas diferenças relativas às cenas que o cinema westerniano popularizou, não havia duelos de pistoleiros, mas aconteciam ataques à fortificação, genuínos, com recurso a armamento mais destruidor, muito mais excitante do que os tiros de pólvora sêca e os rebentamentos controlados que os filmes gravavam. Além disso, os atiradores da 2679 saíam para o mato, não em quadrilhas, mas em grupos de combate que procuravam pistas do inimigo, para os combater e aniquilar. Corriam-se riscos verdadeiros a troco de quase nada. Relativamente às lutas protagonizadas pelas estrelas de Hollywood, os nossos militares ainda corriam o risco suplementar de pisar minas anti-pessoais, que garantiam, no mínimo, a perda de um membro, ou, seguindo de viatura, minas AC, que provocavam deflagrações de alguns quilos de explosivos com consequências indeterminadas.
Feitas as anteriores comparações básicas, separadas por um século na medida do tempo e da evolução, deve-se acrescentar que aos nossos mobilizados, dentro das zonas de quadrícula, ainda competiam tarefas quotidianas próprias da vida aquartelada, dado que era preciso garantir as actividades mínimas necessárias, como a cozinha, onde se preparava o rancho, a padaria adjacente, a oficina mecânica, a enfermaria, as transmissões, os depósitos de géneros e armamento, o gerador, etc, bem como as guardas e sentinelas.
Quer-se dizer: em pleno século vinte, mal conviviam as duas comunidades: os portugueses, dominadores, conviviam com a população preta na medida em que precisavam da prestação dos seus serviços, principalmente da parte feminina da população, e de umas trocas comerciais básicas, em que, por vezes, tinham que adjectivar os circunstanciais vendedores e resmungar umas ameaças para conter a inflação, enquanto de outras vezes eram vendedores de verdadeiras especiarias, como o vinho, devidamente crescido com uma razoável percentagem de água, umas peças de roupa, e alguma quinquilharia que esbugalhava os olhos ávidos de novidades e de progresso, conjunto de acções, através das quais exerciam um quotidiano civilizador. Era mais ou menos assim e, não nos esqueçamos, os portugueses são, seguramente, o povo mais miscegenador de entre os brancos.
Sob os alpendres molengavam os rapazes-atiradores, sempre que lhes sobrava tempo de qualquer actividade. Aqui, vivia-se perto do leste mais distante, considerado o território da Guiné, e Bissau como epicentro. Em Bajocunda sofria-se na iminência do esgotamento de stoques. Distante dos centros de decisão, das exigências e formalidades, na dependência de um xerife bastamente nabo, eram os milicianos que garantiam alguma proficuidade naquele pequeno bastião.
Mas havia vida para além da tropa. De facto, ali residia uma população que se dedicava a trabalhos de subsistência. No geral, os locais dedicavam-se a tarefas agricolas ou à pastorícia, e eram sedentários, e pouco conheciam do mundo para além do seu torrão. Deslocavam-se em visita a familiares, de um lado e outro da fronteira, ou em busca de uma qualquer mezinha. Não havia meios de transporte, pelo que faziam grandes distâncias a pé, auxíliados pela estimulante cola, que obviava à fome e à sede, garantindo energia. As comunicações sobre o mundo escasseavam e, na época, naquelas latitudes vivia-se os primórdios da rádio e as pessoas ainda não tinham despertado para as notícias em geral. Viviam no seu modo ancestral e quase fechado. A bicicleta era outra raridade a que poucos tinham acesso.
Na loja do Silva, prenhe de novidades e artigos de iminente necessidade, gastavam os parcos pesos na compra de panos, velas, fósforos, óleo, sal, sabão, tachos, panelas, e outros produtos básicos. Sob o alpendre da loja trabalhavam dois ou três alfaiates, que dominavam a técnica das máquinas de costura a pedal. Ao Silva vendiam parte das suas colheitas que ele intermediava com as grandes casas exportadores. Ainda funcionava outra casa comercial, e existia uma terceira de portas fechadas por força da idade avançada do proprietário branco. Noutro local funcionava irregularmente o talho, uma estrutura de paus, onde o magarefe suspendia as peças de carne, retalhava e vendia. Os animais eram abatidos no mato, e carregados às costas até ao sítio da venda. Na falta de frigorificos, o magarefe tinha que garantir a venda no dia de abate, pelo que era frequente deslocar-se a três ou quatro aldeias, para não ficar com sobras, onde os clientes compravam pequenas quantidades. As moscas redemoinhavam em redor das carnes ensanguentadas, como no Portugal antigo.
Outra romagem diária das populações era a visita à Enfermaria, em busca de cura para febres e inchaços, feridas e mezinhas que não tinham dado os resultados pretendidos. Eram sobretudo mulheres e crianças, que se juntavam numa algaraviada e choros incessantes. Lá, aplicava-se o que de melhor era produzido pelo Laboratório Militar, numa profusão de compressas, tinturas, comprimidos e injecções.
