Pesquisar neste blogue

domingo, 9 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24464: (De) Caras (201): Crónica pícara de uma noite de copos no Chez Toi e no Pilão, que meteu alguns dos nossos melhores e que até chegou, truncada e pirateada, à terra de um deles, Melgaço (Paulo Santiago, ex-alf mil, cmdt Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)


Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Saltinho > Sinchã Sambel > Fevereiro de 2005 > A viagem de todas as emoções, o regresso de Paulo Santiago à Guiné, em Fevereiro de 2005.

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Esta história merece ser "revisitada" (*) por várias razões: 

(i) é escrita pelo Paulo Santiago (um "histórico" do nosso blogue, está connosco desde meados de 2006, e tem 183 referências); 

(ii) tem umas cenas "pícaras", passadas em finais de março de 1972, na "nossa Bissau", longe de Saigão (que ficava no Vietname); 

(iii) e depois envolve alguns dos nossos "melhores" (incluindo a nossa marinha e até um "ajudante de campo" do nosso Com-Chefe (que estava no 4.º ano do seu "consulado"), além do Julião Martins (outro dos nossos tabanqueiros, outro "histórico");

(iv) e, "the last but not the least", foi reproduzida no blogue da terra de um deles, Melgaço, sem que fosse citado o autor (Paulo Santiago) e a fonte (Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné)...

Dezenas de anos depois, o Paulo Santigao reconstituía aqui um "raide nocturno ao Pilão"... Uma noite de copos em Bissau era um dos poucos luxos que um "tuga", a caminho do mato (ou "desenfiado" do mato), se podia permitir: afinal, não éramos santos nem heróis, mas também não éramos meninos de coro nem escuteiros... Tínhamos vinte e poucos anos, muita adrenalina, muita vontade de viver e nenhuma de morrer... Em Bissau, longe do Vietname, como eu costumava escrever... (**) 


Uma ida ao Pilão

por Paulo Santiago (*)

Foi aí por volta de 30 ou 31 de Março de 1972 que os acontecimentos se passaram. Estava eu em Bissau, de passagem, para mais um mês de férias na Metrópole, embarcava no avião da TAP em 2 de Abril.

O NRP "Orion"  foi onde jantei naquela noite, a convite do comandante Rita, sendo também convidado o ten RN [reserva naval] Alves da Silva, conhecido entre nós pelo petit-nom de Eduardinho. Não me lembro da ementa, mas foi excelentemente acompanhada pelos belíssimos néctares existentes na garrafeira daquele navio.

O [alf mil] Martins Julião estava em Bissau a chefiar a comissão liquidatária da CCAÇ 2701 [Saltinho, 1970/72]: sabendo que me encontrava a bordo da "Orion", apareceu no fim de jantar, ainda a tempo de beber uns uísques.

Por volta da meia-noite, ou ainda mais tarde, resolvemos ir ao Chez Toi, um cabaré chungoso, o que se chama agora casa de alterne. Apanhámos um táxi no porto e lá seguimos para a má vida. O Rita, como habitualmente, ainda poderia beber mais uma garrafa nas calmas, eu, o Alves da Silva e o Julião já estávamos um pouco mal tratados. 

O cabaré estava repleto, já não cabia mais ninguém. Convencemos o empregado a trazer-nos uma "Old Parr", mais quatro copos e ali ficámos encostados ao muro a dar conta da garrafa.

Subitamente chega um carro em alta velocidade, Peugeot 404 preto, que faz uma travagem maluca ali em frente, e donde sai o cap Tomás, ajudante [de campo] do Caco [Baldé].  Vinha bastante encharcado, mas deitou a mão à nossa garrafa,  bebendo uma boa golada. A única pessoa que ele conhecia bem era o Rita. Queria ir para as gaijas, não sei fazer o quê, naquele estado. Convenceu o Comandante e lá entrámos os quatro para o 404, era o carro da D. Helena [Spínola], onde o único meio sóbrio era o meu amigo Rita.

