Guiné > Zona Leste > Regão de Gabu > Nova Lamego > CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > 4º trimestre de 1967 > Mais um jantar-convívio com o pessoal – condutores auto – nas suas instalações, bar ou dormitórios, não sei bem identificar. A ementa deve ser de frango, como habitual. E a cerveja que se bebia era a Cristal, em formato "bazuca" (0,6 l).O Virgílio Teixeira, ex-afl mil SAM, era o primeiro da direita.
Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2019). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Comentário do Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933 (1967/69) ao Poste P26816 (*):
Este tema é controverso, cada um sabe da sua história e vivência.
Eu não me posso enquadrar em muitos dos relatos aqui apresentados ao longo dos anos. Acho que apesar de tudo fui um privilegiados.
Sempre me fiz acompanhar pelo grupo dos condutores e outras praças, que estavam ligadas de alguma maneira aos comes & bebes, porque apanhavam muitos animais que depois cozinhávamos para alguns.
Frequentava mais a messe de sargentos, para os copos, do que a de oficiais, que era um casino fora de horas.
Fiz muitos serviços de oficial de dia, e tinha que supervisionar o rancho geral, o que fazia sempre, depois havia as provas – como o demonstram as fotos que já estão publicadas – e aproveitava muitas vezes comer no refeitório do rancho geral e da sua comida, igual à dos outros. Nada a lamentar, quer do lado das praças, quer da minha parte. Reconheço que nunca vi outros a fazerem o mesmo, são formas de estar.
Por isso ganhei um lugar à parte na classe das praças, e sempre que havia petisco novo fora das messes e rancho, lá estava eu convidado, e tenho dezenas de fotos que o demonstram.
Mas, nas tantas vezes de convívio com os praças, nunca existia fome. Surpreende-me agora saber do que se passava na grande generalidade dos casos. Mas havia também muita malta de todos os escalões que levavam boa vida estomacal.
Por causa disso, fiz muitas colunas de reabastecimento, e entrei naquelas duas loucuras de viagem de Sintex entre S. Domingos e Susana, para ir trazer umas batatas, bananas e se possivel um animal vivo. Da última vez correu mal e perdemo-nos e safei-me. Não me lembro de fome, mas talvez de sede.
Nada disto é comparável às ações de combate e patrulhas de dias, com rações de combate, que não eram o meu forte.
Depois tinha a grande vantagem de todos os meses poder ir a Bissau e matar a barriga de misérias, a verdade seja dita.
Nos últimos meses em S. Domingos, a Companhia de intervenção, a CART 1744, por intermédio do sargento e um cabo da secretaria, com o aval do Capitão, construíram um tipo de restaurante ambulante, com frangos assados criados ali na horta e tantos legumes frescos como nunca tínhamos visto. Foi um fartar, mas pagava-se!
Diga-se em abono da verdade, que estas situações que conto, não eram normais, só alguns participavam nelas, eu quase sempre, um ou outro furriel ou sargento, e ocasionalmente um alferes que se juntava, não sei os critérios porque não era da minha organização.
Agora que havia uma segregação entre tropa branca, segundo os escalões, é verdade, mas só constato isso agora por estarmos a falar, senão para mim seria o normal, porque não vi nunca outra postura de solidariedade, para todos.
Quando o Luis diz que não se sentou junto dos seus soldados no refeitório ou outro local , acredito, mas para mim isso foi uma normalidade.
Os meus cumprimentos e abraços
Virgilio Teixeira
2025 M05 21, Wed 00:15:54 GMT+1
Manuel Vieira Moreira (1945-2014) (ex-1.º cabo mecânico auto, CART 1746, Bissorã, Xime e Ponta do Inglês, 1967/69; natural de Águeda; ppoeta popular e letrista de fados, entrou paraa Tabanca Grande em 27/11/2008; tem 33 referências no blogue).
A FOME NA GUERRA
por Virgílio Teixeira
Este tema é controverso, cada um sabe da sua história e vivência.
Eu não me posso enquadrar em muitos dos relatos aqui apresentados ao longo dos anos. Acho que apesar de tudo fui um privilegiados.
A minha guerra passou-se praticamente junto do comando do batalhão e da CCS.
Em locais não tão graves como outros, mas também com as suas deficiências.
