Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2539: As nossas mulheres (2): Em Dia de São Valentim... ou o amor e a morte em tempo de guerra (Mário Fitas, Torcato Mendonça, Manuel Bastos)
Cópia de aerograma, tendo por remetente o Manuel Correia de Bastos, SPM 8244...
Foto: Blogue de Manuel Correia de Bastos > Cacimbo - Episódios da Guerra Colonial
1. Em dia de São Valentim, lembrei-me de mandar a seguinte mensagem à malta da nossa Tabanca Grande:
Assunto - O São Valentim não andou na guerra
Amigos/as & camaradas:
Então, em Dia de São Valentim (uma modernice da sociedade de consumo, diga-se de passagem…) não há um carta de amor escrita em tempo de guerra ? Onde estavam os (e)ternos namorados de antigamente ? Ou a guerra matava a paixão, o desejo e a inspiração poética ?
Camaradas, no feminino, não havia, tirando as enfermeiras pára-quedistas… Mas essas eram de mau agoiro, por mim nem vê-las nem cheirá-las… Como eu costumava dizer, elas eram as nossas Jocastas que vinham arrancar os seus filhos às guerras da morte... Só levavam os feridos, nunca os mortos... Restavam as saudosas madrinhas de guerra que, afinal, não eram assim tantas como a gente pensava…
Segundo a nossa sondagem, a que responderam, até agora 89 participantes:
(i) cerca de dois terços (64%) não tinham madrinha de guerra.
(ii) dos 32 que se correspondiam com madrinhas de guerra (excluindo esposa, noiva ou namorada), um terço era "monogâmico" (tinha só uma);
(iii) 16 tinham duas ou três;
(iv) apenas uma minoria de nós (5%) correspondia-se com quatro, cinco, seis ou mais madrinhas de guerra…
A nossa amostra, como tudo o indica, não é representativa da população de militares (soldados, cabos, furriéis, sargentos, alferes, milicianos e não milicianos, etc.) que fizeram a guerra colonial... Afinal, quem é que coleccionava madrinhas de guerra ? Os escriturários ? Os básicos ? Eu sempre ouvi dizer que havia malta a receber dezenas e dezenas de cartas e aerogramas...
De qualquer modo, ainda faltam dois dias para terminar o prazo de resposta.
Um Bom São Valentim.
Um Beijinho às bajudas da nossa Tabanca Grande. Tratem bem os vossos homens grandes.
Um Alfa Bravo para os nossos moiros e morcões. Sejam gentis com as vossas bajudas. Luís
2. Tive, de imediato, a resposta de três camaradas: o Mário Fitas, o Torcato Mendonça e o Manuel Correia Bastos. A resposta do Manuel Bastos, que andou por Çomçanique, e é o autor de um belíssimo blogue, o Cacimbo, merece um especial destaque (vd. a seguir, ponto 3).
2.1. Do Mário Fitas:
Mentira! Estão mas é todos caladinhos, para não se saber os malandros que foram!
Estou a brincar, Chefe. De qualquer forma, e complicado como foi, alguém que partiu ainda em botão escrevia-me todos os dias. Com os recatos devidos, se quiseres, podes publicar as pag. 145 a 148 de Putos, Gandulos e Guerra. Amor, desvaneio, prosa e poesia em tempo de Guerra. Umas décadas de avanço à época em que vivíamos. Dor e saudade, tresmalhados nos carreiros da mata de Cbolol.
Se o fizeres, para mim será um louvor a essa criança Mulher, que não teve tempo para viver a vida.
Chefe da Tabanca Grande, somos tão piquenos! Força para os homens e
mulheres que o souberam ser.
Do tamanho do Cumbijã, o Abraço de sempre.
Comentário: Uma Oscar Bravo, muito sentido. Não será hoje, mas publicarei esse teu texto de homenagem à criança-mulher que a morte levou cedo... Lamento muito. Depois aviso-te. LG
2.2. Do Torcato Mendonça:
Abro e dou de caras com o S. Valentim. Já, no nosso tempo teriam inventado o dia dos namorados ?
Havia muitos apaixonados. Tanto assim que alguns escreviam diariamente… Era obra!
Não tenho carta ou bate-estradas desse tempo… E tudo o vento levou (com a devida vénia)...Nem os amores da altura ficaram... as madrinhas de guerra... Ccomeço a recordar… Ainda um dia escrevo.. Melhor, junto letras e por aí fora...
Sabes(sabem), camarada(s), a espera do correio desesperava muita gente. Era faca de dois gumes: por um lado levantava o moral das NT mas, se recebido na véspera de uma operação... era uma chatice... A malta tinha a cabeça cá. Pior: tinha as duas e isso desestabiliza(va) um homem.
Mas só tu… te lembravas do S. Valentim dentro da guerra… Oh, oh,oh… porro em riste, como arma ia o Santo... Se usei linguagem menos própria, perdão, não ao Santo mas enfim… Como se chamará o Santo da paciência?
Um abraço que vos envolva a todos
Torcato Mendonça
Comentário de L.G.: Fico à espera dessas letras, todas juntinhas uma a uma...LG
3. Do Manuel Bastos, que foi furriel miliciano em Moçambique, e é autor do blogue Cacimbo onde tem publicado belíssimos textos como este, que ele nos manda:
Boa tarde, Luís Graça:
A título de contributo para a celebração do Dia dos Namorados anexo um texto que publiquei em tempos no meu blog. Se achares de algum interesse e o quiseres publicar basta copiar o texto que leva os códigos de html para exibir uma foto e colá-lo directamente no separador de html do editor de texto para uma nova mensagem do bloger.
Um abraço
Manuel Bastos
Cacimbo - Episódios da Guerra Colonial Aerograma
Mueda, 10 de Março de 1972
Meu amor,
Hoje morreu o Rivelino. Disseram que morreu. É irremediável, mas queria falar disto a alguém.
Sabes? Quando morre alguém nós ficamos um pouco mais sós. Por isso te escrevo, um dia quando te conhecer, quando nos amarmos e quando eu precisar de dizer isto outra vez a alguém, entrego-te este aerograma, para me fazeres companhia.
Aqui onde estou, a meio mundo de ti e a meia vida de te conhecer, há uma guerra e todos os dias morre alguém, é como se deus fizesse connosco o que eu estou a fazer agora com aquelas latas de cerveja alinhadas na vedação. Hoje a lata em que deus acertou chama-se Rivelino e eu precisava de chorar um pouco.
Eu choro sempre que morre alguém, mesmo que morram várias pessoas por dia. É a minha maneira de não aprender a morte; mesmo que não me apeteça chorar, choro. É uma espécie de exercício para não me esquecer que sou humano.
De vez em quando interrompo este aerograma e dou um tiro numa lata de cerveja e não vejo que prazer pode dar isso. É por pura curiosidade que o faço, para ver o que pode ter sentido deus quando o Rivelino morreu.
Falhei. Não é fácil acertar numa lata de cerveja com uma G3 a esta distância. Se aquela lata fosse o Rivelino eu hoje talvez não tivesse chorado, talvez não estivesse a escrever este aerograma e talvez não te viesse um dia a conhecer.
Mas o Rivelino morreu e eu sinto que é imperioso não deixar que isso passe em vão.
Aponto de novo a G3 e a lata de Laurentina aguarda ao longe que a minha pontaria volte a falhar. Eu enchi as latas de areia e quando lhes acerto em cheio elas explodem. É mais divertido assim, pensei eu, do que com uma lata vazia. Mas quando se trata de destruição e de morte não vejo que o espectáculo divirta mais.
Será por isso que dizem que deus pôs uma alma dentro de nós, será que é para ela explodir quando morremos, para ser mais divertido?
Não faças caso. Eu sei muito bem que não é deus que faz connosco o que eu faço com as latas de cerveja; são pessoas como eu que fazem isso, pessoas que aceitaram a missão de nos irmos abatendo uns aos outros por um motivo de que já nem sequer nos lembramos.
Quando esta guerra acabar ninguém se lembrará mais do Rivelino, então um dia, quando eu me sentir tão só como hoje e me apetecer dar tiros em latas de cerveja, eu hei-de encontrar este aerograma e dar-to-ei como se tu fosses a minha correspondente de guerra e nessa altura a solidão desvanecer-se-á um pouco.
Mas tenho que te encontrar primeiro, tenho que ir tentando pela vida fora até ter a certeza que és tu a destinatária deste aerograma.
Saberei que és tu se ao olhar-te não me apetecer chorar ninguém, como se não tivesse havido uma guerra, como se eu não tivesse feito com homens como eu, o que agora faço com as latas de cerveja.
E então sentirei um apelo enorme para te contar tudo isto, como se a música de um piano se soltasse, retinindo pérola a pérola sobre o pesado mármore do silêncio e acordasse em mim o riso e a inocência.
Se fores tu, lembraremos o Rivelino como uma criança inocente antes de lhe terem dado a missão que só é costume desculpar aos deuses e que na verdade nos transforma a todos em predadores ou em presas, em projécteis ou em alvos.
Se fores tu, terei a certeza que não aprendi a lição da morte, e este aerograma terá finalmente a sua destinatária.
Com todo o meu amor,
Manuel
quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2538: Guineenses da diáspora (2): António Rocha, economista, casado com Juvelina Cabral, irmã de Amílcar Cabral

