Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > Junho de 1969 > O fur mil armas pes inf Luís Manuel da Graça Henriques, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71).
Fotos e texto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados.
Luís (*):
Eu tinha nascido no ano zero. 1945.
Lembro-me de teres escrito isso,
muitos anos depois,
no catálogo da minha primeira exposição de pintura no SNI...
Lembras-te, em 1965 ?!...
Ainda pensámos em dar o salto até Paris,
éramos vagamente existencialistas,
anticolonialistas
e anti-imperialistas,
eu sonhava com Montmarte,
a boémia
e as copines das belas artes
(o meu lado mulherengo!),
enquanto tu devoravas o Camus e o Sartre!...
Tinhas a mania da filosofia e eu da pintura...
Não conseguimos convencer o nosso gestor de conta
a financiar este inconsistente projecto de aventura.
Tu eras mais politizado
e, sobretudo, mais realista do que eu:
– E os nossos pais ?
E a PIDE (, mais tarde DGS) à perna ?
E a Guardia Civil antes de chegares aos Pirinéus?
E os dez contos de réis para dares ao passador ?
E vais fazer o quê, em Paris ?
Trabalhar como maçon ?
E dormir no bidonville ?
E comer baguetes com marmelada ?
1945…
Ano zero da idade atómica,
escreveste tu no catálogo do SNI.
Hiroshima.
O cogumelo.
O horror.
Mas também o fim da guerra.
Libération!, proclamavam, eufóricos, os franceses.
O fim do pesadelo da ocupação nazi.
O direito à esperança,
em toda a parte, incluindo a nossa terra.
O recomeço da humanidade…
As palavras continuam a ser tuas,
que sempre tiveste muito mais jeito para a escrita do que eu,
e vinham no meu catálogo
que até estava bonito,
não estava ?! ...
Ah!, 1945, que raio de ano para se nascer,
o fim de uma época, o início de outra…
Que ilusão, meu amigo,
tu que me chamavas o Renoir de Montemuro…
só por que eu andava no 1º ano das Belas Artes
e fazia umas coisas démodées,
vagamente impressionistas,
já a caminho do abstracionismo...
Enfim, aprendiz de Renoir,
talvez imitador da Vieira da Silva,
de que só conhecia umas reproduções de má qualidade.
Ainda ganhei uns tostões com serigrafias,
havia gentinha com dinheiro fresco
que comprava tudo...
Na minha cédula pessoal,
um nota a lápis já meio sumida,
letra talvez de regedor, de merceeiro, de padre
ou de conservador do registo civil...
Qualquer coisa como
mais uma boca com direito a senha de racionamento.
Milho, açúcar, farinha, azeite…
Havia racionamento de géneros por causa da guerra,
a II Guerra Mundial.
Lembras-te ?
Talvez não,
nasceste depois, já em 47,
na Lourinhã (, se bem me lembro,)
já não apanhaste esses tempos que foram duros
para os nossos pais e irmãos mais velhos.
Nesse mesmo ano e mês em que nasci,
acabava de regressar da Índia
(da Índia portuguesa, como então se dizia,
englobando os territórios de Goa, Damão e Diu)
o filho do francês,
o cabo chefe da aldeia
e um dos poucos que sabia ler, escrever e contar.
Tinha uma pensão do ministério da guerra,
fora gaseado na Flandres,
regressara tuberculoso e herói de La Lys.
Admirava o Pétain, o Franco e o Salazar.
Vociferava contra a malta do reviralho,
os que eram contra a situação, como então se dizia.
Era meu padrinho.
Por favores que lhe deviam
(e deferências que lhe prestavam)
os meus pais,
nunca soube quais,
nem nunca quis saber.
Quando comecei a pensar pela minha própria cabeça,
passei a detestar as relações de clientelismo e dependência
que vigoravam na minha aldeia.
Na minha aldeia da Serra de Montemuro,
uma aldeia de pastores
que não era muito diferente de tantas tabancas fulas
que depois irei conhecer na Guiné, no Gabu…
Ainda hás-de visitar a minha aldeia,
num próximo verão em que fores lá cima ao Norte…
Em agosto, no teu querido mês de agosto,
como tu lhe chamas,
num escrito, algures, que eu li no teu blogue…
Mas já nada tem a ver
com a aldeida da minha infância
nem com as invernias agrestes daquele tempo.
Havia sempre festa na aldeia
quando um filho regressava das colónias,
mais tarde, do Ultramar.
No nosso tempo, Ultramar, como bem te lembras.
Quando puto, imagina,
ainda sonhei ser missionário,
e ajudar a converter os pretinhos
lá nas missões de Além-Mar.
Problemas de pulmões impediram-me de seguir
essa vocação precoce...
Estás-me a imaginar de sotaina branca
e longas barbas pretas,
não estás ?!
E acabar, santo e mártir,
frito no caldeirão de uma tribo de canibais!...
Ah! Como era rica e delirante a nossa imaginação de putos!…
Não sei quem me metei essa ideia maluca na cabeça,
por certo o padre da freguesia, a catequista ou a professora...
Mas a serra de Montemuro,
Resende, Cinfães, Arouca, Castro Daire, Lamego,
deu muita gente para as colónias
e depois para a guerra,
mas também para a emigração.
Em 45, os tempos ainda eram bem duros,
escondia-se, dos fiscais do Governo,
na serra, nas minas,
o milho, os cabritos e os anhos,
como sempre se escondera
de todos os invasores e usurpadores.
Isso contavam os meus pais.
Mesmo assim fazia-se festa rija.
O foguetório não era como hoje,
nesse tempo era um luxo.
Lançavam-se uns petardos,
de pólvora seca,
não havia dinheiro para mais nada.
Só no São João,
era a altura em que se fazia algum dinheirito.
Os cabritos e os anhos do São João
ajudavam a compor o tísico orçamento das gentes da minha aldeia.
Iam para o Porto, de comboio, pela linha do Douro,
ou até nos barcos rabelos,
embarcados no ancoradouro de Porto Antigo,
à boleia de algum patrão, amigo, compadre ou conhecido.
Ainda não havia as barragens,
e o Douro era belo, puro, duro e selvagem…
Hoje está completamente amansado.
O francês, meu padrinho, emprestava dinheiros a juros.
Era o banqueiro do povo, diríamos hoje.
Negociante de gado ou, melhor, intermediário.
Antes disso, ganhara muito dinheiro
no garimpo e no contrabando do volfrâmio,
com um sócio de Moncorvo,
seu antigo camarada de armas,
também "francês".
Era, além disso, o dono da única mercearia da aldeia,
com um anexo, misto de café e tasco,
onde se podia ouvir a Emissora Nacional,
através do único rádio existente ali e nas redondezas…
Enfim, uma espécie de rádio, uma galera…
Ele era engenhocas. um homem de vida,
e, sobretudo, dava-se bem com gente graúda:
por exemplo, um tal major de Porto Antigo,
que, segundo se dizia, descendia do Serpa Pinto
e estava bem colocado nos meios políticos e militares da época.
A esposa desse tal major mandava cartas ao Salazar,
contava a minha mãe, sempre atenta a
(mas não menos temerosa de)
os fios com que se costurava o poder.
Nem por isso o meu padrinho metera uma cunha
para livrar o filho da tropa,
durante a II Guerra Mundial.
O rapaz esteve em Goa, como expedicionário,
com muito orgulho do pai
e maior mágoa da mãe.
Já doente, com setenta e muitos anos,
o meu padrinho soube da minha partida para África,
em 1968,
depois de eu ter chumbado em Belas Artes.
Eu nunca lhe pedira nada,
e muito menos agora
lhe iria pedir que me safasse de ir parar à Guiné.
Nem ele era homem
para aceitar um pedido desses,
mais do que humilhante,
inconcebível, para ambos.
Proibi, inclusive, os meus pais de o fazerem por mim.
Tinha a mania dos princípios, dos valores, da palavra dada,
e da coerência,
coisas que hoje não vejo ser valorizadas
pelos mais novos,
por exemplo os meus filhos e sobrinhos.
Quando voltei, deficiente, no verão de 1970,
já ele tinha acabado de morrer.
Ele e o Salazar,
que eu penso que ele nunca terá conhecido pessoalmente,
mas de quem era um admirador completamente acrítico.
O seu maior desgosto na vida
terá sido um dos netos
que devia seguir as peugadas do pai,
advogado no Porto, bem de vida.
Numas férias de verão, em meados de 60,
o neto ficou em Londres, a lavar pratos,
e em setembro estava na Suécia.
Foi dado como refratário ou desertor,
não te sei dizer ao certo,
que eu de RDM fiquei farto até aos cabelos.
