segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Guiné 63/74 - P5099: História de vida (24): Patrício Ribeiro, 62 anos, "filho da escola", ex-grumete fuzileiro, empresário, a trabalhar e a viver na Guiné-Bissau desde 1984. apanhado do clima...


Foto nº 1 > Patrício Ribeiro, grumete fuzileiro, na fragata NRP Comandante João Belo, c. 1969... Este navio, construído nos estaleiros de Nantes, França, esteve ao serviço da nossa Marinha de 1967 a 2008



Foto nº 2 > Guiné-Bissau > Bolama > s/d > Cais > Uma canoa nhominca, para transporte de passageiros

Fotos: © Patrício Ribeiro (2009). Direitos reservados


1. Texto do Patrício Ribeiro, um dos nossos "agentes" em Bissau, membro do nosso blogue desde Janeiro de 2006 (*)


Lisboa, 11.10.09

Bom dia, Luis, junto elementos em falta no blogue, que poderão publicar se acharem necessário.

Aí vão, para actualizar a minha biografia no blogue (**).

Imagina s artistas que nós somos…

O Estado Português vai pagar-me, por eu ter dado um passeio no navio João Belo (ver foto acima, nº 1) 2 660 dias (para efeitos de reforma)… Já falta pouco, hoje, 11.10.09, faço 31 em cada perna…

Também dei uma volta no navio Vasco da Gama [, 1998, em plena guerra civil, na Guiné-Bissau, resgatandio uma série de portugueses e guineenses], mas por isso não pagaram nada… nem uma medalha de cortiça… . Enfim, outras guerras

Gosto mais das canoas Inhomincas, são mais ventiladas. (ver foto acima, nº 2 , no porto de Bolama).

Agradeço os comentários sobre mim no blogue… Devido à minha vida de andanças pelo mato, e de dificuldade muitas vezes no acesso à Net, quero informar o seguinte:

(i) Nasci nas margens do Rio Vouga, centro do mundo, sou vizinho do D. Duarte Lemos, frequentei a Escola Industrial de Águeda;

(ii) fui Fuzileiro (Gr FZ) [, portanto "filho da escola"];

(iii) passei por Bissalanca em 1969, estava muito calor…Como não tinha roupa apropriada (tinha deixado o camuflado em Vale do Zebro, na escola de Fuzileiros), mandaram-me seguir para Luanda…

(iv) ao fim de uns anos, deixaram-me ir para casa, em Luanda, em 1972...

(v) por lá fiquei até ao último avião, da ponte aérea para Lisboa… Enfim, outras guerras.

(v) a minha família viveu dezenas de anos no Huambo (, antiga Nova Lisbao): pai, mãe e irmãos, etc.

(vi) minha mulher é natural do Huambo;

(vi) Por questões profissionais, em 1984 fui para Bissau. Gostei, fiquei…Pagam-me para fazer coisas que gosto, em locais de difícil acesso, e porque é uma aventura permanente… já não sei viver sem ela!

PS - Cá vai: 2 660 dias / para a reforma… foto da tropa, posto, data de nascimento.


Patricio Ribeiro

IMPAR Lda (***)

Av Domingos Ramos 43D - C.P. 489 - Bissau,

Guiné Bissau > Tel / Fax 00 245 3214385, 6623168, 7202645

Lisboa > Tel / Fax 00 351 218966014

http://www.imparbissau.com/

impar_bissau@hotmail.com

2. Comentário de L.G.:

Patrício, os parabéns pelas tuas lindas 62 primaveras já vão atrasados, mas o Carlos Vinhal, que toca muitos pianos, ainda não tem o divino dom de adivinhar... Para o ano, se formos todos vivos, lá terás, no dia 11 de outubro de 2010, o teu postezinho com os nossos Parabéns a Você... (O Carlos já vai actualizar o teu cadastro).

Obrigado, pelas tuas fotos e pelos elementos biográficos que nos ajudam a aperceber um pouco melhor a tua opção de vida, que foi há 25 anos ir trabalhar e viver na Guiné-Bissau...

Desculpa-me de há tempos ter-te postado a nascer em Angola... Afinal, és um tuga beirão, nascido na terra do nosso Paulo Santiago... Explica-me melhor o que são essas canoas nhomincas (termo que não encontrei no dicionário...). E sobretudo continuas a ser a nossa ponte com a Guiné-Bissau de hoje... Toma cuidado contigo. Boa saúde e bom trabalho. Dá um abraço ao Pepito e aos nossos demais amigos comuns. Luís Graça
_____

Notas de L.G.:

(*) Postes de (ou sobre) o Patrício Ribeiro, publicados no nosso blçogue (I e II Séries):

4 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5050: Efemérides (23): Declaração da Independência em 24 de Setembro decorreu não em Madina do Boé mas Lugajole (Patrício Ribeiro)