Seguimos em direcção ao Pilão, com o Tomás a fazer uma condução à maluca. Falou numa cabo-verdiana que nenhum de nós conhecia, que ficaria perto da casa da Eugénia, essa conhecia eu bem. Corremos imensas ruas e ruelas do Pilão, eram tantos os saltos que o carro dava que o Rita já dizia estar a apanhar mais pancada que numa tempestade no mar. A determinada altura, uma das rodas do carro cai num buraco com grande violência, ouve-se um barulho de latas e ficamos com menos luz. O Tomás pára o Peugeot e saímos para verificar o sucedido. Com a pancada, um dos faróis saltara do encaixe, ficando virado para o solo, preso pelos fios de ligação.

Nenhum problema, continuamos às voltas, à procura das gaijas que nenhum conseguia dizer onde ficavam e o farol acabou por cair, ninguém soube onde. Aí pelas três da manhã, chegamos a um local do Pilão onde se encontrava um grande aglomerado de pessoas, em estado de grande exaltação. Paramos, saímos do carro e vemos no meio daquele maralhal o alf mil Domingos, de braço engessado ao peito, prestes a levar, na melhor das hipóteses, uma grande carga de pancada.

O Comandante Rita, graças à sua estatura, vai furando, connosco atrás até chegarmos ao Domingos, também de cabeça perdida. O que se passara?

– O caralho do Oliveira trouxe-me para aqui, bateu à porta daquela gaja, ela diz que está ocupada, o cabrão manda um pontapé na porta, rebenta-a, a tipa grita, começa a juntar-se este maralhal e o gajo deixou-me sozinho.
 
Foi complicado acalmar aquela gente mas conseguiu-se. Foi mais um passageiro para o maltratado 404. O Tomás ficou no Palácio e, nós os cinco, viemos beber mais um copo ao "Orion". O Domingos embarcava nessa manhã para Lisboa, em fim de comissão.

PS - O Oliveira era tenente dos Comandos. Pertencera à 26.ª   [CCmds] e estivera em Fá com o Miquelina Simões a formar a 2.ª CCA [Companhia de Comandos Africanos]. O Domingos fora fur mil na 4.ª CCmds em Moçambique e alf na 26.ª, até apanhar uma porrada e ser transferido para Teixeira Pinto onde teve um acidente do qual resultou um braço partido. Tive com ele várias histórias.

Paulo Santiago (***)


Guiné > Zona Leste > Regiáo de Bafatá >  Sector L1 > CIM de Bambadinca > Campo de futebol > 1971 > "Na foto junta, eu e o Tomás estamos bem direitinhos... era de manhã"... O Cap Tomás, de pingalim, está atrás de Spínola, a quem o Paulo Santiago bate a pala.


Guiné > Zona Leste > Regiáo de Bafatá > Sector L1 > CIM de Bambadinca > Campo de futebol > 24 de Dezembro de 1971, vésperas de Natal > O Caco - alcunha por que era conhecido o Com-Chefe - passa revista aos novos milícias. O alf mil Santiago segue atrás com o Cap Tomás, ajudante de campo do general Spínola.

Fotos (e legendas): © Paulo Santiago (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Tombali > Rio Cacine > c. 1971/72 > NRP Orion > O comandante Rita, "um grande homem, um grande comandante", na opinião de Pedro Lauret, oficial imediato da LFG Orion (1971/73). Na foto, vemos os dois na ponta do navio, a navegar no rio Cacine. O Cmdt Rita está em segundo plano. O Lauret segura os binóculos.

Foto (e legenda); © Pedro Lauret (2006) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Mensagem que enviei ao Paulo Santiago, depois o avisar, por telemóvel, de que a história dele, "Uma ida ao pilão" tinha sido "pirateado":

Data - 07/06/2023, 12:32
Assunto - Um melgacense na guerra colonial...