"Mesmo de frente, o homem de bigodes é o comandante do navio mercante que trouxe os portugueses quando se deu o golpe de Ansumane Mané (1); ao seu lado direito está o gestor da GUIPOR (empresa detentora da exploração do Porto de Bissau, na altura em mãos de portugueses)" (2).
Foto e legenda: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.
1. Mensagem do António Rocha, enviada ao A. Marques Lopes, com conhecimento ao editor do blogue:
Assunto - Guiné da minha saudade, Guiné da minha tristeza
Caro A. Marques Lopes:
Eu sou o Rocha, o economista casado com a Juvelina Cabral e que agora reside e trabalha em Angola e que, num dia de 1998, creio que pouco tempo antes da guerra civil da Guiné (1), teve o prazer de o conhecer, curiosamente na companhia daquele que seria o nosso Comandante salvador.
Creio que já há cerca de dois anos quando fazia uma pesquisa relacionada com a família Cabral, descobri, num dos primeiros sites da lista de resultados, a vossa tertúlia Luís Graça & Camaradas da Guiné, que no excerto de apresentação fazia referência a mim e à minha mulher.
Claro que fui imediatamente ao sítio do blogue e lá descobri o seu artigo com a fotografia no Clube de Caça de Anura (publicado em 7 de Agosto de 2005)(2), e resolvi escrever o texto seguinte, o qual enviei para o e-mail do Professor Doutor Luís Graça.
Curiosamente hoje, quando estava a reorganizar o Outlook (que há muito tinha deixado de usar) descobri que o tal e-mail ainda estava no arquivo de "a enviar".
Então revisitei o Blogue e entendi reenviar o texto mas, agora, também para si uma vez que lá descobri o seu endereço.
Já agora também lhe digo (porque vi que é de ou mora em Matosinhos ou Porto) que sou nascido e criado no Porto e durante muitos anos trabalhei em Matosinhos e em Leça, na Petrogal.
O texto que na altura julguei ter enviado foi o seguinte:
"Luís Graça e amigos,
Não poderei considerar-me do vosso grupo, no sentido em que não fui combatente nem na Guiné, nem na guerra colonial.
Consegui escapar, com muita artimanha e também por real incapacidade física (visual). Fui, sim, um combatente contra a guerra colonial, nas trincheiras da oposição anti-fascista, nos débeis períodos eleitorais e nas manifestações da universidade.
Respeito muito quem foi forçado a entrar nessa triste guerra, mas também respeito quem, na altura, se sentia na obrigação e com vontade de defender a pátria e o "glorioso império" português.
Mas entendo ter algo a ver com o vosso grupo porque amo e choro, todos os dias, a minha querida Guiné. A Guiné para onde quis dar o meu contributo voluntariamente em 1985 e me mantive até 2000 (com ano e meio de interregno causado pela guerra), a Guiné onde encontrei a mulher da minha vida, a Guiné que eu vi nascer para a democracia, a Guiné pátria do ídolo da minha juventude - Amílcar Cabral -, mas também a Guiné onde deixei amigos vivos e muitos mortos, a Guiné da minha tristeza diária, a Guiné que tarda em encontrar o caminho e que tanto me faz sofrer.
Eu sou o Rocha, o tal economista que o Coronel A. Marques Lopes refere no Blogue Nove Fora Nada, aquando da sua visita à Guiné em 1998 e que está na fotografia do Clube da Anura (2).
De facto ainda me encontro em Angola, juntamente com a Juvelina, minha mulher, e o nosso neto/filho João Carlos, há quase 7 anos!
Mas, não há um único santo dia que a primeira coisa que faça, não seja ler as notícias sobre a Guiné. Sou um viciado amante da Guiné que há muito só me tem dado motivos para chorar, para me revoltar.
Por isso não serei a melhor companhia para vocês que, passados tantos anos conseguem ver as coisas doutra maneira, que conseguem encontrar sempre algo de positivo ou até de belo nas vossas andanças por aquelas terras.
Isso é muto bonito e encorajo-vos a continuarem a recordar esses tempos tão significativos das vossas vidas, com a serenidade de quem consegue, hoje, ver no antigo adversário um amigo.
Eu só quis intervir para vos dizer que aprecio o vosso blogue, a vossa amizade e solidariedade e, sobretudo, o vosso contributo para o esclarecimento desta época, talvez a mais importante da nossa história contemporânea.
Por mim, despeço-me com amizade, até um dia em que possa intervir com mais serenidade e com o distanciamento e lucidez que vocês conseguem.
Até lá serei vosso atento leitor.
Desejo a todos muitas felicidades e muita saúde e que esta tertúlia se prolongue por muitos e bons anos.
António Rocha - O tuga-guineeense."
Creio que, apesar de decorridos 2 anos, nada teria a mudar deste texto. Continuo a ter os mesmos sentimentos pela Guiné e a sofrer da mesma maneira porque, infelizmente, as coisas não melhoraram, antes pelo contrário...
Só gostaria que um de vós me fizesse o favor de me informar se o endereço da v/ tertúlia é o mesmo pois constato (no que acedi, http://blogueforanada.blogspot.com/) que não foram acrescentadas mensagens recentes (3).
De qualquer modo desejo a todos muita saúde e até um dia.
Grande abraço
António Rocha
2. Comentário do editor L.G.:
António (e Juvelina):
É bom saber de vocês... Gostei muito de ler a tua mensagem que esteve dois anos à espera de ser enviada (permite-me que te trate por tu, por que isso simplifica muita coisa). É de um grande tuga e de um grande guineense.... Lamento muito que tenhas sido obrigado a sair da tua Guiné, e que haja tanta amargura e tanta saudade no teu coração... Fico feliz por saber que te faz bem ler o nosso blogue e que aprecias muitas das coisas que por cá publicamos... Formamos uma Tabanca Grande onde tu e a tua Juveliana seguramente que cabem... Aparece mais vezes, sempre que quiseres e puderes. Se for a Angola, gostaria de te conhecer pessoalmente. Um abraço solidário.
__________
Notas de LG:
(1) O brigadeiro Ansumane Mané liderou, em Junho de 1998, um levantamento militar, a partir do quartel de Mansoa, e que levaram a uma sangrenta guerra civil. Na altura, cerca de 3 mil estrangeiros, incluindo portugueses, tiveram que fugir do país. Ao fim de onze meses, a rebelião acabaria por levar ao afastamento do então Presidente Nino Vieira, e colocar no poder uma Junta Militar liderada pelo brigadeiro.
Ansumane Mané será entretanto morto, alegadamente em combate, nos finais de Novembro de 2000, no decurso de uma também alegada tentativa de golpe de Estado contra o Presidente Kumba Ialá, entretanto eleito.
(2) Vd. poste de 7 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CXLV: Bissalanca, Bambadinca, Anura... ou três fotos com legenda (1) (A. Marques Lopes)
(3) Desde Junho de 2006, estamos na 2ª série do blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. E formamos uma tertúlia ou Tabanca Grande onde cabem todos os amigos da Guiné e do seu povo... Reservamos, naturalmente, a palavra camarada para os ex-combantentes, portugueses, independentemente da sua posição (político-ideológica) face à guerra colonial / guerra do ultramar...
Guiné 63/74 - P2537: Bibliografia (16): Lançamento do Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, do Mário Beja Santos (Virgínio Briote)