Nós tínhamos sempre quer em Nova Lamego quer em São Domingos a nossa messe de oficiais, havia a messe de sargentos e a cantina das praças. Era assim, não sei porquê, nem interessa agora.
Em locais não tão graves como outros, mas também com as suas deficiências.
Nós tínhamos sempre quer em Nova Lamego quer em São Domingos a nossa messe de oficiais, havia a messe de sargentos e a cantina das praças. Era assim, não sei porquê, nem interessa agora.
Sempre me fiz acompanhar pelo grupo dos condutores e outras praças, que estavam ligadas de alguma maneira aos comes & bebes, porque apanhavam muitos animais que depois cozinhávamos para alguns.
Frequentava mais a messe de sargentos, para os copos, do que a de oficiais, que era um casino fora de horas.
Fiz muitos serviços de oficial de dia, e tinha que supervisionar o rancho geral, o que fazia sempre, depois havia as provas – como o demonstram as fotos que já estão publicadas – e aproveitava muitas vezes comer no refeitório do rancho geral e da sua comida, igual à dos outros. Nada a lamentar, quer do lado das praças, quer da minha parte. Reconheço que nunca vi outros a fazerem o mesmo, são formas de estar.
Por isso ganhei um lugar à parte na classe das praças, e sempre que havia petisco novo fora das messes e rancho, lá estava eu convidado, e tenho dezenas de fotos que o demonstram.
Porquê? A malta gostava da minha maneira e nada de superioridades, sempre respeitei todos e eles a mim. O comandante é obvio que não gostava mas nunca me disse nada.
Por isso, fome não. Carências de vária ordem sim, também quando não havia nada, comia-se sopa de estrelinhas acompanhadas de casqueiro.
Por isso, fome não. Carências de vária ordem sim, também quando não havia nada, comia-se sopa de estrelinhas acompanhadas de casqueiro.
Mas, nas tantas vezes de convívio com os praças, nunca existia fome. Surpreende-me agora saber do que se passava na grande generalidade dos casos. Mas havia também muita malta de todos os escalões que levavam boa vida estomacal.
Por causa disso, fiz muitas colunas de reabastecimento, e entrei naquelas duas loucuras de viagem de Sintex entre S. Domingos e Susana, para ir trazer umas batatas, bananas e se possivel um animal vivo. Da última vez correu mal e perdemo-nos e safei-me. Não me lembro de fome, mas talvez de sede.
Nada disto é comparável às ações de combate e patrulhas de dias, com rações de combate, que não eram o meu forte.
Depois tinha a grande vantagem de todos os meses poder ir a Bissau e matar a barriga de misérias, a verdade seja dita.
Nos últimos meses em S. Domingos, a Companhia de intervenção, a CART 1744, por intermédio do sargento e um cabo da secretaria, com o aval do Capitão, construíram um tipo de restaurante ambulante, com frangos assados criados ali na horta e tantos legumes frescos como nunca tínhamos visto. Foi um fartar, mas pagava-se!
Diga-se em abono da verdade, que estas situações que conto, não eram normais, só alguns participavam nelas, eu quase sempre, um ou outro furriel ou sargento, e ocasionalmente um alferes que se juntava, não sei os critérios porque não era da minha organização.
Agora que havia uma segregação entre tropa branca, segundo os escalões, é verdade, mas só constato isso agora por estarmos a falar, senão para mim seria o normal, porque não vi nunca outra postura de solidariedade, para todos.
Quando o Luis diz que não se sentou junto dos seus soldados no refeitório ou outro local , acredito, mas para mim isso foi uma normalidade.
Os meus cumprimentos e abraços
Virgilio Teixeira
2025 M05 21, Wed 00:15:54 GMT+1
O destacamento da Ponta do Inglês, na foz do Rio Corubal, subsetor do Xime, setor L1 (Bambadinca), era um dos sítios mais desgraçados da Guiné. Foi dos aquartelament0s abandonados pelas NT logo no início do "consulado" de Spínola.
(*) Vd, poste de 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26821: S(C)em Comentários (67): P*rra, dou agora conta, 50 e tal anos depois, que nunca me sentei no rancho geral, para partilhar uma refeição com os meus cabos, que eram metropolitanos, e que tinham uma barriga igual à minha... Em Bambadinca, existia o "apartheid", nobreza, clero e povo, devidamente segregados, em termos sociais e espaciais (Luís Graça)
Vd. também poste de 19 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26816: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (40): Quem não arrisca, não petisca
(**) Vd. poste de 31 de julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)
CANÇÃO DA FOME
por Manuel Vieira Moreira (1945-2014)
Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês,
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.
