
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Bambadinca, 1970/72 > Reordenamento de Nhabijões > c. 1970 > O saudoso alf mil médico, Joaquim Vidal Saraiva (1936-2015) (Guileje, Bambadinca e Bissau, 1969/71) prestando cuidados de saúde
Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados . [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. No seu depoimento sobre a Guiné, no livro escrito a quatro mãos, “África: a vitória
traída” (Braga, Intervenção, 1977, pp. 103-142), o gen Bettencourt Rodrigues, o
último Com-Chefe do CTIG, tem alguns dados “interessantes” sobre a “situação
político-económico-social” do território, reportada aos princípios de 1974:
(i) nos primeiros três meses de 1974 (o último ano da
guerra), destaca-se como grande acontecimento “político-social” o V Congresso
do Povo (de 21 de fevereiro a 10 de abril); mobilizou “alguns milhares de representantes das populações” (sic), tendo dado
lugar a “24 sessões de 4 reuniões cada,
em 19 localidades da Guiné, além de Bissau”, espalhadas por todo o território, e sem qualquer interferência do PAIGC (pp. 107/108);
(ii) de 15 a 20 de janeiro desse ano, a Guiné recebeu a
visita do Ministro do Ultramar que se deslocou a “Teixeira Pinto, Cacheu, Pelundo
e Farim, no Norte, a Nova Lamego e Bafatá (viajando de automóvel entre estas
duas localidades), no Leste, e a Catió e
Caboxanque, no Sul” (pág. 108);
(iii) o orçamento da província nesse ano era de 380 mil
contos (cerca de 20% mais do que o do ano anterior) (a preços de hoje, seriam 72,5
milhões de euros) (acrescente-se que o aumento de 1973 para 1974, não tem significado, era neutralizado pela inflação);
(iv) dava-se início
ao Plano de Empreendimentos (no âmbito do IV Plano de Fomento), dotado de 155
mil contos (com incidência sobretudo nas áreas da Educação, Saúde, Vias de
Comunicação, Agricultura e Melhoramentos Urbanos e Rurais (155 mil contos era um valor equivalente, a preços de
hoje, a c. 29,5 milhões de euros) (pág. 109);
(v) a população escolar era estimada em 61 mil alunos (com
2200 professores), dos quais 91,8% no
ensino primário; no ciclo preparatório e no ensino secundário, havia apenas
6,2% e 2%, respetivamente;
(vi) dos professores no ensino primário (1050, no total), 220 eram
militares (c. 21%);
(vii) o território dispunha de 1 Hospital Central, 3 Hospitais
Regionais, 6 Hospitais Rurais, 50 Postos Sanitários (24 com médico e enfermeiro)
e 12 Maternidades (pág. 109);
(viii) os recursos humanos da saúde eram os seguintes:
- 82 médicos (sendo 4 civis, e os restantes militares);
- 2 farmacêuticos e 1 farmacêutico-analista;
- 360 enfermeiros e auxiliares de enfermagem;
- 2 assistentes sociais e 1 auxiliar social; e
- 76 parteiras e auxiliares de parteira.
(ix) em 1972, o número total de consultas (dadas a doentes civis) foi de 676 mil, mas apenas 1 em cada 4 foi prestada pelos Serviços
Provinciais de Saúde, sendo as restantes (74,3%) da responsabilidade das Forças
Armadas (pág. 110);
(x) no setor privado empresarial, era de assinalar a
entrada em laboração de uma “fábrica de cerveja e refrigerantes” e de um “parque de armazenagem e
envasilhamento de gases de petróleo liquefeito"; em fase adiantada de
construção, havia uma "nova unidade hoteleira em Bissau";
(xi) a participação das Forças Armadas nas tarefas de desenvolvimento económico-social pode
ser ilustrada pelos seguintes dados relativos a recursos humanos:
- 270 militares (37 oficiais, 50 sargentos e 182
praças) estavam destacados em funções exclusivamente civis;
- em acumulação (também com funções civis), havia
137 militares (110 oficiais, 21 sargentos e 6 praças);
- dos 82 médicos em serviço na Guiné, 76
pertenciam às Forças Armadas (e 2 dois eram seus familiares):
- cerca de 75% dos professores eram militares ou
seus familiares.
(xii) 160 mil contos (c. 38,5 milhões de euros, a preços
atuais) foi a verba dispendida em 1973 pelas Forças Armadas, no âmbito do
desenvolvimento socioeconómico, sob a forma de “comparticipação direta” (na
saúde, educação e desenvolvimento rural) (c. 40 mil contos), e de “comparticipação
indireta” (transportes e vencimentos pagos a civis, e) (c. 120 mil contos)
(pág. 112).
(xiii) no Plano de Empreendimentos para 1974, cabia às
Forças Armadas a construção de 1500 casas em 44 reordenamentos, 11
postos sanitários e 30 edifícios escolares, a par da continuação da construção
da estrada Aldeia Formosa-Buba (que já estava em fase adiantada);
(xiv) até ao final de 1973, as
Forças Armadas tinham construído 15.700 casas, 167 escolas, 50 postos
sanitários, 56 fontenários e 3 mesquitas, e aberto 144 furos para abastecimento
de água. (pág. 115)
Acrescente-se que toda esta dinâmica vinha já da conceção e execução da política spinolista "Por uma Guiné Melhor"...
O novo Governador limitou-se a apanhar o comboio em andamento, sem tempo, nos 7 meses do seu "consulado", para reformular as políticas e os projetos em curso, da autotia do seu antecessor.
Pora outro lado, é conveniente lembrar que havia escasser de recursos humanos na saúde (bem como na educação): por exemplo, em 3 décadas, de 1960 a 19i0, o número de médicos em Portugal quase que triplica, passando de 7,1 mil (em 1960) para 19,3 (em 1980), mas com crescimento menor entre 60 e 70, de apenas 1,2 mil, situação explicável pelas crises académicas, menor acesso à universidade, existência de apenas 3 faculdades de medicina, inexistência de carreiras médicas, serviço militar obrigatório, guerra colonial, menor cobertura da população por esquemas de saúde públicos e privados, etc.
E também havia falta de enfermeiros, que passaram de 9,5 mil (em 1960) para 22,1 mil (em 1980).
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