

Camarada e amigo Carlos Vinhal,
Renovadas saudações guinéuas.
Estando a preparar um trabalho sobre fotografias, a fim de mostrar o Aquartelamento de Empada e o seu perímetro, e, de como se apresentava no pretérito ano de 1969, deparei-me com a leitura do texto inserido no Poste 6866, da autoria do ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, José Pinto Ferreira, CCS/Bcaç 237 que se enquadra nos acontecimentos havidos no principio da subversão na Região de Quinara, nas Penínsulas de Cubisseco e de Pobreza (Darssalame, Caur, Cubisseco, Iangué, Pobreza, Canchungozinho e Empada).
Com um grande abraço
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada”
AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUERRA (17)
Fotos da disposição dos edifícios do aquartelamento de Empada
Assim, tendo a CCaç 2381, em 01/05/69 assumido a responsabilidade do Subsector de Empada e para melhor se compreender no mesmo a situação do In, necessário se tornara ainda que sucintamente, estudar a evolução do desenvolvimento da subversão no seu início. Para isso foi estudada toda a documentação existente na Unidade e no Posto Administrativo, além de terem sido ouvidos os elementos da população de há muito radicados em Empada e que foram protagonistas ou, pelo menos, testemunhas dos factos.
Conjugando os testemunhos já dados, com as acções havidas no Subsector de Empada, pela CCaç 153 – Fulacunda 1961/63 sob o Comando, ao tempo, do Cap. Inf. José dos Santos C. Curto. E, também da CCaç 417 - 1963/64, esta por ter sido colocada na sede deste Subsector sob o Comando ao tempo do Cap. Inf. Carlos F. Delfino.
“Por elementos da população também fora-me dito, que ao tempo as Autoridades Militares e Administrativas, condicionaram a população residente a ficarem controladas por nós ou a refugiar-se em Tabancas no mato, Sic.”
Entre outros fora o guerrilheiro Nino que escolhera refugiar-se no mato, ouvia-se dizer por ele ser de Empada e que ali tinha familiares não se lhe oferecia a flagelações.
Logo que eclodiu o terrorismo através de vicissitudes e peripécias várias. Assim, como nas Tabancas não controladas pelas NT, eram efectuadas operações com o fim de identificar elementos suspeitos de serem simpatizantes do PAIGCC. Da documentação existente tomou-se também conhecimento que houve destruição da nossa parte de Tabancas que apoiavam o In, destruição de Tabancas que nos apoiavam por parte do In, os campos foram-se a pouco e pouco estremando, refugiando-se a população que nos era favorável em Empada e arrebatando o inimigo para fora do nosso alcance as restantes populações, refugiando-se e organizando-se nas zonas da Península da Pobreza (Darssalame, Iangué, Aidará, Cã Beafada e Cã Balanta).
O In organizava-se fortemente nas regiões antes referidas, criando uma organização politico-administrativa suficientemente forte para controlar totalmente a população, doutriná-la e mentalizá-la, enquanto abria escolas, embora de baixo nível, e procurava dar à população uns rudimentos de assistência sanitária, com estabelecimento de enfermarias, que, embora de fraco valor intrínseco, não deixava de constituir elementos preponderantes de uma propaganda insidiosa.
Sabe-se que o In em Iangué se encontrava preso de um forte e estranho fanatismo, que o levava a lançar-se contra as NT sem qualquer receio de morte. Grupo In de 04 elementos ataca com pistola-metralhadora, avançando a peito aberto. Supondo-se que tal fanatismo se deve ao facto do responsável político da Pobreza “Né Né” ter sido criado e educado por um antigo Chefe de Posto, aposentado, que se julga ter sido Pastor Protestante e foi tomado como tendo ligação com os terroristas. Contam-se “estórias” havidas sobre este e outros elementos, mas não consta quem as autorizou e/ou provocou. Em principio “Né Né” refugiou-se no mato como Aníbal, deve ter jurado “Ódio eterno aos Portugueses.” Este facto é subjectivo mas atribui-se-lhe grande valor.
Constatando-se que a área do Subsector de Empada coincide em linhas gerais, com a do Posto Administrativo, fácil nos é apreciar recorrendo aos arrolamentos existentes antes da subversão e verificar a situação desfavorável em que ficamos.
Segundo dados de 1963 o número de contribuintes era de 2388 e o total de habitantes com mais de 16 anos 8827. Por conseguinte quando efectuado este estudo existiam do nosso lado 437 contribuintes, sendo o número de habitantes das condições anteriormente expressas de 2798.
Verificamos assim facilmente que apenas 1/6 dos contribuintes e 1/4 da população estão controlados por nós. Por outro lado embora a área efectivamente patrulhada pela Unidade seja de 1/3 da área total, tendo o In se refugiado nas zonas agricolamente ricas e onde pode facilmente subsistir e apoiar outras regiões.
A população de Empada é na sua maioria de etnia Biafadas, apresentando no entanto também Mandingas, Fulas, Manjacos e algumas famílias dispersas de Balantas, Bijagós, Papéis e Mancanhos.
Assim, foram apresentados dados sobre um estudo feito em Empada, em 1969 e que serve para um melhor conhecimento do início da subversão (1963) nas penínsulas de Cubisseco, da Pobreza e área de Aidará, na Região de Quinara.
Do Aquartelamento de Empada – Região de Quinara, ano de 1969, o que me oferece apresentar são uma resenha de fotos da existência e da disposição dos edifícios contidos, bem como a sua zona limítrofe.
Foto 1 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Porta de Armas do Aquartelamento e casernas dos Praças.
Foto 2 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, edifícios de Messes e Camaratas de Oficiais e Sargentos, e Comando. Ao fundo no centro/esquerda, vimos o Rio Buba e a zona do Cais.
Foto 3 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, Porta de Armas virada ao exterior e Escola Primária.
Foto 4 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, Porta de Armas, edifício prisional em construção e Enfermaria Militar. Ao fundo caminho para a Pista e Cais, e ao lado uma Tabanca.
Foto 5 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, edifícios de casernas, cantina, arrecadações, balneários e no extremo direito o refeitório dos Praças.
Foto 6 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Aquartelamento, foto tirada no lado oposto dos edifícios mostrados na foto 5.
Foto 7 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Um dos sete abrigos tipo, dispersos pelo Aquartelamento e perímetro da Povoação.
Foto 8 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > No perímetro do Aquartelamento, a Capela Campal, o espaldão de morteiro 81 mm e um abrigo
Foto 9 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Limite da Aquartelamento com duas fiadas de arame e pequena Tabanca.
Foto 10 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Parque da Oficina Auto e no exterior moranças ladeando a dita avenida.
Foto 11 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Posto de Assistência Médica e dada pelos Militares Enfermeiros e outros.
Foto 12 > Guiné-Bissau > Região de Quinara > Empada > 1969 > Avenida que em tempos fora iluminada e apresentava-se ladeada por moranças.
Assim, foram compiladas transcrições de documentos, ouvida a população e feita esta crónica, quanto às fotos do Aquartelamento de Empada, a muitos irá avivar a memória recordando alegrias e tristezas ali passadas.
Nomeadamente a Cart 2673 “Leões de Empada,” que renderam a CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada,” em 24 de Fevereiro/70 passaram um mau bocado tendem sofrido várias baixas.
Camaradas estive onde vocês estiveram, andei por lugares que também andaram e apresento o que vocês encontraram à chegada. Não nos encontramos e deve-se ao facto de eu antecipadamente seguir para Bissau em 15 de Janeiro/70.
Com um grande abraço
Arménio Estorninho
Ex-1.º Cabo Mec. Auto Rodas
CCaç 2381 “Os Maiorais de Empada”
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 17 de Agosto de 2010 > Guiné 63/74 - P6865: As minhas memórias da guerra (Arménio Estorninho) (16): A chegada à Guiné e a terras de Ingoré