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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27109: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (13): Lista das enfermeiras paraquedistas que foram mobilizadas para os TO de Angola, Guiné e Moçambique, entre 1961 e 1974 (Fernando Miranda, ex-enfermeiro, Hospital da Força Aérea)

1. O Fernando Miranda, de alcunha "Marquês de Oeiras",  é nosso amigo do Facebook. Trabalhou, como enfermeiro, no Hospital da Força Aérea. Formou-se na ESEL - Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Pólo Calouste Gulbenkian. É natural de Portalegre. Vive em Oeiras. Faz anos a 4 de julho.  Considera-se um veterano da FAP.  Deve estar, pois, reformado. Tem uma relação privilegiada com as antigas enfermeiras paraquedistas, cuja história conhece bem e cujo percurso, em parte, acompanhou (Por exemplo, trabalhou com a infortunada Maria Celeste Costa.) Tem também o melhor álbum fotográfico destas nossas camaradas que na época pertenciam á Força Aérea.

Com a devida vénia, apresentamos nesta série uma postagem dele, datada de 19 de setembro de 2020. Foi a primeira e única vez que vimos uma listagem nominal das nossas queridas camaradas (nome e posto em que foram graduadas). O nosso obrigado ao Fernando. 
 


 LISTA DAS ENFERMEIRAS PARAQUEDISTAS

Tudo farei para não esquecer estas camaradas e colegas, que me ajudaram a crescer como enfermeiro, como homem e me acompanharam em momentos menos bons da minha vida, e ainda hoje me acompanham. Nunca as esquecerei, nem as que já partiram, todas têm um lugar no meu coração.
Quero deixar aqui um Muito Obrigado público.

Mulheres Valorosas:

Nunca deveremos esquecer as mulheres valorosas que nos deram sempre o seu apoio incondicional. Trata-se das enfermeiras paraquedistas. 

As enfermeiras paraquedistas que participaram na Guerra de África são:

  • Capitão Enf Pqdt, Eugénia Espírito Santo (***)
  • Capitão Enf Pqdt, Francis Matias
  • Capitão Enf Pqdt, Maria de Lurdes Lobão
  • Capitão Enf Pqdt, Maria do Céu Esteves (***)
  • Capitão Enf Pqdt, Maria Ivone Reis (***)
  • Capitão Enf Pqdt, Maria Manuela França (*)
  • Capitão Enf Pqdt, Maria Natália Xavier
  • Capitão Enf Pqdt, Maria Rosa Mendes
  • Capitão Enf Pqdt, Mariana Gomes
  • Tenente Enf Pqdt, Antonieta Ribeiro
  • Tenente Enf Pqdt, Aura Teles
  • Tenente Enf Pqdt, Maria Arminda Santos
  • Tenente Enf Pqdt, Maria Zulmira André (*) 
  • Tenente Enf Pqdt, Maria Nazaré M. Andrade (*) 
  • Alferes Enf Pqdt, Maria Amélia Reis Galvão (*) 
  • Alferes Enf Pqdt, Delfina Natividade Oliveira (*) 
  • Alferes Enf Pqdt, Ana Gertrudes Serrabulho
  • Alferes Enf Pqdt, Ana Maria Lemos
  • Alferes Enf Pqdt, Armandina Alferes Salgado
  • Alferes Enf Pqdt, Maria Augusta Faustino Vieira
  • Alferes Enf Pqdt, Maria Bernardo Vasconcelos
  • Alferes Enf Pqdt, Maria Celeste Palma
  • Alferes Enf Pqdt, Maria de La Salete Lalli
  • Alferes Enf Pqdt,  Maria de Lurdes Gravato
  • Alferes Enf Pqdt, Maria de Lurdes Mota
  • Alferes Enf Pqdt, Maria do Céu Policarpo
  • Alferes Enf Pqdt, Maria do Céu Matos Chaves
  • Alferes Enf Pqdt, Maria Gracinda Rato
  • Alferes Enf Pqdt, Maria Rosa Exposto Olivença (***)
  • Alferes Enf Pqdt, Maria Rosa Serra
  • 1º Sargento Enf Pqdt, Dulce Baldroegas F. Rasgado
  • 1º Sargento Enf Pqdt, Ercília da Conceição Pedro
  • 1º Sargento Enf Pqdt, Júlia de Jesus Lemos (*)
  • 1º Sargento Enf Pqdt, Maria Amália Reimão (*)
  • 1º Sargento Enf Pqdt, Maria Aurelina Semedo (***)
  • 1º Sargento Enf Pqdt, Maria Cristina Silva
  • 2º Sargento Enf Pqdt, Giselda Pessoa
  • 2º Sargento Enf Pqdt, Maria da Piedade Gouveia (*)
  • 2º Sargento Enf Pqdt, Maria Emília Sousa
  • 2º Sargento Enf Pqdt, Maria Celeste Costa (**) 
  • Furriel Enf Pqdt, Maria de Lurdes Gomes
  • Furriel Enf Pqdt, Maria Natércia Neves
  • Furriel Enf Pqdt, Maria Soledade Guerreiro (*)
  • Furriel Enf Pqdt, Octávia Fontes
  • Furriel Enf Pqdt, Silvina Pacheco.

Nota do autor: (*) Falecida; (**) Falecida em combate; sempre no meu coração.

Nota do editor LG: (***) falecida em data posterior.

2. Resumindo:
  • 9 graduadas em capitão
  • 5 em tenente;
  • 16 em alferes;
  • 6 em 1º sargento;
  • 4 em 2º sargento;
  • 5 em furriel.
Total=45

A nº 46 foi a cap enf pqdt Maria Lurdes Lobão, do último (9º) curso (1974). Já não chegou a ir ao Ultramar, razão por que não consta da lista do Fernando Miranda.

10 das acima listadas já tinham falecido até 19/9/2020; outras já faleceram, entretanto, nestes últimos 5 anos (***): 
  • Maria Aurelina Semedo (1940 - 2023)
  • Maria Ivone Reis (1929-2022);
  • Mario Céu Pedro Esteves (1940-2022);
  • Maria Rosa Exposto Olivença (1940-2021);
  • Eugénia Espírito Santo  (1935-2025).
De um total de enfermeiras paraquedistas formadas em 9 cursos, de 1961 a 1974, e que foram ao ultrramar (n=45), já morreram 15 (33,3%).

(Revisão/ fixação de texto: LG)
_______________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 3 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27084: Nunca Tantos Deveram Tanto a Tão Poucas (12): Ercília Ribeiro Pedro, ex-srgt grad enfermeira paraquedista, do 2º curso (1962)

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26799: Agenda Cultural (883 ): "Livros a Oeste | Festival do Leitor", Lourinhã, 13 a 17 de maio de 2025: a 13ª edição está a decorrer, sob o lema "A História é Uma Encruzilhada"

 



Livros a Oeste 2025 | Festival do Leitor (Vd. programa aqui, na página oficial)

CONVERSAS | PERFORMANCE | MÚSICA | TEATRO DE SOMBRAS E OBJETOS | SESSÕES DE POESIA | OFICINA | FEIRA DO LIVRO | EXPOSIÇÃO




Livros a Oeste | Festival do Leitor está de volta à Lourinhã, com a 13.ª edição agendada entre 13 e 17 de maio, sob um auspício bem adequado aos tempos que vivemos (Texto que já não está disponível hoje, a esta hora, tratava-se de uma "press release" / comunicado de imprensa).


A HISTÓRIA É UMA ENCRUZILHADA


(...) A cada passo tomamos decisões, a cada passo prescindimos de algo, a cada passo assumimos qual será a direção… dos próximos passos. A História, com maiúscula e poderes acrescidos, é uma permanente encruzilhada e cada movimento, à semelhança de um xadrez cósmico, trilha caminho para as suas consequências.

Num tempo de inquestionáveis mudanças, convidámos figuras de diferentes quadrantes e com olhares distintos, para participarem neste encontro multidisciplinar em que, como é ajuizado acautelar, são mais as perguntas que as respostas. A política, a literatura, a historiografia, a tecnologia, a música, a poesia… tantos são os cenários que mudaram, mudam e continuarão a mudar, espelhando o percurso de um país. E do mundo que o rodeia. E a história, a tal em que ficcionamos para termos mão no seu desenlace, também é feita de escolhas e lapsos, urgências e atrasos, realidades e ilusões, certezas e tentativas.

  • «A nossa aposta contínua na divulgação cultural e criação de novos públicos, assenta que nem uma luva num encontro desta natureza, uma oportunidade para juntar projetos e criadores de diferentes áreas, questionando a realidade, divulgando e debatendo, com a preocupação de abranger diferentes tipologias de audiência e registos complementares, que possa chegar a pessoas com diferentes sensibilidades e interesses»; António Alberto Santos; Vereador da Câmara Municipal da Lourinhã com os Pelouros da Educação, Cultura e Cidadania.

  • «Estamos numa época decisiva para definir o que será, não só o período que completa este século, mas as linhas definidoras de uma certa concepção de Humanidade, questionada e desafiada pelas transformações que o próprio ser humano produziu e infligiu em todo o planeta em que vivemos. Criámos problemas que só nós podemos resolver. Porém, cada decisão implica consequências» (João Morales, programador do Livros a Oeste|Festival do Leitor).


A sessão de inauguração é, este ano, conduzida por Maria Caetano Vilalobos, um dos rostos mais recentes do panorama português da palavra dita, da poesia contemporânea, da slam poetry (com diversas presenças já no seu currículo, em eventos, nacionais e internacionais). 

Como habitualmente, será o momento para a divulgação dos vencedores do Concurso de Contos Livros a Oeste (nas suas diversas categorias). E, logo em seguida, visitamos a exposição “São Cravos, Senhor, São Cravos”, do artista Miguel Januário, patente na Galeria Municipal da Lourinhã. 

De referir que a Biblioteca Municipal acolhe ainda a exposição (Re)Constituição, com a exposição de páginas do livro homónimo, obra amplamente premiada, que rasura a Constituição vigente durante a Ditadura (trabalho que ganha maior significado nos 50 anos da data da preparação da 1ª Constituição publicada em Liberdade, o que viria a acontecer em 1976).

As noites têm por destino o auditório do Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira. 

  • Logo na primeira, terça-feira, dia 13, contamos com PURGA, projeto independente dedicado à poesia, criado em 2019, por NERVE (Tiago Gonçalves). Em cada sessão, além de apresentar textos novos, NERVE convida um ou mais autores para lerem poesia original. Nesta edição, o rapper e poeta português convida José Anjos, anfitrião do projeto Poesia na Bota, conhecido poeta e dinamizador de sessões de poesia. Qualquer membro do público pode participar, sem necessidade de inscrição.

As restantes noites são preenchidas por conversas temáticas, com diferentes convidados:


  • quarta-feira à noite teremos Pedro Prostes da Fonseca, Fernando Alvim e Manuel Frias Martins, sob o título Distância e Proximidade na Era da Internet;
  • quinta-feira o palco será entregue a Clara Pinto Correia Alves (de regresso à edição, ela que conta com quase seis centenas de livros publicados), Afonso Cruz e Filipa Fonseca Silva (ambos também com livros novos), porque A Vida Recomeça Continuamente;
  • exta-feira o serão conta com a presença de Bruno Vieira Amaral (que nos traz o seu novo romance, mas também a biografia de José Cardoso Pires, cujo centenário assinalamos em 2025), Patrícia Portela (com livro novo) e Mário Rufino (autor de um dos romances de estreia mais aclamados doa últimos anos).; o encontro dos três foi batizado como O Passado é Um País Sem Fronteiras;
  • no sábado, a tarde começa com Patrícia Reis e Teresa Carvalho, numa sessão dedicada a duas mulheres recentemente falecidas, senhoras de uma poesia e de uma vida francamente distintivas, Maria Teresa Horta e Adília Lopes  – Conferência Conjugada no Feminino,;
  • depois, a última destas habituais conversas junta Miguel Szymanski (romancista, mas também jornalista e comentador da RTP para assuntos internacionais), Júlio de Almeida (angolano, com um passado ligado ao exército, mas também ao Executivo de Angola, autor de dois romances publicados entre nós, à semelhança de vários outros do seu filho, o bem conhecido Ondjaki), que nos traz as suas memórias, e Luís Reis Torgal, figura de destaque da Academia portuguesa, com um vasto e rico percurso no âmbito da História, do pensamento e do ensino (também desta vez, os convidados viajam com livro novo na bagagem); a conversa, em jeito de balanço final, designa-se Chegados Aqui Para onde Vamos ? 
O festival encerra com Estilhaços, o projeto que junta poesia e música, com a mentoria de Adolfo Luxúria Canibal.

Como habitualmente, criámos uma programação multidisciplinar, assentando em conversas com autores, espetáculos para os mais novos, outros, imersivos com a comunidade, spoken word ou exposições. 

 À semelhança de anos anteriores, haverá ainda uma Oficina para Professores e Educadores, Perguntas Fuerreiras, Diálogos Pacíficos, por Joana Rita Sousa.


Aliás, o público em idade escolar sempre foi uma das principais preocupações na planificação e execução deste encontro anual, com as manhãs de todos os dias úteis do festival - que são quatro - completas e sobejamente preenchidas com sessões destinadas aos diferentes ciclos letivos, nos próprios estabelecimentos de ensino, em salutar colaboração com as professoras bibliotecárias destes espaços.

São diversos os autores e os livros que vão ser apresentados ao público infantojuvenil: 

  • Diário do Sushi, o Gato (Ana Rita Sequeira), 
  • Histórias Hilariantes da História de Portugal (Mafalda Cordeiro), Consultório Furioso (Patrícia Portela) 
  • Eu e as Babes (Ana Luísa Pais). 

Além disso, as escolas receberão ainda as sessões Camilo Castelo Branco  – 200 Anos de Um Escritor Profissional e A Poesia Vai à Escola (com Poeta da Cidade e Josefa de Maltezinho). 

 O público infantil conta ainda com o espetáculo Recomeçar – Teatro de Sombras e Objetos, conjugando o trabalho da companhia Sombronautas, Teatro Inefável e do músico Simão Cardoso. Partindo do livro Recomeçar, de Oliver Jeffers, nasceu um espetáculo, novo em folha, com música e muita luz para guiar num novo começo os alunos do pré-escolar e 1.ºciclo da Lourinhã.

A ligação ao território local continua a ser uma das preocupações no horizonte da organização deste evento, apostando na continuação de iniciativas como;

  •  Os Cantos das Palavras   (na via pública, apelando à participação de quem passa);
  • A Poesia É Que nos Salva  (cultivando a palavra dita em voz alta, de forma informal e em tom de convívio, ao final da noite);
  • ou na integração de um espetáculo concebido pelo Clube Idade+ (sob bem conhecida no nosso festival), intitulado Recomeçar, sublinhando que a participação na vida cultural local não tem, nem poderia ter, quaisquer limites etários. 

Maze (André Neves) realizou uma residência com 16 mulheres seniores do Clube Idade+ da Ribeira de Palheiros, inspirada no livro Recomeçar, de Oliver Jeffers. Com reflexões sobre o passado, presente e futuro, as participantes mergulham na ideia de que há sempre espaço para um novo começo.

As sessões de final de tarde, pelas 18h30, são dedicadas à apresentação de obras recentes, abrangendo diferentes géneros, para leitores distintos. Assim:

  •  na terça-feira teremos a presença de Teolinda Gersão e Manuel Alberto Valente, trazendo consigo, respetivamente, Autobiografia de Martha Freud e Poesia – Substantivo Feminino: 25 Poetas Nascidas Depois do 25 de Abril;
  • o dia seguinte, é a vez de Francisco Mota Saraiva (com Morramos ao Menos no Porto, vencedor da mais recente edição do Prémio José Saramago) e Fernando Pinto do Amaral (com o seu mais recente livro, Contos Suicidas);
  • quinta-feira recebemos Pedro Boucherie Mendes (com o seu livro A Década Prodigiosa – Crescer em Portugal nos Anos 80) e Carlos Ramos, editor sitiado em Peniche, (com a antologia Trago-te Estes Lilases da Noite, constituída por poesia de diferentes proveniências geográficas, cuja tradução é responsável);
  • sexta à tarde, a música e a palavra estarão bem representadas: Amélia Muge traz-nos Um Gato é um Gato, onde a ligação entre o mais famoso felino e um conjunto alargado de escritores ganha evidência, e a dupla Rogério Charraz e José Fialho Gouveia apresenta Anónimos de Abril Vol I, obra que fixa para posteridade a história de alguns bravos que enfrentaram e foram alvo da fúria da ditadura salazarista.

Como habitualmente, toda a duração do festival é acompanhada por uma Feira do Livro, da responsabilidade da Associação Juvenil de Peniche, onde, lado a lado com várias obras de cada um dos convidados, será possível encontrar muitas oportunidades e descobrir livros cujo interesse se pode revelar pelo tema, pelo autor, pelo preço, ou por qualquer outro fator de afinidade. 