A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da Guiné.
Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.
Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos Turras à cabeça,
Não sei que será de mim.
Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.
A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:
Manuel Vieira Moreira.
Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968
______________
Notas de L.G.
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês,
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.
A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da Guiné.
Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.
Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos Turras à cabeça,
Não sei que será de mim.
Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao sol
Junto ao rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.
A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino:
Manuel Vieira Moreira.
Xime, Ponta do Inglês, 28/01/1968
______________
Notas de L.G.
(*) Vd, poste de 20 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26821: S(C)em Comentários (67): P*rra, dou agora conta, 50 e tal anos depois, que nunca me sentei no rancho geral, para partilhar uma refeição com os meus cabos, que eram metropolitanos, e que tinham uma barriga igual à minha... Em Bambadinca, existia o "apartheid", nobreza, clero e povo, devidamente segregados, em termos sociais e espaciais (Luís Graça)
Vd. também poste de 19 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26816: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (40): Quem não arrisca, não petisca
11 comentários:
Virgílio, claro que não podemos falar de fome, no sentido científico e técnico do termo...Passei fome em operações no mato (de dois ou três dias, em que não levava ração de combate por causa da sede; sede atroz, sim, passei...)... Mas não na messe de Bambadinca.
Passei alguma fome quando destacado em algumas tabancas em autodefesa: não havia cozinheiro, mas tínhamos alguns géneros para cozinhar em ... fogueiras. E havia sempre alguma caça....
Fome e desnutrição encontrei nas crianças, vítimas da guerra, nalgumas tabancas sob o nosso controlo... Fome e desnutrição encontrei nas populações (mulheres, velhos e crianças) que aprisionámos nas zonas sob controlo do PAIGC, nomeadamente no subsetor do Xime...
Na generalidade dos aquartelamentos do mato, no CTIG, comia-se mal, em quantidade e qualidade....Nalguns sítios, e sobretudo na época da chuva, podia ser problemático o reabastecimento...Mas é difícil "pintar um quadro geral"...De um modo geral, havia a preocupação de manter a "segurança alimentar" nos aquartelamentos do mato...Em casos extermos, a FAP dava uma ajuda, lançando géneros de paraquedas... Podia haver falhas críticas nos destacamentos (como aconteceu na ponte Caium, em 1973; está aqui descrito no blogue, e originou uma tragédia...).
Há sempre o risco de se generalizar...Houve destacamentos e aquartelamentos que foram retirados também devido ao isolamento e às dificuldades de reabastecimento (caso da Ponta do Inglês, mas também Madina do Boé, por exemplo).
Distinção entre fome e subnutrição (segundo a Gemini IA / Google):
Em termos técnicos e científicos, a fome é a sensação fisiológica que indica a necessidade de ingestão de alimentos para suprir as demandas energéticas do corpo. É um mecanismo biológico complexo, regulado pelo cérebro em resposta a sinais do estômago, intestino e outros órgãos, que comunicam a falta de nutrientes e energia. Quando as reservas de glicose diminuem, por exemplo, o hipotálamo (uma região do cérebro) é ativado, desencadeando a sensação de fome.
A fome pode ser descrita em diferentes níveis de intensidade: desde um leve desconforto até uma dor intensa e avassaladora, que leva a uma busca instintiva por alimento. A fome biológica ou fisiológica é a necessidade real de nutrientes e energia para o funcionamento do organismo. No entanto, a fome também pode ter dimensões sociais e psicológicas, como a "fome emocional", que é o desejo de comer em resposta a emoções, e não à necessidade fisiológica.
Distinção entre Fome e Subnutrição
Embora frequentemente confundidas, fome e subnutrição são conceitos distintos, mas interligados.
Fome (a nível crónico): Refere-se à privação crónica de alimentos, à falta de acesso consistente a comida em quantidade e qualidade suficientes. É a situação em que a ingestão calórica é insuficiente para as atividades diárias e para manter a saúde. A Organização das Nações Unidas (ONU) conceitua a fome como a falta de acesso consistente aos alimentos, que diminui a qualidade da dieta e interrompe os padrões normais de alimentação. Em casos graves, pode significar passar um dia ou mais sem comer.
