Foto: Fernando Barata (2007). Direitos reservados.
1. Recolha de Luís Dias, ex-Alf Mil da CCAÇ 3491 (Dulombi e Galomaro, 1971/74), e membro da nossa Tabanca Grande:
ADEUS, GUINÉ (*)
É o fim do castigo ,
Terminou a comissão,
É necessário gritar
Piras! Não venham,
Deixem isto acabar,
Morrer de tédio,
Sem remédio.
Isto é vida de cão,
A velhice vai embora
Enquanto a bajuda chora
E a nau está a naufragar.
Adeus Guiné!
Grita se quiseres,
Se te apraz.
Se te sentes feliz,
Se isso te satisfaz .
Eu não quero continuar de verde-claro,
Saí do Dulombi!
Deixei Galomaro!
Sofre-se porquê?
Se não mereces tal sacrifício
Ou é apenas vício?
Tu não sabes o que andas a fazer
ou afinal até sabes….!
Espero que de mim
só leves suor e muitas lágrimas.
Cheira bem, cheira a Lisboa!
Aqui o tempo está parado,
Lá parece que voa.
Sabes como é,
Tudo é finito.
Assim, solto meu grito,
Ponho-me de pé.
Atraca o navio.
É hora de embarque.
Viro as costas ao cais,
Aqui não volto mais,
Não há lágrimas em destaque.
Adeus, Guiné!
[Fixação e revisão de texto: L.G.]
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. blogue Histórias da Guiné 71-74 > CAÇ 3491 - Dulombi > 8 de Julho de 2008 > História do regresso
Este blogue pretende ser um "espaço de confraternização para todos aqueles que, como combatentes, tiveram de percorrer as matas, as bolanhas, as picadas e os rios da Guiné, entre Dezembro de 1971 a Março de 1974" e propoe-se, em especial, "invocar aqui a história e as 'estórias' dos elementos da CCAÇ 3491, aquartelados em Dulombi e também em Galomaro. Fomos dos últimos combatentes do denominado 'Império Português'.
Vd. também o poste no nosso blogue > 8 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3037: Os nossos regressos (8): E vieram todos (Luís Dias)
(...) "No dia 28 de Março saímos do Cumeré em direcção ao Porto de Bissau, com o pessoal da companhia a cantar canções do Cancioneiro do Dulombi e da Tecnil e músicas populares portuguesas, em que se destacava aquela do 'Cheira bem, cheira a Lisboa'…O embarque no navio Niassa deu-se sem quaisquer peripécias, a não ser o costume do amontoado de pessoas e bagagens nos porões, onde as praças seguiam 'empilhados' – péssima maneira de estimar quem dera o coirão pela Pátria. (...)
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