Viseu, 14 de Fevereiro de 2008
Meu caro amigo
Sob o lema “ Não deixemos que os outros contem por nós a nossa história “, Luís Graça, Sociólogo do Trabalho e da Saúde, professor da Escola Nacional de Saúde Pública e da Universidade Nova de Lisboa, que criou e editou um blogue colectivo em que os antigos combatentes da Guiné vêem descrevendo as suas participações naquela que passou à posteridade como a guerra colonial, a guerra subversiva ou a guerra de África.
Sendo que essa guerra foi o marco que condicionou a vida colectiva dos Portugueses na segunda metade do século vinte, continua a ser um tema sempre presente, controverso, discutido e nunca encerrado sobretudo para quem a viveu.
Daí lhe vem não só a importância mas a notoriedade e a curiosidade que o blogue Luís Graça & camaradas da Guiné vem despertando que o fez ultrapassar na data em que te estou a escrever o meio milhão de visitantes: Mais propriamente 525528.
Um sucesso verdadeiramente espectacular. Só possível pela competência, integridade simpatia e espírito de missão daquele nosso camarada que teve além do mais a felicidade, o bom senso e o cuidado de se fazer acompanhar por dois ex-combatentes de excepcional craveira moral, de liderança e de disponibilidade como são o Carlos Vinhal e o Virginio Briote.
Pessoalmente sinto-me muito honrado por pertencer a tão ilustre tertúlia.
Sucede que outro tertuliano de grande valor como é o Mário Beja Santos, figura pública bem conhecida que dispensa apresentações, organizou e vai publicar em conjugação com o Circulo dos Leitores (...) o Diário da Guiné – Na terra dos Soncó.
Esse livro que é certamente um pouco de todos nós e para o qual te recomendo já a aquisição vai ser lançado no dia 6 de Março, em Lisboa, na Sociedade Portuguesa de Geografia, junto ao Coliseu dos Recreios.
A apresentação terá lugar às 18 e 30.
Informo-te ainda que nesse dia vamos almoçar na Casa do Alentejo e na parte da tarde antes do lançamento estaremos em convívio numa sala posta à nossa disposição por aquela Sociedade onde como é lógico serás bem-vindo.
Lá estarei à tua espera.
Um grande abraço.
Rui Alexandrino Ferreira
2.Lançamento: Lisboa, 6 de Março de 2008, 18.30h, na Sociedade Portuguesa de Geografia.
1. Henrique Matos, o 1º Cmdt do Pel Caç Nat 52 (vem do Algarve).
2. A. Marques Lopes, (Porto), o nosso Camarada de Barro, de Sinchã Jobel e de tantos outros sítios da Guiné.
3. António Graça de Abreu, (Mafra), que viveu os anos do fim, em Canchungo primeiro, depois em Mansoa e finalmente em Cufar, nas margens do Cumbijã, e autor do bem sucedido "Diário da Guiné, Lama, Sangue e Água Pura".4. António Santos, (Lisboa), sempre atento e presente em tudo o que diz respeito à Guiné.
5. Delfim Rodrigues, (Coimbra), que esteve em Suzana e Varela, entre 71 e 73.
6. Mário Fitas, (Estoril), que escreveu a história da Pami Na Dondo (Cufar).
8. Raul Albino, que esteve em Có, Mansabá e Olossato (1968/70).
9. Carlos Vinhal e Esposa, (de Leça), nosso indispensável editor, capaz de pôr alguma ordem nesta imensa avalanche de informação.
10. Albano Costa e Esposa (de Guifões), o fotógrafo de Guidage e da Guiné de agora.
4 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2505: Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó. O livro do Mário Beja Santos, o nosso livro (Virgínio Briote)
11 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2429: Lançamento do meu/nosso livro: 6 de Março de 2008, na Sociedade de Geografia, com Lemos Pires e Mário Carvalho (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P2536: Guileje: Simpósio Internacional (1 a 7 de Março de 2008) (19): Cotejando as fotos da Fundação Mário Soares com as nossas

