segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Guiné 63/74 - P9362: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (11): Fragmentos Genuínos - 9




FRAGMENTOS GENUÍNOS - 9

Por Carlos Rios,
Ex-Fur Mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857, Mansoa e Bissorã, 1965/66






Etnografia

A comunicação com os balantas não foi fácil pois só alguns falavam crioulo, pelo que acabou por tornar este dialecto a base de conversação.

Bambadinca - Ponte - Pescadoras

Bajuda, “balanta” no Arrozal - Mansoa

São o maior grupo étnico da Guiné-Bissau, representando mais de 25% da população total do país. No entanto, mantiveram-se sempre fora do estado colonial e pós-colonial, devido à sua organização social. Os balantas podem ser divididos em seis subgrupos: balantas bravos, balantas cunantes, balantas de dentro, balantas de fora, balantas manés e balantas nagas.

Os arqueólogos crêem que o povo que viria a ser os balantas migrou para a actual Guiné-Bissau em grupos pequenos entre os séculos X e XIV d.C. Durante o século XIX, espalharam-se ao longo da área do mesmo país e do sul do Senegal, de forma a resistirem à expansão do reino de Gabu. A tradição oral entre os balantas diz que estes migraram para oeste desde a área onde são hoje o Egito, Sudão e Etiópia para escapar à seca e às guerras. Hoje, os balantas encontram-se principalmente nas regiões sul e centro da Guiné-Bissau.
São maioritariamente agricultores e criadores de gado, principalmente porcos. Existe uma importante população balanta em Angola.


Cultura

Os balantas são o único grupo étnico da Guiné-Bissau sem um chefe ou um líder reconhecido. Todas as decisões importantes entre os balantas são tomadas por um concelho de sábios. Para se tornar um membro do concelho, o candidato terá de ser iniciado durante a cerimónia do fanado.

Preparação dos meninos, já de cabeça rapada, para o “Fanado (Circuncisão) 

Aqui alimentando-se como é tradicional e em que noutros locais participei, nunca em cerimónias, era bom; arroz com pouquíssima carne (bianda com mafé) misturado com um produto extremamente picante retirado da casca de um arbusto e que se parecia com o nosso esparregado, tudo comido do mesma cabaça fazendo rolinhos daquele prato com as mãos e ingerindo-os, parecia-me que estava a comer almôndegas

Deslocação das meninas para (sacrifício) o altar dos rituais na floresta

No geral, a igualdade prevalece entre os balantas. Consequentemente, os colonialistas portugueses tiveram dificuldades em governar este povo. Na viragem do século XIX para o XX, Portugal moveu campanhas de pacificação contra os resistentes balantas e sujeitou-os aos nomeados chefes fulas. Devido à repressão portuguesa, os balantas alistaram-se como soldados em grande número e foram apoiantes de primeira linha do PAIGC no desígnio nacionalista de libertação durante os anos 60 e 70 do século XX. Contudo, quando os nacionalistas assumiram o poder após a independência, depararam-se com a dificuldade em estabelecer comités de aldeia e outras organizações entre os balantas devido à sua organização social descentralizada. Muitos balantas ressentiram-se com a sua exclusão do governo. A sua proeminência no exército esteve na origem de várias tentativas de golpes de estado lideradas pelos mesmos nos anos 30.


Religião

Os balantas são largamente animistas na sua crença. Djon Cago é o nome de uma divindade deste povo. Na sociedade balanta, acredita-se que Deus está muito longe. Os fieis tentam alcançá-lo através de espíritos e sacrifícios. Apesar do catolicismo ser parcialmente aceite, o islamismo é forte e praticado juntamente com a veneração espiritualista.

Guiné > Bissorã > Ronco (festa) balanta nas tabancas de Bissorã


Os Biafadas

Vivem em sociedade monárquica em que o chefe religioso é escolhido pelo povo, pelas suas qualidades e estudos.
São essencialmente agricultores e o seu território é sobretudo a Sul do Rio Geba (Quinara).

É pois sobre eles que revelarei aquilo que me foi dado entender da tradução que o Djaló me ia transmitindo, em plena tabanca e de uma forma recatada, pois a maior parte dos assuntos são considerados do foro religioso ou mesmo tabu e de carácter fechado. A tribo não permite a divulgação dos seus segredos mágicos a elementos estranhos.