8 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4655: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (4): Mãos à obra, rapaziada ! (Patrício Ribeiro)

6 de Junho de 2009 > Guiné 64/74 - P4469: Grupo dos Amigos da Capela de Guileje (1): Já temos três: Patrício Ribeiro, António Cunha e Manuel Reis

12 de Março de 2009 >Guiné 63/74 - P4016: Ser solidário (29): Unidos no passado, unidos no presente (Pepito / Carlos Fortunato)
´
29 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3812: Dicas para o viajante e o turista (7): Viagens pelo sul da Guiné-Bissau (Patrício Ribeiro)

13 de Janeiro de 2009> Guiné 63/74 - P3732: Fauna & flora (6): A mensagem da Maria Joana e a resposta do Patrício Ribeiro

6 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3705: As Boas Festas da Nossa Tabanca Grande (13): O jacaré da praia do Biombo (Patrício Ribeiro)

5 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1402: Um bom ano de 2007 a partir de Mejo, Guileje (Patrício Ribeiro).

2 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXII: Mais um amigo em Bissau (Patrício Ribeiro

(**) Vd. últimpo poste da série História de Vida:

1 de Outubro de 2009 >Guiné 63/74 - P5038: História de vida (15): Maria da Glória, uma saudosa filha com um dom especial para o fado (Cristina Allen)

(***) No sítio da empresa pode ler-se (passe a publicidade):

Há 20 anos que fornecemos e instalamos equipamento fotovoltaico na Guiné Bissau

Numa região com as caracteristicas da Guiné, existe a necessidade de criar empresas especializadas, que participem no desenvolvimento económico-financeiro do país.

Impar é uma empresa com muitos anos de experiência nas áreas de fornecimento de material para necessidades básicas, como fornecimento de energia, comunicações, pesca, apicultura, etc, tornando-se assim uma importante empresa na sua região.

Na nossa empresa vai encontrar diversas soluções, para as suas necessidades energéticas ou de comunicação.Consequentemente, temos colaborado na melhoria do nível de vida dos habitantes Guineenses, com o objectivo de satisfazer um público cada vez mais exigente

(...) Com um currículo de mais de Quatrocentas Instalações Fotovoltaicas em território Guineense, a Impar é lider na sua área. (...).

2 comentários:

Luís Graça disse...

Hesitei em chamar-lhe "africanista"... O termo está conotado com o passado da expansão colonial: o homem, o especialista que "explora" ou "estuda" África... Um explorador como Serpa Pinto, mas também um antropólogo, um etnólogo, um especialista em "estudos africanos" (por exemplo, como o Eduardo Costa Dias, do ISCTE, meu amigo, amigo da Guiné-Bissau...).

Por outro lado, o termo também está conotado com nacionlismo pa-africano... Amílcar Cabral e Nelson Mandela, por exemplo, são vistos muitas vezes como "africanistas", "pan-africanistas", homens que têm ou tinham uma certa ideia de África, pós-colonial, continental, independente, desenvolvida, solidária, plurirracial...

Em contrapartida, "apanhado do clima" é uma expressão, divertida mas ambígua, do nosso calão de caserna, do tempo da guerra colonial (1963/74)...

A ironia é óbvia: O Patrício tem uma larga vivência de África, nasceu em Portugal (Águeda) mas foi cedo, com a família, para o Huambo, Angola... Tem muitissimos mais anos de África do que de Portugal: deve ter regressado em 1975 ao Puto, coimo "retornado" (um termno que felizmente se ouve cada vez menos...), para, passados menos de 10 anos, ter voltado a África, neste caso á Guiné, por razões aparentemente profissionais... (Não acredito no "apelo misterioso" da
Africa profunda...).

E lá está ele, há 25 anos, um quarto de século, não se imaginando já capaz de viver e trabalhar noutro sítio... mas sobrevivendo a tudo o que mata na Guiné e erm África, em geral(a sida, o paludismo, a cólera, as infecções nosocomiais, as armas, a droga, a violência...).

É certo que o Puto não está longe, e sabe bem ter uma rectaguarda segura, à entrada da velha Europa... Apesar de tudo, Portugal é um país milenar e... fiável. Ele, Patrício, vem cá de vez em quando "carregar baterias", revisitar família e amigos, fazer as suas análises de saúde... É bom ter uma rectaguarda segura, é bom ter uma Pátria, ou duas... Tiro-lhe o chapéu pela sua longevidade na Guiné, e para mais num período (1984-2009) que foi conturbado e amargo...

Espero que ele um dia ainda nos possa contar como, em 1998, salvou centenas de portugueses e guineenses, apanhados pela guerra civil...

Anónimo disse...

Parabens Patrício e que seja por muitos anos e eu a ver.

Um abraço,

Antº Rosinha