domingo, 24 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26188: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (9): uma viagem na TAP, de Bissau a Lisboa, em finais de 1970, custaria hoje c. 1450 euros (Valdemar Queiroz); uma viagem de férias (ida e volta), c. 1900 euros, em fevereiro de 1971 (Carlos Vinhal)



Bilhete de avião de regresso a Lisboa, em 18 de dezembro de 1970


Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Terminada a comissão,  o Valdemar Queiroz, que era de rendição individual (como todos os outros graduados e praças esepcialistas da CART 11), foi para Bissau onde gastou os últimos "pesos" (o patacão da guerra) e tomou o avião da TAP de regresso a casa, em 18/12/1970, como se pode comprovar no documento acima reproduzido.  

O bilhete,como era só de ida, custou-lhe a módica quantia de 4740 escudos, incluindo 80$00 (que deve ser o imposto de selo e  a taxa... "aeroportuária"). Lá se ia, quase todo, o "patacão" de um mês...




Recibo (?) nº 453, emitido pela agência de viagens Fernando S. Costa, Bissau, 13 de fevereiro de 1971

Foto (e legenda): © Carlos Vinhal (2015). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Já o nosso coeditor Carlos Vinhal (fur mil art MA, CART 2732, Mansabá,1970/72, SPM 1388) veio de férias, em 15 de fevereiro de 1971, e pagou à agência de viagens Fernando S. Correia a importância de 6430$80 (vd. documento acima). 

Não sabemos se nesse valor estava incluído o preço da ligação aérea Lisboa-Porto (nem a comissão da agência).  De qualquer modo, para ir de férias, um furriel miliciano tinha que desembolsar mais do que o que ganhava num só mês.
 

3. Quanto valeria hoje esse patacão ?

(i) 4340$00 (em 1970) seriam hoje 1455 euros (!) (uma roubalheira ?);

(ii) 6430$80 (em 1971) equivaleriam  hoje a 1944 euros...

Fonte: Pordata > Simuladores > Simulador de Inflação > Quanto vale hoje o dinheiro do passado ?

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26187: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (8): uma viagem, de avioneta, nos TAGP, de São Domingos a Bissau, em 22/2/69, custava 224 escudos (ou "pesos"), o equivalente hoje a 70 euros (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Guiné 61/74 - P26187: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (8): uma viagem, de avioneta, nos TAGP, de São Domingos a Bissau, em 22/2/69, custava 224 escudos (ou "pesos"), o equivalente hoje a 70 euros (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)


Guiné > Bissau > TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) > Cópia de bilhete de passagem, de S. Domingos para Bissau > 22 de fevereiro de 1969 > Avião: Dornier > Passageiro: Virgílio Teixeira > Valor pago: 224$00. Foto do álbum de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM; CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e S. Domingos, 1967/69).


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Patacão (em crioulo), massa, graveto, grana, carcanhol, guita, milho, maçaroca, cheta, caroço, arame, arjã, cacau, pastel, vil metal, tusto, cobres, prata, lecas, nota preta, pilim, massa, papel, aquilo-com-que-compram-os-melões... enfim, dinheiro! (como é prolixa, polissémica, rica, ao menos, a nossa língua).
 
Ora cá está um tema sobre o qual toda a gente, leia-se os antigos combatentes, pode aqui falar. E temos  de resto falado, embora de maneira avulsa... E muito irregularmente. O que valia o dinheiro  no nosso tempo, o que recebíamos, o que gastávamos, e em quê...

Reorganizámos os postes sobre o patacão, uniformizando os títulos, de acordo com a série, que já existia no início do blogue, "Cem pesos, manga de patacão pessoal"... 

São já uns tantos postes, os publicados, que merecem ser relidos, revisitados, citados comentados, acrescentados (*).

Por este precioso documemto, acima reproduzido,  que o Virgílio Teixeira guardou (foto de bilhete de viagem nos TAGP, de  São Domingos para Bissau, em linha reta é uma distância muitoenor do que os cerca de 125 km por estrada), ficamos a saber  que uma voltinha de Dornier (para apanhar o avião da TAP em Bissalanca, para a Metrópole) custava 224 escudos. 

A preços de hoje,  224 escudos (do BNU) seriam 78 euros... Como se tratava de "pesos" da Guiné, teríamos que aplicar a taxa de desvalorização de 10% (praticada no comércio de Bissau de então, 100 pesos valiam 90 escudos da metrópole). 

Portanto, grosso modo, eram 70 euros o bilhete de avioneta... 

224 escudos ou " pesos" era caro...Eram 10 dias do "per diem" de um militar (24,5 escudos por dia  para a alimentação).

O que se comprava mais com 224 escudos da Guiné em 1969 ?  Duas garrafas de uísque velho...Dez almoços em Bafatá (bife com batas fritas e ovo a c cavalo).

Era, enfim, o equivalente, mais ou menos, a   quanto se podia perder ou ganhar numa noite de lerpa (200 / 300 escudos em média, disse aqui o Humberto Reis, há 18 anos atrás). Ou a 90 maços de cigarros SG Filtro! (**).

