sábado, 30 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11331: Convívios (509): Almoço/convívio do pessoal da CART 2519, dia 4 de Maio de 2013, Benavente (Mário Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (BubaAldeia Formosa eMampatá - 1969/71), enviou-nos uma mensagem solicitando a divulgação do programa da festa da sua unidade:

CART 2519 "OS MORCEGOS DE MAMPATÁ OS COIRÕES"




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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em: 

30 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11331: Convívios (508): 4.º convívio da CCAV 8352, no próximo dia 2 de Junho de 2013, em Barcouço / Mealhada (Manuel Teles)

Guiné 63/74 - P11330: Convívios (508): 4.º convívio da CCAV 8352, no próximo dia 2 de Junho de 2013, em Barcouço / Mealhada (Manuel Teles)



1. O nosso Camarada Manuel Teles, que foi Fur Mil da CCAV 8352, Caboxanque 1973/74, solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual da sua unidade: 


Convívio da CCAV 8352 

Camaradas e Amigos, 

O 4.º convívio da CCAV 8352 realiza-se no próximo dia 2 de junho de 2013. 

O almoço terá lugar no restaurante: 

Manuel Júlio – Santa Luzia 3050 – 106 – Barcouço

Telefones: 239 913 512 e 919 438 454

GPS – N: 40.3052566581 - W: 8.44882008816

Site: www.manueljulio.pt 


Preço: Adultos - 20 €: Crianças - 5/9 anos – 10€: Crianças até aos 4 anos - grátis 

Este restaurante situa-se na Estrada Nacional – IC2 – entre Coimbra e Mealhada (12 Km a norte de Coimbra e 6 Km a sul da Mealhada). 

A concentração terá lugar junto ao restaurante a partir das 11h30. 

Agradeço a confirmação até 15 de maio, por telefone ou e-mail, indicando o número de participantes. 




Um abraço, Manuel Teles
Telefones: 917 079 281 – 227 322 701
e-mail: mnl.ftls@gmail.com
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

27 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11323: Convívios (507): 7º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Viseu, 4 de Maio de 2013 (Benjamim Durães)


Guiné 63/74 - P11329: Parabéns a você (553): António Graça de Abreu, Benjamim Durães e Rosa Serra






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Nota do editor:

Último poste da série > 27 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11321: Parabéns a você (552): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732 (Guiné, 1970/72); Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp da CCS/BCAÇ 4612 (Guiné, 1974) e amiga tertuliana Maria Dulcinea que pisou a terra vermelha de Bissorã

sexta-feira, 29 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11328: Blogpoesia (331): Cá vamos andando (Luís Graça)



Quinta de Candoz > 31 de agosto de 2011 > O fotógrafo... estilhaçado.

Foto: © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados


1. Ainda no Dia Mundial da Poesia, 21 de março de 2013... Em homenagem, a um dos meus poetas preferidos, Ruy Belo (1933-1978), autor de livros de poesia que já entraram na história da nossa literatura tais como Aquele Grande Rio Eufrates (1961), O Problema da Habitação (1962), Boca Bilingue (1966), Homem de Palavra(s) (1969), Transporte no Tempo (1973), País Possível (1973), A Margem da Alegria (1974), Toda a Terra (1976), Despeço-me da Terra da Alegria (1978)... Infelizmente morreu jovem, aos 45 anos... E o país, distraído, só agora está a reconhecer a sua grandeza como poeta... (LG)

Cá vamos andando
Luís Graça

Às vezes este país parece-se com o Cairo,
Com o caótico tráfico rodoviário do Cairo.

Com as montanhas russas do Cairo.
Um carrossel desengonçado
Sem código da estrada.
Sem regras.
Sem semáforos.
Sem polícia sinaleiro.
Mas mesmo assim a coisa anda, flui,
E a gente sempre consegue chegar a alguma parte.

Pode não ser o sítio certo,
Mas sempre chega a alguma parte,

Entre algures e nenhures.
Ou pelo menos tem essa ilusão de ótica.
Que o importante é chegar, sobreviver, dizem-te.
- Cá vamos andando -, responde-te o Zé Portuga,
Quando lhe perguntas como está.
No Portugal sacro-profano,
A gente lá vai andando.
Ora bem, ora mal.
Conforme o tempo 

E os humores,
E os males de amores,
E o dinheiro de bolso.
Conforme o caminho e as pedras.
Ou até os companheiros de viagem.

Às vezes a gente tropeça e cai,
Para logo se levantar
E prosseguir a marcha,
Ora lenta ora brusca.
Agora o pobre do país tenta,
A todo o custo,
Não perder a última carruagem
Do comboio chamado Europa.
Há quanto tempo?
Às vezes tenho a impressão
De que essa correria
Atrás do comboio da Europa
É um filme que dura há já muito, muito tempo,
Há anos, há séculos, quiçá desde sempre...
Um daqueles filmes, mudos,
Que a gente via no nosso cinema de bairro.
Quando havia cinema de bairro
E filmes mudos
E a Fénix da Europa renascia das cinzas da guerra
E eu vivia num país orgulhosamente só.
- Pobrezinhos mas orgulhosamente sós,
Meu menino! - dizia o senhor padre 

E a senhora professora,
E o senhor regedor.

Mas tal comparação é injusta e ofensiva
Para com os portugas,
Para com o Zé Portuga,
Que é, afinal,
O nosso único (ou último) herói nacional.
Na realidade, é a política deste país
Que se parece com o caótico trânsito cairota...
É a política, 

São os políticos,
Os dirigentes do país, 

A sua elite,
A nata,
A fina flor...
É a gestão da coisa pública,
Ou a falta dela,
O laxismo, 

O cansaço,
A falta de imaginação,
A perda de valores,
A ausência de liderança,
A opacidade das regras
Ou melhor, o seu vazio,
A ligeireza,
A falta de lata, 

De vergonha, 
De caráter...

Às vezes apetece-me gritar, 

Ao Zé Portuga,
Ao homem do leme,
Ao motorista do táxi,
Ao condutor do carro de bois,
Ao simples peão,
A mim próprio:
- Ala malek!, mais depressa, mais  depressa,

Homem,
Que se faz tarde,
E que ainda perdes
A última carruagem do último comboio!


Luís Graça, nov 2004 / mar 2013
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(1) Ala malek, em árabe, quer dizer mais depressa... Disseram-me no Cairo. É sempre bom, em qualquer esquina do mundo, ter meia dúzia de palavras do patois local na ponta da língua... Como, por exemplo, desenrascanço, em Lisboa. Ou esquema, em Luanda.
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Nota do editor:

Último poste da série > 21 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11289: Blogpoesia (330): No Dia Mundial da Poesia... Como é bom rever-te, Lisboa, Tejo e tudo (Luís Graça)

quinta-feira, 28 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11327: Em busca de ... (219): Malta da 2ª Companhia do BART 6523 (Cabuca, 1973/74) e do Carlos Alberto Louro da Costa, que assentou praça comigo no RI 14 (Manuel Sousa da Silva, Armamar)

1.  Mensagem do nosso leitor (e camarada) Manuel Silva:

Data: 26 de Março de 2013 à50 19:19
Assunto: reencontro de camaradas

Boa tarde: como não consegui enviar o email para o mail do blogue Cabuca6523,  tomei a liberdade de o enviar para si.

O meu nome é Manuel Sousa da Silva, sou natural de Armamar, assentei praça no dia 24 de Outubro de 1972 no RI 14.

Embarquei para a Guiné em julho de 73 com a 2ª companhia do BART 6523,  4º Pelotão [, Cabuca, 1973/74].

Com este email eu pretendia reencontrar os camaradas que estiveram comigo na Guiné. De todos eu gostaria de ter noticias mas em particular do Carlos Alberto Louro da Costa que assentou praça no RI 14. No entanto não sei se ainda é vivo mas gostaria de saber alguma coisa.

Se por acaso tiver contacto de algum camarada da minha companhia,  por favor envie-me o contacto.

Obrigado
Manuel Sousa da Silva


2. Comentário de L.G.

Camarada, da tua companhia temos aqui, no nosso blogue, o António Barbosa, alf mil op esp. Era do 1º pelotão da tua companhia, a segunda. Carrega aqui para saberes mais. Também temos o  José Saúde, ex-fur mil op esp, que pertencia à  CCS/BART 6523 (Nova Lamego, Gabu, 1973/74). Manda-nos 2 fotos tuas, uma atual e outra do teu tempo de tropa, para que a malta de possa reconhecer.  E conta-nos uma história do teu tempo. Teremos muito gosto em receber-te na nossa Tabanca Grande Uma boa Páscoa!.
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11230: Em busca de ... (218): O meu amigo Inhatna Biofa, um dos jovens guineenses que gravitavam à volta da tropa (Henrique Cerqueira)

Guiné 63/74 - P11326: Facebook...ando (25): José Luís Carvalhido da Ponte, ex-fur mil enf, Cart 3494 / BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74): De regresso ao Xime!...


1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos a seguinte mensagem com data de 27 de Março de 2013: 


Caros camarigos,

Falei ao telefone com o nosso camarada d’armas Carvalhido da Ponte (, o professor do José Carlos Mussá Biai, o minino do Xime, ) no sentido de autorizar a publicação no blogue de um texto no Facebook sobre a sua última viagem em Março 2013 à Guiné, ao Cacheu, fazendo também uma visita ao Xime. O que acedeu prontamente, prometendo colaborar na divulgação do trabalho humanitário que vem desenvolvendo na Vila de Cacheu. Recordo que Viana do Castelo está geminada com esta Vila.

Assim sendo, apresento o ex Furriel Mil Enf (mésinho) José Luís Carvalhido da Ponte. Pertenceu à Cart 3494 do BART 3873. É membro, sénior, da nossa Tabanca Grande.

Professor e director da Escola Secundária de Monserrate, em Viana do Castelo, com vários trabalhos publicados (vd. aqui), é muito dedicado à causa humanitária na Guiné, na Vila de Cacheu, para onde se desloca regularmente no sentido de contribuir para o bem-estar daquele povo, nomeadamente na área da saúde:


Sousa de Castro

2. Mensagem do José Carvalhido da Ponte, com data de 23 Março de 2013:

Recordar é trazer de novo ao coração, diz-nos uma leitura etimológica da palavra. Recordar é rememorar e neste rememorar revivemos os factos conforme a paleta das nossas emoções. Assim, às vezes perece que esquecemos a recordação e outras esticámo-la, quase ao infinito, como se não a quiséssemos perder. Já Pessoa dizia que o comboio de corda que se chama coração, não raro, invade-nos a razão. 

Tinha 23 anos quando aportei, pela primeira vez, ao Xime, uma aldeia de Bambadinca. A LDG (lancha de desembarque grande) atracou ao pequeno porto, ali mesmo na margem esquerda do Geba. Era Fevereiro de 72.

Deram-nos ordem para nos levantarmos do porão e começarmos ordeiramente a sair. Em terra esperavam-nos, felizes e galhofeiros, os que iríamos substituir.

Depois, nos 27 meses seguintes, deambulamos por Mansambo, pelo Xitole, pelo Enxalé (n’xalé), por Bambadinca, por Bafatá, pelo Saltinho.

Depois regressamos, uns em fins de março e outros, como eu, no 3 de Abril de 74.  Para trás ficaram tantas memórias, tantos medos, tantas aventuras, tantos amigos, vários mortos!


Quando em 2.000 regressei à Guiné, não fui ao Xime. Por nada não. Apenas não calhou. Apenas calhou acontecer em 2008, quando uma colega da ESM, que passeava com outros colegas pelo Senegal, a 17 de Agosto, regressou a Cacheu e desafiou-me: vamos a Tabatô, ali para as bandas de Bafatá, ver os tocadores de Balafon e passas no teu Xime e assim comemoras os teus 58 anos?

Regressar ao Xime? Porque não? Era uma porta que necessitava reatravessar para exorcizar um ou outro fantasma e, em definitivo, oficiar pelo Manuel Bento, caído em combate, logo nesse ano de 72.

E fomos. E neste ano de 2013 regressei, agora com o Dr Manuel Pimenta. Das duas vezes tive de respeitar várias manadas de bovinos e se da primeira ainda pude recordar os desembarques nos restos mortais do pontão do Xime, agora o tarrafe invadira o espaço a impedir as minhas quarentonas nostalgias.

