Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 22 de janeiro de 2009
Guiné 63/74 - P3774: Histórias de um oficial de CHERET (José Paracana (2): Lembrando a figura de Barros Moura
1. Mensagem de José Paracana (1), ex-Alf Mil, QG, Bissau, 1971/73, com data de 17 de Janeiro de 2009:
Caro camarada Carlos!
Estou ainda para descobrir onde meti o raio dos documentos confidenciais que subtraí do meu serviço xeret na Guiné.
Entretanto, vai um episódio sobre um camarada que já faleceu: o depois deputado, IBM - como era conhecido em Coimbra, pelos colegas da Universidade.
O Barros Moura (o I era para inteligente) (*) era de facto excepcional. Dono de grande cabeça e espírito combativo. Com as lutas e greves da academia, nos anos 60, foi castigado e incorporado no Exército, como outros, do reviralho actuante!
Ele foi comigo e mais umas centenas, no navio Uíge.
Já na Guiné, e no Cumeré, onde o Spínola recebia e falava às tropas... aconteceu que, o nosso General mandou que todos os que eram estudantes - ou vinham formados da Universidade de Coimbra (a Pátria da contestação, no entender dele) - fossem dirigidos para uma sala onde perorou sobre o nosso destino e missão:
- Estão aqui a defender a Pátria transcontinental - e essas coisas do estilo, em voga na época!
Lembro que ao reparar finalmente no Barros Moura, que fora como aspirante para a Guiné, lhe fez um reparo:
- Oh, nosso aspirante! Então não se envergonha de ser o único aspirante em toda a Guiné?
Ao que lesto e fatal - como só ele sabia - saiu a resposta demolidora:
- Eu? Eu não, meu General! O senhor envergonha-se de ser o único General em toda a Guiné?
Foi risota geral, e o senhor do monóculo... cavalheiresco, engoliu o sapo e acompanhou a galhofa!
Mas espero bem depressa encontrar os docs que tenho em casa, para rir mais um pouco da loucura que todas as guerrilhas ou guerras contêm!
Abraços fraternos do camarada
José Paracana
ex-Alf Mil
Bissau, 1971/73
__________
Notas de CV:
(*) José Barros Moura
José Barros Moura (Porto, 8 de Outubro de 1944 - 25 de Março de 2003) foi um político português.
Iniciou a actividade política nas lutas académicas, em 1962, o que lhe valeu ser expulso da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Licenciou-se em Coimbra, onde entretanto voltou a envolver-se, como dirigente associativo, na luta académica de 1969, já como militante do PCP, o que lhe valeu a alcunha de IBM (Inteligente Barros Moura).
Incorporado compulsivamente nas fileiras do exército português, foi enviado para a Guiné, a pior frente de combate na Guerra Colonial Manteve-se no PCP durante 27 anos, afastando-se na altura da perestroika. Adere então à Plataforma de Esquerda, grupo formado por dissidentes comunistas e integrado, entre outros, por Miguel Portas, Joaquim Pina Moura, Daniel Oliveira e José Magalhães. Em 1999 adere ao PS, de que já era deputado independente eleito para o Parlamento Europeu. Eleito para a Assembleia da República, foi vice-presidente da bancada parlamentar socialista.
Foi também presidente da Assembleia Municipal de Felgueiras, cargo que abandonou por discordar do estilo de gestão imprimido pela presidente do município, Fátima Felgueiras.
Entre 1988 e 2003 exerceu funções docentes na Universidade Autónoma de Lisboa (Departamento de Direito).
Retirado da Wikipédia com a devida vénia
__________
(1) Vd último poste de José Paracana de 21 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3494: Histórias de um oficial da CHERET (José Paracana) (1): Alfero, quer parte cabaço ?
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário