1. O nosso Camarada Jorge Rosales enviou-nos uma mensagem, com a colaboração informática do Vasco da Gama (ex-Cap Mil – Comandante da CCAV 8351 - Os Tigres de Cumbijã -, Cumbijã, 1972/74), que escreveu no seu e-mail a seguinte introdução:
Camaradas e Amigos,
Recebi, há dias, ordens expressas de um homem de Farda Amarela, Jorge Rosales de seu nome, para que passasse a letra de forma um manuscrito de sua autoria, e que de seguida o enviasse para a nossa Tabanca Grande.
Bati com os calcanhares com o vigor dos meus sessenta e três anos e prontifiquei-me de imediato a cumprir ordens do velhinho, com idade não muito própria para ser divulgada em público, pois o camarada, ainda por cima, me ameaçou com "cada um na sua especialidade" e, de seguida, se quiseres aprender a jogar futebol... já sabes".
Sabendo os meus camaradas editores como eu sou um "nabo" em coisas de informática, vejam lá o meu acrescido fado, se tivesse que ir aprender a jogar à bola com um menino do Estoril.
Sei que, durante muitos anos, o Rosales foi jogador de futebol do Estoril Praia, tendo também passado um anito, salvo erro, pela Académica de Coimbra, mas, a bem dizer, um na informática e outro no futebol... cala-te boca...
O meu e nosso camarada Jorge Rosales veio até mim pela mão doutro menino da linha, o nosso camarada José Dinis, conceituado “pipi” de Cascais e um dos nossos brilhantes tabanqueiros.
Como é bom ter à minha volta gente desta...
Um abraço Amigo para todos,
Vasco da Gama
Cap Mil da CCAV 8351
HOMENS GRANDES
Depois de dez dias entre Bissau e Farim, vejo-me a caminho de Porto Gole, Geba acima, a favor da maré; ia num barco da casa “Gouveia”, que levava géneros para Porto Gole e, talvez, Xime e Enxalé…
No barco, sentia-me ansioso, apreensivo: Mafra, Cica 2, viagem no “ Alfredo da Silva”, com passagem pelo Mindelo e Praia, pertenciam ao passado.
Tentava adivinhar qual a reacção do pelotão veterano de Porto Gole, à chegada do Alferes “maçarico”. Era, para mim, um salto no escuro...
À minha espera, como maior graduado, estava o 1º Sargento Alface. Foi ele que me orientou, com os seus conselhos e “palpites”.
Tinha a sabedoria de transmitir, com subtileza, a sua experiência coisa que não vem nos livros… adquire-se.
Para o Abna Na Onça, capitão de segunda linha, o Alface era o confidente, o amigo leal; fez questão de tornar o Alface, seu irmão de sangue.
Assisti à cerimónia de troca de sangue destes dois homens, com os braços unidos.
Num fim de tarde, na sua tabanca, o Abna chamou-me para me mostrar, com orgulho, a sua assinatura: “ Abna na Onça Alface”.
Foi, para mim, um privilégio conviver com estes dois “Homens Grandes“.
Um, balanta de Porto Gole, o outro, alentejano do Cano.
O Abna morreu em combate, em Bissá, Abril de 1967, como relata o Abel Rei no seu livro, “Entre o Paraíso e o Inferno“.
O Alface, também já não está entre nós, vítima de atropelamento na zona de Lisboa.
A “Tabanca Grande“ fez-me voltar à Guiné, às suas recordações… e a mais forte, de todas elas, deu motivo a este relato.
Um abraço,
Jorge Rosales
Alf Mil Inf
Fotos: Jorge Rosales (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
4 comentários:
Caro Rosales,
Parabéns!
Chegaste junto de nós.
Vais verificar que valeu a pena.
É um cantinho bom a Nossa Tabanca.
Por vezes aparece um tornadozito nada que se compare com os da Guiné, mas a malta tem munições já a envelhecer e a arma sem fazer fogo. Vá de desenfurrejar o cano da G3. É fogo de vista, pois é tudo malta porreira.
Benvindo pois e venham as tuas histórias da Guiné e Porto Gole.
Sempre ao dispor. Um abraço do tamanho do Cumbijã,
Mário Fitas
Bem vindo Jorge Rosales
É sempre bom receber novos camaradas na tabanca, só que, desta vez, é um dos "antigos com farda amarela" e ainda da 1ª CCAÇ I, que foi a génese da 3ª CCAÇ I (Nova Lamego), que deu lugar, em 01ABR67 à CCAÇ 5, onde servi.
Aquele abraço de boas vindas e amizade.
José Martins
Jorge,
Essa estória precede outras relativas aos mesmos intérpretes,nos cenários da Guiné. É só afiares o lápis, passas para o papel as notas essenciais, requisitas o Vasco, até podes convocar testemunhas, e a mim para reportar.
Será boa ideia que alguém se preocupe com a intendência, e a melhor escolha de fluxos. Qualquer sombra debaixo de um chaparro pode tornar-se boa amesendação.
Depois o Vasco trata do assunto, que nós aqui na linha não podemos perder oportunidades para divulgar o melhor deste país.
Bóra pá, não percas tempo.
Abraços
José Dinis
Caro Rosales,
Mais vale tarde do que nunca.
Por razões de vária ordem,a que não escapa a disponibilidade,ou falta dela,no tocante à utilização
da"máquina infernal", passou despercebida esta descrição simples mas carregada de humanismo
onde dois homens fazem o pacto de sangue, definindo-se como irmãos partilhando o mesmo sangue.
Foi na generalidade das situações,aquilo que quase todos nós fizemos em África,espalhar fraternidade,solidariedade.
É isto que ainda hoje continuamos
a fazer.
Um grande abraço para ti e para o Vasco,um dos expoentes desse tipo de comportamentos.
Manuel maia
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