Subnutrição (ou Subalimentação): É uma forma de má nutrição que ocorre quando há uma ingestão insuficiente de nutrientes essenciais para o corpo. Não se trata apenas da quantidade de comida, mas da qualidade nutricional. Uma pessoa pode ingerir calorias suficientes, mas ainda assim estar subnutrida se a sua dieta for deficiente em vitaminas, minerais, proteínas ou outros macronutrientes.
Sinais e Sintomas
Para distinguir, é útil observar os sinais e sintomas:
Sinais e Sintomas de Fome (aguda e crónica):
Físicos: Roncos no estômago, sensação de vazio no estômago, fadiga, fraqueza, dor de cabeça, tontura, dificuldade de concentração, tremores, irritabilidade, mau humor. Em casos crô«ónicos, pode levar a perda de peso, cansaço constante e lentidão psicomotora.
Comportamentais: Busca constante por comida, pensamentos repetitivos sobre comida, ansiedade relacionada à alimentação.
(Continua)
(Continuação)
Sinais e Sintomas de Subnutrição (crónica):
A subnutrição, por ser uma carência de nutrientes a longo prazo, apresenta sintomas mais graves e persistentes, afetando diversas funções do corpo:
Perda de peso e massa muscular: Os ossos podem se tornar visíveis, a pele fica fina, seca e sem elasticidade (caquexia).
Cansaço e fadiga excessivos; Dificuldade para realizar atividades diárias.
Fraqueza do sistema imunológico: Aumento da suscetibilidade a infecções e doenças.
Problemas de desenvolvimento: Em crianças, atraso no crescimento (baixa estatura para a idade), baixo peso para a altura e desenvolvimento comportamental e intelectual lento.
Anemia: Deficiência de ferro, causando palidez, fraqueza e falta de ar.
Problemas de pele, cabelo e unhas: Cabelos ressecados, finos e com queda fácil; unhas fracas e quebradiças; alterações na cor da pele e lábios.
Inchaço (edema): Principalmente no abdómen, face e membros (como no Kwashiorkor, uma forma de subnutrição proteica grave).
Problemas gastrointestinais: Diarreia frequente, má absorção de nutrientes.
Alterações de humor: Irritabilidade, apatia, sintomas depressivos.
Dificuldade de cicatrização: Feridas demoram a sarar.
Em resumo, a fome é a sensação imediata de necessidade de alimento e, em seu aspecto crônico, a ausência de acesso a ele. A subnutrição, por sua vez, é a consequência biológica da ingestão insuficiente de nutrientes, seja por falta de alimentos ou por uma dieta inadequada, levando a deficiências que comprometem o funcionamento do organismo.
Fonte: Gemini IA / Google
https://gemini.google.com/app/f780281c3211410f?hl=pt-PT
A prova de que... não havia fome no CTIG (entre a nossa tropa), é que não havia este "descritor" no nosso blogue...Em milhares de descritores ou "tags", não havia o da "fome"... Passa a haver a partir de hoje...Falta-nos consultar cartas, aerogramas, diários, etc. E fazer uma pesquisa no nosso já vasto blogue (mais de 26,8 mil postes, mais de 106 mil comentários)...Bebia-se muito, fumava-se muito: pode ser indicativo de qualquer coisa... O álcool e o tabaco ajudavam-nos a aliviar a sensação de fome, para além de nos ajudar a lidar com o stress (incluindo o stress térmico, associado ao clima, e não apenas psicológico, derivado das situações de guerra)...
Uma surpresa para mim, obrigado Luis.
Francamente não me lembrava já desta foto, tenho tantas de petiscadas, não para matar a fome, mas para alimentar a alma.
Pela aparência de instalações, e pelo ar de periquitos acabados de chegar, deve ser de Nova Lamego, o último trimestre de 67, senão o último mês de Dezembro.
Até posso ter escrito outra coisa, mas vai falhando a memória, em S. Domingos não havia destas instalações e em Bissau - um mês - os petiscos eram fora do quartel.
Conheço ainda esta passarada toda, bons companheiros e amigos, um deles pelo menos já morreu, os outros vou vendo nos almoços anuais.
