sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Guiné 63/74 - P5303: O direito ao bom nome (1): Vasco Lourenço, ex-Cap Inf da CCAÇ 2549/BCAÇ 2879 (Cuntima e Farim, 1969/71)

Capa do livro No Regresso Vinham Todos, de Vasco Lourenço, originalmente publicado pela Editorial Notícias, Lisboa, 1978.

1. Mensagem de Vasco Correia Lourenço, Cor Inf Ref (ex-Cap Inf, CCAÇ 2549,Cuntima e Farim, Julho de 1969/Junho de 1971), com data de 17 de Novembro

Caro Luis Graça,

Junto uma carta para si, que confio publique no seu blogue, acompanhada por um estudo do cor Morais da Silva.

Dou conhecimento desta carta ao dr Carlos Silva, combatente na Guiné na CCaç 2548 do meu batalhão, o BCaç 2879.

Cordiais saudações. Vasco Lourenço


Caro Luís Graça

As referências que me são feitas no seu blogue, enquanto ex-combatente na Guiné (*), obrigam-me a escrever-lhe, na esperança de que trate esta carta da mesma maneira que trata as que lhe são enviadas por outros ex-combatentes também na Guiné.

Não pretendo entrar em polémicas, não pretendo ofender ninguém, apenas quero esclarecer um pouco da minha posição.

Tomei conhecimento da existência da tese de Manuel Rebocho, através do chefe do EME (actual CEMGFA) [General Valença Pinto], que me sugeriu uma forte reacção.

Ao ver o tipo de tratamento de que era alvo, na referida tese, decidi que “para esse peditório já dera o suficiente”. Com efeito, tratava-se de um episódio da “guerra” entre mim e o general Spínola, analisada de forma muito incompleta, com conclusões aberrantes, face à estória verídica do que efectivamente se passara.

Algum tempo depois, sou surpreendido com um convite para assistir à defesa da tese na Universidade de Évora.

Contactei, então, o próprio sargento Manuel Rebocho, a quem manifestei a minha estranheza pelo convite, dado o que escrevera sobre mim, sem me ouvir. Como lhe referi, enviei essa carta aos membros do júri, a quem manifestei a opinião de que “me não ouvira, talvez porque tem a noção da malévola deturpação que faz do que se passou na Guiné”.

O referido sargento-mor considerou-se ofendido por aquela frase e fez queixa de mim. O promotor público não acompanhou a queixa, não houve acusação, por não haver matéria que justificasse a mesma, pelo que o juiz determinou o seu arquivamento.

Inconformado com essa atitude, Manuel Rebocho deduziu acusação particular no Tribunal de Évora, desacompanhado do procurador da República, ao mesmo tempo que requeria uma indemnização cível.

Conseguiu o que pretendia e eu tive de me sentar no banco dos réus. O julgamento fez-se, fui totalmente absolvido e o queixoso condenado a suportar todas as despesas judiciais. Uma vez mais inconformado, apresentou recurso, que ainda corre termos.

Confesso que tive vontade de ser eu, agora, a apresentar uma queixa pelo crime de difamação, requerendo a competente indemnização. Decidi não o fazer, ainda, tudo dependendo do evoluir da situação.

Quanto à natureza da tese, agora apresentada em livro, remeto-lhe em anexo um estudo sobre a mesma da autoria do coronel António Carlos Morais da Silva. Por mim, não perco mais tempo, por agora, com o assunto.

No que se refere à minha acção na Guiné, no comando da CCaç 2549, do BCaç 2879, procuro esclarecê-la no livro “Do Interior da Revolução”, para além do que já fora publicado em “No regresso vinham todos” (o único livro que conheço que terá sido escrito durante a Guerra, sendo, que eu saiba, a única “história de unidade”, escrita daquela maneira) (**).

Não me compete a mim analisar a minha acção. Para isso, podem ouvir-se os homens que comandei, ou os homens do resto do BCaç. O que aliás pode ser visto no blogue do mesmo, da responsabilidade do ex-furriel Carlos Silva da CCaç 2548 (que, penso, estará em ligação com o vosso blogue) (***).

Caro Luís Graça,

Espero e confio que compreenda estes esclarecimentos.

Fui para a guerra, sendo oficial do QP, convencido que estava a cumprir o meu dever de cidadão. Fi-la o melhor que pude, com a enorme preocupação de, sem abdicar dos princípios, tentar não perder nenhum dos homens que comandava.

O decorrer da guerra ajudou-me a “abrir os olhos” para a realidade portuguesa. Tenho muito orgulho da maneira como me comportei, como tenho muito orgulho da minha acção, no seguimento dos ensinamentos aí obtidos.

