África
Cabo Verde
Designações: chefes locais eram menos marcados pela figura do régulo (mais típica de Angola, Guiné e Moçambique), já que as ilhas, sendo desabitadas, não tinham populações indígenas.
Surgiram “capitães-mores” e outros oficiais nomeados diretamente pela Coroa;
Função: administrar terras, recrutar mão de obra e controlar populações escravizadas.
Significado: Cabo Verde foi um espaço de “crioulagem” rápida; não havias chefias tradicionais (a não ser eventualmente informais, entre comunidades de escravos trazidos para as ilhas).
Guiné-Bissau
Designações: régulos (chefes de tabanca ou etnia, reconhecidos pelos portugueses); cabos de terra; manjuandadis (chefes de linhagem); muitos deles eram também, durante a guerra colonial, comandantes de companhias de milícias, sendo graduados em alferes, tenentes ou capitães de 2ª linha (caso, por exemplo, do tenente Mamadu Bonco Sanhá, régulo de Badora, e comandante da companhia de milícias do Cuor) (**);
Função: mediação entre colonos e populações locais, cobrança de impostos, mobilização de trabalho forçado (portagem, cultura obrigatória como a mancarra);
Significado: incorporação do poder indígena no aparelho colonial, mas com tensões: a legitimidade tradicional nem sempre coincidia com a legitimidade colonial.
São Tomé e Príncipe
Nas ilhas, tal como em Cabo Verde, a estrutura de chefaturas africanas foi mais fraca;
Havia figuras de “capitão-mor do mato” (encarregado de controlar quilombos e escravizados fugidos);
Função: assegurar disciplina entre trabalhadores e escravizados;
Significado: aqui, o poder colonial teve caráter mais direto, sem forte mediação de “autoridades tradicionais”.
Angola
Designações: régulos, sobas (chefes locais, herdeiros de autoridade política pré-colonial).
Funções:
Garantir fidelidade ao governo colonial;
Recrutar trabalho forçado (contratados);
Organizar contingentes militares auxiliares;
Cobrar impostos (imposto de cubata).
Significado: o “sobado” era incorporado ao sistema colonial, mas mantendo raízes culturais próprias; o “régulo” era, muitas vezes, uma invenção colonial para transformar chefes tradicionais em agentes administrativos.
Moçambique
Designações: régulos (chefes tradicionais reconhecidos pela administração), sipaios (força militar local auxiliar), mambos (na tradição local).
Funções: semelhantes a Angola: mediação, cobrança de imposto de palhota, mobilização de mão de obra, polícia.
Significado: figura emblemática do “indigenato” português; o régulo representava simultaneamente a continuidade da chefia africana e sua subordinação à soberania portuguesa.
Ásia
Estado Português da Índia (Goa, Damão e Diu)
Designações: comunidades (gaunkaris), com chefias locais chamadas patels ou desais (já existentes antes da chegada portuguesa).
Funções:
Cobrança de rendas e tributos;
Administração da comunidade agrícola (gaunkaria).
Significado: coexistência de instituições coloniais e estruturas hindu/muçulmanas pré-existentes. O colonialismo português adaptou-se às hierarquias locais.
Macau
Designações: chefias chinesas tradicionais (tchonsi, hopus), não régulos.
Função: mediação com autoridades imperiais chinesas, controle da população chinesa residente.
Significado: Macau sempre foi um entreposto dependente da boa vontade da China; os “auxiliares” eram mais negociadores sino-portugueses do que régulos no sentido africano.
Timor
Designações: liurai (chefe de suco ou reino local); dato; moro.
Funções:
Subordinar-se ao governador português.
Garantir tropas auxiliares e cobrança de tributos.
Significado: a dualidade de poder entre liurais tradicionais e poder colonial foi fundamental para a resistência e colaboração em Timor.
Síntese Antropológica e Histórica
Régulo / Soba / Liurai = tradução colonial da chefia tradicional para os mecanismos de administração indireta.
Função geral: mediadores entre colonizador e colonizado; asseguravam trabalho, impostos e ordem.
Significado:
(ii) reconfiguraram sistemas de autoridade locais (ex.: um “régulo” podia ser inventado pelos portugueses, sem linhagem ou sem tradição anterior);
(iii) reforçaram a dominação colonial pela indireta, reduzindo custos de ocupação;
(iv) no pós-independência, muitos desses chefes foram contestados ou reintegrados em novas lógicas nacionais.
Apresenta-se a seguir uma tabela comparativa organizada por colónia, com as principais designações, funções e significado socioantropológico: