
O PESSOAL DA 123
Caro Luís
Embora sabendo-te num período sabático de reflexão, não quero deixar de te enviar algumas palavras. Primeiro, porque me lembrei de ti ao passar hoje (5 de Abril) por um local que te diz muito, a Lourinhã; mas foi uma passagem rápida que nem permitiu ver sequer um dinossauro (sem ser aquele que ia a guiar o meu carro - vislumbrei-o de relance no retrovisor...); em segundo lugar, mais importante, porque tinha regressado de uma festa de anos de um bom amigo da CCP123 (de Bissalanca, Guiné), o João Pedro (Pedro é o apelido), que mora em A-dos-Francos.
Para além de outras datas sagradas em que muito do pessoal da CCP 123 se reúne - O 23 de Maio, dia da Base Escola em Tancos, o jantar de Natal, o 10 de Junho em Belém) - o aniversário do Pedro é um dos momentos de convívio em que tenho tido a sorte de poder integrar-me - eu e a Giselda, claro, como antiga pára-quedista e amiga pessoal. Por isso faço todos os possíveis por estar presente.
Como habitualmente (luxo de quem está reformado) costumo aproveitar estas minhas deslocações para pernoitar na zona onde decorre a confraternização. Mais do que fazer turismo, pretendo com isso prolongar um pouco mais esses convívios e, já agora, recuperar um pouco mais do cansaço destas deslocações (que os vinte anos já se foram há uns tempos).
É habitual juntar-se neste convívio anual em A-dos-Francos um bom grupo de amigos da CCP 123 que, para além de homenagear o aniversariante, aproveitam - como é habitual nestas confraternizações - para relembrar acontecimentos do passado; muitos deles já são do conhecimento de quase todos os presentes, claro, mas surgem por vezes novos pormenores que ajudam a esclarecer os que assistem a estes diálogos ou a relembrar os mais esquecidos (ou distraídos).
É claro que no caso particular destas conversas acresce o facto de alguns destes pormenores se referirem à minha recuperação por pessoal da CCP 123, pois vários dos intervenientes costumam estar ali presentes.
Embora tenha sido parte muito pouca activa no processo (afinal limitei-me a ficar lá no mato, à espera que me fossem buscar - uma espécie de morto no jogo de bridge...) o pessoal que revejo nestas reuniões recebe-me sempre com grande cordialidade, o que me parece natural - afinal nós gostamos sempre de mostrar aos amigos um trabalho em que estivemos envolvidos e que saiu bem feito. E, neste caso particular, nada como rever o sujeito em cuja recuperação muitos tomaram parte e que ainda anda por cá a gozar esta segunda oportunidade de se manter neste mundo...
Tive a oportunidade de lembrar a alguns deles o interesse em avançarem com a descoberta deste nosso blog e de participarem nele, contando as histórias interessantes a que tenho tido acesso nestes convívios. Mas, já foi referido aqui, é difícil tirar-se deste pessoal muita informação para além da que debitam nestes convívios em família; Fez-se o que se tinha que fazer, e está tudo dito.
E é pena que isto suceda, pois tenho ouvido descrições de grande interesse para serem publicadas, juntamente com outras que provavelmente seria difícil publicar no blog, dada a crueza dos factos descritos. Embora façam parte da História.
À conta destas conversas, relembrei um episódio ocorrido durante a recuperação, relativo à recolha do meu capacete e do meu pára-quedas, abandonados no local e recuperados por elementos da CCP 123. Posteriormente o meu amigo e camarada, o então Ten Pára Norberto Bernardes - hoje General - que comandava esse grupo, tendo recolhido essas duas peças, deu-me a escolher com qual queria ficar. É claro que, tendo eu a hipótese de voltar a usar novos capacetes (e aquele até estava partido) optei por escolher o pára-quedas, ficando ele com o capacete.
Quando guardamos uma recordação, temos sempre o gosto de a partilhar com os outros. E naturalmente foi o que sucedeu com o meu amigo Norberto, que achou por bem oferecer o capacete ao Museu dos Pára-quedistas, na Base Escola em Tancos. E, passados uns anos, o meu pára-quedas seguiu o mesmo destino pois, embrulhado num saco, na minha casa, não servia para nada, sendo muito mais interessante ficar ao lado do capacete - seu companheiro de aventuras na mesma história - e à vista de todos os visitantes, alguns deles curiosos de saber a razão da sua presença naquele local.
Embora com fraca qualidade, por ter sido digitalizada da revista Boina Verde, onde foi publicada a notícia, junto foto da entrega do pára-quedas ao Coronel Perestrelo, então Comandante da Base Escola de Pára-quedistas.
Um abraço.
Miguel Pessoa


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Nota de CV:
(*) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4119: FAP (21): Os meus sentimentos contraditórios no 'verão quente' de 1973 ... (Miguel Pessoa)