De repente... ollha ali a escola onde lecionei as 4 classes ao mesmo tempo. Entro na decrépita escola. Que saudades! Continua sob um enorme poilão. Procurei caras, anichadinhas bem dentro de mim. Não apareceram. Nem a da Teresa, uma jovem professora caboverdiana que me acompanhou nessas andanças letivas durante um ano, por toda a Bambadinca e que cozinhava frango com piripiri dum jeito que nunca vi. De repente assoma à porta um homem dos seus 55 anos e atira-me: oi professor Ponte! Fui seu aluno, lembra-se? Claro que lembro! E não tive coragem de lhe perguntar o nome nem de lhe dizer que não, que não me lembrava. E falou-me de homens e mulheres de 72 que já partiram, que morreram, que estão por ali. É então que, de repente surge a minha lavadeira do tempo, a Carfala, em 72 com 11/12 anos e hoje, com uma bacia à cabeça e desdentada, como eu; mais adiante o Bacar Biai que escreve poesia em marabutu e à frente o Malan Mané, encostado a um barrote de uma tabanca. E outros. E perguntou-me pelo Furriel Sousa Pinto. Morreu há um ano, mais ou menos, lhe disse. Ah! Eu gostava dele.

Depois, sozinho, percorri partes da tabanca e do antigo aquartelamento. Sozinho, para que ninguém visse uma ou outra lágrima de saudade. Sim de saudade. Bolas, éramos jovens com 21 a 23 anos. Passamos ali dois dos mais importantes anos da nossa vida. Perdemos ali grandes amigos. Aprendemos ali que o medo é uma antecâmara para toda a coragem.

E por hoje, chega de memórias.


Adelino, piloto da lancha Sintex


Bacar Biai, irmão do José Carlos Mussá Biai



Estrada, Xime-Bambadinca. 

Lavadeira Carfala, esposa do Malan Mané




Malan Mané, primo do José Carlos Mussá Biai





O que resta do Cais do Xime...

Fotos (e legendas): © José Luís Carvalhido da Ponte (2013). Todos os direitos reservados. 
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:


Guiné 63/74 - P11325: Notas de leitura (469): Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963... Usos e costumes: a tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres, as práticas de necrofagia, o fanado, o choro, o bombolom... (Francisco Henriques da Silva, antigo embaixador)

1. Mensagem de Francisco Henriques da Silva, nosso camarada e grã-tabanqueiro, ex-alf mil, CAÇ 2402 / BCAÇ 2851 (,Mansabá e Olossato, 1968/70),  e mais tarde ex-embaixador de Portugal, na Guiné-Bissau (1997/1999)] [, foto à esquerda, 26 de Abril de 2012, Lisboa, Bertrand Dolce Vita Monumental, tertúlia,; foto de L.G.]


Data: 23 de Março de 2013 à40 19:00

Assunto: Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume  III), editação da  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963


Meu caros amigos,


Aqui há umas semanas veio-me parar às mãos uma obra do maior interesse  que descobri, por mero acaso, na biblioteca particular de um amigo meu  e para a qual solicito a vossa atenção.Trata-se do livro "Estudos  sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)", editado pela  Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963. Um livro de vários  autores,  essencialmente focado em temas de antropologia (entre os quais  sobressai o nome de António Carreira), editado e totalmente dedicado à Guiné então Portuguesa.

Esta obra vem precisamente na linha da correspondência travada com o  Luís Graça, em que ambos reconhecemos que partíamos para as missões de  soberania no chamado Ultramar, qualquer que fosse o local, sem fazermos a menor ideia do que iríamos encontrar. Que povos? Que  línguas? Que religiões? Que usos e costumes? E a lista podia  continuar, sendo a Guiné, atenta a exiguidade do território, de uma  diversidade extraordinária, multifacetada e vibrante.

Explicavam-nos o funcionamento da "Dreyser", como montar uma emboscada  ou como comunicar no rádio, mas nada nos diziam sobre as realidades  geográficas, etnológicas, históricas, religiosas, etc. com que nos  íamos confrontar. Tratava-.se de um ponto essencial, mas os altos  mandos militares da época nunca pensaram nisso ou consideraram-no  desnecessário, como só muito tardiamente pensaram na chamada "acção  psicológica", como é do conhecimento público. Oficiais, sargentos e praças partiam na quase total ignorância do que era a Guiné e os seus  Povos e, no fundo, bastaria um pequeno esforço para dar a conhecer,  por exemplo, mesmo de uma forma resumida, a realidade sociológica da  Guiné. Isso, que eu saiba, jamais foi feito. Partíamos rumo ao
desconhecido, na escuridão total. Recordo que os norte-americanos na  Coreia e no Vietname - e suponho que noutros teatros de operações -  eram instruídos e dispunham de pequenos manuais de divulgação  relativos aos países e povos que iriam encontrar.

O livro em apreço é de um grande interesse e lança-nos muitas pistas  sobre a Guiné. Muitos reconhecerão práticas locais que aprenderam por  experiência própria.  Enfim, aqui vos deixo as minhas impressões.

Com um abraço cordial e amigo e as habituais "mantenhas"

Francisco Henriques da Silva

(ex-Alf Mil Inf  da CCaç 2402, e ex-embaixador de Portugal em Bissau)



Capa do livro  > Junta de Investigações do Ultramar -  Estudos sobre a etnologia do Ultramar português.  Lisboa : Junta de Investigações do Ultramar, 1963. Vol. III, 240 p. : il. ; 25 cm. (Estudos, Ensaios e Documentos. 102).


2. ALGUNS USOS E COSTUMES DA GUINÉ
por Francisco Henriques da Silva


O livro “Estudos sobre a Etnologia do Ultramar Português (Volume III)”, editado pela Junta de Investigações do Ultramar, Lisboa, 1963, é uma obra coletiva de grande interesse, para todos aqueles que se sentem atraídos pela Guiné-Bissau e pelos seus diferentes povos, respetivos usos e costumes. Inserido na coleção “Estudos, Ensaios e Documentos”, cabe referir que é um livro que beneficia do contributo de vários autores da época, investigadores e estudiosos das questões etnológicas, entre os quais avultam nomes conhecidos, como é o caso, por exemplo, de António Carreira. 

Tanto quanto me apercebi teriam sido editados diversos volumes, sob aquele título genérico, cada um sobre uma das províncias ultramarinas sendo este sobre a Guiné, em que só são focados temas exclusivamente guineenses.

Os textos abordam assuntos tão diversos como o estudo da tecelagem, o arrancamento da pele dos cadáveres e as práticas de necrofagia, as mutilações genitais (ou seja, o fanado masculino e feminino – circuncisão, no primeiro caso, e excisão do clitóris, no segundo), as práticas funerárias dos Brames (ou mancanhas), os tambores “falantes” (o bombolom e outros instrumentos de comunicação por percussão à distância) e, finalmente, a etnonímia das populações autóctones da Guiné Portuguesa.