Como estava a estudar na Faculdade de Direito,
em Coimbra,
beneficiava do adiamento da data de incorporação,
tal como eu, de resto.
Eu sei que nessa época ninguém escapava à guerra,
até filho de general era mobilizado, diziam.
Nunca conheci nenhum,
nem general nem filho,
a não ser o Schulz e o Spínola,
mas não sei se esses tinham filhos em idade de ir para a tropa.
Imagino que, na pior das hipóteses,
ficariam na guerra do ar condicionado:
em Bissau, em Luanda, em Lourenço Marques…
O avô, pelo menos publicamente,
viu na traição do neto uma desonra para a família,
e para a terra,
que ele, abusivamente, considerava
uma extensão da família.
Coimbra, a república dos estudantes,
dera-lhe a volta à cabeça, lamentava-se.
Para mais era o seu neto querido,
o mais inteligente,
o mais parecido com ele.
– Rédea comprida e chicote curto, eis a desgraça –
concluía o meu padrinho,
quando o fui visitar, nas minhas férias em julho de 1969.
– Sua bênção, padrinho! –
foram as primeiras palavras que lhe disse,
desde há anos…
– Já o pai não prestava,
era um fraco –
arrematava ele, entre dois ataques de tosse.
–As melhoras, padrinho! –
foram as últimas palavras que lhe dirigi…
Julgo que eram sinceras,
que nada tinham de cínico.
Impressionou-me a sua decadência,
a sua descida do pedestal,
desgastado pela doença,
acabrunhado pelos acontecimentos dos últimos tempos…
A família a desmoronar-se,
o Salazar a morrer,
a Pátria a esvanecer,
a aldeia a minguar com a emigração…
Não podia ouvir falar do Marcelo Caetano,
que era para ele o coveiro do Estado Novo.
Ele próprio morreria, na aldeia, um ano depois,
respeitado mas não amado.
Durante décadas fora pai, padrinho e patrão,
um verdadeiro capo, cabo chefe,
de uma aldeia serrana do nosso velho Portugal…
Era um régulo, se quiseres...
Gustavo, o neto do meu padrinho,
ainda me escrevera um dia para o meu SPM,
quando eu estava em Nova Lamego.
Éramos amigos,
ou melhor, mais conterrâneos do que amigos,
tínhamos brincado juntos, quando garotos,
nas férias de verão.
Havia aquela cumplicidade de putos,
pesem embora as diferenças sociais.
Estudara em colégio particular,
vivia no Porto, na Foz, em zona fina,
passava esporadicamente férias na aldeia.
Agora, em Estocolmo, na Suécia,
militava num grupúsculo marxista-leninista qualquer
e angariava dinheiro para o PAIGC.
Dinheiro que tanto servia para comprar livros e medicamentos
como armas e munições, questionava-me eu.
Irritou-me a sua missiva,
cheia de metáforas,
clichés,
prosápia,
slogans,
frases pomposas,
retiradas do livrinho vermelho do camarada Mao
(Devo dizer-te que sempre fui mais sinófobo do que sinófilo)…
As minhas próprias simpatias iniciais pelo PAIGC,
algo quixotescas,
guevaristas,
desvaneceram-se
com os imperativos da camaradagem na caserna
e a prova de fogo na frente de batalha.
Não se podia objetivamente estar do lado de cá,
fardado de camuflado,
e equipado com a G3,
a comandar 30 homens,
e ser-se um simpatizante,
vagamente romântico,
daqueles que nos combatiam,
de Kalash na mão
(e que nós combatíamos, objetivamente falando)…
Além disso, chocavam-me os métodos de terror
usados pelo PAIGC
contra os fulas, na zona leste.
Fiz alguns amigos guineenses,
quando passei pela região do Gabu,
em tabancas onde estive destacado
(Não me perguntes quais,
que os nomes varreram-se-me da memória)...
Nunca lhe respondi.
Achava-o um puto mimado, burguês e provocador.
Não me admirei de o vir a encontrar,
depois do 25 de Abril,
num dos partidos do poder.
Andará hoje (ou andou) por Bruxelas,
segundo me disseram.
Tinha-se casado com uma sueca,
mas já estava divorciado nos finais da década de 1970.
Secretamente, invejava-lhe a sorte,
ele ali no bem bom da Suécia
e das suecas louras, de olhos azuis,
que faziam parte do nosso imaginário de machos latinos…
e eu a gramar a pastilha
de uma comissão de serviço militar na Guiné.
Achei que o mundo não era justo,
mas mesmo assim não me podia queixar,
estava vivo,
e os primeiros tempos,
passados entre Bafatá e Nova Lamego,
até nem foram maus de todo.
Ainda fiz o gosto ao dedo
e pintei alguns quadros
que até tiveram um ou outro comprador.
Outros ofereci,
a um família de comerciantes
cuja casa costumava frequentar,
e que tinha uma filha que ainda andei a catrapiscar.
Mas depressa percebi que esgotara o meu filão artístico.
Afinal o teu Renoir nunca passara da cepa torta,
uma deceção...
Nunca me perdoei, de resto, ter chumbado nas Belas Artes
e de ter sido chamado para tropa...
Passei por uma crise existencial,
ou lá o que queiras chamar, não sou psicólogo,
ainda tive, uma vez,
uma única vez,
depois de ter despejado uma garrafa de uísque no bucho,
a pistola Walther apontada ao céu da boca.
Senti a atração da morte,
a vertigem do nada,
a comiseração da autodestruição,
a autopiedade...
Mas, mesmo anestesiado,
era demasiado cobardolas para resolver,
com um tiro mortal,
as minhas contradições,
pequeno-burguesas, dirias tu em 1965,
agravadas por uma idiota dor de corno.
A Flora,
que ainda tu ainda chegaste a conhecer,
no tempo da minha/nossa famosa exposição do SNI,
a bela menina-família do Funchal,
que estava a estudar serviço social,
ali no Campo de Santana, em Lisboa,
tinha-me trocado...
por um javardo de um herdeiro de uma fortuna venezuelana…
Ainda trabalhara uns tempos,
na Misericórdia de Lisboa,
num dos projectos de realojamento
de população de um bairro de lata.
Não esqueço a última carta que ela me mandou,
de despedida.
Era um encanto de miúda,
delicadíssima,
linda de morrer,
com pele de veludo e blusinhas de renda,
mas com pouca margem de decisão
em relação à sua vida pessoal.
O clã é sempre quem mais ordena.
O pai, tanto quanto percebi,
era um homem do regime,
da média burguesia funchalense,
mas com problemas financeiros,
por negócios mal sucedidos,
na área do import-export,
bananas, frutas tropicais, flores, ou coisa do género.
Família numerosa, católica, um bando de filhos.
Nunca iria dar certo o meu casamento com a Flora,
nunca pensara, de resto, em pedir-lhe a mão,
muito menos depois de conhecer o inferno na terra
que foi a Guiné.
Não me lembro de alguma vez lhe ter pedido a mão,
achava-me no direito de a ter como namorada
e madrinha de guerra e confidente...
Fui surpreendido
quando um dos meus amigos do Funchal
me veio lembrar que seria bom decidir-me,
porque havia mais pretendentes na fila...
Foi um choque,
não estava preparado para tomar nenhuma decisão,
muito menos para decidir
quem deveria ser a mãe dos meus filhos.
Estava na Guiné,
estava na guerra,
a milhares quilómetros da minha terra,
sem saber o que fazer ao certo da minha vida…
sem saber sequer se iria chegar à meta,
que era cumprir a minha pena, de 21 meses,
de “perigos e guerras esforçados,
mais do que prometia a força humana”,
a pena a que fora condenado
sem ter cometido nenhum crime…
a não ser o de ter nascido em 1945, em Montemuro...
No mínimo, queria chegar à meta,
inteiro, de cabeça, tronco e membros.
Ainda tentei telefonar-lhe,
dos correios de Nova Lamego,
horas a fio à espera por um ligação para Lisboa...
Em vão.
A chamada caiu,
nunca mais tive a conversa que gostaria de ter tido
com a minha noiva,
que afinal nunca o fora.
Acabei, já em Lisboa, bancário,
por casar com uma galega de Orense,
que nunca chegarás a conhecer,
pela simples razão de que já fomos,
cada um de nós,
à sua vida.
É apenas a mãe dos meus filhos.
Depois, meu amigo,
veio o rol de desgraças que me aconteceram:
a descida aos infernos,
a cafrealização, à maneira do Rimbaud,
a porrada do segundo comandante no Gabu,
a ida para o sul,
de casttigo, em rendição individual,
a mina anticarro
que me mandou, mais de um ano e tal,
para o estaleiro,
com passagem pela Estrela, Alcoitão, Hamburgo.
