1. Mensagem de Mário Beja Santos, (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Outubro de 2009:
Malta,
Aqui vai o resto da história.
Para quem é de lágrima fácil, temos aqui leitura altamente recomendada.
Foi pena o Júlio Magalhães não ter falado connosco. Há ali dislates de linguagem que teríamos ajudado a evitar.
Paciência.
O amor na guerra colonial chegou finalmente à literatura de massas. É esse o facto importante a assinalar.
Um abraço do
Mário
O amor antigamente, antes e depois de termos ido à guerra (2)
Beja Santos
“Um amor em tempos de guerra” é o segundo romance de Júlio Magalhães, um autor que insiste em apresentar-se como um jornalista que não ousa assumir-se como um escritor mas como contador de histórias (A Esfera dos Livros, 2009).
António, que é do Vimieiro e vizinho do Prof. Salazar, o Presidente do Conselho todo-poderoso que em 1961 determinou a ida para Angola “rapidamente e em força”, vai prestar serviço militar em Angola e depois de um ataque de forças do MPLA é dado como desaparecido em combate. Deixa em pranto a mãe, Maria das Dores, e a sua noiva, Amélia. Uma urna vazia desceu à terra, foi a última homenagem que lhe foi prestada em Portugal. Antes de ter desaparecido, apaixonara-se por uma angolana, Dulce, desses amores nasceu um filho.
Mas António não morreu. No meio dos tiros e do estrondo das granadas, dos companheiros de armas a tombarem, entre os gritos “mata que é branco”, ele foi feito prisioneiro, interrogado e torturado. Com um pé ligado e esfacelado, a pele ainda manchada e um braço partido, António resistiu às torturas. Não sabia onde estava, se no Norte ou no Sul de Angola. Em concreto, estava com outros 8 prisioneiros. E assim se passaram quase três anos. A vida de Amélia mudou, durante dois anos manteve luto cerrado, continuou a ensinar na escola da sua terra. Osvaldo foi ganhando coragem e confessou-lhe o seu amor. Amélia não o amava mas estava convicta que podia encontrar paz e serenidade ao seu lado. Casaram em Agosto de 1973. Viviam no Rojão, muito perto de Venda do Sebo, Vimieiro e Ovoa, lugares importantes na vida de António e Amélia.
No cativeiro, António prepara a fuga de todos os prisioneiros e vão dar a uma aldeia onde reencontra o seu amigo Brito, que conhecera no quartel de Chaves. António e os sobreviventes tinham ido parar ao Negage, no Norte de Angola. Brito conta-lhe tudo, estavam em Agosto de 1975, Brito era agora mercenário junto da FNLA, iam agora seguir para o Ambriz, juntar-se a tropas rodesianas, o objectivo era tomar Luanda ao MPLA.
António escreve uma carta para Maria das Dores, conta-lhe que fugiu e que vai regressar. Maria das Dores sente-se enlouquecer, faz um pacto de silêncio com Manel, o taberneiro da terra, a quem conta tudo. António vai à procura de Dulce em São Salvador. Descobre que a fazenda de Carlos Freitas fora abandonada, o fazendeiro fugira com a família mas Dulce viva em São Salvador. Dá-se o reencontro, Dulce apresenta-lhe o filho, voltam a amar-se. Discutem o futuro, Dulce pede para ele regressar a Portugal, ela vai ficar, quer colaborar na reconstrução do seu país, ele parte com uma fotografia do filho.
Maria das Dores e António reencontram-se no aeroporto da Portela, Maria das Dores viera com o padre Jorge e o Manuel da taberna. O aeroporto está pejado de retornados. E depois viajam de comboio até Santa Comba Dão, aqui espera-os uma festa, toda a povoação veio saudar o morto vivo. Todos os camaradas de guerra, das amizades de Chaves e Angola, estão na estação.
Amélia entra em estado choque, começa uma encruzilhada na sua vida, pede ajuda a Osvaldo, a princípio tudo parece que vai ter um bom desfecho e que a moral convencional vai vingar. Mas o drama amoroso vai ganhar proporções enormes, Osvaldo modifica-se, obriga a mulher a ir para Coimbra, arranja amantes, toma consciência dos verdadeiros sentimentos de Amélia. E Amélia regressa, irá refazer a sua vida com António.
Estamos no presente, António, o seu filho angolano, é um brilhante piloto da TAAG, António tem 59 anos e do seu casamento com Amélia há duas filhas. Juntam-se todos com os camaradas de guerra nas festas da Santa Eufémia e Joaquim Fortuna anuncia que vai lançar o seu livro “O amor em tempos de guerra”.
É este o happy end de um livro que usa todos os artifícios para chegar ao grande público e que fala das grandes mudanças de mentalidades que vivemos depois do 25 de Abril. Estamos ali todos, os que amávamos à moda antiga e que aprendemos a mudar, a olhar o mundo e os seres humanos com outros olhos. Um livro que vai emocionar muita gente.
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Nota de CV:
Vd. poste de 10 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5089: Notas de leitura (28): Um Amor em Tempos de Guerra, de Júlio Magalhães (Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Estive com a minha mulher no lançamento do livro de Júlio Magalhães, que, amavelmente e antes de iniciada a apresentação, assinou o livro.
Falamos deste livro e dos Retornados, que incluiu uma passagem sobre a transladação do Sargento Teixeira da Mota para Portugal.
Falei-lhe no nosso blogue e outras páginas, tendo-me pedido para lhe enviar os endereços.
Quem sabe se o próximo livro do Julio Magalhães será inspirado na Guine?
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