Da mesma forma, muitos são os motivos para visitar a Lourinhã, de 13 a 17 de Maio, e desfrutar da programação que preparámos, com afinco, para esta 13ª edição do Livros a Oeste | Festival do Leitor. 


(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 7 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26773: Agenda cultural (882): Convite para a inauguração da exposição "Imaginários da Guiné-Bissau: o Espólio de Álvaro de Barros Geraldo": amanhã, dia 8, das 18h00 às 20h00 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (As curadoras Catarina de Castro Laranjeiro e Inès Vieira Gomes)

terça-feira, 25 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26614: Desaparecido do nosso radar (3): Maria Rosa Exposto, ex-alf grad enfermeira paraquedista, do 4º curso (1964)... Tudo indica que tenha ficado, como enfermeira civil, na FAP.



A  foto é do Fernando Miranda (trabalhou no Hospital da Força Aérea e tem o melhor álbum fotográfico sobre as enfermeiras paraquedistas). 11 de jnho de 2022: "Recorda: estas três camaradas e e colegas, da esquerda para a direita, enfermeiras paraquedistas Mariana Palma Gomes, Rosa Exposto e Maria La Salet. Grandes mulheres, grandes sorrisos. "

O Fernando Miranda é membro da União Portuguesa dos Paraquedistas (grupo público no Facebook, entretanto suspenso desde 16/1/2023)



Maria Rosa Exposta, transmontana de Bragança, ex-alf graduada enfermeira
 paraquedista, fez a primeira comissão no TO da Guiné, em 1966. 
Nasceu c. 1942.  E do 4º curso (1964).



1. Continuamos sem ter notícias da Rosa Exposta, uma das três Rosas das 46 enfermeiras paraquedistas. 

O que é feito da Maria Rosa Exposto ? Há tempos correu, por aí, pelos "mentideros" das redes sociais, a notícia da sua morte... O que nos deixou sobressaltados...  Mas pode ter isso outra Rosa, outra Exposto...

Mas nenhuma das suas antigas camaradas (a Rosa Serra, a Maria Arminda, a Giselda...) puderam confirmar ou infirmar essa infeliz notícia, que esperamos, de todo o coração, seja falsa. (*)

Infelizmente, não temos dados biográficos detalhados sobre a Rosa Exposto qu  bem gostaríamos de vê-la aqui, na Tabanca Grande. Não sabemos onde vive. (**)

Encontrámos no "Diário da República", II, Série, nº 168, de 24--7-1986, uma referência a Maria Rosa Exposto Olivença (este último o apelido do marido, o cap pqdt José Barata Olivença, já falecido),  promovida, por progressão na carreira, desde 1-1-1986, à categoria de enfermeira de grau 1, 3º escalão, do quadro geral do pessoal civil da Força Aérea...

Tudo indica que é ela, e que tenha ficado na FAP, sendo eventualmente Olivença o seu apelido de casada. É uma pista.

2. Taambém passou pela Guiné...
 


Fonte: Excerto de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pág. 175.


3.   Não sabemos ao certo quantas das antigas 46 enfermeiras paraquedistas (formadas em Tancos, entre 1961 e 1974) já deixaram a Terra da Alegria. No livro supracitado, publicado em 2014 (pp. 438-439), eram já nove: 

  • Maria Celeste (Costa) (1973), 
  • Maria da Nazaré (1984),  
  • Maria Amélia (1992), 
  • Maria Soledade (2001), 
  • Delfina (2005), 
  • Maria Zulmira André (2010), 
  • Maria Piedade (2011), 
  • Manuela (2011), 
  • Amália (2012).   

A estas há que acrescentar mais os seguintes 2 nomes, coautoras do livro
  • Maria do Céu Pedro  (2022)
  • Maria Ivone Reis (2022) 
Ao todo, 11  em 46.

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quinta-feira, 20 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26601: Historiografia da presença portuguesa em África (473): Bissau ao tempo de Leopoldina Ferreira ("Nha Bijagó") (1871-1959) (António Estácio, 1947-2022)


Planta da Praça de São José de Bissau. Desenho de Travassos Valdez. Fonte: "África Oocidental" (1864).








Planta da Praça de São José de Bissau. Desenho de Travassos Valdez. Fonte: "África Oocidental" (1864) (Detalhes). Tinha (tem) 4 baluartes: Bandeira, Puana (ou Poama),  Onça e Balança.


Guiné > Bissau > c. 1870 > A Rua de S. José, considerada como a artéria mais importante. Ia do portão da Amura, que estava aberto das 8 às 21h00, ao baluart da Bandeira. 

Após o 5 de outubro de 1910, passou a designar-se como Rua do Advento da República; depois,  Rua Dr. Oliveira Salazar e, após a independência, mudou  em 21 janeiro  de 1975,  paa Rua Guerra Mendes, um dos combatentes da liberdade da Pátria, mortos em combate.

 Fonte: António Estácio - "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il,).




Guiné > Bissaau > Av República > Postal ilustrado > c. 1960/70 > : Av da República (Hoje, Av Amílcar Cabral) > Ao fundo, o Palácio do Governador, e a Praça do Império; do lado direito, a Catedral de Bissau... Sob o arvoredo, do lado direito, a esplanada do Café Bento (O postal era uma Edição Comer, Trav do Alecrim, 1 - Telef. 329775, Lisboa).

