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domingo, 4 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26764: (Ex)citações (432): Gosto de arquivar para mais tarde recordar e por vezes surpreender os amigos com peripécias vividas há anos (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

1. Mensagem do nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), com data de 2 de Maio de 2025:

Caro Carlos Vinhal
Relativamente ao Post de hoje[1] e como não sei dar resposta, via Blogue, às perguntas que me são feitas, passo a responder:

1 - Gosto de arquivar para mais tarde recordar e por vezes surpreender os amigos com peripécias vividas há anos;

2 - Quanto aos preços de revenda que se praticavam na cantina de Nova Sintra, em anexo envio o "anexo" relativo aos lucros, do balancete de 31 de Maio de 1970, uma vez que não tenho o relacionado com o mês de Junho (falha indesculpável). Fico a aguardar a vossa conversão dos valores referidos, a exemplo da que já enviaram e que muito apreciei.

3 - Relativamente à falta de águas engarrafadas, aqui entrava a funcionar o mercado da oferta e da procura. Como a procura era pouca, a oferta tinha de corresponder. Refiro-me às Águas Castelo que em Maio/70 só foram vendidas 65 garrafas, o que equivale a dizer que só 1/3 do pessoal as consumia. Lembro que chegamos a ter água engarrafada da marca francesa "Perrier", um luxo em tempo de guerra e uma vez que era cara deixou de ter compradores. Já agora lembro também a "Água Tónica Ross"

Para futuros e melhor contacto agradeço que me envies por mensagem o teu número de telemóvel.

Um abraço
Aníbal Silva


_____________

Nota do editor

(1) - Vd. post de 2 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26754: (In)citações (269): Quem se lembra destes preços? (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

Último post da série de 29 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26212: (Ex)citações (431): Ainda o caso do nosso saudoso António da Silva Baptista (1950-2016), o "morto-vivo": nas vésperas do "verão quente de 1975" era herói da literatura de cordel nas feiras e romarias do Norte

8 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Aníbal, obrigado mais uma vez.

5452,7 escudos de saldo (que transitou de maio para junho de 1970, na cantina na CCAV 2483 (Nova Sintra), é obra!...Esse valor, convertido para euros (a preços atuais, ou seja, tendo a conta a inflação em 55 anos!) é equivalente a 1873,00 euros (de hoje)...

Tomara muita micro e pequena empresa em Portugal, hoje, ser gerida assim, com rigor, escrúpulo, equilíbrio e contas certas...

47,8 escudos para "artigos deteriorados e em falta" ?!... Só ?!... Isso é menos que uma garrafa de uísque novo "gamada" ou "partida"... Não quero especular, nem fazer juizos de valor, mas no meu tempo (no nosso tempo, eu sou de 1969/71) às vezes dava jeito uma emboscada, uma mina A/C ou um ataque ao quartel, para ajudar a "contabilidade criativa" do capitão, do 1º sargento, do vagomestre e do gerente da cantina...

Tens aqui, na Pordata, o simulador de inflação: escolhes o ano (neste caso, 1970), a moeda (neste caso, o escudo) e indicas a importância (em escudos) que queres converter para euros....Fazes OK e já está!

https://www.pordata.pt/pt/simuladores/simulador-de-inflacao

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em relação às águas minerais engarrafadas... Em Bambadinca tomávamos o nosso uísque com água de Vichy ou Perrier... Um pequeno luxo... Influência da ""francofonia"...Também se bebia bastante "gin tónico"...E coca-cola (fui sempre "alérgico" à bebida americana. dizia-se que era "água suja do imperialismo"; também nunca gostei, nem gosto do vodca. (Ainda gostaria de saber quem era o fornecedor do vodca que vinha para as Forças Armadas Portuguesas... devia ser russo!).

A "água" (ferrosa) de Bambadinca (e da Guiné em geral) não era nada saborosa...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Em relação às águas minerais engarrafadas... Em Bambadinca tomávamos o nosso uísque com água de Vichy ou Perrier... Um pequeno luxo... Influência da ""francofonia"...Também se bebia bastante "gin tónico"...E coca-cola (fui sempre "alérgico" à bebida americana. dizia-se que era "água suja do imperialismo"; também nunca gostei, nem gosto do vodca. (Ainda gostaria de saber quem era o fornecedor do vodca que vinha para as Forças Armadas Portuguesas... devia ser russo!).

A "água" (ferrosa) de Bambadinca (e da Guiné em geral) não era nada saborosa...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Aníbal, vê lá este raciocío está correto, admitindo que: (i) o mês de maio de 1970 foi um mês típico de consumo; (ii) o teu mercado eram 150 homens; (iii) o consumo de artigos de cantina inclui os do bar; e (iv) podem fazer-se extrapolações para o ano todo de 1970...