O primeiro texto – “Subsídios para o estudo da tecelagem na Guiné Portuguesa”, elaborado por Maria Emília de Castro Almeida e Miguel Vieira – começa por referenciar os povos tecelões do território: manjacos, papéis, brames, mandingas e fulas, portanto de várias origens étnicas e religiosas (animistas e islamizados). Contrariamente à tradição europeia, trata-se de uma profissão reservada ao sexo masculino. 

Em seguida, ao ser estudada a origem do tear em África e, baseando-se nas descrições dos primeiros cronistas e navegadores portugueses na região, concluem que o tear já existia quando da nossa chegada à Senegâmbia, uma vez que “a indústria do algodão na Guiné era já uma realidade quando os portugueses ali chegaram” (p. 46). Por conseguinte, não sendo de origem europeia seria presumivelmente de origem asiática. Teria tido inicialmente “uma possível mas fraca irradiação já nos princípios da nossa era, cremos, porém, que a verdadeira e intensa introdução do tear de pedais na Guiné seria mais tardia, no tempo da expansão muçulmana em África” (p. 51).

Independentemente da origem – presumivelmente asiática – e da sua transmissão através de povos islamizados, os autores assinalam que “os manjacos e também os papéis são os povos que mais se entregam actualmente à tecelagem e dos que sofreram menos a influência muçulmana” (p. 57). Muito provavelmente os tecelões manjacos terão exportado as suas técnicas para Cabo Verde, concluem também os autores.

Maria Emília C. Almeida e Miguel Vieira tecem alguns comentários sobre os diferentes panos guineenses e fazem a descrição tecnológica relativamente pormenorizada do seu modo de fabrico. O artigo contem mapas da distribuição dos diferentes povos da Guiné e ilustrações dos teares e das respetivas peças, bem como fotos dos tecelões em plena atividade e dos panos já confecionados.

[Cartoon, à esuqerda: António Barbosa Carreira, Ilha do Fogo, Cabo Verde, 1905- Lisboa, Portugalo, 1988. Fonte: Página de Barros Brito, com a devida vénia]


O artigo que se segue, da autoria de António Carreira,  intitula-se “Do arrancamento da pele aos cadáveres e da necrofagia na Guiné, Portuguesa”. No primeiro caso estamos perante uma estranha prática ancestral dos manjacos, conhecido na expressão crioula por “descascar defuntos”. Era uma prática, segundo Carreira, já pouco seguida no início da década de 1930 e que, entretanto, terá desaparecido. Ninguém, nem mesmo os mais idosos, era capaz de elucidar as origens deste ritual insólito, nem o objetivo último do mesmo. Apenas se sabe que se tratava de um rito funerário daquele povo e circunscrito em exclusivo aos manjacos, não se tendo verificado tal prática em nenhum outro grupo étnico. 

 Segundo relata Carreira, “ficámos sem saber se o descasque de defuntos fora, desde sempre uma verdadeira modalidade dos ritos funerários dos manjacos ou se seria um derivante ou substituto da antropofagia.” (p. 106). O autor interroga-se: “Da antropofagia – que se admite tenha existido em toda esta área – não teria resultado, por evolução, a necrofagia e, numa fase posterior o descasque de cadáveres?” (ibidem).


Todavia, nem entre os manjacos, nem entre os brames (mancanhas) foram detectadas práticas de
canibalismo, muito embora os felupes a praticassem em tempos remotos. Carreira admite, como mera hipótese de trabalho, que os manjacos a tivessem levado a cabo, muito embora não o possa provar, tendo, ao longo do tempo, evoluído para o descasque de cadáveres.

[ Foto à direita: Um felupe, 1821... Gravura norte-americana, imagem do domínio público, cortesia de Wikipédia]


A cerimónia revestia-se de uma certa complexidade, na medida em que previamente era necessário proceder ao interrogatório do defunto, o anúncio da morte, o sacrifício de vários animais, a que se seguiam danças e outras cerimónias para afastar os maus espíritos. O corpo depois era colocado num estrado, regado com álcool e defumado.

Como relata Carreira, “logo que a decomposição estivesse avançada, o descascador (o profissional chamado Natiêmá) procedia à operação do arrancamento da pele. Para tanto servia-se de enormes unhas, que propositadamente deixava crescer; elas constituíam a ferramenta do ofício” (p. 111). Depois o corpo era envolto em panos e inumado.

Quanto à prática da necrofagia que se verificava ainda na década de 50 entre os Felupes, os cadáveres eram enterrados quase à superfície da terra, durante uma semana, finda a qual, os corpos já putrefactos eram desenterrados, cozinhados e comidos. 

Outro dos costumes ancestrais dos felupes consistia em colecionar crânios dos inimigos caídos em combate e que eram utilizados em libações. Hábito que não nos deverá parecer tão exótico, na medida em que os antigos vikings também o praticavam. Membros de tribos inimigas que penetrassem em território felupe eram “assassinados em condições misteriosas; e a maior parte (dos crânios, entenda-se) provém, precisamente, dos cadáveres desenterrados e comidos nos festins do fanado (circuncisão) ou nos ritos especiais, nos Irãs.” (p. 116). 

Comer carne humana de cadáveres consistia numa cerimónia ritual que se revestia da maior importância entre os membros desta etnia. Comer determinadas partes do corpo do inimigo morto conferiria, a quem as devorasse, as mesmas qualidades do defunto, designadamente de coragem e bravura em combate,. Em regra, eram apenas comidos os corpos das pessoas que faleciam de morte natural ou que morriam em conflito armado, mas, muitas vezes, secretamente, os feiticeiros envenenavam pessoas com o fito de as devorarem, muito embora a tribo não tivesse necessidade de carne, porquanto tinha gado e a caça abundava. A necrofagia era um ritual mágico e envolto no maior secretismo.

A. Carreira conclui que “a influência da cultura portuguesa, da francesa e mesmo da africana não conseguiu vencer práticas milenares que a civilização do Ocidente condena, por repugnantes, como a necrofagia” (p. 121).

“Contribuição para o estudo das mutilações genitais na Guiné Portuguesa” é outro interessante artigo subscrito por António Carreira e bastante abrangente, pois abarca todo o território guineense e confere-nos uma panorâmica da extensão destas práticas. 