Em suma, cem pesos já eram manga de patacão, pessoal !...

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8845: Cem pesos, manga de patacão, pessoal! (7): Os produtos e as marcas que não havia em Lisboa... ou eram "proibitivos" - Parte VI (Magalhães Ribeiro/José Colaço)

(**) Vde. poste3 de 28 de julho de 2005 > Guiné 63/74 - P129: Cem pesos, manga de patacão, pessoal ! (1): quanto se gastava e em quê... (Luís Graça / Humberto Reis / A. Marques Lopes / Luís Carvalhido / Sousa de Castro)

Guiné 61/74 - P26186: Parabéns a você (2331): Abel Moreira dos Santos, ex-Soldado At Art da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69) e António (Tony) Levezinho, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71)


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Nota do editor

Último post da série de 23 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26182: Parabéns a você (2330): José Saúde, ex-Fur Mil Operações Especiais da CCS / BART 6523/73 (Nova Lamego, 1973/74)

sábado, 23 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26185: Os nossos seres, saberes e lazeres (655): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (180): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2024:

Queridos amigos,
Graças à amizade com mais de meio século, pude cirandar pelo essencial da ilha de Sta. Maria, tirar partido dos pontos altos que propiciam panoramas em escadaria, ver os terraços dos vinhedos, as baías lá ao fundo, sentir a heterogeneidade dos lugares saindo de Vila do Porto, passando por Almagreira, ver o encanto da baía da Praia Formosa, e tudo mais que Sta. Maria oferece, ilha com uma coreografia que a orografia oferece e nos assombra; porque há uma ilha relevada e depois um espaço que lembra uma planície, um tanto estéril, aqui se construiu um aeroporto que foi militar e depois civil, aqui termina o prazer de uma viagem decorrente de um prémio imprevisto ganho no início de março, era um domingo soturno, na Bolsa de Turismo de Lisboa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (180):
Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental – 9


Mário Beja Santos

O dia de hoje promete, o meu querido amigo José Braga Chaves leva-me até ao aeroporto de Santa Maria, quero saber um pouco mais sobre essa pista que foi uma das maiores do seu tempo, por aqui foram evacuados os contingentes que regressaram do Japão, finda a guerra desmantelaram-se velhos barracões e ergueram-se edifícios novos, o aeroporto tornou-se português, e durante anos foi de grande importância. Na véspera adormeci a acabar a leitura do livro Ilha de Gonçalo Velho, de Jaime de Figueiredo, é uma 2.ª edição de 1990. Pergunto-me de quando terá sido a primeira, tem para aqui parágrafos de indiscutível potência crítica:
“A vida na pequena ilha açoriana era difícil e custosa até meados do século passado. Não havia empregos e, portanto, as soldadas não chegavam para o sustento mais elementar. Meia dúzia de ricaços possuía as terras de pão e de mato, as vinhas e as quintas, os gados e as alfaias: arados, carros, moinhos e lagares. Um deles punha dez carros de boi ao caminho e vinte trilhos na eira da debulha.
Os trigos, moios e moios, iam por sua conta, em navios próprios, vender-se no mercado de Lisboa.
O pobre, sem eira nem beira, vivia no seu casebre, mal vestido a alimentado. Em anos ruins comia bolos de fetos e papas de carrilhos, vestindo um longo saio de estopa. Como refrigério, só tinha a missa do domingo; no mais, era lidar do berço à cova, em terras foreiras, para entregar o fruto do seu trabalho, no fim da colheita, aos donos dos campos lavradios – a enfiteuse tornou-se quase uma escravidão!
Por essa altura começou a corrente de emigração para os Estados Unidos. Os poucos dos rapazes, na viagem de regresso vinham recheados de pesos e de águias, metidos em grandes cinturões. Daqui nasceu um vaivém de gente moça, por fim o êxodo de famílias inteiras, quando se acharam as minhas de ouro do Pacífico. Quase todos os que voltaram, enriquecidos e opulentos, remiram as terras foreiras, embora à custa de onerosos laudémios, acabando por emprestar o seu dinheiro aos velhos morgados, cheios de dívidas e hipotecas. Então, deu-se a inversão na riqueza: a grande lavora, o latifúndio, começou a dividir-se, a retalhar-se, a entrar na posse do emigrante – o ‘calafona’. Este, poupado e industrioso, de braço afeito ao trabalho, lavou as courelas, tratou dos pomares, virou as fajãs, criou gados e plantou vinhas.”
Resta saber a sequência deste ciclo histórico.
Lá vamos para o aeroporto, não se ouvem nos ares os quadrimotores Skymasters, nem os bimotores Dakota nem os aviões de caça Aircobras, o movimento na área do aeroporto é dado pela movimentação dos carros e algumas pessoas pelas ruas, o Zé vai-me mostrando sinais do passado, vejo um daqueles armazéns que ainda se podem encontrar nos campos de Inglaterra, também construídos durante a Segunda Guerra, e gostei muito daquela quase instalação de peças que vieram dos EUA para acelerar a construção do aeroporto. Aqui houve um quartel-general. Jaime Figueiredo escreve:
“A parte central do campo de aviação ocupa uma área de cerca de 6 km2, sendo 2 de largura e 3 de comprimento. Nem sempre todo o perímetro estava defendido por alta vedação de arame farpado, o que obrigava a ser vigiado, nas proximidades, por polícia norte-americana e portuguesa, servindo-se de velozes motocicletas.”

O Zé faz questão de me levar a um conjunto de pequenas empresas, o pretexto fora dado por mim, quero comprar biscoitos de orelha, ele leva-me então a uma pequena fábrica, quem ali trabalha acedeu alegremente como se põem as mãos à obra.

Almoçamos num espaço em Vila do Porto, logo a seguir vou cumprimentar a presidente da edilidade, Bárbara Chaves, trocamos lembranças, agradeço-lhe as gentilezas. E haverá novo périplo, paragens em miradouros inesquecíveis, já começou a larvar a nostalgia da partida, foi uma viagem singular, um encontro irrepetível, não me passara pela cabeça tão graciosos panoramas.

Parto no dia seguinte. Antes, porém, o Zé faz-se uma surpresa de trazer um outro recruta dos Arrifes, volto a outubro de 1967, um abraço mais do que amistoso, temos aquela tendência um pouco lúgubre de começar a conversa pelos muitos que já partiram, seja para as estrelinhas ou para a emigração, é inevitável a promessa de voltar. Por mim estou pronto, fixei os nomes de Santo Espírito, Santa Bárbara, a Baía dos Anjos, S. Pedro, as Baías da Maia e de S. Lourenço. E aqui termina o resultado de um prémio que ocorreu na Bolsa de Turismo de Lisboa e que me levou à Ribeira Grande e Vila Franca do Campo, em S. Miguel, e a conhecer tão bem a ilha de Sta. Maria, é sempre bom aterrar em terras arquipelágicas, está imensamente justificado como guardo os Açores no meu coração.

Recordação de uma infraestrutura do tempo da guerra, junto do aeroporto de Santa Maria
Quatro imagens que recordam a chegada de maquinaria vinda dos EUA, contribuíram para construir o aeroporto em tempo recorde
A preparar biscoitos de orelha, uma das especialidades genuínas de Santa Maria
Claustro do Convento de S. Francisco, instalações que pertencem à Câmara Municipal de Vila do Porto
Uma escultura no pátio do claustro
Uma janela antiquíssima que nos faz pensar nos primeiros povoadores, capitães donatários, janela Quinhentista num prédio da Rua Gonçalo Velho
Um pormenor do Forte de S. Brás
O Forte de S. Brás, uma outra perspetiva, a da sua Porta de Armas
Padrão de cantaria em homenagem aos tripulantes do Caça-Minas Augusto de Castilho, obra de Raul Lino, Forte de S. Brás, Vila do Porto acolheu-os depois de terem feito uma longa viagem, destruído o caça-minas pelos alemães
Uma imagem de rua de Vila do Porto antes da obra de Real Bordalo, naquela parede ao fundo
Um dos mais belos ilhéus de Santa Maria, o do Romeiro
Imagem tirada do miradouro do Pico Alto
Miradouro dos Picos
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Nota do editor

Último post da série de 16 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26160: Os nossos seres, saberes e lazeres (654): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (179): Regresso aos Açores, às ilhas do grupo oriental (8) (Mário Beja Santos)

Guiné61/74 - P26184: Notas de leitura (1747): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte II

 



Capa do livro de Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 2024, il., 160 pp. (Fotografia da capa_ Porto do Castelo e Encosta do Farol Gonçalo Velho, Arquivo Fotográfico de Max Frix Elisabeth)


1. Estamos a publicar algumas notas leitura do último livro do nosso amigo e camarada Arsénio Puim (*), que, "noutra incarnação", foi alferes graduado capelão, na antiga Guiné Portuguesa, na CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)... Não chegou a acabar a comissão porque os senhores da guerra consideraram-no "persona non grata" no território, sendo expulso em meados de 1971. (**)

Voltou aos Açores. Continuou a exercer o múnus espiritual durante mais uns anos, fez enfermagem, casou, foi pai, é agora avô, continua igual a ele próprio, um grande açoriano e ainda um melhor ser humano.

A "nota introdutória" que ele escreveu para este seu último livro (edição revista, aumentada e melhorada do livro de 2001, "A pesca da baleia na ilha de Santa Maria"), diz muito sobre o amor a sua terra e às suas gentes. 

Nós que, quando putos e continentais, nunca conhecemos o alvoroço e a excitação da baleação no arquipélapo dos Açores (nem vimos baleias ao vivo), somos agora remetidos, ao ler o Puim, para esses tempos da sua infància, adolescència e juventude quando o seu "chão", a freguesia, Santo Espírito, e a sua terra natal, Calheta, eram o centro da atividade desta atividade (que, no séc. XX durou ainda cerca de 4 dezenas de anos, até 1985). 

Puim fala da sua gente, pobre e insular, e da sua luta pelo "pão nosso de cada dia".  Ele fala-nos de algumas centenas de marienses baleeiros (e conta-nos histórias de um punhado deles), a maioria dos  quais do seu sítio,  Santo Espírito... Ilhéus (a que há de acrescentar mais alguns, de Cabo Verde, Graciosa, São Miguel ,Pico, Faial...), "homens humildes e afoitos que, numa luta dura e perigosa, quase corpo a corpo, com o maior mamífero da Terra, ganhavam dignamente o pão de cada dia para e para os seus" (pág. 27)... E " dois deles tombaram no exercício desta atividade, ainda primeira fase da baleação " (o remador mareensee António Puim,  e o mestre cabo-verdiano Henrique  da Veiga, em 1897 e em 1901, respetivamente).

Lembra ainda o autor, neste prólogo (que a seguir se transcreve na íntegra, com a devida vénia), que "a pesca à baleia em Santa Maria, como nas restantes ilhas açorians, nunca enverdou por processos intensivos e exterminadores deste cetáceo, adotados noutros pontos do globo" (pág.23)... Pelo contrário, era um atividade de economia de subsistência, sazonal, costeira e artesanal, "em pequenos barcos de propulsão a remos e à vela, por regra com o arpão e a lança de arremesso manual, o que, necessariamente, manteve as capturas em níveis moderados e o equilíbrio biológico desta espécie" (pág. 24).

A baleação teve, naturalmente,  impacto económico e social na ilha (como no resto dos Açores),  criando riqueza e emprego, direta e indiretamente (vd. cap. 4, pp. 99-120). 

De 1937 a 1966, foram capturados, na ilha de Santa Maria, 841 cachalotes, ou sejam, 5,6% do total das capturas no arquipélago (=14929), produzindo um pouco mais de 1,9 milhões de quilos de óleo, ou seja, 3,7%  do total dos Açores (=51,2 milhões de quilos).
O valor do õleo, em escudos,  na ilha de Santa,  totalizou 7 milhões , ou seja, 3,2% de um total de c.  219,3 mil contos (sem atualizaçáo dos valores com base nas taxas de variação do IPC - Índice de Preços no Consumidor). (Fonte: Puim, 2024, pág. 109; em relação à produção de óleo e ao seu valor monetário, os dados são omissos ou incompletos para os anos de 1938, 1939, 1945 e 1946).

Mas há outros aspetos, para além dos socioeconómicos, que devem merecer a atenção do leitor, e que abordaremos em próxima nota. Por exemplo:

"Ainda hoje lembro a angústia,  silenciosa, da minha Mãe (igual à de outras mães e esposas) sempre que os botes largavam do  porto do Castelo  para o alto mar à caça da baleia, até que entrassem  novamente em casa - às vezes a altas horas  da noite -  os seus dois filhos baleeiros" (pág. 103).

 

















Fonte:  Excertos de  Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 20123, il., 160 pp., preço de capa: c. 18 euros), pp. 21-26.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de novembro de 2024> Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

(**) Vd. poste de 8 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22181: Os nossos capelães (16): Arsénio Puim, vítima da ira de César por mor de Deus e da sua consciência de cristão e português (Luís Graça, "O Baluarte de Santa Maria", maio de 2021)

Guiné 61/74 - P26183: Roteiro dos museus e outros lugares de memória e cultura, abertos (ou a abrir) ao "antigo combatente" (4): Museu da Guerra Colonial, V. N. Famalicáo, de visita gratuita


1. O Museu da Guerra Colonial (MGC), em Vila Nova de Famalicão, é de entrada livre (no caso de grupos e escolas há marcação prévia).

Localização, horário e contactos:

Famalicão Central Park, Lote 35 A
4760-727 Ribeirão

Telef: 252 217 998
Email: info@museuguerracolonial.pt


Horário:
  • Terça a sexta: 10h00 às 17h30
  • Sábado: 14h30 às 17h30
  • Domingo (sob marcação)
  • Encerra às segundas e feriados nacionais, sábado de Páscoa, 24 e 31 dezembro

2. Faz parte da notável rede municipal de museus (de que só conheço dois, e que recomendo: Casa-Museu de Camilo, e o Centro Português do Surrealismo):


O  objetivo do 
 Museu da Guerra colonial (MGC) em Vila Nova de Famalicão é fazer o levantamento e a recolha dos espólios dos combatentes utilizando a metodologia da história oral.

Como resultado o MGC recupera aquilo a que os seu criadores chamam “o Baú da Guerra” que, depois de aberto, fornece fontes importantíssimas para o estudo do combatente português na guerra colonial.