Foto: Documentos Amílcar Cabral / Fundação Mário Soares (2008) (com a devida vénia...)
Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

Foto: Documentos Amílcar Cabral / Fundação Mário Soares (2008) (com a devida vénia...)

Foto: Documentos Amílcar Cabral / Fundação Mário Soares (2008) (com a devida vénia...)

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Direitos reservados.

Foto: Documentos Amílcar Cabral / Fundação Mário Soares (2008) (com a devida vénia...)

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (Dez 1972/Mai 73) > O Fur Mil Op Esp J. Casimiro Carvalho, na famosa porta de armas de Guileje...

Foto: © Mário Bravo (2007). Direitos reservados
Amílcar Cabral e Constantino Teixeira, entre outros, a bordo de uma canoa. Uma das fotos-ícone de Cabral. Fotografia da italiana Bruna Polimeni, a fotojornalista que é autora de algumas das fotos mais famosas de Amílcar Cabral, do PAIGC e da luta de libertação da Guiné-Bissau e de Cabo Verde. Recebeu o Prémio Amílcar Cabral em 2006.
Foto: Documentos Amílcar Cabral / Fundação Mário Soares (2008) (com a devida vénia...)
A Fundação Mário Soares (FMS) associa-se à realização do Simpósio Internacional "Guiledje: Na rota da Independência da Guiné-Bissau", que se realiza em Bissau, de 1 a 7 de Março de 2008.
Neste âmbito, o Arquivo & Biblioteca da Fundação Mário Soares preparou um conjunto de documentos e fotografias relacionadas com Guiledje, com recurso, designadamente, ao Arquivo Amílcar Cabral.
De entre esses documentos, agora disponibilziados, é de referir o relatório elaborado, em 1973, pelo PAIGC sobre as forças armadas portuguesas no TO da Guiné (exército, força áérea e marinha), sua organização, meios e efectivos, com base em documentos capturados em Guileje em 22 de Maio de 1973 e que as NT não tiveram tempo de destruir. São 55 páginas, incluindo cópias dos originais. O documento está disponível em pdf.
A página da FMS sobre o Simpósio Internacional de Guileje tem um link directo para o nosso blogue > Luís Graça & Camaradas da Guiné. Foram utilizadas algumas imagens do nosso blogue, com a devida autorização do editor Luís Graça ao coordenador Vitor Ramos.
Para além das fotografias, nossas e do Arquivo Amílcar Cabral, veja-se também os textos (sobre anticolonialismo, Guileje, contexto). Os conteúdos são da responsabilidade de Vitor Ramos e Alfredo Caldeira.
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008
Guiné 63/74 - P2535: PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX Parte): Defesa anti-aérea (A. Marques Lopes)

Foto gentilmente cedida pelo António Almeida, o intérpetre do Hino de Gandembel, soldado da CCAÇ 2317 (Gandembel/Balana, 1968/69) (1).