O autor divide a população local em 3 grupos consoante a diversidade da prática das mutilações sexuais: 

(i)  o primeiro grupo, é aquele em que se pratica a circuncisão nos indivíduos do sexo masculino e a excisão do clítoris nos do sexo feminino (trata-se de etnias islamizadas: fulas, mandingas, biafadas, nalus, banhuns, cassangas e balantas-mané); 

(ii) o segundo grupo confina-se apenas à prática da circuncisão, não se procedendo à ablação do clitóris (estão neste grupo os animistas: manjacos, papéis, brames, felupes, baiotes, balantas e mansoancas);

(iii) o terceiro e último grupo apenas pratica uma circuncisão de caráter simbólico, “por incisões superficiais na pele do pénis, seguidas de escarificações tegumentares simples” (p. 135) e nas mulheres umas incisões no baixo ventre (apenas os bijagós mantém este hábito ancestral).

Quer no caso da circuncisão, quer no da ablação do clitóris, ambas as cerimónias são genericamente designadas, em crioulo, por fanado.

A circuncisão consiste no corte da pele do prepúcio, em geral, com uma faca afiada de lâmina recta. Trata-se de uma cerimónia ritual de purificação (segundo Bastide, citado por Carreira) que só se realiza com uma periodicidade determinada (depende das etnias) e que implica provas físicas, algumas de grande dureza, e nalguns casos até castigos corporais; provas intelectuais e de conhecimento de vida e sócio-religiosas, como refere o autor. Existem igualmente múltiplos tabus e regras específicas, variáveis de tribo para tribo. Em geral, as cerimónias terminam com uma série de festas públicas.

[Foto à direita: Vaqueira manjaca... Detalhe de postal ilustrado da série Guiné Portuguesa. Cortesia de Joaquim Ruivo]


Dependendo das etnias, a circuncisão pode ocorrer na infância, puberdade, adolescência ou já na idade adulta. O autor não refere, porém, que, em muitos casos, os circuncisos podiam morrer de hemorragia, por inexperiência do “operador” ou de infeção (tanto quanto sei, pessoalmente, no caso dos balantas, eram utilizados emplastros com plantas e lama).

A excisão clitoridiana tem menor expansão que a circuncisão, que como se vê está generalizada a quase toda a população masculina, e segundo A. Carreira alguns elementos femininos de certos grupos étnicos (mandingas e fulas) opõem-se-lhe. Todavia, como sublinha, “o certo é que o costume tem, ainda, grande simpatia e aceitação das massas” (p. 172). 

Aparentemente, os rituais destas cerimónias são bastante mais simples e menos violentos que os da circuncisão, aparte a operação de excisão propriamente dita. O autor descreve-a da seguinte forma: “Consiste na ablação do clítoris por um corte transversal, dado com uma lâmina recta. Para o efeito, puxam o clítoris para fora, depois de seguro por uma espécie de anzol sem rebarba. Em uns grupos a ablação é total e em outros está limitada a uma pequenina porção da ponta.” (p. 144). 

A extracção ou corte dos lábios da vulva não é de todo em todo levada a cabo por nenhuma etnia guineense. Registe-se que a excisão do clítoris não constitui um mero rito de passagem, mas uma condição “sine qua non” para o casamento. Sem embargo de Carreira descrever com minúcia a operação, as cerimónias e as regras a observar, não regista em qualquer parte do texto o menor sinal de repúdio ou de horror perante o barbarismo e a crua brutalidade deste costume ancestral.

Para além de apresentar um mapa das mutilações sexuais na Guiné Portuguesa, o autor traça um quadro de cada uma da tribos e dos diferentes processos e cerimónias que nesta matéria que levam tradicionalmente a efeito.

O investigador José Lampreia elaborou um estudo intitulado “Da morte entre os Brames”. Segundo nos conta, no passado remoto, entre os Brames (mancanhas) na cerimónia do “choro” (funeral) chegava a ser sacrificado um casal de crianças se o defunto fosse um régulo. Essa prática terá desaparecido, mas o sacrifício de animais manteve-se e o abate do gado do defunto para alimentar toda a comunidade também, o que, aliás, como se sabe, não é costume exclusivo dos brames. 

Uma cerimónia com algumas semelhanças à do descasque de cadáveres dos manjacos também se praticava, contrariando, de algum modo, o que refere António Carreira que a considera exclusiva daquela etnia. É interessante saber-se como era determinado o local propício ao enterro do corpo. O ritualista acompanhava uma cabra e no local onde esta urinasse cravava-se uma estaca e era esse o sítio designado para se abrir uma galeria funerária onde seria enterrado o defunto.


[Imagem à esquerda: O bombolom...Cortesia do sítio italiano Parrocchia San Leonardo Murialdo di Milano]

“Talking drums in Guiné” é um texto em inglês da autoria de W. A. A. Wilson da Universidade de Londres e que menciona, entre outros instrumentos de percussão (tambores) para transmissão de mensagens à distancia, o bombolom. Seis tribos da Guiné comunicam por este meio – manjacos, papéis, mancanhas, bijagós, balantas e mansoancas. Trata-se de um método muito utilizado em várias partes de África. Contrariamente ao que se possa pensar, não se trata de um qualquer código morse ou algo de aparentado, mas a reprodução de uma língua em que cada sílaba é pronunciada, nesta caso tocada, num tom alto ou baixo, “cada palavra ou frase tem uma melodia particular: os tons altos e baixos são tão importantes como a posição do acento tónico em português ou inglês” (p. 216), como refere o resumo. 

O bombolom é um tronco de madeira escavado com uma frincha que se estende a todo o comprimento. O tocador com dois paus extrai os sons cavos ou mais agudos do instrumento. O som pode ser ouvido a vários quilómetros de distância.

Finalmente, o artigo “Sobre a etnonímia das populações nativas da Guiné Portuguesa” da autoria do professor António de Almeida. O autor defende a tese de que as designações de quase todos os povos da Guiné é de origem mandinga, com várias alterações introduzidas pela língua portuguesa ou pelo crioulo. Também existiriam etnónimos de outras origens designadamente fulas.
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Nota do editor:

Último poste da série > 25 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11309: Notas de leitura (468): Catarse, por Abel Gonçalves (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 27 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11324: Álbum fotográfico de Abílio Duarte (fur mil art da CART 2479, mais tarde CART 11/ CCAÇ 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70) (Parte IX): Piche, vista aérea... E as valas onde se "despistou" o nosso camarada e amigo comum Renato Monteiro...



Guiné > Zona Leste > CART 2479/CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche, Paunca, 1969/70) > Piche, vista aérea > "Quando sobrevoei Piche... Vê-se as valas feitas pela CART 11 onde o Renato Monteiro se despistou"...