A meio da manhã ouvia-se a batucada de pilões, que transformavam o milho em pirão, a que se sucedia e espalhava o perfume característico dos cozinhados africanos com dendém. Era a hora de ponta, quando os militares começavam a deslocar-se para o centro, agrupavam-se em conversas e dichotes, a fazer tempo para o rancho.
A loja do Silva, com os alfaiates e clientes sob o alpendre
Estrutura de paus que servia de talho
Fotos: © José Manuel M. Dinis (2009). Direitos reservados
Outras vidas, outros caminhos
A vida estava a correr-me bem. Certamente que um imperativo de guerra podia provocar algum dano em algum de nós, que as colunas auto e as flagelações constituiam riscos consabidos, mas a minha vida melhorara bastante. Por um lado, o pessoal não me obrigava a especiais cuidados, quando o Pelotão estava escalado para o serviço interno, cada elemento sabia sabia o que tinha para fazer, e fazia; por outro, a actividade operacional, no que a saídas a pé dizia respeito, diminuíra consideravelmente, pois não havia saídas repentinas, conforme os palpites ou informações do Major de Piche. E não sei, se por distrção do COT-1, se por opção do Capitão, se por qualquer pressão ou relaxação, a verdade é que, apesar da tropa disponível, as coisas amainaram, e não tinham comparação com o que se praticara na sede do Sector L-4,
Queixas constantes eram as relativas à qualidade do tacho, na base da bianda com estilhaços, com algumas variantes para o esparguete e as salsichas de conserva. Alguém se enchia, seguramente, e como o Trapinhos era meio tonto, denunciava a ganância dos sargentos que tentavam ludibriá-lo na negociata, como se a partilha justa entre os três desse legitimidade ao gamanço. Era rídiculo, mas era assim, o mais alto responsável pela Companhia, o Capitão, confessava-se através de acusações espúrias aos capangas, o Primeiro e Segundo Sargentos.
Indiferentes a estas guerras, o pessoal continuava a dar o seu sacrifício em todas as circunstâncias e necessidades.
Uma noite que me calhou passar em Tabassi, interroguei o chefe de tabanca sobre o destino das armas que lhe foram entregues para a auto-defesa. Tinha sido assim mesmo, cerca de vinte armas G3, novas, ali distribuídas, nunca mais foram vistas. Referi-lhe que queria inspeccioná-las.
Tranquilo, muito tranquilo, com ar quase zombeteiro, o chefe de tabanca respondeu que o pessoal que as recebera andava a trabalhar na mancarra, ou na pastoricia, ausentes, portanto, pelo que não podia apresentar as armas. Insisti com ele, tratei-o por mentiroso. Perguntei-lhe se não havia homens na aldeia àquela hora e exigi que me levasse à preseça deles nas moranças. Contrariado, arrancou à minha frente por um caminho que levava à bolanha, do lado sul. Já tinha escurecido, escuro mais acentuado pela sombra das frondosas árvores que se interpunham com o fraquíssimo luar de um quarto crescente ou minguante, que me deixava à deriva no breu, e obrigava-me a um esforço de perseguição orientado pelo ruído da deslocação daquele ordinário, cada vez com mais distância entre nós, por força de duas ou três cabeçadas que dei em obstáculos invisiveis.
O cabrão gozou comigo
Na vez seguinte da minha presença na aldeia, mal ali cheguei, ainda na vigência da luz solar, dirigi-me à tabanca do chefe. O homem, acompanhado de outros homens grandes, três ou quatro, esperava-me, altivo, pernas abertas e braços cruzados sobre o peito, deixando ver duas granadas defensivas suspensas do pano que lhe servia de cinto.
Entrei a matar e sem delongas, se era então que ele tinha as armas para me mostrar. Que não, foi a resposta. Dirigi-me a ele, tirei-lhe as granadas e adverti-o de que não o queria voltar a ver com aquelas bombas, enquanto de seguida o molestei ostensivamente, referindo que ele não prestava, que era um merda de chefe de tabanca.
À surpresa dos velhos, e ao olhar atónito do visado, virei costas e fui à minha vida. Das armas nunca tive notícia. Nem parece que isso fosse importante.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5012: História da CCAÇ 2679 (27): Da História da Unidade (José Manuel M. Dinis)
Mais visões quotidianas
De alguma maneira, lá, a vida parecia-se com a de uma dessas terras do farwest americano: não havia xerife, mas havia a Sala do Comando; não havia o saloon nem duelos, mas havia a Cantina onde se produziram cenas de porrada por causa de um copito que extravazava a medida; não havia currais para leiloar o gado das planícies, mas havia o arame que delimitava a acção das bestas; não havia índios, mas havia a população de pretos que viviam como nas reservas; o pessoal não vestia os uniformes jeans, mas apresentava-se com característicos camuflados; o pessoal não usava coldres ou rifles, mas andava armado em parvo, ou de G3 nas unhas. Eram de facto muitas as semelhanças com o farwest que alimentava as nossas memórias da juventude, através de leituras e observação de desenhos alusivos a uma plêiade de heróis, Ciscos e Zorros, Tontos e Silveres. O avanço perene da civilização, todavia, fizera substituir o transporte com recurso a cavalgaduras, por esse invento mecânico das viaturas a gasolina ou diesel, desenvolvidas e adaptadas às dificuldades climatéricas e rodoviárias.