Paulo: O blogue é este: "Melgaço, do Monte à Ribeira" (administrador. Ilídio Costa)

https://blogs.sapo.pt/profile?blog=iasousa


O texto em que apareces "truncado" e "pirateado" é este:

O PEUGEOT DA D. HELENA OU RELATOS DA GUERRA COLONIAL
melgaçodomonteàribeira, 08.03.13

https://iasousa.blogs.sapo.pt/78088.html

Não é citado o autor nem a fonte... "Textos retirados da Net por Camborio Refugiado" (sic)  

Um abraço, Luís

3. Mensagem que o Paulo Santiago mandou ao administrador do blogue "Melgaço, do Monte à Ribeira":

Data: sex., 9 de jun. de 2023 às 12:43
Assunto: "Melgaço, do Monte à Ribeira"

Bom dia

Um camarada, há dias, chamou-me a atenção para um post publicado, em 08/03/13, nesse blogue.

O post "O Peugeot da D. Helena ou relatos da guerra colonial" estranhamente, não cita as fontes de onde "sacou" as histórias, e também não diz onde foi retirar uma foto, minha, que acompanha o texto.

Seria correcto, indicar as fontes, que serão duas, uma do Peugeot e foto, e outra para a das granadas.

Cumprimentos, Paulo Santiago.

4. Comentário do editor LG: 

Paulo, fizeste bem... Esta malta (das "redes sociais"...) não tem o mais elementar princípio de respeito pela "propriedade intelectual"... Há, no mínimo, uma grande ligeireza ou, antes,  uma grande lata na maneira como se "sacam" coisas da Net sem citar a(s) fonte(s)... 

Vou fazer um poste para o blogue sobre este assunto, de modo a ajudar a prevenir outras situações, recorrentes, de "uso e abuso" dos nossos materiais... 

Gostamos que nos divulguem, somos a favor do "open access", mas também exigimos que nos citem (e, portanto, respeitem).

Um alfabravo. Luis
09/06/2023, 13:28

5. Comentário final do editor LG:

Paulo, o administrador do blogue "Melgaço, do Monte à Ribeira" eliminou o poste, na sequência do teu "reparo"... Nem um pedido de desculpas te mandou?!... Nem a ti nem a nós, editores do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné...

De facto, já não está lá desde a data do teu "puxáo de orelhas"...


Mas o meu "Big Brother" sabe que ele existiu... Tudo o que publicas na Net deixa "rasto"... Vê aqui:


O Arquivo.pt foi criado (e é mantido) pela FCT - Fundação para a Ciència e Tecnologia,  como uma espécie de Torre do Tombo Digital. Daqui a 50 anos os teus netos e bisnetos podem ler o teu poste no nosso blogue (mesmo que eu o quisesse eliminar)...


____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 24 de novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: NPR Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)

(**) Vd. poste de 8 de julho de 2023 > Guiné 61/74 - P24459: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (3): Um tiro de misericórdia!

Guiné 61/74 - P24463: Parabéns a você (2185): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, 1.º Cabo Mec Auto Rodas da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)


____________

Nota do editor

Último poste da série de 4 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24449: Parabéns a você (2184): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil Inf da 3.ª CCAÇ (Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63)

sábado, 8 de julho de 2023

Guiné 61/74 - P24462: Efemérides (402): No passado dia 1 de Julho de 2023, a União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, Concelho de Matosinhos, homenageou os seus Combatentes mortos na Guerra do Ultramar (Carlos Vinhal)

Cemitério de Perafita, onde decorreu a cerimónia principal de homenagem aos Combatentes da União de Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, mortos na Guerra do Ultramar

O programa deste ano de homenagem aos combatentes da União de Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, mortos na Guerra do Ultramar, teve o seu início pelas 09h45, nos cemitérios das freguesias de Lavra e de Santa Cruz do Bispo com a deposição de uma coroa de flores por parte da Presidente da União de Freguesias, Dra. Lurdes Queirós e do Presidente do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, Tenente Coronel Armando Costa junto do Panteão aos Combatentes Lavrenses e da placa/memorial em Santa Cruz do Bispo, onde constam os nomes dos falecidos daquelas duas freguesias. Igualmente foi feito o toque de homenagem aos mortos pelo clarim dos Bombeiros de Matosinhos - Leça da Palmeira.
Foto 1 - Cerimónia de deposição de coroas de flores junto ao Panteão aos Combatentes de Lavra mortos na Guerra do Ultramar
Foto 2 - Cerimónia de deposição de coroas de flores junto da placa evocativa dos Combatentes de Santa Cruz do Bispo mortos na Guerra do Ultramar
Foto 3 - Placa evocativa da Memória dos Combatentes de Santa Cruz do Bispo mortos na Guerra do Ultramar

De seguida, realizou-se em Perafita, conforme planeado para este ano, a cerimónia militar promovida pelo Núcleo, em colaboração com a União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo – Pólo de Perafita.

Pelas 10H30, iniciou-se a comemoração com a concentração dos participantes em frente ao edifício da Junta, sendo içada a Bandeira Nacional ao mesmo tempo que o Grupo Coral do Núcleo entoava o Hino Nacional e a Guarda de Honra, constituída por um clarim dos Bombeiros de Matosinhos-Leça da Palmeira, pelo Porta Guião do Núcleo e por alguns sócios combatentes, prestava as honras militares à Bandeira Nacional.
Foto 4 - Hastear das Bandeiras no edifício da Junta de Freguesia de Perafita, ao mesmo tempo que era cantado o Hino Nacional por um grupo de sócios do Núcleo de Matosinhos da LC

Posteriormente, os participantes seguiram em romagem ao cemitério local, acompanhando o Porta Guião do Núcleo.

Foto 5 - Deslocação para o Cemitério de Perafita

Pelas 10H45, já no cemitério junto à placa/memorial onde se encontram os nomes dos combatentes de Perafita que tombaram pela Pátria, realizou-se a cerimónia militar onde três sócios, um de Lavra, um de Perafita e outro de Santa Cruz do Bispo fizeram a chamada de todos os combatentes mortos na Guerra do Ultramar da União das Freguesias, seguindo-se a deposição de uma coroa de flores, pela Presidente da Junta e pelo Presidente da Direção do Núcleo. A cerimónia prosseguiu com os respetivos toques de homenagem aos mortos e, após um minuto de silêncio, foi cantado um salmo pelo Grupo Coral do Núcleo e lida a prece do Exército pelo Vice-Presidente do Núcleo.
Foto 6 - Vice-Presidente da Direcção do Núcleo de Matosinhos da LC, SAj Oliveira, que teve a seu cargo a condução da cerimónia
Foto 7 - Chamada pelos Combatentes de Lavra mortos na Guerra do Ultramar
Foto 8 - Chamada pelos Combatentes de Santa Cruz do Bispo mortos na Guerra do Ultramar
Foto 9 - Chamada pelos Combatentes de Perafita mortos na Guerra do Ultramar

Dando continuidade ao programa traçado, foram proferidas alocuções alusivas ao ato pelo Presidente da Direção do Núcleo e pela Presidente do executivo da Junta da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo. Por último, o Grupo Coral do Núcleo cantou o Hino da Liga dos Combatentes. A cerimónia militar no próximo ano vai ser realizada em Santa Cruz do Bispo.
Foto 10 - Deposição de uma coroa de flores pelos responsáveis autárticos no Memorial do Cemitério de Perafita
Foto 11 - Deposição de uma coroa de flores pelos Presidente da Direcção e Presidente da Mesa da Assembleia Geral do Núcleio de Matosinhos da LC no Memorial do Cemitério de Perafita
Foto 12 - Alocução do senhor Tenente Coronel Armando Costa, Presidente do Núcleo de Matosinhos da LC
Foto 13 - Alocução da senhora Presidente da União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, Dra. Lurdes Queirós
Foto 14 - O pequeno grupo de sócios do Núcleo de Matosinhos da LC que interpretou o Hino Nacional, um cântico religioso e o Hino dos Combatentes, no decorrer das cerimónias

