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sexta-feira, 4 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P26982: (in)citações (275): Jorge Ferreira, "um dos nossos mais velhos"... "Jorge, até aos 100 é sempre em frente!... É só preciso ter cuidado com as minas e armadilhas!... E um dia Buruntuma ainda será grande!" (Luís Graça)


1. O Jorge Ferreira faz hoje 87 aninhos! É da colheita de 1938... É capaz de ser "um dos nossos mais velhos", a par do António Rosinha, do George Freire, do Mário Arada  Pinheiro , do Alberto Nascimento (cito de cor) ...  Falo dos nossos grão-tabanqueiros que ainda continuam ativos, saudáveis, produtivos e proativos!...  Enfim, o Jorge é uma figura sempre presente na Magnífica Tabanca da Linha e, de vez em quando, telefonamo-nos. E na Tabanca Grande a idade é um posto. 

Tenho por ele uma grande estima e carinho. É um vê-cè-cê, um veteraníssimo, ainda do tempo da farda amarela, que honra a nossa Tabanca Grande. E merece, hoje, um destaque especial.

Tive o privilégio de o apresentar à Tabanca Grande em 19/9/2016 nestes termos (**):

(...) o Jorge, veteraníssimo camarada que esteve um ano em Buruntuma, entre novembro de 1961 e julho de 1962, quando ainda a guerra não tinha começado oficialmente, tem um livro lindíssimo sobre aquela terra e as suas gentes que ficaram no nosso coração (...)

Conhecemo-nos há dias, pessoalmente, embora já desde meados de junho que temos vindo a falar ao telefone. (...)

Eu e o Jorge Ferreira, que mora no concelho de Oeiras, para além da Guiné, temos várias coisas em comum: 

(i) a frequência do ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, onde ele se licenciou depois de ter vindo da Guiné, (e onde eu frequentei o 1º ano da licenciatura em ciências sociais, em 1975/76, na mesma altura em que lá esteve o cap cav Salgueiro Maia); 

(ii) vários amigos do Instituto de Informática do Ministério das Finanças e da DGOA - Direção Geral de Organização Administrativa);

(iii) a paixão pela fotografia, etc...

 Trabalhou, depois do regresso, em maio de 1963, da Guiné , nos serviços mecanográficos do exército até 1972 onde teve, entre outros, como colega o Manuel Barão da Cunha, conhecido escritor da guerra de África, bem como o seu irmão Francisco.

O Jorge [da Silva] Ferreira, que passa a ser o nº grã-tabanqueiro nº 728 , tem um blogue de fotografia que merece ser divulgado e conhecido. 

 É um homem culto e viajado. e que cultiva a memória. No seu blogue, diz com modéstia que não é "um fotógrafo profissional nem mesmo um amador". Descreve-se apenas como um" caçador de imagens" (...) "que desde muito jovem se sentiu atraído pela fotografia, passando a fazer parte do [seu] quotidiano". 

Retomou a fotografia depois de enviuvar há 5 anos, fazendo do seu blogue também uma tocante homenagem à sua companheira de uma vida, Gabriela, e mãe do seu filho  (...)

2. Em plena pandemia, há 5 anos atrás, quando estávamos a olhar o mundo através do vidro embaciado da janela, trancados em casa, à espera que o pesadelo da pandemia de covid-19 passasse, escrevi ao Jorge as seguintes quadras (estava "desenfiado" na Quinta de Candoz, a quase 400 km do meu poiso habitual). É uma forma de lembrar quão resistentes, afinal, temos sabido ser,  e graças também ao nosso humor, às nossas tabancas, às nossas tertúlias (físicas e virtuais)...

Reitero os votos que sempre lhe faço, desde que nos encontrámos, em 2016: Jorge, até aos 100 é sempre em frente!... Cuidado com as minas e armadilhas!... E um dia Buruntuma ainda será grande!" (***)


Ao Jorge Ferreira (e aos demais aniversariantes da nossa Tabanca Grande que foram obrigados a cantar "os parabéns a você", sozinhos em casa):


Amigo Jorge Ferreira,
És dos nossos veteranos,
Mas não caias na asneira,
De dizer que fazes anos.

Não há copos p’ra celebrar,
Nem na Tabanca da Linha,
Mas logo que a crise passar,
Abre o Resende a cozinha.

Em Buruntuma, as bajudas
Foram todas retratadas,
Fossem belas ou feiudas,
Solteirinhas ou casadas.

Desse tempo tens saudade,
Até marcos tu puseste,
Não te pesava a idade,
Grande alfero lá do Leste.

Retificaste a fronteira
C’o a Guiné-Conacri,
E juraste p’la bandeira:
 “Sou eu quem manda aqui”.

Saia um  peixinho da bolanha,
Feito à maneira, no forno,
Quem não tinha arte e manha,
Apanhava com um corno.

Paludismo, hepatite,
E até bilharziose,
Não faltava o apetite,
Cada um c’o sua dose.

De Paunca até Pirada,
Do Gabu até Bolama,
Não me queixo, camarada,
Dormi no mato e na cama.

Tive farda de caqui,
E chapéu colonial,
Mas só de amores morri
Pl' aquela terra, afinal.

Convivi com  o Sané,
Senhor de Canquelifá,
Percorri meia Guiné,
Fiz amigos como os de cá.

Em resorts de muitas estrelas,
Deixei pedaços de mim,
Não me lembro das caravelas,
Mas a história foi assim.

Buruntuma, hás de ser grande,
Não importa em que ano ou dia,
Seja o povo quem mais mande,
Em passando a pandemia.

Hoje o Jorge é menininho,
Vai ter ronco na tabanca,
Toda a gente, preta ou branca,
Lhe vai dar um miminho.

Luís Graça, 
Tabanca de Candoz, 4 de julho de 2020 (****)
___________

Notas do editor LG:

(****) Vd. poste de 4 de julho de 2020 > Guiné 61/74- P21140: E as nossas palmas vão para... (20): o veteraníssimo Jorge Ferreira, que hoje faz anos, e foi o etnofotógrafo da Buruntuma de 1961/63 que não existe mais...