Foto (e legenda): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complemenetar: L.G.]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*).

Que história é essa do "despistanço" do meu amigo de Contuboel, o Renato Monteiro, o "homem da piroga" ?


2. Eis aqui a versão do Abílio Duarte... Espero que um dia destes o Renato Monteiro possa (e queira) apresentar a dele... Já o convidei... Mas ele tem mais que fazer: é hoje um conceituado fotógrafo e escritor...

[, Foto à direita, o Renato Monteior, o homem do remo, numa piroga com o Luís Graça, Rio Geba, Contuboel, Junho de 1969; foto de L.G.]



O que se passou, com o Monteiro, foi o seguinte: O Monteiro era, e penso que ainda é, uma extraordinária pessoa, e estava nitidamente a mais naquela guerra, assim como todos nós.
Conheci-o, muito bem, pois estivemos em Vendas Novas,e tiramos o mesmo Curso de Minas e Armadilhas, em E.P.E. em Tancos.

Ele e o Furriel Cunha, tinham um relacionamento com os africanos, muito diferente dos restantes quadros, e isso só lhes trouxe problemas. Quando a nossa Companhia deixou Contuboel, fomos para Piche, em Julho de 1969, para reforço operacional, pois tinham sido atacados. Quando lá chegamos, os pelotões, quando não iam para o mato, ficavam a abrir valas e construir abrigos.
Certo dia, e eu assisti ao diálogo, aconteceu o seguinte: Estávamos a coordenar os nossos soldados na abertura de valas, a terra era extremamente dura, fazia um calor doido o esforço era muito grande , toda a gente estava cansada, e era hora do almoço. Mas estava estabelecido que cada pelotão tinha que fazer uns tantos metros de vala, e de profundidade,(estás a ver o petisco). O bom do Monteiro vira-se para os soldados, e diz para pararem, e prepararem-se para ir comer.

Hora de azar, ia a passar ou estava a ver o trabalho, um Major do Batalhão lá de Piche, e vê o Monteiro a formar os homens, aproximou-se perguntando porque é que pararam o trabalho, e o Monteiro diz que os homens tinham que ir comer. Deu-se a bronca, era o Major a dizer que eles não podiam ir comer, enquanto as valas não estivessem prontas, e o Monteiro respondia que iam, porque ele é que mandava! Foi um 31 dos antigos.

O resto foi o que se sabe, inquérito, processo, prisão, despromoção e transferência. [O Renato Monteiro foi transferido, por motivos disciplinares, para a CART 2520, Xime, 1969/70. LG]

Eu tive mais sorte, pois ainda em Contuboel, tive um caldinho parecido. Estava de Sargento de Dia e,  ao jantar, conforme vinham da instrução os soldados,  iam comer ao refeitório, depois da companhia de brancos, a que estavamos adidos. Quando entraram os nossos primeiros soldados, sentaram-se, tudo bem. Estava eu á porta do refeitório, e vem o 1º sargento  daquela companhia, chamar-me, a dizer que os meus soldados não queriam comer!

Fui ter com dois deles que me mereciam respeito, um deles até bastante religioso, e perguntei o que se passava, explicaram, que o arroz não prestava e as conservas de sardinhas não estavam boas. Ok. Não querem comer não comem, vão comer á tabanca.

Estava eu,  mais o meu Cabo, a orientar os homens para sair do refeitório, vem o cabrão do
1º sargento,  aos gritos, que eu tinha que obrigar os soldados a comer.  Olha lá, como é ? Levantou-se um arraial, não passaram 5 minutos e aquilo já estava cheio de oficiais. Levaram-me ao Capitão deles, apareceu o meu, porquê isto, porquê aquilo, os homens  tinham que comer, etc. etc. Estou feito. Iam comunicar ao Major Azeredo, para Bolama,  que era o Director de Instrução, e que me iam embrulhar numa folha de 25 linhas.

Quando fomos a Bissau, para o Juramento de Bandeira, fui visitar uns camaradas da CCS, do meu Batalhão inicial em Penafiel, quando me disseram, que havia uma participação com o meu nome. Normal. Fiz várias perguntas, e disseram que aquilo dava prisão. Eu comentei, não acredito que me mandem preso para a metrópole, pois preso já aqui estou.

Até hoje, penso que o que me livrou foi alguém em Bissau, considerou que o que fiz era boa
politica, tendo em atenção a filosofia do Spinola com as tropas africanas. Safei-me. O Monteiro
não. São situações e momentos, que nunca esquecemos, de uma aventura de 22 meses, em terras
estranhas.

Guiné 63/74 - P11323: Convívios (507): 7º Encontro-Convívio do pessoal das unidades adstritas ao BART 2917, Viseu, 4 de Maio de 2013 (Benjamim Durães)


1. O nosso Camarada Benjamim Durães, que foi Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917 – Bambadinca -, 1970/72, solicitou-nos a publicação do seguinte convite para a festa do convívio anual do BART 2917 e unidades adstritas:



7º ENCONTRO-CONVIVIO DA CCS / BART 2917


DIA 04 DE MAIO DE 2013 EM VISEU-2


O 7º Encontro-convívio da CCS do BART 2917 é extensivo a todas as unidades que operaram sob o comando do BART [Cart 2714, 2715 e 2716, CCaç 12; Pel Caç Nat 52, 53 e 63, Pel Rec Daimler 2206 e 3085, Pel Mort 2106 e 2268, Pel Intend A/D 2189 e 3050, 20º Pel Art/GAC 7 e Pel Eng do BENG 447 de Bambadinca], seus familiares e amigos e será no dia 04 de Maio de 2013 em Viseu, no Hotel Onix situado a 3 Km do Centro de Viseu, na Via Caçador 16 (coordenadas GPS - N 40º 38' 36,9'' W 7º 51' 52,48''), com a concentração a partir das 08h30.

Os aperitivos terão início às 10h45 horas com o almoço às 13 horas com um prato de peixe e outro de carne.

O lanche-ajantarado terá início pelas 16h30 horas e que consiste de um porco no espeto acompanhado de arroz de feijão e caldo verde.

O custo do Encontro-Convívio é de 35,00 Euros para adultos e 20,00 Euros para crianças dos 07 aos 11 anos.