Foto: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados .
Continuação do Supintrep, nº 32, de Junho de 1971, documento classificado, de que nos foi enviada uma cópia, em 18 de Setembro de 2007 pelo nosso camarada A. Marques Lopes (qie acrescenta, à margem, a seguinte nota sibilina: Quando eles ainda não tinham os Strella...) (3)
PAIGC - Instrução, táctica e logística (9): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (IX) >
(G). DEFESA ANTI-AÉREA
(1) De documentos capturados foram extraídos os seguintes elementos relativos a defesa anti-aérea:
CONHECIMENTO DA DEFESA ANTI-AÉREA
I – As funções dos aviões de combate
1.º Fazer reconhecimentos pelo ar, uer observando a baixa altitude quer fotografando a alta altitude.
2.º Transportar tropas e materiais.
3.º Lançar espiões.
4.º Atacar de surpresa os objectivos principais.
II – As fraquezas dos aviões
1.º O avião é muito influenciado pelas condições meteorológicas e limitado pelo aeredino e pela gasolina.
2.º Para o avião é muito difícil encontrar os objectivos dissimulados ou camuflados no chão.
3.º O avião não pode ocupar os objectivos terrestres pois somente a infantaria pode resolver o combate terrestre.
4.º Se os destacamentos efectuam movimentos e dispersam, o avião não pode desenvolver plenamente as suas funções.
5.º Se conhecermos as fraquezas e as funções dos aviões podemos evitar as suas qualidades e aproveitar as suas fraquezas. Portanto, os aviões não são omnipotentes nem medonhos. As experiências revolucionárias provaram que, embora o inimigo seja forte, o seu equipamentyo excelente e as sua armas potentes, podem-se inventar muitos meios bons para vencer os aviões inimigos.
III – Como se distinguem os diferentes aviões
Distinguimos o avião para conhecer as suas capacidades e as suas tarefas, para julgar as suas intenções e tomar as medidas convenientes.
1.º As categorias dos aviões segundo a as utilização são as seguintes:
- aviões de combate
- aviões de bombardeamento
- aviões de transporte
- aviões de reconhecimento
2.º Os aviões distinguem-se segundo as suas formas e características.
- Os aviões de combate são de forma pequena e velocidade grande. Andam 300 metros por segundo.
- Os aviões de bombardeamento são de forma grande e velocidade equena; o barulho é grande e os motores são numerosos.
- O avião de reconhecimento é de forma estreita e longa e a velocidade é pequena, o barulho é lento e pode voar a grande altitude.
- O avião de transporte é de forma grande e velocidade pequena – máximo 450 Kms por hora, 125 metros por segundo.
IV – Como se organiza a defesa anti-aérea
Organizar de uma maneira planificada as diferentes armas para abater o avião e os paraquedistas do inimigo, agora vai-se estudar como se deve atirar sobre o avião e os parquedistas com as espingardas e as metralhadoras ligeiras e pesadas.
- O tiro sobre o avião
As condições de espingarda e metralhadoras para atirar no ar são vantajosas por serem fáceis de manejar. Podem-se apontar e atirar rapidamente e o tiro com elas pode formar uma rede de fogo.
- O tempo de começo de tiro
Quando o avião entra no alcance eficaz das nossas armas pode-se começar a atirar. Para atirar sobre o helicóptero do inimigo instalam-se as tropas numa região onde o helicóptero pode aterrar e desde que ele toca a terra é preciso concentrar o fogo para atirar vivamente sobre ele antes que os paraquedistas desçam dele.
Pode-se também organizar e instalar grupos de tiro nas proximidades onde o inimigo pode provavelmente passar e quando o helicóptero passar atirar-lhe de surpresa.
Como se atira sobre o avião inimigo:
- Se o avião se encontra a uma distância de 500 metros marca-se a alça n.º 3;
- Se o avião se encontra à distância de 100 metros vê-se clramente a cabeça e a face do aviador; a 600 metros vê-se claramente a fuselagem do avião, a frente e as asas do avião; a 1200 metros pode-se ver o contorno do avião não se podendo distinguir as diferentes partes;
- Se não se faz o cálculo do alcance do avião escapa-se a posição; para que seja atingido de modo certo calcula-se o alcance do avanço em relação à posição A e quando o avião chega à posição B choca-se com a bala.
Para se saber esta distância há que conhecer duas condições:
- a velocidade do avião;
- o tempo de duraçãoda trajectória, isto é, em quantos segundos a bala percorre a distância da arma ao alvo.
Se o tempo de duração for de 0,5 segundos e a velocidade do avião 100 metros por segundo teremos: o alcance de avanço = 0,5 x 100 metros. Se o avião se encontra em A, aumenta-se 50 metros à frente do avião e o projéctil ai encontrar-se com o avião na posição B.
A direcção da trajectória = correcção da alça + N a multiplicar por duas vezes o menos alcance a dividir por 100.
Velocidade inicial / Algarismo a adicionar
750 m/s .................................... 14
800 m/s .................................... 12
850 m/s .................................... 20
A velocidade inicial da espingarda automática é geralmente 750 m/s; a da espingarda de repetição é geralmente de 800 m/s e da metralhadora ligeira é geralmente de 850 m/s.
(2) Organização defensiva (anti-aérea) de CASSEBECHE
(a) Resumo da Evolução
- Em 06OUT67, estavam referenciados em CASSEBECHE 3 espaldões para metralhadora anti-aérea, localizados nas posições 21,24 e 27 (Ver pág. 82).
- Em 24JAN68, existiam espaldões nas posições 1,2,3 e 4 (este com a forma circular) a oeste e, pelo menos, as posições 21, 24, 25 e 27 a leste, emboa algumas com aspecto desactivado.
- Em 09MAR69, quando da operação VULCANO, existiam espaldões nas posições 1,2,3,4,5,7,8,9 e 10 a oeste, todas desactivadas, e possivelmente três posições para atiradores em 6.
A leste encontravam-se activadas 12 das posições 21,24,25,29,32,34,37,40,48,52 e 55, sendo a posição 37 a da metralhadora quádrupla.
No decorrer da operação, e bem assim na actividade aérea subsequente, foram destruídas ou danificadas as armas instaladas em cinco das posições, deixando o IN de reagir com as restantes, que desmontou.
Verifica-se, assim, que entre 24JAN68 e 09MAR69 o IN modificou o espaldão da posição 4 que passou a ser do tipo “espiral” permitindo montagem da metralhadora quádrupla; construiu as posições 5 a 10 a oeste e cerca de oito outras posições a leste.
- Em 30OUT69 foram identificados os seguintes espaldões: 1,2,3,4,5,7,8,9 e 10 a oeste (a posição 5 com três posições de atiradores) e os espaldões 17,19,20,21,22,23,24,25,27,28,31,32,34,35,37,39,40,41,44,46,48,51,52,53 e 55.
Parece notar-se a realização de trabalhos de beneficiação de quase todas as posições 21,24,28,48,37,44 e 51.
Em data relativamente próxima deviam ter-se iniciado trabalhos de beneficiação na posição 25.
- Em 16DEZ69, não se notaram ainda trabalhos de protecção dos espaldões das armas anti-aéreas nas posições 30, 33 e 38, notando-se já a posição 28 e possivelmente a 47
- Em 10 e 11JAN70, reconhecimento fotográfico e fotográfico/visual revelaram:
(i) recente construção de uma trincheira – 11,12 a 15 – com posições para atirador isolado e, provavelmente, duas posições de armas pesadas destinadas a tiro rasante, 13 e 14, e a construção de uma trincheira de combate de traçado irregular, 16; salienta-se que estas trincheiras se situavam de forma a evitar qualquer aproximação pelas direcções por onde foi tentada a das tropas pára-quedistas em MAR69;
(ii) a construção de mais um espaldão de metralahdora anti-aérea, 42;
(iii) a construção de posições defensivas avançadas para protecção dos espaldões; posições 26, 28, 30, 33, 36, 38, 43, 47 e 54 (admite-se como possível que as posições 28 e 47 já estivessem iniciadas em 10DEZ69;
(iv) a realização nítida de trabalhos de beneficiação dos espaldões 17, 19, 20, 22, 23, 24, 25, 29, 31, 32, 34, 35, 37, 39, 40, 41, 46, 48, 52, 53 e 55.
(v) Salienta-se que nos espaldões 24, 25, 34, 48 e 53 os trabalhos de beneficiação pareciam ser apenas nos espaldões e não no poço e trincheira para a instalação de armas e guarnições respectivas.
(vi) Destacava-se, ainda, a ausência de trabalhos de beneficiação nos espaldões 21, 27, 44 e 51.
(vii) Não foi possível concluir da existência de trabalhos de beneficiação nas posições 1 a 10.
(viii) A ligação entre a trincheira de comunicação 15 e a trincheira de combate 16 não estava ainda concluída.
(b) Procedimentos assinalados
- A partir da acção de pára-quedistas em MAR69 e dos ataques aéreos subsequentes verificou-se um desembaraçamento dos campos de tiro, realizado à custa de abate de árvores e palmeiras.
- Verificava-se o extremo cuidado posto na camuflagem das posições à medida que se processava a sua construção, sendo os espaldões das posições de anti-aérea camuflados com ramos de palmeira colocados radialmente e as trincheiras e posições de combate para atiradores de armas ligeiras camufladas com tufos de capim que dão um aspecto “mosqueado” às posições.
- A falha mais assinalável era a falta de camuflagem das áreas onde foi feita remoção de terras, nomeadamente no interior das trincheiras e poços e na área adjacente aos espaldões de metralhadora anti-aérea.
- Após a concluisão dos trabalhos procedeu-se à instalação do armamento pesado, havendo que distinguir dois tipos de espaldões, provavelmente destinados a tipos diferentes de armamento.
Espaldões tipo “espiral”
Têm parede dupla e admite-se que se destinam a receber material cujo reparo seja susceptível de ser montado sobre rodado, sendo de admitir que se destinem a metralhadoras quádruplas.
Espaldões circulares
Têm paredes simples, com uma pequena entrada – 19 – apresentando no centro um poço ligado a uma trincheira em forma de “T”.
Admite-se que um dos ramos do “T” possa vir a ser coberto, ficando com a forma de “L”, como nas posições mais antigas – 23 -, servindo o ramo coberto para a guarnição se abrigar.
Estes espaldões admite-se que possam vir a receber apenas metralhadoras com um raparo relativamente pequeno, e portanto metralhadoras simples, no máximo duplas.
Estão neste caso as posições 1, 2, 3, 5, 7, 9, 17, 20, 21, 23, 25, 27, 34, 35, 39, 40, 41, 42, 45, 46, 48 e 55.
Espaldões de outro tipo
Com contorno exterior diferentes aparecem-nos os espaldões 29 e 53.
Verificou-se o crescimento da organização defensiva com vista à instalação de armas ligeiras, caso das trincheiras, posições avançadas, etc., podendo-se admitir que o In visou estabelecer uma organização defensiva anti-aérea e terrestre sendo, neste caso, os espaldões circulares destinados também à instalação de armas de tiro curto.
(c) Possibilidades de tiro
A forma como os espaldões estavam construídos faz supor que as posições dotadas com armas antia-aéreas dificilmente poderiam ser utilizadas em tiro terrestre com uma rasança aceitável.
(d) Instrução das guarnições
- No interior do perímetro defensivo notava-se a existência de diversas cubatas que poderão agrupar-se em três tipos mais ou menos distintos:
(i) do tamanho normal de uma casa balanta – A –
(ii) sensivelmente com metade desse tamanho – B –
(iii) de dimensões mais reduzidas – O –
- Admite-se que nalgumas destas casas pudessem habitar as guarnições das armas enquanto que outras poderiam servir de depósito de munições e material.
As casas de dimensões muito reduzidas pareciam cobertas de “IRÃS”.
- Não se notava em todo o perímetro defensivo a existência de escavações destinadas a abrigos nem terreno sobreelevado que pudesse corresponder à cobertura desses mesmos abrigos.
- A verificar-se a existência de tais abrigos admite-se que tenham sido cavados em “galeria”, o que, dada a consistência do terreno de areia, levaria à necessidade da existência de um sistema de cofragem eficiente.
(e) Finalidade da organização defensiva
- Admitindo-se o princípio, geralmente aceite, que a organização defensiva é uma envolvente das instalações a defender, não se vislumbram no interior da posição a existência de qualquer instalação de valor que justificasse tamanha organização do terreno.
- Admitindo-se que aquela organização defensiva pretendia garantir a defesa de quaisquer instalações excêntricas não se vê que as tabancas situadas imediatamente a norte, 5 casas, ou as situadas a sul, com sinais de intensa actividade e apreciável número de casas, fossem de molde a justificar só por si tamanha organização, ainda que se parta do princípio ser aquela uma região extremamente rica em gado, arroz e cola, visto que a área efectivamente defendida é muito reduzida relatiamente à extensão total da região.
Parece igualmente pouco provável que o IN tivesse concentrado na região depósitos de material, pois embora a região lhe permita um acesso fluvial fácil podê-los-ia construir com maior segurança em zona de mata densa, a coberto das vistas da nossa FA.
- Pondo de parte estas duas hipóteses poderemos ainda admitir que:
- as instalações tenham apenas um fim de propaganda e sejam aproveitadas para tentar materializar os cuidados dispensados pelo PAIGC às populações sob o seu controle no, por ele chamado, “território libertado”;
- o PAIGC tenha instalado na região um campo de treino, aproveitando para instruir o pessoal na construção de trincheiras e espaldões e, eventualmente, na reacção contra meios aéreos; a região tem um acesso fácil por via fluvial permitindo o transporte de material pesado;
- o PAIGC vise desviar a atenção dos nossos meios aéreos para uma região de menos interesse relativamente a instalações principais existentes no QUITAFINE; esta hipótese parece, aliás, pouco provável pois nesse caso deveria ter o cuidado de afastar as populações ad proximidade, facto que se não verifica, e não é de admitir que o PAIGC queira expor desnecessariamente essas populações;
- o PAIGC procure apenas causar baixas nos nossos meios aéreos; esta hipótese parece igualmente pouco lógica pois poderia obter resultados mais compensadores noutros pontos do território, actuando por surpresa, concentrando e dispersando as suas armas AA por forma a não oferecer um alvo remunerador par acções das NT ou da nossa Força Aérea.
- Embora não se disponha de elementos que permitam concluir a existência de trabalhos de beneficiação de núcleos de posições 1 a 10, aliás desactivadas em MAR69, há ainda a possibilidade de apoio dos dois núcleos 1/10 e 51/55 e a sua colaboração na defesa de qualquer objectivo intermédio, que também não está referenciado.
(f) Conclusão
Este estudo, baseado essencialmente em documentação fotográfica, tem apenas avaliar da evolução da organização do terreno não permitindo avaliar as intensões do IN quanto à montagem de armamento e objectivos a defender, pelo que as hipóteses postas em (a) não podem considerar-se como válidas sem uma análise conjugada com o conhecimento das suas intenções, facto que nunca foi obtido.
(g) Pormenor de espaldões
Organização Defensiva da Ilha de Cassebeche [, a sul de Cacine, junto à fronteira com a Guiné-Conacri, incluída no mapa de Cassumba, um dos poucos mapas que nos falta pôr em linha]
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Notas dos editores:
(1) Vd. postes de:
22 de Novembro de 2007 < Guiné 63/74 - P2295: Hino de Gandembel, cantado no almoço da mini-tertúlia de Matosinhos (A. Marques Lopes / Carlos Vinhal)
28 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2311: Vamos expor o Álbum Fotográfico dos homens-toupeiras de Gandembel ? (António Almeida / Idálio Reis / Luís Graça)
(2) Vd. postes de:13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)
17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1764: Armamento do PAIGC (1): Metralhadoras pesadas Degtyarev, antiaéreas (Nuno Rubim)
(3) Vd. poste de 19 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2454: PAIGC - Instrução, táctica e logística (8): Supintrep nº 32, Junho de 1971 (VIII Parte): Minas III (A. Marques Lopes)
Guiné 63/74 - P2534: Convívios (39): II Encontro de ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, 12 de Abril de 2008 (Carlos Vinhal)