A incerteza do dia-a-dia em que viviam os homens que conquistaram o território americano, era comparável com a mesma incerteza dos militares que tinham por missão, defender e consolidar o território conquistado e demarcado havia décadas. Com algumas diferenças relativas às cenas que o cinema westerniano popularizou, não havia duelos de pistoleiros, mas aconteciam ataques à fortificação, genuínos, com recurso a armamento mais destruidor, muito mais excitante do que os tiros de pólvora sêca e os rebentamentos controlados que os filmes gravavam. Além disso, os atiradores da 2679 saíam para o mato, não em quadrilhas, mas em grupos de combate que procuravam pistas do inimigo, para os combater e aniquilar. Corriam-se riscos verdadeiros a troco de quase nada. Relativamente às lutas protagonizadas pelas estrelas de Hollywood, os nossos militares ainda corriam o risco suplementar de pisar minas anti-pessoais, que garantiam, no mínimo, a perda de um membro, ou, seguindo de viatura, minas AC, que provocavam deflagrações de alguns quilos de explosivos com consequências indeterminadas.
Feitas as anteriores comparações básicas, separadas por um século na medida do tempo e da evolução, deve-se acrescentar que aos nossos mobilizados, dentro das zonas de quadrícula, ainda competiam tarefas quotidianas próprias da vida aquartelada, dado que era preciso garantir as actividades mínimas necessárias, como a cozinha, onde se preparava o rancho, a padaria adjacente, a oficina mecânica, a enfermaria, as transmissões, os depósitos de géneros e armamento, o gerador, etc, bem como as guardas e sentinelas.
Quer-se dizer: em pleno século vinte, mal conviviam as duas comunidades: os portugueses, dominadores, conviviam com a população preta na medida em que precisavam da prestação dos seus serviços, principalmente da parte feminina da população, e de umas trocas comerciais básicas, em que, por vezes, tinham que adjectivar os circunstanciais vendedores e resmungar umas ameaças para conter a inflação, enquanto de outras vezes eram vendedores de verdadeiras especiarias, como o vinho, devidamente crescido com uma razoável percentagem de água, umas peças de roupa, e alguma quinquilharia que esbugalhava os olhos ávidos de novidades e de progresso, conjunto de acções, através das quais exerciam um quotidiano civilizador. Era mais ou menos assim e, não nos esqueçamos, os portugueses são, seguramente, o povo mais miscegenador de entre os brancos.
Sob os alpendres molengavam os rapazes-atiradores, sempre que lhes sobrava tempo de qualquer actividade. Aqui, vivia-se perto do leste mais distante, considerado o território da Guiné, e Bissau como epicentro. Em Bajocunda sofria-se na iminência do esgotamento de stoques. Distante dos centros de decisão, das exigências e formalidades, na dependência de um xerife bastamente nabo, eram os milicianos que garantiam alguma proficuidade naquele pequeno bastião.
Mas havia vida para além da tropa. De facto, ali residia uma população que se dedicava a trabalhos de subsistência. No geral, os locais dedicavam-se a tarefas agricolas ou à pastorícia, e eram sedentários, e pouco conheciam do mundo para além do seu torrão. Deslocavam-se em visita a familiares, de um lado e outro da fronteira, ou em busca de uma qualquer mezinha. Não havia meios de transporte, pelo que faziam grandes distâncias a pé, auxíliados pela estimulante cola, que obviava à fome e à sede, garantindo energia. As comunicações sobre o mundo escasseavam e, na época, naquelas latitudes vivia-se os primórdios da rádio e as pessoas ainda não tinham despertado para as notícias em geral. Viviam no seu modo ancestral e quase fechado. A bicicleta era outra raridade a que poucos tinham acesso.
Na loja do Silva, prenhe de novidades e artigos de iminente necessidade, gastavam os parcos pesos na compra de panos, velas, fósforos, óleo, sal, sabão, tachos, panelas, e outros produtos básicos. Sob o alpendre da loja trabalhavam dois ou três alfaiates, que dominavam a técnica das máquinas de costura a pedal. Ao Silva vendiam parte das suas colheitas que ele intermediava com as grandes casas exportadores. Ainda funcionava outra casa comercial, e existia uma terceira de portas fechadas por força da idade avançada do proprietário branco. Noutro local funcionava irregularmente o talho, uma estrutura de paus, onde o magarefe suspendia as peças de carne, retalhava e vendia. Os animais eram abatidos no mato, e carregados às costas até ao sítio da venda. Na falta de frigorificos, o magarefe tinha que garantir a venda no dia de abate, pelo que era frequente deslocar-se a três ou quatro aldeias, para não ficar com sobras, onde os clientes compravam pequenas quantidades. As moscas redemoinhavam em redor das carnes ensanguentadas, como no Portugal antigo.