Com 67 anos, ao olhar para trás, tenho a presunção de ter uma vida de que me posso orgulhar. Certamente com alguns erros, pois não tenho a veleidade de não errar e não ter dúvidas.

Mas, com um saldo que – presunção e água benta… – considero francamente positivo.

Quero continuar a poder olhar para o espelho, sem me envergonhar. Por isso, vou tentar não me desviar dos princípios morais e éticos que me têm norteado até aqui.

Não ia, portanto, permitir a quem quer que seja – e o sargento-mor Manuel Rebocho não está isolado nessa pretensão – que me insulte de ânimo leve.

Por muita vaidade que possa transparecer, afirmo que o meu passado fala por mim. Daí esta carta.

Cordiais saudações

Vasco Lourenço

2. Comentário de L.G.:

Todos os camaradas da Guiné, com ou sem visibilidade pública, têm antes de mais o direito ao bom nome... (Daí, de resto, esta nova série que inauguramos hoje). É umas regras básicas do nosso blogue. Esse direito implica, naturalmente, o direito de resposta sempre o que o bom nome é posto em causa (Publicaremos todas as respostas, desde que redigidas dentro do espírito de elevação e de cultura democrática que nos caracteriza).

Outra das nossas regras básicas de convívio, nesta caserna virtual, é que nenhum de nós faz (ou deve fazer) juízos de valor (e muito menos de intenção) sobre o comportamento (operacional e pessoal) dos seus camaradas da Guiné. Este blogue não foi criado para fazer ajustes com ninguém, nem sequer com a História.

Agradeço ao Vasco Lourenço os esclarecimentos que entendeu dar-nos. A sua mensagem chegou-nos no dia em que foi apresentado ao público o livro do Manuel Rebocho que é membro do nosso blogue e camarada da Guiné, livro de que faremos oportunamente uma recensão crítica. O facto do Vasco não ser membro do nosso blogue não o impede de nele ver publicados ulteriores esclarecimentos que queira fazer sobre a sua actuação como comandante da CCAÇ 2549 ou outros aspectos da sua comissão serviço na região de Farim.

Como eu costumo lembrar, aqui o nosso maior denominador comum é o facto de termos sido combatentes na Guiné, durante a guerra colonial. De resto, o nosso core business é esse, é partilhar histórias, memórias e até afectos.

Sendo seu contemporâneo da Guiné (pertenci à CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, Maio de 1969/Março de 1971), fico naturalmente triste de o ver envolvido num processo judicial com outro camarada, por questões de "bom nome"... Espero que o bom senso, a honradez, o patriotismo e o melhor dos valores militares (que nos foram incutidos no Exército, na Marinha e na Força Aérea) acabem por se sobrepor a um conflito pessoal que, infelizmente, veio parar à praça pública. Um Alfa Bravo. Luís Graça

PS - Quanto ao documento do Morais da Silva, antigo professor da Academia Militar, e nosso contemporâneo na Guiné, o próprio já mo tinha feito chegar, a meu pedido, à minha caixa de correio, gentilmente, em "versão amigável" (formato doc). Ainda não o li (trata-se de uma apreciação, em 22 páginas, da tese de doutoramento do Manuel Godinho Rebocho) mas fá-lo-ei em breve, com todo o gosto, avaliando aquilo que for considerado pertinente e útil para a informação e o conhecimento dos membros do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.
______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 15 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5275: Controvérsias (53): Polémica M. Rebocho / V.Lourenço: Por mor da verdade e respeito por TODOS os camaradas (A. Graça de Abreu)

(**) Vd. poste de 23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: Tugas - Quem é quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril

(***) 21 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4718: Efemérides (19): Em 20 de Julho de 1969, eu estava no Uíge em pleno oceano, a caminho de Farim... (Carlos Silva, BCAÇ 2879)

8 comentários:

Anónimo disse...

Meu Coronel! Lamento que a Sua aparicao neste Blogue seja devida a uma situacao de divergência menos feliz. V.Ex.como ex-combatente da Guiné,e figura prestigiada do MFA tanto poderia contribuir para o já tao vasto sumatório de História,e histórias,do blogue.Penso que o tempo disponível nao será muito,e quero salientar nao ter qualquer mandato por parte do Editor,mas, de qualquer modo,e como sempre...atrêvo-me! Sempre ao Seu dispor.José Belo/Cap.Inf.Ref. Estocolmo 20/Nov/09 (PS/Ao escrever a data reparo que a última vez que tive oportunidade de me dirigir a V.Ex. foi tambem em fins de um Novembro distante)

Anónimo disse...

Caro Luís Graça,
a ser aqui publicada uma recensão do livro do SargMor M Rebocho, sugiro que, em contraponto, seja também publicada, com a anuência do autor e no todo ou na parte, a 'análise' feita pelo Cor Morais da Silva.