Foto: © Albano Costa (2007). Direitos reservados.
No dia 12 de Abril de 2008 vai realizar-se o 2.º Encontro de Ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos.
Os interessados em participar no almoço deverão inscrever-se até ao dia 31 de Março de 2008.
Contactos:
Manuel Agostinho, telem 969 023 731
António Maria, telem 938 492 478
Carlos Vinhal, telem 916 032 220
OBS:- Com muito prazer aceitaremos inscrições de ex-combatentes da Guiné de outros concelhos, especialmente do Grande Porto, que queiram confraternizar connosco.
Carlos Vinhal
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Notas de CV:
(1) Vd. post de 7 de Março de 2007 Guiné 63/74 - P1570: Almoço-convívio de camaradas de Matosinhos (Albano Costa / Carlos Vinhal)
(2) Comentário a este post, feito por um leitor identificado:
Cada vez que aqui venho, entre o muito que aprendo e o muito que me emociono, fico sempre com uma certeza outra: a da imensa dignidade da vossa camaradagem e da vossa ausência de ressentimento.
Aqui se destaca com grande evidência a generosidade, a sabedoria e a inteligência do papel das Forças Armadas... Infelizmente... os mandantes de hoje parecem sofrer todos de memória de grilo!
Os melhores cumprimentos, Senhor e Senhores.
Guiné 63/74 - P2533: O cruzeiro das nossas vidas (10): Fui e vim no velho e saudoso Niassa (Manuel Traquina)