Outra romagem diária das populações era a visita à Enfermaria, em busca de cura para febres e inchaços, feridas e mezinhas que não tinham dado os resultados pretendidos. Eram sobretudo mulheres e crianças, que se juntavam numa algaraviada e choros incessantes. Lá, aplicava-se o que de melhor era produzido pelo Laboratório Militar, numa profusão de compressas, tinturas, comprimidos e injecções.
A meio da manhã ouvia-se a batucada de pilões, que transformavam o milho em pirão, a que se sucedia e espalhava o perfume característico dos cozinhados africanos com dendém. Era a hora de ponta, quando os militares começavam a deslocar-se para o centro, agrupavam-se em conversas e dichotes, a fazer tempo para o rancho.
A loja do Silva, com os alfaiates e clientes sob o alpendre
Estrutura de paus que servia de talho
Fotos: © José Manuel M. Dinis (2009). Direitos reservados
Outras vidas, outros caminhos
A vida estava a correr-me bem. Certamente que um imperativo de guerra podia provocar algum dano em algum de nós, que as colunas auto e as flagelações constituiam riscos consabidos, mas a minha vida melhorara bastante. Por um lado, o pessoal não me obrigava a especiais cuidados, quando o Pelotão estava escalado para o serviço interno, cada elemento sabia sabia o que tinha para fazer, e fazia; por outro, a actividade operacional, no que a saídas a pé dizia respeito, diminuíra consideravelmente, pois não havia saídas repentinas, conforme os palpites ou informações do Major de Piche. E não sei, se por distrção do COT-1, se por opção do Capitão, se por qualquer pressão ou relaxação, a verdade é que, apesar da tropa disponível, as coisas amainaram, e não tinham comparação com o que se praticara na sede do Sector L-4,
Queixas constantes eram as relativas à qualidade do tacho, na base da bianda com estilhaços, com algumas variantes para o esparguete e as salsichas de conserva. Alguém se enchia, seguramente, e como o Trapinhos era meio tonto, denunciava a ganância dos sargentos que tentavam ludibriá-lo na negociata, como se a partilha justa entre os três desse legitimidade ao gamanço. Era rídiculo, mas era assim, o mais alto responsável pela Companhia, o Capitão, confessava-se através de acusações espúrias aos capangas, o Primeiro e Segundo Sargentos.
Indiferentes a estas guerras, o pessoal continuava a dar o seu sacrifício em todas as circunstâncias e necessidades.
Uma noite que me calhou passar em Tabassi, interroguei o chefe de tabanca sobre o destino das armas que lhe foram entregues para a auto-defesa. Tinha sido assim mesmo, cerca de vinte armas G3, novas, ali distribuídas, nunca mais foram vistas. Referi-lhe que queria inspeccioná-las.
Tranquilo, muito tranquilo, com ar quase zombeteiro, o chefe de tabanca respondeu que o pessoal que as recebera andava a trabalhar na mancarra, ou na pastoricia, ausentes, portanto, pelo que não podia apresentar as armas. Insisti com ele, tratei-o por mentiroso. Perguntei-lhe se não havia homens na aldeia àquela hora e exigi que me levasse à preseça deles nas moranças. Contrariado, arrancou à minha frente por um caminho que levava à bolanha, do lado sul. Já tinha escurecido, escuro mais acentuado pela sombra das frondosas árvores que se interpunham com o fraquíssimo luar de um quarto crescente ou minguante, que me deixava à deriva no breu, e obrigava-me a um esforço de perseguição orientado pelo ruído da deslocação daquele ordinário, cada vez com mais distância entre nós, por força de duas ou três cabeçadas que dei em obstáculos invisiveis.
O cabrão gozou comigo
Na vez seguinte da minha presença na aldeia, mal ali cheguei, ainda na vigência da luz solar, dirigi-me à tabanca do chefe. O homem, acompanhado de outros homens grandes, três ou quatro, esperava-me, altivo, pernas abertas e braços cruzados sobre o peito, deixando ver duas granadas defensivas suspensas do pano que lhe servia de cinto.
Entrei a matar e sem delongas, se era então que ele tinha as armas para me mostrar. Que não, foi a resposta. Dirigi-me a ele, tirei-lhe as granadas e adverti-o de que não o queria voltar a ver com aquelas bombas, enquanto de seguida o molestei ostensivamente, referindo que ele não prestava, que era um merda de chefe de tabanca.
À surpresa dos velhos, e ao olhar atónito do visado, virei costas e fui à minha vida. Das armas nunca tive notícia. Nem parece que isso fosse importante.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 25 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5012: História da CCAÇ 2679 (27): Da História da Unidade (José Manuel M. Dinis)
Guiné 63/74 – P5105: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (18): Mina antipessoal
1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 18ª história, com data de 10 de Outubro de 2009:
Mina antipessoal – parte II
Quarenta e tal anos depois... memórias do ex-Alferes Belmiro Tavares.