Recuperam-se e ordenam-se vários documentos tais como:

  • processos de morte e de ferido,
  • correspondência,
  • diários pessoais e de companhia,
  • documentos de ação social e psicológica,
  • relatos e processos confidenciais,
  • objetos de arte,
  • fotografias,
  • objetos religiosos,
  • bibliografia, e
  • documentos vários,

O Museu está organizado segundo temas, tem um perfil pedagógico de informação histórica e cultural para as gerações do pós-guerra e para o público em geral com a intenção de preencher lacunas sobre este período recente da História de Portugal.

Visitar o MGC ajuda-nos a conhecer o itinerário do combatente português neste conflito armado que decorreu de 1961 a 1974 (13 anos).

3. Recorde-se aqui, em síntese, a sua génerse e desenvolvimento:


(i) o MGC nasceu no ano de 1999,

(ii) através de uma parceria entre:
  • o Município de Vila Nova de Famalicão;
  • a ADFA (Associação dos Deficientes das Forças Armadas);
  • a ALFACOOP (Externato Infante D. Henrique de Ruilhe);

(iii) tendo por base um projeto pedagógico intitulado “Guerra Colonial, uma história por contar”;

(iv) o conteúdo e a metodologia, recolha, tratamento, organização e estudo das fontes resultaram de um projeto pedagógico dirigido pelo Dr. José Manuel Lages e 32 alunos em colaboração com as Entidades referidas.

(...) "Mais do que um espaço museológico, é um local que pretende transmitir ao visitante um real conhecimento sobre este período da História de Portugal, contado por quem a viveu e sentiu na primeira pessoa. " (...)

A exposição permanente retrata o itinerário do combatente português na Guerra Colonial (1961-1974), abordando as seguintes temáticas:

  • O Embarque;
  • O Dia-a-Dia;
  • As Operações Militares;
  • Os Nativos;
  • A Ação Social e Psicológica;
  • A Religiosidade;
  • Os Horrores da Guerra;
  • A Morte;
  • A Correspondência;
  • As Madrinhas de Guerra.
Todo o acervo museológico foi cedido ou doado por:
  • antigos combatentes ou seus familiares;
  • delegações da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA);
  • e vários ramos das Forças Armadas Portuguesas.
O visitante poderá ainda ver os objetos usados pelos nossos Militares, como:

  • Baús da Guerra (objetos pessoais, alimentação, vestuário);
  • Fardamentos e Equipamento Militar (torres de transmissões, paraquedas, capacetes, armas);
  • Veículos de Guerra

O MGC foi inaugurado no do 23 de abril de 1999 e situa-se no Lago Dicount lote 35A, na freguesia de Ribeirão, ocupando uma área de mil e quinhentos metros.

A gestão do Museu é da responsabilidade da Associação do Museu da Guerra Colonial na qual figuram os sócios fundadores Coletivos e Individuais. Esta estrutura integra a Rede de Museus de Vila Nova de Famalicão e tem protocolos de colaboração com as Forças Armadas Portuguesas.
(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

Guiné 61/74 - P26182: Parabéns a você (2330): José Saúde, ex-Fur Mil Operações Especiais da CCS / BART 6523/73 (Nova Lamego, 1973/74)

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Nota do editor

Último post da série de 19 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26166: Parabéns a você (2329): Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf (CCS/QG/CTIG, BART 2917 e CCAÇ 2701 - Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26181: Notas de leitura (1747): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Declaro que ando de candeias às avessas com o Boletim Oficial da Província da Guiné, todo recheado de nomeações partidas, louvores, muitos relatórios de saúde pública, movimento marítimo, etc. etc., nem dá para ler nas entrelinhas se a agricultura progride, o que melhorou na vida administrativa, o que tem sido a ocupação do território e a chamada pacificação. Por isso me voltei para nova leitura do livro de Armando Tavares da SIlva, ele andou no Arquivo Histórico Ultramarino e fez um levantamento indispensável à documentação oficial. É que por detrás da pasmaceira do Boletim Oficial estavam a acontecer coisas nos Bijagós, em toda a região do Geba, na Costa de Baixo, na região dos Felupes. O governador Herculano da Cunha não quis fazer ondas e tanto quanto parece não tinha dinheiro para organizar expedições. O que aqui se escreve é que Judice Biker, que irá governar a Guiné até 1903, é imparável, move-se nas zonas de conflito, e até ficamos com a ilusão de que já não há insubmissões nos Bijagós, nem no Oio, nem em Cacheu. Vamos agora à atuação do novo governador, Soveral Martins.

Um abraço do
Mário



O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (3)

Mário Beja Santos

O governador Herculano da Cunha parte para Lisboa e a 13 de julho de 1900 o novo governador é o 1.º Tenente da Armada Joaquim Pedro Vieira Judice Biker. Herculano da Cunha tudo fizera para evitar expedições. Biker mostra logo claramente que vem empreender operações militares de pacificação. Em Canhabaque, arquipélago dos Bijagós, assaltavam-se lanchas, um dos dois régulos da ilha era condescendente com tais hostilidades. Biker chama o capitão de 2.ª linha Adolfo Eduardo da Silva e encarrega-o de ir à ilha entender-se com o chefe dos atacantes, exigindo-lhe que entregasse o que havia roubado, o régulo recusou e o governador decide fazer um ataque à ilha, mas só passada a época das chuvas. A 27 de outubro larga a expedição, bombardeia-se a povoação, a 29 desembarcam os Grumetes, incendeiam-se povoações, novo bombardeamento e incêndio no dia seguinte. O régulo rebelde pediu perdão.