Quais os artigos que mais se consumiam nas cantinas da tropa, no mato, na Guiné (a partir da lista de venda de Nova Sintra, em maio de 1970):


Cerveja 0,3 l > 3977
Tabaco Porto > 1034
Coca-cola > 1402
Tabaco SG > 754
Fósforos > 718
Leite c/ cacau 411 > 595
Tabaco Português Suave > 395
Cerceja 0,6 > 268
Laranjada Shellys > 223


Se agruparmos por géneros, temos:


Cerveja (0,3 l e 0,6 l) > 4245 (equivalente a 1353,9 l) (*)
Tabaco (todas as marcas) > 2215 (**)
Refrigerantes (coca-coca e sumos) > 1678,5 (***)


(*) A dividir por 150 homens (=9,026) e a multiplicar por 12 meses, dá um consumo "per capita" anual de 108,3 l, valor muito superior à media nacional de 1970, e talvez mais do dobro do consumo atual (em 2022, foi de 53 litros, segundo dados da European Beer Trends).

(**) Média anual "per capita": 177,2 maços

(***) 83,5 % corresponde à coca-cola... Consumo "per capita" anual da coca-cola seria de 112 latas...

... Mais difícil é saber o consumo de bebibas "brancas" (uísque, gin, vodca...). Comprava-se uísque para fazer "stock" e levar para a metrópole, nas férias ou no final da comissão... Mesmo assim, temos mais de 3 de garrafas vendidas por mês / 360 por ano... Mass era,m artigos de luxo para a maior parte (as praças)...

Tens mais informação do movimento da cantina ao longo do ano ?

Temos uma série "A nossa guerra em números"... Podemos fazer um poste em conjunto, a partir dos teus dados... Nunca encontrei um vagomestre tão... "transparente,colaborante e prestável"...

Anónimo disse...

A minha opinião, é que, em relação aos whiskys, estavam a vender muito caro, mas pelo preço de compra já vinha muito caro de Bissau. Na minha C.Art.2479/C.Art.11. o whisky novo não passava os 25,00 escudos. Não me levem a mal, mas alguém andava a mamar, e a época é contemporania, 1969/1970. Aqui há gato.
Abílio Duarte- C.arT.2479.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Abílio, obrigado pela tua achega... Mas também tenho ideia que o uísque novo andava pelos 40/50 pesos, no máximo (conforme as marcas)...

Há muitos anos (quando a memória ainda estava fresca, logo no ínicio do blogue...), o Humberto Reis (que tu conheceste em Contuboel, era fur mil op esp, CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12, em junho / julho de 1969; e é meu vizinho, em Alfragide), escreveu aqui, sobre os preços que se praticavam na messe de sargentos em Bambadinca:

(...) (i) Um maço de SG Filtro: 2,5 pesos (sempre que saía para o mato levava 3 a 4 maços para 2 dias);
(ii) Uma garrafa de whisky novo (J. Walker Juanito Camiñante de 5 anos, rótulo vermelho, JB): 48,50 pesos;
(iii) Idem, de 12 anos, J. Walker rótulo preto, Dimple, Antiquary: 98,50
(iv) Idem, de 15 anos, Monkhs, Old Parr: 103,50;
(v) Um whisky, no bar da messe, eram 2,50 pesos sem água de sifão e com água eram 3,00 pesos (...)


O Sousa de Castro, o nosso grão-tabanqueiro nº 2 (esteve no Xime, 1972/74), acrescentou:

(...) Puxando um pouco pela memória, eu como 1º cabo radiotelegrafista ganhava 1.500$00, sendo 1.200$00 por ser 1º cabo e mais 300$00, de prémio de especialidade. (...)
Recordo que, com um peso, comprava quatro ou cinco bananas. Os uísques novos como o Johnnie Walker (cavalo branco) e outros custavam, em 1972/74, cinquenta pesos; o Dimple 100 pesos; o Old Parr 150 pesos; e havia o Monks, a 250 pesos.


Vd. poste de 28 de julho de 2005 > Guiné 63/74 - P129: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (1): quanto se gastava e em quê... (Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Luís Carvalhido / Sousa de Castro)

Eduardo Estrela disse...

Alguém terá dito!!
" Bebedeiras ou pifos de caixão à cova "
Camaradas e companheiros! Sejamos honestos e reconheçamos que essa foi uma biológica e intectual forma de aguentar aquela merda, correndo eu aqui o risco de ofender virgens por violar, atendendo à merda da linguagem não de caserna mas de sofrimento e morte resultante do que nos foi imposto. Glória a quem se embebedou na procura da racionalidade.
Abraço
Eduardo Estrela

Anónimo disse...

" Glória a quem se embebedou ", apoio esta frase, com experiência própria. Pois eu só bebi Whisky, quando cheguei á Guiné.
Apanhei uma quando estava em Nova Laamego, no quartel de baixo, e de Sargtº. de Dia. Foi de caixão á cova. Até ao fim da comissão, nunca mais bebi whisky. Só Gin com água tónica, mas como a nossa Companhia era de Fulas, e eles não bebiam alcool, a ração da companhia, era como se fosse mos todos brancos, e vinha alcool para 150 marmanjos, todos os soldados, tinham á partida, logo de caras direito a duas garrafas do dito, e eu como estava enjoado do bioxene, guardava as garrafas numa caixa de morteiro 60". Muitas eram para oferta para camaradas, que nos apoiaram, aquando da nossa peregrinação pelo Leste, e as outras, vieram de avião connosco para Lisboa. E foram apanhadas no Aeroporto, episódio que o saudoso Valdemar Queiroz da Silva, já aqui relatou.
Mais uns momentos para recordar, da nosso degredo em Africa.
Abílo Duarte - C.Art.2479/C.C.Art.11.