Estava em Bissau. Ao fim da tarde encontrei o Honório que me disse:
– Houve azar na tua Companhia. Fui buscar um soldado que chegou morto ao Hospital.
– Sabes como se chamava?
– Nascimento.
– É meu, porra!
Segui de táxi para o Hospital.
Mal cheguei dei de caras com o «Rato», o Cabo-Enfermeiro Martins.
Este estava no HM-241 a fazer tratamento de desparasitação (!?) e logo que me viu gritou-me a má nova:
- Morreu o Nascimento.
Estava agitadíssimo. Em cada três palavras dizia duas asneiras.
Já não sei como mas... seguiu-o pelos corredores do Hospital e fui dar a uma sala onde estava um corpo coberto por um lençol.
O «Rato» destapou o corpo e reconheci o corpo desnudado do Nascimento. Morto. Não tinha um pé.
Falei com o Médico de serviço.
– Como é que isto aconteceu? Por que morreu?
– Faleceu à saída da ambulância. Quando passou a porta do Hospital já não estava vivo.
Voltei a Bissau completamente destroçado. Recusava-me a acreditar!
Tinha conhecimento do caso de um militar que tinha ficado sem as 2 pernas e safou-se e o Nascimento estava morto... por ter ficado sem um pé!? Procurei e encontrei o Honório, a quem pedi mais pormenores sobre a evacuação.
Contou-me que estava muito mau tempo. Céu nublado baixo. A visibilidade era diminuta. Só um maluco é que arriscaria a descolagem de Bissau a caminho do Norte.
Está claro que foi o Honório. Fez voo rasante de Bissau a Binta, seguindo sempre o Rio Cacheu. Regressou com o ferido a Bissau sempre a baixa altitude. À chegada o ferido tinha o garrote desapertado. Foi metido numa ambulância a caminho do Hospital. Pouco depois rebenta um pneu da ambulância. Mais uma demora.
O último azar nesse dia terrível. Fatal para o Nascimento.Quando finalmente chegou ao Hospital era tarde demais.
O ex-Alferes Tavares desfia estas recordações com a voz embargada. Por vezes tem que parar de falar.
– Comigo em Binta, o Nascimento não teria pisado a mina anti-pessoal...Se junto a Santacoto «o trilho era recente», ele não devia ter sido pisado pela nossa tropa... Recordo o Nascimento como um soldado leal e frontal nas relações com os seus superiores. Não consigo esquecê-lo... Se lá estivesse ele podia estar vivo!
O ex-Alferes Tavares faz um longo silêncio.
– Oliveira... vamos ficar por aqui.
Mina antipessoal – parte III
Mais uma achega do Belmiro Tavares:
«O primeiro grande acto cívico da 675 aconteceu ainda na Guiné. Custeámos as transladações (urnas próprias) dos nossos 3 mortos em combate para que os corpos fossem entregues às famílias que tiveram assim a oportunidade de fazer funerais condignos. Caso contrário ficariam “esquecidos” algures na Guiné... a norte do Cacheu.»
Mais tarde acrescentou às suas “obrigações” tratar das lápides para as sepulturas dos companheiros que, pela ordem natural da vida, foram desaparecendo do número dos vivos.
E não só:Tivemos acesso a uma carta para os Pais do Soldado João Nunes do Nascimento – morto em combate em 30 de Julho de 1965, que é particularmente tocante.
«… Lisboa , 29 de Abril de 1968
Exmº. Senhor João Nascimento
…
O senhor não sabe quem eu sou mas vou dizer-lhe. Meu nome é Belmiro Tavares e sou Alferes Miliciano. Estive na Guiné de 1964 a 66 e fui comandante de pelotão a que pertenceu seu filho, o meu grande e saudoso amigo, João Nunes do Nascimento. Do fundo do coração peço desculpa por fazer sangrar mais uma vez a ferida que a morte do seu filho abriu no seu coração de pai mas eu, que tinha em grande consideração o seu filho, não podia por mais tempo calar este desejo íntimo, esta ânsia de desabafar e contactar com o pai dum dos meus soldados, o único do meu pelotão que tombou em defesa da Pátria. Aproveito a oportunidade para o felicitar pela educação esmerada que soube dar ao seu filho fazendo dele um modelo de virtudes e um bom português. Da consideração e estima que todos nós -oficiais, sargentos e soldados – tínhamos pelo seu filho já o senhor tem provas de sobejo e posso dizer-lhe, em abono da verdade, que o seu filho era um dos mais destacados soldados duma Companhia que se distinguiu na Guiné.
...
Dentro de dias, no dia cinco de Maio, um grupo de soldados da nossa Companhia reúne em Lisboa para mandar rezar uma missa por alma do seu filho e por alma de mais dois rapazes que para sempre nos abandonaram e que jamais poderemos esquecer… Ficar-lhe-íamos eternamente gratos se nos desse alegria da sua presença.