Texto e fotos: © Núcleo de Matosinhos da LC
Edição das fotos e legendagem: Carlos Vinhal
____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24461: Efemérides (401): Rescaldo da cerimónia de Homenagem aos Combatentes da União de Freguesias de Ovadas e Panchorra, Concelho de Resende, levada a efeito no passado dia 1 de Julho de 2023 (Fátima Soledade / Fátima Silva)

Guiné 61/74 - P24461: Efemérides (401): Rescaldo da cerimónia de Homenagem aos Combatentes da União de Freguesias de Ovadas e Panchorra, Concelho de Resende, levada a efeito no passado dia 1 de Julho de 2023 (Fátima Soledade / Fátima Silva)

Combatentes homenageados, representando também todos os ausentes


Resende

União de Freguesias de Ovadas e Panchorra

Homenagem aos seus Combatentes - Dia 1 de julho de 2023

A União de freguesias de Ovadas – Panchorra homenageou os combatentes do Ultramar, no dia 1 de julho de 2023, pelas 15h00 com a celebração da Eucaristia a cargo do Padre Abel, na Igreja de Ovadas. Este, durante a homilia, dissertou sobre o padecimento que os combatentes sustentaram aquando do cumprimento do dever em prol da Pátria. A celebração foi abrilhantada pela banda de Música de S. Cipriano-a-Velha, dirigida pelo maestro, professor Carlos.

Durante a cerimónia religiosa foram distribuídas lembranças a cerca de trinta combatentes que lutaram na Guiné, em Angola e em Moçambique e projetados vídeos com as resenhas das experiências dos militares homenageados.

Ainda se destaca a participação sublime da Leonor Macário, neta de um combatente, que leu um testemunho e cantou um poema, textos escritos por ela que relataram a experiência do avô na sua comissão em Moçambique.

Da Liga de Combatentes do Núcleo de Lamego esteve presente uma delegação de associados, salientando-se o Presidente Coronel Valdemar Lima, que usou da palavra, para agradecer aquela sublime homenagem, tendo realizado o desfecho da cerimónia no interior da igreja. O Sr. Coronel salientou, de forma digna, o papel dos combatentes portugueses desde a I Guerra Mundial e consignou o facto de muitos viverem abandonados pelo Estado Português.

Relembrou que apesar de há um ano ter sido aprovado o Estatuto do Antigo Combatente, proposto pela Liga dos Combatentes, não houve mudanças consideráveis e que o valor correspondente ao salário mínimo seria um valor insignificante despendido pelo Orçamento do Estado. Estas palavras receberam, por parte dos presentes, uma afetuosa aclamação de apreço.

Após a celebração religiosa, seguiu-se a inauguração de um Memorial aos Combatentes do Ultramar, no Largo do Pelourinho, onde foi entoado o Hino Nacional por toda a população presente e entidades convidadas.

Nesta homenagem também estiverem presentes o Presidente da Assembleia Municipal de Resende, Dr. Jorge Machado, Vereadores e Presidentes de Juntas de Freguesia do concelho.

Salienta-se ainda a presença e total empenho do Presidente da Junta de freguesia de Ovadas, Manuel Afonso, na merecedora Homenagem aos Combatentes.

No fim da cerimónia foi servida uma deleitosa merenda a toda os convidados e habitantes, no Largo do Pelourinho, perante um cenário paradisíaco e rural, onde só a Natureza e os bons corações imperam.