Foto (e legenda): © José Claudino da Silva (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




António Estácio (Bissau,
Chão de Papel, 1947 -
Sintra, Algueirão  2022),
V Encontro Nacional
da Tabanca Grande, Monte Real,
 2010.
Foto: Luís Graça (2010)
1. Já na altura demos o devido destaque a esta publicação do nosso querido e saudoso camarada e amigo António Estácio (1947-2022): nascido em Bissau, fez o serviço militar em Angola, em 1970/72), foi engenheiro técnico agrícola, deixou saudades em Macau, escreveu diversos livros, vivia em Algueirão, Sintra, tinha duas filhas e seguramente netos. 

A propósito das mudanças de toponímia de Bissau logo no início de 1975 (*), fomos revisitar o livrinho "Nha Bijagó: respeitada personalidade da  sociedade guineense (1871-1959)" 
(edição de autor, 2011, 159 pp., il,).  (**)

Do prefácio, escrito por Eduardo Ferreira
respigamos entretanto os seguntes excertos (**):

(...) Ao ler este livro  não podemos 
deixar de pensar nas grandes figuras femininas, que foram as “sinharas” e que tanta 
influência tiveram na costa ocidental 
africana,  em particular  nos Rios da Guiné, 
entre  o século XVI e finais do século XIX. 

Essas mulheres que eram na sua maioria crioulas, geriam com enorme maestria os negócios dos seus maridos europeus ou eurodescendentes, resolvendo conflitos, realizando pactos com as autoridades locais, de modo a que as actividades comerciais decorressem sem delongas e fossem coroadas de êxito. 

A sua condição de crioula, dava à “sinhara” uma capacidade negocial ímpar, pois sendo detentora de uma dupla identidade cultural, era com facilidade que fazia a ponte entre as populações locais e os alógenos,  nomeadamente os europeus. 

Ficaram famosas na Guiné algumas dessas “sinharas” como:

  • a Bibiana Vaz, 
  • a Aurélia Correia conhecida por “mamé Aurélia”, 
  • a Júlia Silva Cardoso também conhecida como “mamé Júlia” 
  • e a Rosa Carvalho Alvarenga, mãe de Honório Pereira Barreto, 

entre muitas outras. 

Leopoldina Ferreira, vulgo “Nha Bijagó”, é em meu entender uma das últimas grandes “sinharas” da Guiné, pois o seu perfil enquadra-se na perfeição no papel desempenhado por essas influentes mulheres africanas, referenciadas por diversos autores como foi o caso de:

  •  André Álvares d’ Almada na sua obra “Tratado Breve dos Rios de Guiné do Cabo Verde” de 1594
  •  ou de George E. Brooks com “Eurafricans in Western Africa” publicado em 2004 
  • ou ainda Philip J. Havik com “Trade in the Guinea-Bissau Region: the role of african and luso-african women in the trade networks from early 16th to the mid 19th century” publicado em 1994, 
para apenas citar alguns.

(...) Um aspecto particularmente interessante nesta obra de A. J. Estácio, é a ligação cronológica que o mesmo faz, entre importantes acontecimentos políticos, administrativos e militares, que tiveram lugar na então Guiné Portuguesa, e as diversas fases etárias da biografada, ainda que esses factos não tenham qualquer ligação directa com a personagem tratada neste livro! 

O autor quis desse modo, dar-nos a conhecer alguns factos da história da então colónia/província da Guiné, que tiveram lugar entre 1870 e 1959, período que abarca a vida de “Nha Bijagó”  (...)

(...) Com esta publicação, António Júlio Estácio, revela-nos mais uma vez, o seu grande apego e dedicação às coisas e às gentes da terra que o viu nascer. (...)

Eduardo J. R. Fernandes, "Prefácio" (**)

[O Eduardo Fernandes foi amigo e condiscípulo do autor no Liceu Honório Barreto, em Bissau, e na alutra, em 2011, era comentador da RDP África].

Leopoldina Ferreira,
Nha Bijagó
(1871-1959)
2. Leopoldina Ferreira Pontes, "Nha Bijagó"  (Bissau, 1871 - Bissau, 1959) e a cronologia da cidade de Bissau

Aproveitando a vasta e valiosa pesquisa historiográfica do António Estácio, uma homem de várias pátrias (Guiné-Bissau, Portugal, Angola, Macau...) vamos aqui recolher e sintetizar algumas datas marcantes do desenvolvimento urbano de Bissau, correspondente ao período em que viveu a "Nha Bijagó" (1871-1959), acrescentando mais algumas de outras fontes:


(i) Leopoldina Ferreira (Pontes, pelo primeiro casamento...) nasceu em Bissau em 4 de novembro de 1871

(ii) era filha ("ilegítima", segundo a terminologia do  Código Civil em vigor na época, o de 1866) de João Ferreira Crato (natural do Crato, Alto Alentejo, comerciante na Guiné);

(iii) morreu aos 87 anos, em 26 de maio de 1959;

(iv)  o nominho Nha Bijagó deve tê-lo recebido da mãe, Gertrudes da Cruz (de etnia bijagó, natural de Bissau);

(v) pouco antes de ela nascer, em 1871, o 18º Presidente dos Estados Unidos da América, Ulysses Simpson Grant , proferiu a sentença referente à posse da ilha de Bolama, pertencente ao, então, distrito da Guiné, favorável a Portugal o que pôs termo ao conflito se arrastava com os ingleses;

(v) nessa altura Bissau era uma povoação encravada entre a fortaleza de S. José e um muro, com 4 metros de altura;

(vi) a igreja e o cemitério ficavam no interior da Amura;

(vii) de entre as poucas ruas e ruelas, extra-muros, a Rua de S. José era considerada como a artéria mais importante: a do portão da Amura, que estava aberto das 8 às 21h00, ao baluarte da Bandeira; após o 5 de outubro de 1910, passou ser a Rua do Advento da República; depois, a Rua Dr. Oliveira Salazar e, após a independência e a 21 janeiro  de 1975 a Rua Guerra Mendes; funcionaca como "passeio público" e tinha casas de sobrado

(viii) em 1872, tinha ela cerca de um ano "quando as ruas de Bissau começaram a ser iluminadas a petróleo" mas ainda eram "poucos os candeeiros";

(x) a 1877, foi criado o concelho de Bissau, sendo de 573 habitantes a população na área murada, composta por :

  • 391 nativos, 
  • 166 oriundos de Cabo Verde 
  • e, apenas, 16 europeus.

(xi)  em 1879, ainda a Nha Bijagó não tinha completado os oito anos, foi “a sede do Governo transferida para Bolama";

(xii) no dia 3 de agosto do mesmo ano, assinou-se o tratado de cessão a Portugal do território de Jufunco, ocupado pelos Felupes;

(xiii) pouco antes de Leopoldina completar os 12 anos de idade, 1883, foi publicado o decreto que dividiu a província da Guiné  em quatro circunscriçõess, criando-se assim os concelhos de Bolama, Bissau, Cacheu e Bolola. 

(xiv) tinha ela 14 anos quando Portugal e a França celebraram [ em Paris, em 1886] a convenção referente à delimitação das possessões dos 2 países na África Ocidental e que correspondem às atuais Repúblicas do Senegal, Guiné-Conacri e Guiné-Bissau;
.
(xv) as más condições climatéricas, agravadas pela insalubridade da região, dizimavam a população de tal modo que, em 1886, Bissau era o menos povoado de todos os aglomerados urbanos da Guiné;

(xvi) tinha Nha Bijagó já 18 anos quando foi, então, lançada, em 1889,  a primeira pedra para a tão almejada ponte-cais; (foi designada  por ponte Correia e Lança, em homenagem a Joaquim da Graça Correia Lança  Governador da Guiné., de 1888 a 1890)

(xvii) ano e meio depois, em fevereiro de 1891, o chefe dos Serviços de Saúde defendia que a capital deveria regressar à ilha de Bissau, ainda que para local ligeiramente diferente, isto é, puxando-a para a zona de Bandim que se situava “em terreno suficientemente elevado e com vertentes para a praia arenosa.”, o que, em termos de drenagem e salubridade, era, indubitavelmente, vantajoso; 

(xviii) à beira de completar 22 anos, registaram-se, no interior da fortaleza, dois incidentes graves, em 1893:

  •  o incêndio da enfermaria militar  (13 de janeiro) (vd. planta, 3);
  •  uma explosão (em 9 de maio);

(xvix) a 7/12/1893, a vila sofreu um grande cerco, movido por elementos da etnia Papel a que se juntaram os Balantas de Nhacra;

(xx) em 1894, é demolida uma  parte do muro de 4 metros de altura que ia do Fortim Nozolini ao Baluarte da Balança (vd. planta, 11, 13), com o objetivo de se construir uma igreja católica;

(xxi)  por volta dos seus 25 anos, dada a elevada densidade populacional intramuros, o governador Pedro Inácio Gouveia autorizou “o aforamento de, terrenos no ilhéu do Rei”,  tendo, em 1900, ali, chegado a ser instalado um lazareto; 

(xxii) a implantação da República em Portugal levou à mudança do Governador e, em 1912/13, o primeiro-tenente Carlos de Almeida Pereira manda demolir o muro que constrangia a expansão urbana;


Guiné > Bissau > s/d > Av República (hoje Av Amílcar Cabral), com placa central guarnecida  com árvores, que nos anos 50 seria removida, dando lugar a uma ampla avenida, com duas faixas de laterais, arborizadas, destinadas a estacionamento e delas separadas por um passeio. Fonte: António Estácio (2011)
  

(xxiii) Com a República há mudanças na toponímia:

  • Rua de S. José > Rua do Advento da República
  • Rua do Baluarte da Bandeira > Rua Almirante Reis
  • Travessa Larga > Travessa do Dr. Miguel Bombarda
  • Travessa da Botica > Travessa 5 d’ Outubro
  • Travessa da Ferraria > Travessa Honório Barreto;

(xxiv) depois da "campanha de pacificação" do cap João Teixeira Pinto (1913/15),  Bissau é finalmente  objeto dum plano de urbanização que lhe permitiu crescer de forma disciplinada e segundo malha ortogonal bem definida;

(xxv) a autoria do plano é do tenente-coronel engenheiro José Guedes Viegas Quinhones de Matos Cabral que, no início da década de vinte, seria o director das Obras Públicas na Guiné;

(xxvi) para além do Mercado Municipal e do Cemitério, por detrás do Hospital, etc., procedeu-se ao aterro e à regularização do molhe da rua marginal (Rua Agostinho Coelho, numa evocação do primeiro governador da Guiné)  e à construção do edifício-sede da Alfândega;

(xxvii) ao completar Nha Bijagó os seus 62 anos, teve lugar, em 1933, a transferência da sede da comarca judicial da Guiné, que passou de Bolama para Bissau;

(xxviii) em 1934, procedeu-se ao lançamento da primeira pedra para a construção do monumento ao Esforço da Raça, da autoria do Arq Ponce de Castro; as pedras foram enviadas do Porto e o monumento foi inaugurado em 1941; o único monumento colonial que resistiu ao camartelo revolucionário;



Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Baluarte da Puana > c. 1900 > Tropas expedicionárias (Foto do domínio público. Coleção Jill Rosemary Dias, em Memórias de África e do Oriente > Cortesia der Wikimedia Coommons)


Fortaleza da Amura. Foto de Manuel Coelho (c. 1966/68)


(xxix) em 1936, a Associação Comercial e Industrial da Guiné cedeu ao Estado o terreno que lhe fora concedido, o qual se destinava à sua sede e ficava em frente ao  edifício do Banco Nacional Ultramarino, para no local se construir um grande edifício onde, a par do Tribunal, foram instalados os Serviços de Administração Civil, assim como os Serviços de Fazenda;

(xxx) em 1939 foi a Fortaleza de S. José, vulgo Amura, classificada como Monumento Nacional

(xxxi) em finais da década de 30 foi celebrado o contrato para a realização dos estudos de abastecimento de água, melhoramento que só se viria a concretizar  na segunda metade da década  de 40;

(xxxii) transferência da capital de Bolama para Bissau,  em 19 de dezembro de 1941;

(xxxiii) em 1945 toma posse o novo governador, Sarmeno Rodrigues. (***)

 (xxxiv) em meados dos anos 40:

  • efetua-se um novo projecto de urbanização;
  • mudam de nome  as vilas de Canchungo (Teixeira Pinto) e Gabú (Nova Lamego)
  • procede-se à construção do depósito de água no Alto de Intim
  • assim como do Palácio do Governador; 
  • constroem-se moradias no “Bairro Portugal”
  • surge o Bairro de Santa Luzia; 
  • deu-se início à edificação da Catedral, do Museu e Biblioteca, etc.
(xxxv) procedeu-se à colocação de estátuas como a do navegador Nuno Tristão, a de Teixeira Pinto, a do grande guineense Honório Pereira Barreto, etc.

(xxxvi) a Rua Honório Barreto foi, na Guiné, a primeira a ser asfaltada e reabriu em 6/4/1953;

(xxxvii)  de tudo isto e a muito mais Nha Bijagó foi contemporânea, como de:

  • a conclusão da nova ponte-cais, inaugurada em 18/5/1953 pelo Subsecretário de Estado Raul Ventura, 
  • a construção do aeroporto em Brá e à sua transferência para Bissalanca; 
  • a visita do Presidente da República Craveiro Lopes; 
  • a  inauguração do edifício situado na, então, Praça do Império, onde ficou a sede da Associação Comercial e Industrial da Guiné, etc. (****)

Fonte: Adapt. livre de António Estácio - "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., il,).

[Selecão / revisão / fixação de texto para efeitos de edição no blogue: LG]



Nova ponte-cais (1953) e estátua de Diogo Gomes.
Postal ilustrado, edição Foto Serra.



Guiné > Bissau > s/d  > "Monumento ao Esforço da Raça. Praça do Império"... Bilhete postal, nº 109, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")



Guiné > Bissau > s/d  > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa")

Colecção: Agostinho Gaspar / Digitalizações: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).



Guiné- Bissau > Bissau > c.  2010 > Vista aérea do centro histórico: Av Amílcar Cabral (antiga Av da República, que partia da Praça do Império), ao fundo o cais do Pijiguiti (ou Pindgiguiti, como se escreve agora...), o porto de Bissau,  o ilhéu de Rei... Em primeiro plano, à esquerda, o edifício da administração civil da época colonial, hoje sede o ministério da Justiça.  O edifício a seguir, branco, no cruzamento da Av Amílcar Cabral com a Rua 19 de Setembro ea então o da  RTP África (antiga localização do Café Bento / 5ª Rep).



Guiné- Bissau > Bissau > c. 2010 > Vista aérea do centro histórico: Av Amílcar Cabral (antiga Av da República, que partia da Praça do Império). Em primeiro plano, a Catedral de Bissau.

Fotos:  © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
























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Notas do editor LG:

(*) Vd. postes de:




 

sexta-feira, 14 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26584: Notas de leitura (1780): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 13 de Março de 2025:

Queridos amigos,
Se é verdade que uma imagem pode valer por mil palavras, a fotografia que mostra o governador Carvalho Viegas em Canhabaque, no início de 1937, é dada então como pacificada toda a região dos Bijagós, bem como a Guiné por inteiro, veja-se a encenação da postura, o branco imaculado da indumentária, apagando tudo o resto, de facto o que fica atrás é uma sombra, ele representa a civilização, uma cultura superior, é mesmo um agente político da Cristandade, a tal Babel Negra tem as suas hierarquias entre as etnias superiores e as que estão no último escalão, as animistas. O que Philip Havik trata primorosamente neste seu ensaio é a evolução a partir desses anos da pacificação de como o branco vê o negro, escalpeliza esse imenso manancial que são os relatórios que vão para Bolama e de Bolama para o Terreiro do Paço.

Um abraço do
Mário



Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné:
Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 2


Mário Beja Santos

Importa recapitular o que já se escreveu quanto ao conteúdo deste artigo. Em concreto, ao lingo da história da presença portuguesa na região da Senegâmbia a observação do Outro pelo cronista, navegador, viajante, autoridade local, missionário, não podia, por razões óbvias, proceder a inventários de etnias, áreas ocupadas, dados culturais e religiosos, modos de vida, natureza do potencial económico, etc., etc., só a consagração de um espaço que devia ser ocupado levou a que os governadores fossem obrigados a enviar ao ministro da Marinha e do Ultramar relatórios, e que a partir do Bolama fossem implicados os administrados de circunscrição e chefes de posto a emitirem relatórios, com base em questionários que se foram modificando ao longo de décadas.

Não se pode pedir a Zurara, Diogo Gomes, Cadamosto, Pedro de Sintra, Valentim Fernandes, André Álvares de Almada, André de Faro, André Donelha, Francisco Lemos Coelho, e mais tarde, entre os séculos XVIII e século XIX, aos autores de memórias e documentos endereçados às autoridades de Lisboa, o que se vai agora pedir à administração colonial local. Como se viu, foi necessária também um quadro de pacificação e ocupação relativa, começam a aparecer monografias dirigidas a Bolama, há peças sugestivas que tive a possibilidade de ler nos Reservados da Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa. Tudo começa com estudos etnográficos incipientes, o governador Carlos Pereira publica em 1914 um documento importante com base na sua participação numa conferência internacional, ganha realce o anuário de 1925, começam a aparecer dados do primeiro recenseamento colonial de 1924, atiram-se números incomportáveis como o de dizer que havia 770 mil habitantes na Guiné, constata-se hoje que a produção do departamento de assuntos indígenas foi menor, o governador Vellez Caroço conduzirá no cargo um sobrinho seu que deu uma certa consistência e qualidade às informações dadas.

As autoridades locais nunca deixam de revelar nos seus relatórios a penúria constante de fundos e a inexistência de um estudo etnográfico com fundamentos científicos. Philip Havik chama à atenção para uma missão de um etnógrafo austríaco, Hugo Bernatzik, que no fundo vem fazer o que os portugueses não faziam, não se escondia a clamorosa existência de dados que dessem expressão a um estudo para o conhecimento das etnias (naqueles tempos falava-se em raças). O major Carvalho Viegas, será governador durante alguns anos, fez da segregação entre africanos e europeus a pedra angular da sua política, importa não esquecer que havia legislação que consagrava a compartimentação de espaços entre brancos e negros, seria o caso de uma viagem de comboio de 3ª classe, o europeu podia transferir-se para a 2.ª classe, caso a viagem fosse demorada. Havia a ideia de “degenerescência” racial nas comunidades etnicamente puras, não esquecer que em toda a documentação oficial ou não se refere de forma trivial o civilizado e o indígena.

Mas a realidade era mais forte. A mobilidade populacional incitava a que se procurasse ter uma compreensão para os hábitos, costumes e tradições, e mesmo o estudo das instituições sociais e políticas destes diferentes povos, pensava-se que era a única maneira de os ganhar para a nossa civilização cristã. Daí o modo como foi recebida a publicação Babel Negra, em 1935, de autoria de Landerset Simões (um funcionário que virá a ser expulso dos quadros da administração), apareceu como um acontecimento importante na etnografia colonial da época.

O autor vai agora abordar a produção de dados etnográficos no decurso de três fases distintas: durante todos os últimos anos que precedem a ocupação militar, nos anos de 1920, quando a administração portuguesa se estabeleceu sobre o território, e nos anos 1930 quando o Estado Novo se impregnou do discurso colonial. Os primeiros relatórios vindos das residências utilizam a norma de referência masculina, dá-se pouca atenção às mulheres, o nível de submissão feminina é sempre revelado, as mulheres são dadas em casamento numa idade muito precoce, é obediente ao marido e quando este morre é transferida para a posse do herdeiro. A tradição da poligamia reserva à mulher a maioria dos trabalhos, inibe-a da mobilidade social. Ela está desprovida de direitos de propriedade, de herança ou de sucessão, são pessoas secundárias; os homens, ao contrário, aparecem imbuídos de autoridade, são eles que tomam decisões. O espaço social é segregado em função dos sexos.

A monografia de Ernesto Vasconcelos, datada de 1917, segue exatamente este itinerário, fala em raças semitas ou hamitas e na raça negra repartidas em numerosas tribos e subtribos. A inferioridade que se dava aos africanos, aparece escrita como uma verdade definitiva: o africano não tem a noção da palavra honra, ele não se sente constrangido por qualquer compromisso a não ser sob juramento ou profundas razões de religiosidade. E daí, os autores destes relatórios puderem livremente hierarquizar as “civilizações”, no topo estão os grupos islamizados e na base os animistas, caso dos Nalus e dos Bijagós. Há ainda também uns tipos sociais indeterminados, caso dos Grumetes, dos mulatos e “Brancos”.

Estamos num tempo em que se consolida a autoridade colonial, e adverte-se os interessados que para tirar partido destas raças guerreiras, destes agricultores e gente preguiçosa impõe-se um fino espírito político, é preciso guiá-los como um jogador de xadrez que dispõe as suas peças para a vitória final. Tomando como referência as observações dos administradores que responderam ao inquérito de 1927, constata-se que eles fornecem um panorama um pouco mais detalhado das tradições indígenas, mas continua-se a falar nas diferentes raças, sub-raças e tribos. Os autores destes relatórios não escondem a sua falta de conhecimento em etnologia, mas procuram uma abordagem, mesmo que superficial das tradições e práticas africanas. Se no inquérito anterior se punha uma grande insistência nas características físicas, agora relevam as tradições apresentadas face a exemplos concretos e que se fazem acompanhar de medições corporais de classificações segundo uma tipologia racial e começam a fazer-se descrições detalhadas da circuncisão praticada em homens e mulheres nos diferentes grupos; e quase com uma precisão médica aborda-se a gravidez e o parto e até a escarificação. O adultério feminino considerado habitual merece destaque pelas formas de punição, a transmissão matrilinear também passa a ser descrita com frequência, insinuando sempre a suspeita de infidelidade das mulheres do pai. Continuando neste itinerário, os relatórios falam sobre a divisão de trabalho entre os sexos, as hierarquias internas no grupo familiar, etc.

Estamos chegados aos anos 1930, aparece a primeira monografia etnográfica com o inventário das tradições orais das principais “raças ou tribos”.

Carnaval na Guiné-Bissau: toda a diversidade étnica à mostra
Os Balantas
Os Fulas
Os Manjacos
Os Mandingas
Os Bijagós
(continua)
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Notas do editor

Vd. post de 7 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26561: Notas de leitura (1778): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Negros e brancos na Guiné Portuguesa (1915-1935) (4) – 1 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 10 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26571: Notas de leitura (1779): Habitação para indígenas em Bissau, 1968 (Mário Beja Santos)