… Todos os anos no primeiro domingo de Maio a sua memória será reavivada por todos nós até que o bom Deus nos chame para junto dele.
…
a) Belmiro Tavares:
E os pais do Nascimento compareceram e compartilharam com os camaradas do seu filho a saudade e a memória do militar do 3º Pelotão, Soldado Atirador nº. 2.169/63, João Nunes do Nascimento.
Continua a não ser um final feliz. Mas o encontro com os Pais do Nascimento acrescentou dignidade e paz à família “675” que… não esquece e continua a honrar os seus mortos.
Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
9 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5085: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (17): Mina antipessoal
Guiné 63/74 - P5104: Notas de leitura (29): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2009:
Malta,
Aqui vai o resto da história.
Para quem é de lágrima fácil, temos aqui leitura altamente recomendada.
Foi pena o Júlio Magalhães não ter falado connosco. Há ali dislates de linguagem que teríamos ajudado a evitar.
Paciência.
O amor na guerra colonial chegou finalmente à literatura de massas. É esse o facto importante a assinalar.
Um abraço do
Mário
O amor antigamente, antes e depois de termos ido à guerra (2)
Beja Santos
“Um amor em tempos de guerra” é o segundo romance de Júlio Magalhães, um autor que insiste em apresentar-se como um jornalista que não ousa assumir-se como um escritor mas como contador de histórias (A Esfera dos Livros, 2009).
António, que é do Vimieiro e vizinho do Prof. Salazar, o Presidente do Conselho todo-poderoso que em 1961 determinou a ida para Angola “rapidamente e em força”, vai prestar serviço militar em Angola e depois de um ataque de forças do MPLA é dado como desaparecido em combate. Deixa em pranto a mãe, Maria das Dores, e a sua noiva, Amélia. Uma urna vazia desceu à terra, foi a última homenagem que lhe foi prestada em Portugal. Antes de ter desaparecido, apaixonara-se por uma angolana, Dulce, desses amores nasceu um filho.
Mas António não morreu. No meio dos tiros e do estrondo das granadas, dos companheiros de armas a tombarem, entre os gritos “mata que é branco”, ele foi feito prisioneiro, interrogado e torturado. Com um pé ligado e esfacelado, a pele ainda manchada e um braço partido, António resistiu às torturas. Não sabia onde estava, se no Norte ou no Sul de Angola. Em concreto, estava com outros 8 prisioneiros. E assim se passaram quase três anos. A vida de Amélia mudou, durante dois anos manteve luto cerrado, continuou a ensinar na escola da sua terra. Osvaldo foi ganhando coragem e confessou-lhe o seu amor. Amélia não o amava mas estava convicta que podia encontrar paz e serenidade ao seu lado. Casaram em Agosto de 1973. Viviam no Rojão, muito perto de Venda do Sebo, Vimieiro e Ovoa, lugares importantes na vida de António e Amélia.
No cativeiro, António prepara a fuga de todos os prisioneiros e vão dar a uma aldeia onde reencontra o seu amigo Brito, que conhecera no quartel de Chaves. António e os sobreviventes tinham ido parar ao Negage, no Norte de Angola. Brito conta-lhe tudo, estavam em Agosto de 1975, Brito era agora mercenário junto da FNLA, iam agora seguir para o Ambriz, juntar-se a tropas rodesianas, o objectivo era tomar Luanda ao MPLA.
António escreve uma carta para Maria das Dores, conta-lhe que fugiu e que vai regressar. Maria das Dores sente-se enlouquecer, faz um pacto de silêncio com Manel, o taberneiro da terra, a quem conta tudo. António vai à procura de Dulce em São Salvador. Descobre que a fazenda de Carlos Freitas fora abandonada, o fazendeiro fugira com a família mas Dulce viva em São Salvador. Dá-se o reencontro, Dulce apresenta-lhe o filho, voltam a amar-se. Discutem o futuro, Dulce pede para ele regressar a Portugal, ela vai ficar, quer colaborar na reconstrução do seu país, ele parte com uma fotografia do filho.
Maria das Dores e António reencontram-se no aeroporto da Portela, Maria das Dores viera com o padre Jorge e o Manuel da taberna. O aeroporto está pejado de retornados. E depois viajam de comboio até Santa Comba Dão, aqui espera-os uma festa, toda a povoação veio saudar o morto vivo. Todos os camaradas de guerra, das amizades de Chaves e Angola, estão na estação.
Amélia entra em estado choque, começa uma encruzilhada na sua vida, pede ajuda a Osvaldo, a princípio tudo parece que vai ter um bom desfecho e que a moral convencional vai vingar. Mas o drama amoroso vai ganhar proporções enormes, Osvaldo modifica-se, obriga a mulher a ir para Coimbra, arranja amantes, toma consciência dos verdadeiros sentimentos de Amélia. E Amélia regressa, irá refazer a sua vida com António.