1 de julho de 2023
Fátima´s

Foto 1 - Exterior da Igreja
Foto 2 - Interior da Igreja de Ovadas
Foto 3 - Responsável pela Homilía Religiosa, Senhor Padre Abel
Foto 4 - Neta Leonor a homenagear o avô
Foto 5 - Banda Musical de S. Cipriano-a-Velha
Foto 6 - Combatente da CCAÇ 1421, as Fátima's, Leonor e Presidente da Junta
Foto 7 - O Senhor Coronel Valdemar Lima e a Leonor, neta de Combatente
Foto 8 - Inauguração do Monumento no Largo do Pelourinho

Fotos e legendagem: © Gentil Pereira
____________

Notas do editor

Vd. poste de 22 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24424: Efemérides (399): Convite para as cerimónias de homenagem aos Heróis do Ultramar da freguesia de Panchorra, dia 24 de Junho e freguesia de Ovadas, dia 1 de Julho, concelho de Resende, conforme os programas (Fátima Soledade / Fátima Silva)

Último poste da série de 27 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24435: Efemérides (400): Rescaldo da cerimónia de homenagem aos Heróis do Ultramar dos lugares de Panchorra e da Talhada, Concelho de Resende, levada a efeito no passado dia 24 de Junho (Fátima Soledade / Fátima Silva)

Guiné 61/74 - P24460: Os nossos seres, saberes e lazeres (580): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (110): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Maio de 2023:

Queridos amigos,
Com o direito que me assiste a ter inquietações parvas, quando aqui chego sobra-me a pergunta se não será a última vez que percorrerei este lugar de tantas lembranças, onde trabalhei com afinco, foi a partir de aqui que passei a acreditar no sonho europeu, a fazer amizades consolidadas por largos intercâmbios. Depois atiro para trás das costas este cismar lúgubre de quem não teme a velhice mas que em circunstância alguma teima em não a ignorar, e goza-se da atmosfera, é o prazer de visitar e revisitar, até à exaustão das horas, o tempo não demora a passar e há o peso das memórias como este primeiro dia de férias retrata, desde o bairro típico de Marolles até ao Monte das Artes, aconteceu assim em 1977 e acontecerá sempre até à última das visitas, sim, José Saramago tem toda a razão, a viagem nunca acaba, quem acaba é o viajante.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (110):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (1)


Mário Beja Santos

Regresso, parece que cheguei a uma segunda pátria, vou em passo acelerado pelos longos corredores de Zaventem, de afogadilho compro o bilhete de comboio, na gare central carrego o passe, desço ao cais do metropolitano, destino Herrmann-Debroux, depois o tram, já estou na Cité du Logis, sinto-me em casa, abraços, sorrisos, primeiras conversas, amesendamos, troca de impressões sobre o que pretendo fazer nos próximos dias. Surpreendo quem me ouve, amanhã vou peregrinar em homenagem a Bruegel, depois de fazer a feira da ladra, havendo tempo disponível vou conversar com Bruegel no Museu das Belas Artes. No dia seguinte, peço companhia para passar o dia em Malines, tenho saudades. Mais conversa, deita e levanta, de manhã cedo parto para a minha romaria. Mas porquê Bruegel? Para mim, é um belga antes do tempo. Nasceu em Breda (Países-Baixos) em 1525, fez trabalho de ateliê em Antuérpia, viajou por Itália, regressa a Antuérpia e trabalha na impressão de livros e de estampas. Estabelece-se em Bruxelas em 1563, aqui morre 6 anos depois.