Os pequenos textos relacionados com os itens Casamento, Culto e Morte, não têm valor científico mas meramente documental e são o resultado de conversas com anciãos – “homens grandes” – nas quais por vezes tive sérias dificuldade de comunicação apesar de bem tentar “arranhar” os seus dialectos e acabarmos a gesticular ou fazer desenhos no chão quando não havia papel.

Professam o Islamismo e como tal Alá é o seu Deus.
As suas festas religiosas são: O "suncar saló", correspondente à Páscoa, que antecede com trinta dias de jejum; o "bana saló", corresponde ao Natal; o "muscutá saló", corresponde ao Ano Novo, o ano muda ao nascer do sol.

A festa do nascimento é aos oito dias de vida e nessa altura rapam-lhe o cabelo e dão-lhe o nome próprio mais o último nome do pai. Durante a festa os convidados oferecem prendas.

Uma das actividades a que se dedicam é à pesca que praticam nos braços de mar e rios tão profusamente existentes na Guiné e que na sua pratica produzem inesquecíveis imagens.

Mulheres a pescar, mergulhadas até ao pescoço. 

As mulheres eram autênticas escravas. Estando reservado aos homens aparentemente as artes dos confrontos e cultivo do arroz, sendo que entre os Fulas, Biafadas e Mandingas, para além da pastorícia se encontravam artífices. Nas cidades verificava-se que eram os homens que se dedicavam ao uso das máquinas de costura. Também havia a prática da pesca noutros moldes por parte dos homens.

Só os homens é que pescam assim.


Os mandingas

Os mandingos (em mandingo: Mandinka) são um dos maiores grupos étnicos da África Ocidental, com uma população estimada em 11 milhões. São descendentes do Império Mali, que ascendeu ao poder durante o reinado do grande rei mandingo Sundiata Keita. Os mandingos pertencem ao maior grupo etnolinguístico da África Ocidental - o Mandè - que conta com mais de 20 milhões de pessoas (incluindo os diulas, os bozos e os bambaras). Originários do atual Mali, os mandingos ganharam a sua independencia de impérios anteriores no século XIII e fundaram um império que se estendeu ao longo da África Ocidental. Migraram para oeste a partir do rio Níger à procura de melhores terras agrícolas e de mais oportunidades de conquista. Através de uma série de conflitos, primeiramente com os fulas (organizados no reino de Fouta Djallon), levaram metade da população mandingo a converter-se do animismo ao islamismo. Hoje, cerca de 99% dos mandingos em África são muçulmanos, com algumas pequenas comunidades animistas e cristãs. Durante os séculos XVI, XVII e XVIII, cerca de um terço da população mandinga foi embarcada para a América como escravos, após a captura em conflitos. Uma parte significativa dos afro-americanos nos Estados Unidos são descendentes de mandingos.

Os mandingos vivem principalmente na África Ocidental, particularmente na Gâmbia, Guiné, Mali, Serra Leoa, Costa do Marfim, Senegal, Burquina Faso, Libéria, Guiné-Bissau, Níger, Mauritânia, havendo mesmo algumas comunidades pequenas no Chade, na África Central. Embora bastante dispersos, não se constituem no maior grupo étnico em qualquer dos países em que vivem, excepto na Gâmbia.

Mandinga no Brasil Colonial era a designação de um grupo étnico de origem africana, praticante do islamismo, possuidor do hábito de carregar junto ao peito, pendurado em um cordão, pequeno pedaço de couro com inscrições de trechos do Alcorão, que negros de outras etnias denominavam patuá. Depois de feita a inscrição, o couro era dobrado e fechado costurando-se uma borda na outra.

Por serem mais instruídos que outros grupos e conhecerem a escrita, eram geralmente escolhidos para exercer funções de confiança, dentre elas a de capitão-do-mato. Costumavam usar turbantes, sob os quais normalmente mantinham seus cabelos espichados. Diversos negros de outras etnias, quando fugiam, também espichavam o cabelo e usavam o patuá em um cordão junto ao peito, porém sem as inscrições, para tentar disfarçar o fato de não serem livres. Mas os mandinga tinham o costume de se reconhecer mutuamente recitando trechos do Alcorão uns para os outros. Caso o negro interpelado não recitasse o trecho correto, o capitão-do-mato de etnia mandinga, capturaria o fugitivo imediatamente. Outras etnias viam, nessa mútua identificação, alguma espécie de magia, e muitas vezes atribuíam ao patuá poderes extraordinários, que permitiam ao mandinga identificar os fugitivos.

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 13 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9350: Fragmentos da minha passagem pela tropa (Carlos Rios) (10): Fragmentos Genuínos - 8

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