Biker foi também confrontado com o problema da dispersão da ocupação militar, escreve ao ministro: “Nos postos onde o gentio está perfeitamente submisso, como acontece no Forreá, os soldados exerciam toda a qualidade de violências sobre o gentio, impondo multas, roubando mulheres, etc. Nos postos, como Safim, onde o gentio ainda não está tão submisso, exerciam represálias sobre os soldados, roubando-lhes armas e correame. Com este sistema de ocupações, conseguíamos ter perto de 70 cabos e soldados disseminados pelo interior da província com grande prejuízo para a disciplina militar, o que era péssimo, e uma fonte de conflitos com o gentio que graves dissabores nos podiam acarretar, o que ainda era pior.”

E havia questões em Geba que requeriam a atenção do novo governador. O influente Mamadi Paté morreu no final do ano, o comandante de Geba imaginou que os seus sucessores se apresentavam como régulos independentes, o que não era verdade, o governador substituiu o comandante e viaja até Geba, é cumprimentado por todos os régulos, aconselha os sucessores de Mamadi Paté a serem obedientes ao Governo, vai até ao Xime onde é eleito o novo régulo. E volta-se para a questão do Oio. Houvera uma desastrada incursão em 1897, a gente do Oio continuava a obrigar os negociantes que ali iam a pagar-lhes um imposto, agiam à revelia da soberania portuguesa. Biker envia o chefe dos Grumetes de Bissau ao Oio para ver se conseguia que eles viessem pedir perdão ao Governo, não é acatado. Mudando de direção, Biker faz uma expedição ao Jufunco, faz-se muito fogo, o povo local rende-se. Biker vem até Lisboa e aqui passa uma boa temporada, no regresso à Guiné dá prioridade à questão do Oio, o povo local recusava pagar multa, foi decidido organizar uma coluna para os castigar. Armando Tavares da Silva descreve minuciosamente o ataque ao Oio, tomam-se tabancas, incendeia-se tabancas. A fidelidade à soberania portuguesa parecia restaurada, começam a ser cobrados impostos, chega mais dinheiro aos cofres.

A expedição que se segue tem a ver com o Arame, povoação de Cacheu, o objetivo é castigar revoltosos, tudo vai correr bem à expedição decretada por Biker. Em abril de 1903, é nomeado novo governador, Alfredo Cardoso de Soveral Martins, ele chega a um território que ainda não tem a pacificação completa e onde se tornou um imperativo encontrar novas soluções de organização militar. Falaremos a seguir deste período de 1903-1905.

Armando Tavares da Silva
Quando se consulta o Boletim Official, vale a pena ter em atenção as disposições gerais sobre a política colonial, achei bastante interessante o que menciona em 9 de novembro de 1903, do régio paço: “Tendo chegado ao conhecimento de Sua Majestade El-Rei, que nas províncias ultramarinas está sendo frequente os funcionários públicos envolverem-se e interessarem-se em especulações comerciais, a despeito das disposições legais não derrogadas, que expressamente lho proíbem, manda o mesmo Augusto Senhor, pela Secretaria d’Estado dos negócios da Marinha e Ultramar, suscitar a fiel e exata observância do disposto na régia portaria de 8 de janeiro de 1863.”
Na transição do século, o Boletim Official formalizou-se, predomina a rotina administrativa, é raro abrir espaço para que o leitor entenda a evolução sociopolítica e militar na Guiné. Excecionalmente, temos direito a saber que as autoridades de Bolama reagem a sublevações ou práticas de insubmissão. Num daqueles relatórios habituais que mensalmente Cacheu publicava faz-se menção a uma ocorrência extraordinária, a chamada guerra do Churo, e escreve-se: “Em três saíram com destino ao porto de Churo Uenque as lanchas canhoneiras Cacheu e Farim, rebocando as lanchas que conduziam os auxiliares, para a guerra do Churo, e a canhoneira Cacongo conduzindo as forças de marinha, de infantaria e artilharia que faziam parte da coluna de operações destinada a castigar o gentio rebelde do Churo. Na mesma canhoneira seguiu Sua Excelência o Governadora.” Terá havido êxito, a guerra continuou até se queimarem várias povoações, caso de Cacanda. A 11, o Governador voltou para Bolama.
Jogo do Uri, imagem recolhida em Casa Comum/Fundação Mário Soares

(continua)
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Notas do editor

Post anterior de 15 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26158: Notas de leitura (1744): O Arquivo Histórico Ultramarino em contraponto ao Boletim Official, até ao virar do século (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 22 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

 


Capa do mais recente livro do nosso camarada Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 2024, il., 160 pp., preço de capa: c. 18 euros)

Dedicatória ao nosso editor Luís Graça e esposa Maria Alice Carneiro: 

"Ao meu querido grande amigo Luís Graça e sua esposa, com muita estima e consideração e os melhores votos. Vila Franca do Campo, 27 de outubro 2024. Arsénio Chaves Puim".