A Bruxelas de Bruegel tem a presença dos Habsburgos, há mecenas, por exemplo o Cardeal Granvelle encomendou-lhe "A Queda dos Anjos Rebeldes" (1562), é uma obra que me toca profundamente, confesso que quando admirei pela primeira vez o quadro pensei que estava diante de um Bosch. É um pintor do pormenor, da alegria, da alegoria, de uma certa transgressão. A sua arte é de tal maneira impressiva e tão admirada que os seus descendentes, como Bruegel, o Moço, ou David Teniers, aceitaram encomendas com base em trabalhos do mestre consagrado. E há um pouco de Bruegel hoje no chamado centro histórico de Bruxelas. Logo a chamada Casa Bruegel, em Marolles, na rue Haute, subsistem dúvidas se ele habitou ou não, mas o seu filho e o seu descendente David Teniers confirmadamente aqui viveram. Este meu adorado pintor está sepultado em Notre-Dame de la Chapelle, teve durante muito tempo na parece um quadro de Rubens, Cristo Dando as Chaves a S. Pedro, o original está hoje em Berlim, o que eu vou visitar é uma cópia, o mestre bem merecia que estivesse aqui o original, paciência.

Presumível autorretrato de Pieter Bruegel, o Velho
O Recenseamento em Belém, quadro de Bruegel, Museu das Belas Artes, Bruxelas

O que me toca neste quadro é a movimentação da cena e a colocação mais do que discreta que Bruegel põe na figura da Virgem e de S. José na grande mancha do tapete de neve que nos faz olhar a cena do recenseamento, notável encenação.
A queda dos anjos rebeldes, quadro de Bruegel, Museu das Belas Artes, Bruxelas

Palavra de honra que ainda hoje vejo elementos de Bosch num espaço todo ele feito de movimentação e onde a ordem é surreal, no fundo, as figuras angélicas são as executoras a par de, como elemento central, um guerreiro ao serviço da Fé expulsa para as profundezas aqueles que ousaram rebelar-se, os olhos revolteiam-se de cima para baixo e de baixo para cima, o mestre coloca os anjos sobre o azul celeste, dimensionando a altura dos céus por onde caem os entes maléficos, cá em baixo é caos e a desordem, somos levados a antever que nas profundezas os rebeldes serão recebidos em lugar demoníaco, daí o valor didático que qualquer um destes quadros comporta.
La Maison Bruegel
Notre-Dame de la Chapelle, a principal igreja de Marolles