S.Nogueira

Anónimo disse...

Amigos

Carlos Silva
CCaç 2548/Bat Caç 2879

Amigos

Post 5303 O Direito ao bom nome

1 - Como decorre da intervenção do Sr Coronel Vasco Lourenço, [apesar de termos uma relação pessoal desde há 40 anos, nunca o tratei por tu e não é agora no âmbito do blogue que o vou fazer] a mesma prende-se essencialmente com a questão do livro:

“Elites Miitares e a Guerra de África” de Manuel Godinho Rebocho.

Bem como, presumo, com alguns comentários ao Post 5275 em relação à sua pessoa.

2 – Tal como diz o LG em comentário a este Poste ….Outra das nossas regras básicas de convívio, nesta caserna virtual, é que nenhum de nós faz (ou deve fazer) juízos de valor (e muito menos de intenção) sobre o comportamento (operacional e pessoal) dos seus camaradas da Guiné. Este blogue não foi criado para fazer ajustes com ninguém, nem sequer com a História.
Assim, deveria ser, mas tal não aconteceu e atente-se nos ditos comentários, o que desvirtua os princípios básicos estabelecidos no Blogue, o que é de lamentar.
Pois todo cidadão tem o direito de liberdade de expressão, mas tal direito não constitui um direito absoluto, ao ponto de lesar os direitos ao bom nome, à dignidade e honra de uma pessoa.
Uma coisa, foi os bocados menos bons que passámos naqueles anos idos anos de 60 e outra coisa é ofender os invocados direitos.

3 – E, quer se aceite ao não, sejam ou não abrilistas, porque também têm o direito de o não ser, o Sr Cor Vasco Lourenço, o qual não necessita de apresentações, foi um dos que lutou, como é público e notório, para que hoje se possa ter a garantia do direito de liberdade de expressão, consagrado constitucionalmente.

4 - Dito isto, quanto ao outro aspecto que presumo esteja relacionado, não só, mas essencialmente com a polémica estabelecida com a tese de doutoramento sobre a “A Formação das Elites Militares em Portugal de 1900 a 1975”.
Em que
“O autor sustenta que os oficiais do quadro permanente fugiram da guerra, a qual se aguentou devido aos oficiais milicianos e aos sargentos do quadro permanente”.]
Já me prenunciei no Post 5275

5 – Contudo, apesar de não ter ainda lido o livro e uma vez que sou referenciado na intervenção do Sr Cor Vasco Lourenço, sempre direi no que se refere à afirmação acima, com todo o devido respeito pelo Autor, mesmo que a citada afirmação esteja fora do contexto dum estudo global do livro/tese/livro, como o Autor mencionou no dia da sua apresentação, estou em total desarcordo com ele, porquanto,
CONTINUA

Anónimo disse...

Continuação Carlos Silva

6 – Tive a honra de ser comandado por um ilustre Capitão do QP, originário da Academia Militar, 1º classificado do seu curso. Cor Luís Fernando da Fonseca Sobral, um jovem, tal como nós, talvez mais 2 anos, que tinha a seu cargo o Comando da Companhia e que em termos operacionais era dos primeiros a encabeçar, que a Companhia, que a nível de grupo de combate por ele criado, atacar o IN na sua toca, ir ao encontro do IN. Daí, a nossa CCaç 2548 ser a única Unidade em toda a História da guerra da Guiné, que não sofreu durante a sua comissão qualquer ataque ao Aquartelamento do Subsector de Jumbembem.

7 Assim aconteceu com a CCaç 2549, Comandada pelo Sr Cor Vasco Lourenço, então ex-Capitão, que sempre acompanhara os seus homens, aliás, as nossas Unidades chegaram a operar em conjunto.

8 – Também não posso deixar de recordar e invocar aqui o excelente Comandante de Batalhão Maj Gen Agostinho Ferreira, então Ten-Coronel que connosco alinhava para o “mato”, e como se costuma dizer: era um homem com os T… no sítio.

9 – Donde, este meu testemunho pessoal, porque com eles calcorreei as terras “o mato” do Sector de Farim, é a prova, provada que estes Oficiais do QP originários da Escola do Exército e da Academia, não fugiram à guerra tal como afirma o Autor Manuel Rebocho

10 – Aliás, os factos e feitos do nosso glorioso Bat Caç 2879, podem ser analisados em parte neste Bolgue, quer no meu SITE: www.carlosilva-guine.com

11 – Quando o nosso Camarada Manuel Rebocho, pisou terras da Guiné, já nós tínhamos deixado lá bem marcada a nossa posição, além de várias baixas provocadas ao IN, fizeram-se capturas relevantes de material, incluindo na participação do maior “Ronco” da História da Guerra Colonial e das Guerras da África Ocidental, que foram só 24 toneladas de material, em que também participaram, os nossos camaradas pára-quedistas.