Estamos no presente, António, o seu filho angolano, é um brilhante piloto da TAAG, António tem 59 anos e do seu casamento com Amélia há duas filhas. Juntam-se todos com os camaradas de guerra nas festas da Santa Eufémia e Joaquim Fortuna anuncia que vai lançar o seu livro “O amor em tempos de guerra”.
É este o happy end de um livro que usa todos os artifícios para chegar ao grande público e que fala das grandes mudanças de mentalidades que vivemos depois do 25 de Abril. Estamos ali todos, os que amávamos à moda antiga e que aprendemos a mudar, a olhar o mundo e os seres humanos com outros olhos. Um livro que vai emocionar muita gente.
__________
Nota de CV:
Vd. poste de 10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5089: Notas de leitura (28): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)
Malta,
Aqui vai o resto da história.
Para quem é de lágrima fácil, temos aqui leitura altamente recomendada.
Foi pena o Júlio Magalhães não ter falado connosco. Há ali dislates de linguagem que teríamos ajudado a evitar.
Paciência.
O amor na guerra colonial chegou finalmente à literatura de massas. É esse o facto importante a assinalar.
Um abraço do
Mário
O amor antigamente, antes e depois de termos ido à guerra (2)
Beja Santos
“Um amor em tempos de guerra” é o segundo romance de Júlio Magalhães, um autor que insiste em apresentar-se como um jornalista que não ousa assumir-se como um escritor mas como contador de histórias (A Esfera dos Livros, 2009).
António, que é do Vimieiro e vizinho do Prof. Salazar, o Presidente do Conselho todo-poderoso que em 1961 determinou a ida para Angola “rapidamente e em força”, vai prestar serviço militar em Angola e depois de um ataque de forças do MPLA é dado como desaparecido em combate. Deixa em pranto a mãe, Maria das Dores, e a sua noiva, Amélia. Uma urna vazia desceu à terra, foi a última homenagem que lhe foi prestada em Portugal. Antes de ter desaparecido, apaixonara-se por uma angolana, Dulce, desses amores nasceu um filho.
Mas António não morreu. No meio dos tiros e do estrondo das granadas, dos companheiros de armas a tombarem, entre os gritos “mata que é branco”, ele foi feito prisioneiro, interrogado e torturado. Com um pé ligado e esfacelado, a pele ainda manchada e um braço partido, António resistiu às torturas. Não sabia onde estava, se no Norte ou no Sul de Angola. Em concreto, estava com outros 8 prisioneiros. E assim se passaram quase três anos. A vida de Amélia mudou, durante dois anos manteve luto cerrado, continuou a ensinar na escola da sua terra. Osvaldo foi ganhando coragem e confessou-lhe o seu amor. Amélia não o amava mas estava convicta que podia encontrar paz e serenidade ao seu lado. Casaram em Agosto de 1973. Viviam no Rojão, muito perto de Venda do Sebo, Vimieiro e Ovoa, lugares importantes na vida de António e Amélia.
No cativeiro, António prepara a fuga de todos os prisioneiros e vão dar a uma aldeia onde reencontra o seu amigo Brito, que conhecera no quartel de Chaves. António e os sobreviventes tinham ido parar ao Negage, no Norte de Angola. Brito conta-lhe tudo, estavam em Agosto de 1975, Brito era agora mercenário junto da FNLA, iam agora seguir para o Ambriz, juntar-se a tropas rodesianas, o objectivo era tomar Luanda ao MPLA.
António escreve uma carta para Maria das Dores, conta-lhe que fugiu e que vai regressar. Maria das Dores sente-se enlouquecer, faz um pacto de silêncio com Manel, o taberneiro da terra, a quem conta tudo. António vai à procura de Dulce em São Salvador. Descobre que a fazenda de Carlos Freitas fora abandonada, o fazendeiro fugira com a família mas Dulce viva em São Salvador. Dá-se o reencontro, Dulce apresenta-lhe o filho, voltam a amar-se. Discutem o futuro, Dulce pede para ele regressar a Portugal, ela vai ficar, quer colaborar na reconstrução do seu país, ele parte com uma fotografia do filho.
Maria das Dores e António reencontram-se no aeroporto da Portela, Maria das Dores viera com o padre Jorge e o Manuel da taberna. O aeroporto está pejado de retornados. E depois viajam de comboio até Santa Comba Dão, aqui espera-os uma festa, toda a povoação veio saudar o morto vivo. Todos os camaradas de guerra, das amizades de Chaves e Angola, estão na estação.
Amélia entra em estado choque, começa uma encruzilhada na sua vida, pede ajuda a Osvaldo, a princípio tudo parece que vai ter um bom desfecho e que a moral convencional vai vingar. Mas o drama amoroso vai ganhar proporções enormes, Osvaldo modifica-se, obriga a mulher a ir para Coimbra, arranja amantes, toma consciência dos verdadeiros sentimentos de Amélia. E Amélia regressa, irá refazer a sua vida com António.