Sim, a fome como a descreves noutro poste, não tinha, embora muitos dos sintomas ainda permanecem, mas devido a outras patologias.
A Nutrição foi um tema bem abordado, há grandes diferenças entre um conceito de fome e de má nutrição.
Nutrição, tive várias consultas pós operatórias, nos anos de 2022,2023 e 2024, onde aprendi alguma coisa, havia uma lista de procedimentos a seguir, que era difícil cumprir.
O nosso camarada Moreira, fala em situações limite, que o homem ainda consegue superar, mas não as crianças, o problema da humanidade.
Virgilio Teixeira
No caso do destacamento da Ponta do Inglês, havia esta particularidade que eu diria ... trágico-cómica: o grupo de combate (mais ou menos 30 homens) da companhia do Xime, CART 1746, que guernecia o destacamento (até novembro de 1968), dependia de um poço localizado a 700 metros do arame farpado, e que fornecia água também aos vizinhos, a tropa do PAIGC e a população sob seu controlo...Não sei como é que eles faziam para não se cruzarem (!)...
O Moreira pertencia ao 4º pelotão, comandado pelo alf mil Gilberto Madail (o mesmo que mais tarde será um conhecido político e dirigente desportivo português: Governador Civil de Aveire, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, presidente Associação de Futebol de Aveiro e do Sport Clube Beira-Mar...).
... "guarnecia", e não "guernecia". O Comandante da CART 1746 foi o nosso saudoso cap mil António Vaz (1936-2015)... (Tem 30 referências no blogue.)
Claro que havia grandes diferenças entre todos nós. Ainda hoje é assim, em qualquer estrutura militar, em qualquer exército, marinha ou força aérea há oficiais, sargentos e praças. A Igualdade não é deste mundo, Na pequena Cufar, sul da Guiné, 72/74, tínhamos uma messe de oficiais, uma messe de sargentos e os cabos e soldados desenrascavam-se bem, a seu modo. Eu, alferes, tinha um frigorífico a petróleo a meu cargo que, com autorização do major Malaquias, funcionava também como geladeira para as cervejas dos meus soldados. Grandes comezainas se arranjaram com o meu pessoal, cabritos, passarinhos, frangos, muitos derles desviados do pelotão de Intendência de Cufar que em em 1973/74 tinha frigorífico e tudo, para abastecer os aquartelamentos no Cantanhez.
Abraço,
António Graça de Abreu
António e Virgílio, essa "coisa" de "acamaradar" com as praças podia dar uma "porrada"... Havia "militaristas", nomeadamente entre os oficiais superiores, que gostavam de aplicar à letra o RDM nos teatros de operações...
Tenho um amigo, alferes miliciano em Angola, que levou uma "porrada" (e perdeu o direito à licença de férias na metrópole) porque foi "apanhado a tocar viola" (sic) com um grupo de praças...Intolerável!!
No mato, na Guiné, havia maior "tolerância", por razões óbvias: a "promiscuidade" era maior, os espaços exíguos, os riscos eram iguais para todos em caso de ataque ou flagelação ao aquartelamento, havia muitas armas e granadas de mão nas mãos das praças (brancos e negros), havia muito álcool...
Nas sedes de batalhão, e nos Comandos de Agrupamento, CAOP, COP..., a distância entre as "três classes" era maior...
Também concordo que a "igualdade" é uma utopia, e não é de todo desejável nem realizável, muito menos por decreto... Mas a equidade é outra coisa: igualdade de oportunidades (em saúde, segurança, educação, cultura, etc.)... É um princípio civilizacional... Nem mesmo no céu dos cristãos há "igualdade": há uns que ficam à esquerda e outros à direita de Deus Pai...
Cá está: havia "privilégios"...pequenos privilégios. Aceitáveis ? Claro que sim, conheci um tenente coronel que adorava ir à caça de noite, de jipe, sem escolta, com um pequeno grupo escolhido de caçadores... Não ia muito longe: bastava ir ao fundo da pista, para se apanhar galinhas de mato, coelhos, lebres, e às vezes até um porco espinho ou outra caça grossa... O que o motivava ? O gosto do risco (e do petisco)... Mas também foi o único oficial superior que era capaz de andar no mato connosco, a penantes...
Posso (e devo) indicar o seu nome, de resto já deixou a Terra da Alegria: Polidoro Monteiro...
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