Sinopse > A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores


«Com o livro '
A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', o investigador / escritor Arsénio Puim vem tirar a sua ilha do obscurantismo nesta saga, dando-lhe (também) a relevância merecida, assim como dar precioso contributo para a história mais alargada e profunda da Baleação nos Açores, agora mais enriquecida com a presente obra.

"O livro 'A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', para além de compulsar o enquadramento histórico da saga, nesta ilha, desde a influência à implantação local; a destrinça das duas épocas da baleação ocorridas; registos de vivências bem-sucedidas ou fatídicas e o relevante impacto socio-económico da atividade, incorpora também um importante 'Glossário Baleeiro', de base fortemente oral e com formas aportuguesadas de empréstimos do Inglês (influência americana)".


José de Andrade Melo (autor do prefácio, op cit, 
pp. 17-20).

Sobre o autor: Arsénio Chaves Puim

(i) Nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, no lugar da Calheta,, freguesia de Santo Espírito, onde se situa o porto baleeiro do Castelo;

(ii) Fez os estudos primários na sua freguesia natal e completou, no Seminário de Angra do Heroísmo, o Curso de Teologia, tendo exercido o ministério sacerdotal até 1976;

(ii) No mesmo ano, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada e exerceu esta profissão até 1995;

(iv) Em Santa Maria, foi também professor de Português e História no Externato, exerceu os cargos de Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, e foi co-fundador do Museu Etnográfico de Santa Maria e do jornal “O Baluarte de Santa Maria”, do qual foi o primeiro diretor;

(v) Vive desde 1982 em Vila Franca do Campo, onde desenvolveu uma ampla participação cívica, designadamente como membro de diversos órgãos autárquicos, Mesário da Santa Casa e, ainda, como redactor principal do jornal “A Crença”;

(vi) Arsénio Puim publicou, desde 2001, quatro livros no domínio da história e etnografia açorianas, particularmente da ilha de Santa Maria;

(vii) Em 2009, foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal, atribuída pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo.

Fonte: Letras Lavadas Ediçóes, Ponta Delgada

... (vii) "last but not the least", foi nosso camarada no TO da Guiné, como alf mil graduado capelão, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72); é membro da nossa Tabanca Grande, autor da série "Memórias de um alferes capelão"; tem 76 referências no nosso blogue.

1. Quando um autor escreve isto:

(...) "Nasci, criei-me e vivi num meio baleeiro. Assisti às arriadas e às varadas dos botes, vi muitas baleias e o seu processamemnto, quer de cardume quer bules (...) grados (um deles tinha o excecional comprimento de 21,80 metros), comi pão frito no azeite a ferver dos caldeiros, fui alumiado, em criança, pela luz do óleo de baleia, convivi dia a dia com baleeiros e aprendi a linguagem e cultura baleeiras desde os primeiros anos de vida" (...)

... Um leitor como eu fica logo rendido (e comovido), lendo o resto do livro de um fôlego (160 pp., ilustradas com 29 figuras, 6 mapas e 6 quadros, incluindo mais de 60 referências bibliográficas, 180 notas de rodapé, e mais de 4 dezenas de termos do "glossário baleeiro açoriano".

De repente, descobres que estamos a falar de um experiência humana do passado, única, irrepetível, fortemenete ligada à identidade e à sobrevivência de um punhado de homens e suas famílias, numa ilha (e num arquipélago) perdida no Atlàntico.... 

Felizmente que hoje já não se caçam cachalotes e outras espécies de baleias em águas territoriais portuguesas,  mas tu não podes ficar indiferente à saga baleeira nem à gesta dos nossos pescadores do bacalhau, e dos demais homens ( e mulheres) do mar. De resto, tens uma costela de toda essa brava gente que de há séculos afronta mas respeita o mar e todos os seres que nele habitam.

Arsénio, não é apenas por cortesia e por camaradagem que estou a fazer esta e outras notas de leitura do teu livro.  Obrigados, eu e a Alice,  pelo teu livro com dedicatória. Foi uma bela prenda de Natal. Vamos falando.

(Continua)

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Guiné 61/74 - P26179: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (107): alguém conheceu Álvaro de Barros Geraldo, o fotógrafo oficial do gen Spínola, no período da guerra colonial, na Guiné-Bissau ?(Catarina Laranjeiro, investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA/FCSH)



Gen Spínola, governador e comandante-chefe no CTIG, s/d. Foto editada e reproduzida com a devida vénia do livro de Luís Nuno Rodrigues,. "Spínola: Biografia" (Lisboa, A Esfera dos Livras, 2010, 748 pp.). Pertence ao Arquivo António Spínola, desconhece-s o autor. Poderá ter sido o fotógrafo oficial do general, no TO da Guiné,  Álvaro de Barros Geraldo ?


1. Através do Formulário de Contacto do Blogger (e depois por mail), chegou-nos o seguinte pedido:

Data - Quarta, 20/11/2024, 12:48


Boa Tarde a todos,

Espero que se encontrem bem.

O meu nome é Catarina Laranjeiro e sou investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA/FCSH.

Estou juntamente com uma colega, a Inês Vieira Gomes (em cc neste email), a realizar uma investigação sobre a obra do fotógrafo Álvaro de Barros Geraldo, que foi o fotógrafo oficial do General Spínola na Guiné-Bissau, no período da Guerra Colonial.

Alguem se lembra deste fotografo na Guiné? Tem alguma pista sobre a família de Álvaro de Barros Geraldo?

Um abraço
Catarina
Cumprimentos,
Catarina de Castro Laranjeiro | claranjeiro@fcsh.unl.pt

2. Comentário do editor LG:

Catarina: Como sempre, procuramos que o nosso blogue seja também útil à comunidade académica.  Sobre o seu pedido, que agradeço,  vamos torná-lo público. É possível que, em cinco anos de presença do gen Spínola no TO da Guiné, como governador e comandante-chefe, haja alguém de nós que tenha conhecido esse fotógrafo (em Bissau, não no mato),

Eu desconhecia completamente o seu nome e a sua função. O próprio biógrafo de Spínola (Luís Nuno Rodrigues,. "Spínola: Biografia", Lisboa, A Esfera dos Livroas, 2010, 748 pp.), não faz qualquer referência a esse fotógrafo. E as fotos que publica, infelizmente poucas,  sobre o general na Guiné, são citadas como pertencentes ao "Arquivo António Spínola".

O Geraldo seria militar ? Talvez um "fotocine"... Ou seria um "civil" ?...Sei que o seu arquivo está em depósito na Torre do Tombo, doado em 1974.  Pode ser, entretanto, que algum dos nossos leitores tenha mais alguma pista. Boa saúde, bom trabalho.

PS - A Catarina Laranjeiro, investigadora e realizadora de cinema, tem  7 referèncias no nosso blogue.

Guiné 61/74 - P26178: Humor de caserna (82): "Anestesiado... com uísque" (António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68)


António Reis

António Reis, ex-1º cabo aux enf, HM 241, Bissau, 1966/68; natural de Avintes, V. N. Gaia, é membro da nossa Tabanca Grande, nº 882; é autor de dois livros de memórias da Guiné; tem página no Facebook.


1. Gosto de ler ou reler histórias dos nossos camaradas que pertenceram aos serviços de saúde miilitar, dos médicos aos enfermeiros, sem esquecer as nossas enfermeiras paraquedistas, as únicas mulheres que foram, em boa verdade, nossas camaradas de armas.

Mas esta "cena" que selecionei (*),  passa-se no HM 241, o hospital militar de Bissau,  onde o nosso já conhecido António Reis fez a sua comissão de serviço e conheceu a guerra, ou melhor, as vítimas da guerra. 



Vem contada, de maneira singela e despretensiosa (mas com a sua habitual pontinha de bom humor e empatia, ingredientes afinal fundamentais para quem cuida dos outros e salva vidas, seja na guerra ou na paz), no seu livrinho de memórias do HM 241, "A minha jornada em África".  Coim a devida vénia... e apreço.



Humor de caserna (82) > Anestesiado com... uísque 

por António Reis


Não ter cão e caçar com gato era o que acontecia em situações adversas. As dificuldades eram muitas das vezes tremendas.

Um dia, chegou um, como normalmente, de helicóptero. Aparentemente os ferimentos não eram graves, mas o nosso homem vinha num estado que os ferimentos não justificavam: não dava acordo de si.

Era uma moço ainda com a cor da metrópole, devia pertencer a alguma companhia ainda recém-chegada, de "periquitos" (como lhe chamávamos). Daqueles a quem o sr. Amíklcar Cabral gostava logo de lhes fazer o batismo de fogo, pois companhias havia que ainda não tinham oito dias de Guiné e já tinham baixas, feridos e mortos.

Foi então que se reparou num papelucho que vinha por baixo dos pés, e onde lia: "Anestesiado com uísque"...

Era assim; quem náo tinha cão, caça com gato.

Fonte: António Reis, "Quem não tinha cão caçava com gato". In: A minha jornada de África, 1ª ed., s/l, Palavras e Rimas, Lda, 2015, pág. 71

(Revisão/ fixação de texto, título: LG)

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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 12 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26143: Humor de caserna (81): "Há ouro em Bafatá ?!"... A imaginação febril dos serôdios "garimpeiros" coloniais... (Excerto do "Diário Popular", de 20 de outubro de 1951, suplemento especial dedicado às províncias ultramarinas que, em revisão constitucional, tinham acabado de deixar de ser colónias)