Quem quiser pernoitar no Hotel Onix, o custo é de 40,00 euros por quarto de casal e a marcação terá de ser efectuada até ao dia 15 de Abril para o organizador ÁLVARO GOMES SANTOS – ex-1º Cabo caixeiro – telemóvel 96 693 08 88 / telefone 232 641 470

A organização do evento está a cargo de BENJAMIM DURÃES - ex-Fur. Milº e ÁVARO GOMES SANTOS – ex-1º Cabo caixeiro, ambos da CCS/BART 2917.

Solicita-se que confirmem até dia 20 de Abril as presenças para:

- BENJAMIM DURÃES – telemóvel 93 93 93 315 ou através de correio electrónico duraes.setubal@hotmail.com ou

- ÁLVARO GOMES SANTOS – telemóvel 96 693 08 88 – telefone 232 641 470

A Organização agradece desde já a todos os camaradas de armas pela atenção dispensada com um até JÁ.

Um abraço,
Benjamim Durães
Fur Mil Op Esp/RANGER do Pel Rec Inf, CCS/BART 2917
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:

25 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11311: Convívios (506): III Almoço mensal da Tabanca Ajuda Amiga, dia 28 de Março próximo na Cantina da Associação de Comandos, em Oeiras (Carlos Fortunato)

Guiné 63/74 - P11322: Memória dos lugares (228): O enigma de Sinchã Queuto, no setor de Paunca (Abílio Duarte, CART 2479/CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70)



Guiné > Zona leste > Mapa de Paunca (1957) (Escala 1/50 mil) > Detalhes: posição relativa de Paunca, Paiama, Sinchã Abdulai e Guiro Iero Bocari, junto à fronteira co0m o Senegal. Há inúmeras tabancas começadas por Sinchã...mas não localiza Sinchã Queuto (LG).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné



1. Pergunta do editor ao  Abílio Duarte, ex-fur mil art da CART 2479 (mais tarde CART 11 e finalmente, já depois do regresso à Metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa companhia de “Os Lacraus de Paunca”) (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70). (*)

Tenho dúvidas sobre a localização de Sinchã Queuto. Tenho que confirmar com o António Baldé. Se bem me lembro, ele disse-me que era "a seguir a Paunca, não longe de Paima, em direção à fronteira com o Senegal"...

A única Sinchã Queuto que eu encontro, através dos mapas, é a norte de Bafatá e a sul de Contuboel, longe dos sítios por onde a CART 11 (Nova Lamego, Piche, Paunca)... Vou pedir ao Abílio Duarte para me esclarecer esta dúvida. E se chegou conhecer o alferes Matos, que é de Ovar. Esse Matos, da CART 11, esteve destacado em Sinchã Queuto com o António Baldé.

2. Resposta do Abílio Duarte, com data de ontem:

Em resposta ás tuas questões, tenho a informar o seguinte:

(i) Vim embora de Paunca em 20.12.70, e embarquei para Lisboa no Avião TAP em 22.12.70;

(ii) Até aquela data penso que nenhum alferes ainda tinha sido rendido; portanto não conheci o
Alf Matos,  que referes;

(iii) Não me recordo do António Baldé [, 1º cabo da CART 11, 1970/71];

(iv) Enquanto estive na Zona de Paunca, conforme confirmei na História da Companhia,  nunca estivemos naquela tabanca [, Sinchã Queuto];

(v) Estavamos em quadricula, e além de Paunca, estavamos também em Paiama, Guiro Iero Bocari e Sinchã Abdulai;

(vi) Naqueles tempos parece-me que as tabancas tinham mais de um nome e, pela situação que referes, ser a norte de Paunca penso,  que poderá ser Guiro Iero Bocari, que por acaso também não aparece no meu Mapa.

Sempre à tua disposição, um grande abraço
Abílio Duarte
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 25 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11310: Memória dos lugares (227): Vistas aéreas da doce e tranquila Bafatá, princesa do Geba (Humberto Reis, ex-fur mil op esp, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) (Parte II)

Guiné 63/74 - P11321: Parabéns a você (552): Armando Pires, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAÇ 2861 (Guiné, 1969/70); Carlos Vinhal, ex-Fur Mil da CART 2732 (Guiné, 1970/72); Eduardo Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp da CCS/BCAÇ 4612 (Guiné, 1974) e amiga tertuliana Maria Dulcinea que pisou a terra vermelha de Bissorã

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 25 de Março de 2013 > Guiné 63/74 - P11308: Parabéns a você (551): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Guiné, 1965/67)

terça-feira, 26 de março de 2013

Guiné 63/74 - P11320: Feliz Páscoa para a tertúlia da Tabanca Grande (Manuel Joaquim)

1. Mensagem do nosso camarada  Manuel Joaquim (ex-Fur Mil de Armas Pesadas da CCAÇ 1419, BissauBissorã e Mansabá, 1965/67), com data de 25 de Março de 2013:

Meus caros Luís, Carlos e Eduardo, queridos camaradas da Guiné:
Para vós e, em vosso nome, para os membros deste blog, desta Tabanca Grande, vão os meus votos de Feliz Páscoa.

Como seria lindo, se fosse possível, todos nos abraçarmos a todos!
Junto um video que pode simbolizar a união para o cumprimento de um objectivo, neste caso uma união de base religiosa, uma procissão para glorificar a ressurreição de Cristo, "inneggiamo al Signore" (louvemos o Senhor).
Que em todos nós, religiosos ou não, crentes ou não na ressurreição, revivam (se for caso disso) ou não esmoreçam os sentimentos de fraternidade e de solidariedade tão necessários nos dias de hoje para acreditarmos nas nossas capacidades, como sociedade e como país.

Um grande abraço
Manuel Joaquim




A propósito do video:

O video que anexo é um excerto da ópera de Pietro Mascagni, "Cavalleria Rusticana", cinematografada por Franco Zeffireli em 1982. Nele intervêm o Coro e a Orquestra do "Teatro alla Scala" de Milão e a mezzo-soprano Yelena Obraztsova (Santuzza) .
Vale bem a pena ver o filme, para quem gosta de ópera e não só, está disponível no Youtube, com Placido Domingo (Turiddu), Renato Bruson (Alfio), Fedora Barbieri (Mamma Lucia) e Axelle Gal (Lola).

Esta cena espectacular de uma procissão pascal está composta por imagens, símbolos e atitudes populares que representam bem esta forma de expressão de religiosidade católica muito comum, há uns bons anos atrás, por toda a Europa mediterrânica. Algumas dessas procissões ainda hoje se fazem. Também em Portugal, basta lembrar Braga.