Fonte: Navios Mercantes Portugueses (2004)página de Carlos Russo Belo (2006) (com a devida vénia...). O autor foi oficial da marinha mercante.

Assunto - A Guiné, os Tempos de Guerra > CCAÇ 2382 (1968/70) > O velho Niassa (2)
O Velho Niassa... Foi este o navio que nos transportou à Guiné, e também de regresso a Portugal. Antes tinha sido um cargueiro, farto de cruzar oceanos, tal como o Uije, o Alfredo da Silva e outros. Foi no inicio da guerra colonial adaptado ao transporte de tropas.
Terá feito imensas viagens à Guiné, Angola e Moçambique, milhares de ex-militares ainda hoje se recordam da incómoda viagem, com os habituais enjoos, e também de um ou outro dia mais calmo que lhes dava tempo para dormir uma sesta no convés, e com um canivete entalhar na madeira o seu nome, a data, ou outra referência! Compreende-se que, depois das muitas viagens realizadas e dos milhares de militares transportados, aquele convés quase já não tinha um pedaço de madeira disponível para mais um nome!
Além dos enjoos e das noites mal dormidas a bordo, recordamos também que tinha uma agradável sala de jantar, destinada apenas a oficiais e sargentos. Já do alojamento para os soldados o mesmo não se pode dizer, em todos os cantos do porão tinham sido improvisados dormitórios, as condições eram deploráveis. A comida era razoável, no entanto a sopa, embora fosse a mesma todos os dias, no menu tinha todos os dias um nome diferente...
O bar onde se bebia whisky, cerveja e se jogava à lerpa, dispunha de um pequeno conjunto musical que à meia tarde tocava sempre os mesmos trechos musicais, enfim o seu repertório não era muito vasto…
Deste navio recordamos ainda o barulho característico dos seus potentes motores e das suas hélices, e também a luz do luar reflectida na imensidão das águas do Oceano Atlântico.
Um dos passatempos a bordo era enviar mensagens dentro de garrafas de cerveja que eram atiradas ao mar, curioso é que pelo menos uma delas foi encontrada, passado não muito tempo a resposta a uma dessas mensagens - calculem... - veio de uma praia do Sul de Espanha onde una Chica de corpo bronzeado (presume-se) a terá encontrado, e assim se arranjou madrinha de guerra que quase deu em namoro…
Porém não há mal que sempre dure: a guerra acabou, também para aquele velho barco as viagens terminaram, soubemos que ele terá sido vendido a quem lhe mudou o nome, e o levou para a América Central onde ultimamente desempenhava funções de barco/hotel.
No entanto, acho, que poderia ter um fim mais glorioso em Portugal, já que aqueles que nele viajaram nunca o irão esquecer, bem como as inscrições que nele foram feitas que representam também uma página da história da guerra colonial.
Manuel Batista Traquina
(Ex-Furriel Miliciano)
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Notas dos editores:
(1) Vd. postes de:
2 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2399: Tabanca Grande (47): Manuel Traquina, ex-Fur Mil, CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70)
2 de Fevereiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2500: Histórias de Manuel Traquina (1): CCAÇ 2382 - A hora da partida
(2) Vd. postes anteriores desta série:
12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)
19 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1296: O cruzeiro das nossas vidas (2): A Bem da História: a partida do Uíge (Paulo Raposo / Rui Felício, CCAÇ 2405)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1300: O cruzeiro das nossas vidas (3): um submarino por baixo do TT Niassa (Pedro Lauret)
21 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1301: O cruzeiro das nossas vidas (4): Uíge, a viagem nº 127 (Victor Condeço, CCS/BART 1913)
11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1420: O cruzeiro das nossas vidas (5): A viagem do TT Niassa que em Maio de 1969 levou a CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Manuel Lema Santos)
15 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1953: O cruzeiro das nossas vidas (6): Ou a estória de uma garrafa, com o SPM de Mansoa, que viajou até às Bahamas (Germano Santos)
3 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2025: O cruzeiro das nossas vidas (7): Viagem até Bolama com direito a escalas em Leixões, Mindelo e Praia (Henrique Matos)
13 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2044: O cruzeiro das nossas vidas (8): Porto de Lisboa, Cais de Alcântara (Luís Graça)
15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2050: Cruzeiro das nossas vidas (9): Do Funchal para Bissau no Ana Mafalda (Carlos Vinhal)
Guiné 63/74 - P2532: Tabanca Grande (56): José J. Macedo, ex-2º tenente fuzileiro especial, natural de Cabo Verde, imigrante nos EUA


Guiné 63/74 - P2531: Ser solidário (4): Coimbra encaixotou o maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau

1. Transcrição da notícia de João Henriques no Diário de Coimbra de 10 de Fevereiro de 2008, com a devida vénia
Coimbra encaixotou "maior contentor" de apoio humanitário à Guiné-Bissau
O maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau vai chegar este mês a África.
Ontem, cerca de 20 voluntários arrumaram os mais de dois mil caixotes recolhidos. Os donativos vão ser entregues, pela Associação Humanitária Memória e Gentes, às instituições e escolas mais carenciadas.
Lá em cima, bem no alto, o sol brilhava intensamente. O dia era de Primavera antecipada. O calor fazia-se sentir e o suor escorria-lhes pela cara abaixo. Bastavam alguns (poucos) minutos a conviver com os raios do astro-rei para se sentir o termómetro a subir. Não havia dúvidas de que o dia estava convidativo para um passeio, de preferência à beira mar ou à beira rio, consoante as preferências.
Mas houve quem tivesse estabelecido outro programa para o dia de ontem.
O encontro estava marcado para o Estádio Municipal Sérgio Conceição, em Taveiro. Não! O objectivo não era assistir a um qualquer jogo de futebol.
A missão era outra. Muito mais trabalhosa, mas, em simultâneo, mais recompensadora para a alma. O sol, o tal que brilhava ontem a grande altura, também vai aparecer na Guiné-Bissau.
Vai demorar mais alguns dias. Apenas o tempo de fazer chegar a África o contentor carregado de coisas boas. O brilho vai, de certeza, estender-se às crianças, arrastando, sem dificuldade, muitos adultos. A felicidade vai invadir-lhe os rostos. Pode ser por pouco tempo, mas nunca mais se vão esquecer. As lágrimas, de felicidade, também vão cair. Para quem quase nada tem, qualquer ajuda significa o renascer. Um amanhã melhor.
Por baixo da bancada do Estádio Municipal Sérgio Conceição, as caixas amontoavam-se numa espécie de armazém improvisado. Estavam todas numeradas e devidamente identificadas por categorias. Material escolar, roupas, bens de saúde. Havia de tudo um pouco. Feitas as contas eram mais de duas mil embalagens. A chegar, estava um camião do Porto. Lá dentro, mais uma série de material já encaixotado.
Os carregadores voluntários foram chegando. Eram cerca de duas dezenas. Todos com a vontade de contribuir para, o mais depressa possível, esgotarem o espaço disponível no contentor. Inicialmente, era para ter 20 toneladas. Revelou-se pouco espaçoso face aos donativos amealhados. Teve de se arranjar um com o dobro do tamanho.
O contentor segue por via marítima. Na Guiné-Bissau, vai ser descarregado na cooperação portuguesa. Por terra, três carrinhas e cinco jipes também vão partir.
São 12 de Coimbra e 14 do Porto. Ainda há duas vagas.
Durante oito, nove dias passam por Portugal, Espanha, Marrocos, Saara Ocidental, Mauritânia, Senegal e Guiné-Bissau.
A entrada no continente africano vai ser por Tânger.
Expedicionários partem dia 21
Os expedicionários, cada um paga a viagem do seu bolso, arrancam no próximo dia 21. A saída está agendada para as 9h00, do Largo da Portagem, em Coimbra. Conimbricenses e portuenses saem juntos rumo a Tenerife. Pela frente, vão ter «duros e cansativos» cinco mil quilómetros. Alguns de estradas boas, outros (muitos) de caminhos ruins a que se pode chamar tudo menos estrada.
A campanha de recolha de bens começou em Janeiro e terminou anteontem. Agora, vão ser entregues às instituições e escolas mais carenciadas da Guiné-Bissau. Uma entrega que se pretende «controlada». A outra parte será distribuída, directamente, pelos expedicionários em escolas do interior, regiões privilegiadas, tendo em conta o risco de na capital, Bissau, entrarem no "mercado negro".
«O maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau» já está em marcha.
Muitos e essenciais bens
A operação logística de ontem permitiu ficar a saber que, no contentor, seguem, entre outras coisas, cadeiras de rodas, canadianas, material escolar, livros, roupa para todas as idades e bens de saúde. Tudo recolhido em apenas três semanas. A Associação Humanitária Memória e Gentes garante tratar-se do «maior contentor de apoio humanitário à Guiné-Bissau».
Fernando Ferreira, membro da associação, explicou que «a distância da viagem e as elevadas temperaturas» são dificuldades a enfrentar pelos expedicionários. Antes, ainda em Portugal, já superaram outras adversidades. Todos os dias à noite se reuniam no Estádio Municipal Sérgio Conceição para organizar as caixas. O extraordinário volume de donativos recolhidos ultrapassou as melhores expectativas da organização.
«Foi largamente ultrapassado, tendo mesmo forçado a alterar, para o dobro, o tamanho do contentor», observou José Moreira, presidente da associação e antigo combatente na Guiné em 1966 e 1967.
Apoiados a todos os níveis
Para tornar possível uma missão deste género é necessário recorrer a várias sinergias.
O contentor foi cedido pela Portline, empresa que centra a sua actividade no transporte marítimo e que vai colocar o material a custo zero na Guiné-Bissau.
A Câmara Municipal de Coimbra, o Governo Civil de Coimbra e a Junta de Freguesia de Taveiro também apoiaram a Associação Humanitária Memória e Gentes.
Além da recolha de material, contribuíram, ainda, com a oferta de bens diversos.
Os agradecimentos estendem-se à Alfândega da Figueira da Foz, assim como à Associação de Deficientes das Forças Armadas de Coimbra. Várias empresas, entre as quais a Âmbar, Águas do Luso, Babou e o livreiro José de Almeida Gomes e Filhos, Lda, engrossam a lista de «grandes apoios».
A Liga dos Combatentes tem um protocolo de missão conjunta com a associação, que tem como objectivo ajudar não só a Guiné-Bissau, mas todos os PALOP (Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa).
O Ministério dos Negócios Estrangeiros presta apoio ao nível do contacto com as embaixadas, uma vez que a expedição vai passar por países em risco.
A Associação Humanitária Memória e Gentes, que não esquece os particulares que ofereceram diversos bens essenciais, colabora com a Associação Saúde em Português, transportando material a pedido desta organização não governamental.
João Henriques
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Notas dos editores:
(1) Vd. posts da série, de:
21 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2466: Ser Solidário (1): Pe. Almiro Mendes, Pároco da freguesia de Ramalde, Porto, partiu hoje de jipe, para a Guiné-Bissau
24 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2476: Ser solidário (2): Notícias do Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)
28 de Janeiro de 2008> Guiné 63/74 - P2488: Ser solidário (3): Notícias do Pe. Almiro Mendes e do Xico Allen na rota do Dakar, a caminho de Bissau (Álvaro Basto)