13 – Face ao exposto e ao que tenho escrito no Blogue, no meu Site e ao que tenho lido sobre a guerra na Guiné, que serviu de base para o estudo do nosso Camarada Manuel Rebocho, com todo o devido respeito, estou em total desacordo nesta sua análise.
OS NOSSOS OFICIAIS NÃO FUGIRAM Á GUERRA

14 – Também já li o Documento do Sr Cor Morais da Silva que corrobora de forma brilhante o que atrás é afirmado, apesar de ter de confrontar ainda com a Tese relativamente a outros aspectos.

16 – Poderá haver e haverá com certeza outras questões subjacentes de ordem política, militar, social etc, que conduziram à diminuição de frequência de alunos na Academia Militar e consequentemente à diminuição do número de oficiais do QP, mas isso é outra questão que merece com certeza um estudo profundo.

È esta a minha a opinião que aqui deixo com um abraço amigo
Carlos Silva

Anónimo disse...

No comentário ao P5294 do camarada
Teixeira (Fermero) já me manifestei sobre o "problema" levantado por muitos da "fuga dos Oficiais do QP, ficando a guerra entregue aos Milicianos".
Volto a afirmá-lo, não alinho nessa análise simplista do problema.
A realidade é mais complexa e deve ser analisada correctamente.
Como bem diz o camarada Carlos Silva, redução dos concorrentes à Carreira Militar, quer Oficiais, quer Sargentos; necessidades cada vez de maior número de elementos destas Classes, para enquadramento dos efectivos cada vez em maior número, e a própria escassez de elementos a incorporar com o passar dos anos para esses Postos, entre outros motivos.
Já o disse, por mais do que uma vez, "Não gostando de Militares, tendo sido (traído) por um Cap QP, que me proporcionou conhecer no terreno que mesmo profissionais das tropas de elite já não alinhavam muito em certas coisas", não subscrevo a tese da FUGA DOS MILITARES PROFISSIONAIS.
Esta é a minha opinião.
Abraços
Jorge Picado

manuel amaro disse...

Não vão por aí... não vão por aí, porque não vão chegar a qualquer conclusão.
Dizer que os oficiais do QP fugiram ou não fugiram, faz tanto sentido como dizer que... "as mulheres são todas iguais" ou "os homens são todos iguais"...
Não adianta...
Claro que cada Batalhão tinha três oficiais superiores (do QP, lógico), mas os Comandantes de Companhia, do QP, a partir de 1969, começaram a rarear.
A responsabilidade é deles? Claro que não. Alguém os nomeava, ou não. Quem nomeava preferia os Milicianos...
Hoje, tantos anos depois, já perdemos tanto, que ao menos, pelo menos, devemos manter o NOSSO BOM NOME.
Todos nós. Incluindo os Coronéis na Reforma e os Sargentos Doutorados.

Manuel Amaro

Joaquim Mexia Alves disse...

Não me revejo em alguns destes elogios a Vasco Lourenço, mas não significa que não reconheça que a teoria do abandono por parte dos oficiais do QP da zonas de combate, não tem garnde sustentação.

Se é certo que o número de milicianos era incomparavelmente maior, (por razões óbvias), não é menos certo que tive o prazer de conhecer oficiais do QP competentes, profissionais e de grande humanidade.

Aliás, quando se generaliza algo, atingindo toda uma classe, normalmente falha-se o alvo!

Abraço camarigo para todos

Anónimo disse...

Amigos

Neste dia invernoso, lembrei-me de acrescentar algo mais na forma de comentário, a este Post 5303, uma transcrição do livro “Os Tempos de Guerra – De Abrantes à Guiné” do nosso camarada e tertuliano Manuel Batista Traquina ex-Fur da CCaç 2382, que fez a recruta no 1º turno de 1967 no RI 5 das Caldas Rainha e que na pág. 20 do seu livro refere o seguinte:
“ … Foi fácil encontrar o dormitório, logo ali no largo Rainha D. Leonor. No dia seguinte fomos recebidos pelo mesmo arrogante sargento do dia anterior. Começaram os habituais formalismos de preenchimento de fichas, distribuição de fardamento e alojamento.
Fui integrado no terceiro pelotão da Sexta Companhia, o comandante era o Tenente Vasco Lourenço [ que na revolução de 25 de Abril viria a ser bastante falado] e o comandante de pelotão era o Alferes Monteiro Martins, [ do qual não mais ouvi falar], poderei dizer que comparados com outros comandantes, eles eram excelentes…..”
Com um grande abraço
Carlos Silva
Ex-Fur Mil Ccaç 2548/Bat Caç 2879