Caros Editores
Caso queiram remeter esta pequena informação à investigadora Maria Joana Ferreira da Silva, sobre o macaco-cão no Dulombi, disponham.
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Avistamento de Macaco-Cão na Zona de Dulombi/Galomaro
Na primeira Operação em conjunto com a Companhia que fomos substituir - a CCAÇ 2700 - (1 de Fevereiro de 1972) e ao fim da tarde tomei pela primeira vez contacto com os babuínos e, pela forma peculiar com que se expressavam - latiam como cães - ficámos convencidos de que se tratava de cães do IN, pois ali era terra de ninguém e só nós ou os guerrilheiros por ali poderiam andar. É claro que a velhice e os milícias colocaram um riso malandro, fazendo crer, primeiramente, que eram os cães do PAIGC e só depois nos acalmando, dizendo que era um bando de macaco-cão.
Durante as operações que efectuámos na zona do Dulombi, entre esta população e o Rio Corubal, vimos muitas vezes bandos destes macacos, também chegámos a observá-los na picada (estrada) entre Dulombi e Galomaro. Quando estávamos instalados durante algum tempo atreviam-se a aproximarem-se, embora com cautelas. Havia sempre uns indivíduos maiores que ocupavam posições mais elevadas, como um morro de baga-baga ou uma árvore, parecendo ficar de vigia. Faziam por vezes um barulho ensurcedor, mas na maior parte do tempo pareciam estar sempre na brincadeira. Pareciam grupos grandes, de 40/50 indivíduos.
Quando a população do Dulombi plantava a mancarra, deixavam sempre alguém a tomar conta da plantação, seja para afastar os babuinos, seja para os dissuadir através de tiros de Mauser. Não temos conhecimento de qualquer ataque deste tipo de macacos, seja à tropa, seja à população, embora sejam aguerridos. Numa da vezes em que estávamos instalados para efectuar um descanso, um bando de babuínos surgiu e como estavam a fazer um barulho muito intenso, os meus soldados fizeram uma aposta comigo em como não era capaz de atingir um dos mais barulhentos que víamos a mexer por entre as árvores, a uma distância de perto de 80/100 metros. Como tinha a mania que tinha boa pontaria e perícia, pensei: vou apenas pregar um susto ao bicho. Rodei o diópter do aparelho de pontaria da G3 para a alça de 300m e apontei ao lado do macaco e disparei. Para minha surpresa, o animal caiu da árvore, chegando ao chão morto. Tinha-lhe acertado em cheio, apontei ao lado, mas houve qualquer desvio e o tiro foi fatal. Foi uma burrice... uma traquinice pouco ecológica e respeitadora de outros seres vivos. Raio de aposta!
Contava-se estórias de que os Fulas comiam macaco e que mesmo esse petisco havia sido provado por militares nossos, mas não sei se é verdade. No quartel não havia babuínos em cativeiro, unicamente um macaco mais pequeno que pertencia ao Escriturário da Companhia, mas que foi fuzilado por mim quando o apanhei a arrancar a cabeça dos nossos pintainhos, que criávamos para nos alimentar posteriormente.
Um abraço
Luís Dias
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 21 de Janeiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3769: Fauna & flora (15): Macaco cão à mesa de Ponte Maqué e o "Buba" na Orion...(Raul Albino/M. Lema Santos)
1 comentário:
Olá Luis!
Estás com bom ar no retrato, e viçoso.
A propósito das relações dos homens com os macacos, eu, também, comi macaco... a acreditar no velho comerciante, de Bajocunda, que me convidou para o guisado.
Naquele tempo, eu comia em quantidade, pelo que, devia parecer, estar a comer com gosto, e o anfitrião perguntou-me se eu sabia o que comia. Esclareceu-me de seguida.
Quanto ao repasto; tratava-se de uma carne branca, condimentada com excessivíssima dose de picante, de que nunca fui apreciador, que anulava qualquer paladar da carne, e obrigava-me a beber uma cervejola por cada garfada, na tentativa desesperada da apagar o fogo.
Só anos mais tarde, quando assisti a uma reportagem sobre a Guiné, passada na RTP, e vi os macacos alinhados numa prateleira, sem as peles, à espera para qualquer festim, tive a confirmação definitiva de que comera daquela espécie.
Cuidado, em Palmela, confere a origem das carnes. Mesmo assim, não percas o apetite, e um dia, quiçá, poderás dar melhor testemunho do que eu.
Abraços
José Dinis
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