Estamos no presente, António, o seu filho angolano, é um brilhante piloto da TAAG, António tem 59 anos e do seu casamento com Amélia há duas filhas. Juntam-se todos com os camaradas de guerra nas festas da Santa Eufémia e Joaquim Fortuna anuncia que vai lançar o seu livro “O amor em tempos de guerra”.
É este o happy end de um livro que usa todos os artifícios para chegar ao grande público e que fala das grandes mudanças de mentalidades que vivemos depois do 25 de Abril. Estamos ali todos, os que amávamos à moda antiga e que aprendemos a mudar, a olhar o mundo e os seres humanos com outros olhos. Um livro que vai emocionar muita gente.
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Nota de CV:
Vd. poste de 10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5089: Notas de leitura (28): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Guiné 63/74 - P5103: Direito à Indignação (3): Abaixo de cão, isto é uma vergonha (Eduardo Campos)
1. O nosso camarada Eduardo Campos, ex-1º Cabo Trms da CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74, enviou-nos a seguinte mensagem:
Camaradas,
Estou chocado, mas não surpreendido, pois nós, os ex-Combatentes, sempre fomos tratados abaixo de cão pelos governantes deste país.
Estou reformado à 4 anos e o primeiro valor que recebi do Suplemento Especial de Pensão - Antigos Combatentes foi de 168,00 €, em 2008 a quantia subiu uns Euros para 176,49 € (ver carta em anexo) e em 2009 (carta também em anexo) desceu para uns míseros 150,00 €.
Não está em causa o valor, que em si era já insignificante, mas ainda por cima agora no presente ano, vejo o valor reduzido escandalosamente em 26,49 €, nada mais nada menos que 15 %, em relação ao recebido o ano passado.
Se algum dos Camaradas, que ler esta mensagem, tiver conhecimento (e caso seja possível fazer isso), peço que me informe do modo como hei-de proceder, para devolver esta revoltante, desprestigiante e enxovalhante importância que me foi enviada, aos nossos “queridos” governantes.
Um abraço Amigo,
Eduardo Campos
1º Cabo Trms da CCAÇ 4540,
_____________
Notas de M.R.:
Vd. postes relacionados com esta matéria em:
7 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5072: Direito à indignação (1): Abaixo de cão, isto é uma vergonha! (Mário Pinto)
Guiné 63/74 - P5102: Em busca de... (97): Francisco Martins, ex-1.º Cabo das CCAV 2525 e 2485 procura camaradas
1. Mensagem de Francisco Cunha das CCAVs 2525 e 2485, que nos pede ajuda para encontrar antigos camaradas:
Olá camarada,
Sou o Francisco da Cunha Martins (o Braga) ou o 1.° Cabo MARTINS, NM 14347768.
Andei na Guiné de 1968 a 1971 na CCAV 2525 e CCAV 2485.
Gostava de iniciar contactos com os camaradas da minha Companhia (mail, fotos, etc....).
Seguem umas fotos tiradas na altura na Guiné.
Qualquer informação, por favor, contactar: looping1942@hotmail.com ou maito:marc-bruno.martins@ratp.fr
Agradeço sua ajuda.
Cumprimentos
Francisco da Cunha Martins
2. Comentário de CV:
Caro Francisco Martins
Fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e encontrei alguém da CCAV 2525 a pedir contactos. É ele, António Gabriel com o telemóvel 964 249 241.
Entretanto vamos ver se através deste poste aparece mais alguém.
Com votos de saúde e felicidades por terras de França, deixo um abraço.
Carlos Vinhal
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5100: Em busca de... (96): Procuro Radiomontador, Sousa ou Santos, que esteve comigo em Galomaro (Carlos Filipe Coelho, CCS/BCAÇ 3872)
Olá camarada,
Sou o Francisco da Cunha Martins (o Braga) ou o 1.° Cabo MARTINS, NM 14347768.
Andei na Guiné de 1968 a 1971 na CCAV 2525 e CCAV 2485.
Gostava de iniciar contactos com os camaradas da minha Companhia (mail, fotos, etc....).
Seguem umas fotos tiradas na altura na Guiné.
Qualquer informação, por favor, contactar: looping1942@hotmail.com ou maito:marc-bruno.martins@ratp.fr
Agradeço sua ajuda.
Cumprimentos
Francisco da Cunha Martins
2. Comentário de CV:
Caro Francisco Martins
Fui à Página do nosso camarada Jorge Santos e encontrei alguém da CCAV 2525 a pedir contactos. É ele, António Gabriel com o telemóvel 964 249 241.
Entretanto vamos ver se através deste poste aparece mais alguém.
Com votos de saúde e felicidades por terras de França, deixo um abraço.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5100: Em busca de... (96): Procuro Radiomontador, Sousa ou Santos, que esteve comigo em Galomaro (Carlos Filipe Coelho, CCS/BCAÇ 3872)
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