Poupo-te os pormenores,
um dia contar-tos-ei,
se tiveres tempo e pachorra,
eu próprio só agora ando a desenterrar esses esqueletos
guardados no armário da minha memória…
Tentei esquecer a Guiné durante décadas,
(o que é difícil quando se tem uma prótese...)
até ao dia em que,
não sei porquê,
por mero acaso,
vi o teu nome na Net ,
a tua cara,
os teus óculos,
vi o teu nome associado a Bambadinca,
um dos poucos sítios,
de passagen obrigatória para malta do leste,
de que guardava algumas, poucas, boas memórias…
Reconheci-te, numa foto antiga,
sem barbas,
em tronco nu,
de óculos esfumados,
a G3 ao ombro,
em pose turística...
Em suma, desencontrámo-nos na Guiné.
Eu nem sequer sabia que tu também lá tinhas estado,
podíamos ter ido a sorte de dar de caras um com o outro,
em Bafatá,
onde devemos ter estado alguma vez,
no mesmo dia e hora,
embora em sítios diferentes.
Mas achei piada ao teu jogo de palavras,
no mail em que me respondeste ao meu olá:
“o Mundo é Pequeno
e a nossa Tabanca … é Grande”.
Um dia prometo telefonar-te
para marcarmos um encontro
e matar saudades.
Preciso de ganhar coragem.
Confesso que tenho medo de revisitar o passado.
E por agora ando a recuperar o tempo perdido,
depois de uma vida de idiota atrás de um balcão de um banco.
Até lá, um alfabravo,
como vocês dizem,
do tamanho do nosso Rio Geba.
Parabéns pelo teu blogue
de que sou apenas um fortuito visitante.
Assina este relambório
o teu falhado amigo pintor,
e, pior do que isso,
frustrado companheiro da viagem a salto,
até Paris,
viagem que nunca passou de um devaneio
de umas tantas tardes de verão
em que estivemos, juntos, em 1965,
no SNI, o Secretariado Nacional de Informação,
ali no Palácio Foz,
a preparar uma exposição que foi a minha vernissage,
entre copos de ginjinha nos Restauradores.
Teu F...
o Renoir de Montemuro.
PS – Nunca mais voltei aos Restauradores
para beber uma ginjinha…
E perdi-te o rasto depois que fomos cada um para seu lado..
Mas pago-te uma ginjinha, com todo o gosto,
quando voltar a Lisboa.
Afinal fiquei com uma boa pensão de DFA,
a par da reforma do banco.
Nota de L.G.:
Ainda estou para beber a tal ginjinha,
prometida pelo meu amigo F...
Nunca mais deu sinal de vida,
depois que falámos longamente ao telefone,
há uns anos atrás.
Deve ter mudado de mail e de telemóvel.
Sei que adora(va) viajar.
E que tem(tinha) um filho,
casado, arquiteto,
a viver nos arredores de Paris. (**)
Adaptação livre, fixação e revisão de texto: LG

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Notas do editor
(*) Último poste da série > 26 de setembro de 2014 >
Guiné 63774 - P13654: Manuscritos(s) (Luís Graça) (39):Portugueses pocos, pero locos... Ou como vemos (e somos vistos por) os outros...O que fazer com tantos clichés, estereótipos e preconceitos idiotas ? E não se pode exterminá-los ?
(**) Vd. também os postes já publicados da série "Selfies / autorretratos":
22 de Setembro de 2014 >
Guiné 63/74 - P13634: Selfies / autorretratos (1): por que é que fomos à guerra... (Vasco Pires / Luís Graça / Francisco Baptista / José Manuel Matos Dinis)
22 de Setembro de 2014 >
Guiné 63/74 - P13638: Selfies / autorretratos (2): filho único, com pai emigrado no Canadá, podia também ter saído do país, aos 17 anos... Passei pela universidade de Coimbra e lutas académicas, tendo decidido participar na guerra colonial, contrariado e sabendo ao que ia (Manuel Reis, ex-alf mil cav, CCAV 8350, Guileje, 1972/74)
30 de setembro de 2014 >
Guiné 63/74 - P13669: Selfies / autorretratos (3): Em 1966 o meu pai preparou tudo para que eu fosse a “salto”, seguindo assim o trilho de milhares de portugueses (Juvenal Amado)