Às vezes, quando me dá para madrugar, e é domingo, vou em primeiro lugar até ao templo da igreja ortodoxa grega, no boulevard de Estalinegrado, todos aqueles cânticos e rituais me empolgam, depois subo até aqui e às vezes tenho sorte de ouvir os cânticos da comunidade polaca que aqui se encontra. E lá vou, açodado pela rue Blaes até à feira da ladra, vai começar o espetáculo.
Aqui é chão sagrado, salvo seja. É tudo para degustar, mexericar dentro das caixas, é assim que aparecem livros que são edições preciosas, missais com inúmeras imagens, encadernações assombrosas; há as pastas com desenhos, álbuns de viagens, não faltam caixas com medicamentos e cosméticos, montanhas de tecidos, rabecas, tapetes, há especialistas em arte africana e que sabem o que estão a vender, não vos canso mais com estes hossanas de colecionador. Como viajo em voos low-cost, guardo saudades do tempo em que podia entrar no avião com molduras enormes, calhamaços, sacos com porcelanas e ainda a bagagem normal e as vitualhas de lembranças, esse tempo já não existe, impõe-se comprar o miudinho, para isso é que se leva um casacão com bastanres bolsos, virão todos carregados. Mas confesso que esta magia da profusão, o discutir os preços com estes mercadores árabes que vão esvaziar as casas e tudo trazem, desde o clister e o penico até aos carrinhos de linhas, me entusiasma, é o sonho de uma pechincha, como às vezes acontece, uma vez comprei um prato de Meissen por escassos euros, nem esbeiçadelas tinha, mas é achado que não se repete, a não ser…
Já venho aviado da feira da ladra e desço Marolles, pretendo percorrer o boulevard Maurice Lemonnier, impõe-se uma visita a um vendedor de livros em segunda mão. Nisto olhei para o chão e comovi-me imenso, aqui se guardam memórias de judeus que foram levados para campos de concentração, lembra um tanto aqueles bispos e aristocratas que punham os seus túmulos no chão das igrejas, inevitavelmente para serem pisados, aqui é para quem tem a dita de olhar para o chão e curiosidade para ir ver o que se passa, então algo se abate na nossa alma destas vidas roubadas por um fanatismo racial que eclodiu num país de vanguarda na ciência, tecnologia e na música. Pois aconteceu, como a lembrança destas vítimas nos faz recordar.
Restos de um passado, talvez quando a Bélgica era potencia esplendorosa, belos mosaicos no chão de um estabelecimento que fechou portas mas que guarda esta belíssima guarnição, resquício de muitas décadas atrás que o novo retalhista felizmente preserva.
Um dos charmes de Marolles é encontrar belos edifícios entre construções modernas, não sei exatamente o que gosto mais, talvez o equilíbrio dado pela porta, a varanda, os mosaicos, aqui fiquei especado diante destes dois prédios, casas de habitar, espero que este património resista ao camartelo, felizmente que ainda há muito Arte Nova e Arte Deco, de primeiríssima água, não me canso de referir, há mesmo excursões só para ver estas preciosidades.
A cidade guarda ciosamente belos murais, nunca tinha dado por este, digam o que disserem, que são elementos flamejantes que introduzem cor, são modalidades estéticas que agilizam a comunicação e quebram monotonias na uniformidade dos edifícios.
Como é que é possível deixar de falar do Palácio da Justiça quando ele tem esta forma de Big Brother, olha-nos lá do alto, aparece e desaparece entre ruas e ruelas, impossível falar de Marolles sem mencionar que o Palácio de Justiça, a maior extravagância de Bruxelas, em circunstância alguma pode passar despercebido.
Por esta eu não esperava, num estabelecimento com ares de luxuoso cheio de fotografias artísticas, vejo na montra, na intensidade que só o branco e preto dão esta imagem da Grand Place, do lado esquerdo um pouco do edifício municipal e um conjunto de casas de corporações ao fundo. Bela fotografia. Pudesse eu, vinha comigo.
Aqui se mostra um revivalismo, ainda há muitos admiradores do chamado estilo Tiffany, obviamente que estamos a ver aqui cópias como cá em baixo se podem ver cópias de ferragens de outros tempos. O que mais me fascina é o carrossel das cores e das formas.
Como é que é possível eu nunca ter dado por esta fachada, já foi casa de drogarias, tintas e esmaltes e vernizes, é uma reminiscência do princípio da Arte Deco, por favor preservem-na, deixem-na nesta rampa de entrelaçamentos de culturas, gostei muito de descobrir esta relíquia.
É a vez de entrar para uma exposição, intitula-se cabaré de curiosidades, o artista chama-se Christophe Demaître, este artista pega em objetos mais do passado do que do presente e encaixa-os num emolduramento que nos exige percorrer de fio a pavio os espaços fechados, podem conter livros, fotografias eróticas, retratos, relógios sem préstimo, quinquilharia, e ficamos com a sensação de que temos a árvore e a floresta, somos atraídos pelo pormenor, depois recuamos e é o todo que se torna proeminente, ganha a dimensão do macrocosmos. Não fico de boca aberta, há mais de um século Marcel Duchamp agarrou em objetos, despiu-os da função e outorgou-lhe outra, tenho para mim que ele é o pai fundador desta arte de artifícios que parece inextinguível.
E termino este dia de festim noutro lugar que tanto venero, o Monte das Artes, por aqui descendo vou dar à Grand Place, mas o que realmente neste momento me interessa é saudar este recanto de Bruxelas que conheci exatamente assim há mais de 50 anos e que tem um lugar especial no meu coração.

(continua)

____________

Nota do editor

Último poste da série de 1 DE JULHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24443: Os nossos seres, saberes e lazeres (579): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (109): Com sangue d’África, com ossos d’Europa: do Paúl a Pombas, de Pombas a Porto Novo, de Porto Novo a Mindelo, o regresso (8) (Mário Beja Santos)