Sou, religiosamente, agnóstico mas este naco de filme emociona-me, faz-me voltar à minha infância. Vejo estas imagens e revejo-me, garoto, a saltar nas bermas do caminho e a subir a muros para melhor ver passar a procissão, amedrontado e ao mesmo tempo excitado pela visão do andor do Cristo Crucificado à frente de outros como os da Senhora dos Milagres, do S. Jorge, do S. Tiago, do S. Sebastião cravado de setas e a sangrar das feridas ...
A acompanhar esta memória visual vem também a memória olfactiva, vêm os aromas do fumo de incenso e os saídos da murta e do alecrim pisados durante a procissão, o cheiro dos foguetes queimados cujas canas eram um chamariz a que não sabia resistir e, por fim, os belos, aromáticos e doces folares ofertados pelos padrinhos.

Como é bom sentir assomar à superfície de mim a criança que sei que me habita. Mesmo não dando por ela muitas vezes, não a quero perder de maneira nenhuma.

Havemos de continuar juntos, precisamos de estar juntos para vivermos. Até ao fim.

Manuel Joaquim
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Guiné 63/74 - P11319: (Ex)citações (216): É lamentável que se perfilhe a teoria propagandista do IN/PAIGC, segundo a qual este cercou Guiledje em Maio de 1973 (Carlos Silva)


Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) > Foto aérea de 1972 do aquartelamento e tabanca de Guileje, tirada no sentido oeste-leste.

Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.

1. Comentário deixado no Poste 11297 pelo nosso camarada Carlos Silva (ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71), no dia 24 de Março de 2013:

Amigos e Camaradas

A propósito do Post 11297 da autoria do Cor Coutinho e Lima em resposta ao que é publicado no livro “Alpoim Calvão Honra e Dever” a págs 311, de facto é lamentável que os autores, pelo menos os 2 militares, perfilhem a teoria propagandista do IN/PAIGC, segundo a qual este cercou Guiledje em Maio de 1973.

Aliás, até são contraditórios, pois por um lado dizem que o “…. PAIGC cerca Guidaje, a Norte, GUILEJE, na fronteira com Conakry “ e referindo ainda “…. Perante a incredulidade do inimigo que demora muitas horas até se aperceber de que estava a CERCAR uma instalação militar deserta.”

Afinal é caso para perguntar. O IN cercou ou não o nosso aquartelamento de Guileje??
Daqui resulta claro que não. E só quem não está de boa fé ou que não foi militar ou que não conhece os factos, só pode revelar uma ignorância desta natureza.

Já Aristides Pereira no seu livro “Uma Luta, um partido, dois países” pág. 205 mente descaradamente quando refere: 

“...Em fins do terceiro trimestre de 1972, Cabral, depois de aferir da importância do quartel como peça mestra de um dispositivo que pretendia reconquistar o controlo da fronteira sul, havia concebido o plano de assalto e tomada da fortificação de Guiledje, o que, porém, só veio a concretizar-se nos meses que se seguiram ao seu assassínio…..”, reafirmando a seguir: “Foi em Maio de 1973 que o PAIGC atacou e tomou Guiledje, o quartel mais bem fortificado da frente sul, que, pela, sua importância e localização, funcionava como ponto estratégico a partir do qual as forças coloniais controlavam a movimentação das FARP no Sul da Guiné em ligação com outras guarnições de menor importância.”

É nesta onda de mentira que também os autores do livro “Alpoim Calvão… “ e outros camaradas pactuam, deturpando os factos e prestando assim um mau contributo para a nossa História.

Meus Amigos, abstenham-se de pactuar com tretas destas. E se assim não é, então desafio para que apresentem provas concretas de que as vossas afirmações são verdadeiras, o que não conseguem.

Eu já aqui apresentei testemunhos relativamente à inexistência do mito do cerco a Guiledje, em comentário a propósito dos Posts 5403; 5417 e 5432, o qual reitero e aqui reproduzo.

“Não vou pronunciar-me sobre a retirada de Guileje, nem sequer fazer apreciações sobre a mesma, porquanto, não estive lá e felizmente não passei por esse pesadelo e nem sequer vou pronunciar-me sobre a tomada da decisão da retirada ou sobre a visão que cada um tem sobre esses momentos que viveu, deveras difíceis. Pois cada um tem a sua própria visão dos factos.

Compreendo as diferentes reacções que cada camarada possa ter tido naquelas situações vividas, na medida em que, eu próprio passei por diferentes situações complicadas e tive reacções diferentes nesses momentos.

Dito isto, apenas quero salientar que não concordo com a expressão que se vem referindo “cerco de Guileje” porquanto, das provas documentais, documento escritos, fotografias, etc. resulta claro que não houve cerco ao aquartelamento de Guileje, tanto que, em lado algum li ou ouvi referências onde o IN estivesse posicionado durante o hipotético cerco. Aliás, na audiência que um grupo de camaradas teve com o falecido Presidente Nino em 5 ou 6-3-2008 que se deslocaram à Guiné para participar no Simpósio de Guileje, onde estive presente, bem como, o Sr Cor Coutinho e Lima, Luís Graça, Abílio Delgado; José Carioca e outros, como não poderia deixar de ser, foi abordada a questão da retirada de Guilege. 

Nessa audiência recordo que o Presidente Nino falou sobre os constantes bombardeamentos de artilharia do PAIGC ao aquartelamento de Guileje e disse também que tiveram conhecimento da retirada das NT do local posteriormente e que passados 3 dias foram lá com todas as cautelas possíveis, pois as NT poderiam ter deixado o local armadilhado.
Feito o reconhecimento da zona, retiraram sem efectuarem qualquer ocupação efectiva. 


Em Março/2009, estive novamente em Guilege, Gandembel, Candembel [corredor da morte] onde falei com um ex-Comandante que actuava na zona, o qual também acompanhou-nos durante o Simpósio ano transacto e falámos sobre o tema. Claramente lhe disse, argumentando com os testemunhos atrás invocados, que não tinha havido “cerco a Guileje” e ele concordou comigo.

Face aos testemunhos atrás mencionados, tenho para mim, que não existiu qualquer cerco a Guileje, salvo o devido respeito que é muito, por opiniões contrárias.

Carlos Silva Ex-Fur Mil CCaç 2548/Bat Caç 2879”

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Nota do editor:

Vd. último poste da série de 22 DE MARÇO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11297: (Ex)citações (215): O ataque a Guileje (Maio de 1973) e o livro "Alpoim Calvão - Honra e Dever" (Coutinho e Lima)