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sábado, 22 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26519: Os nossos seres, saberes e lazeres (670): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (193): From Southeast to the North of England; and back to London (12) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
A Galeria Courtauld tem cerca de 33 mil objetos de arte, mas tudo quanto se exibe neste discreto edifício está exposto com um belo aparato museográfico e museológico, desde o período medieval, o renascimento e o barroco, e daqui para as correntes do romantismo, chega-se ao ponto alto da coleção, impressionistas e os pós-impressionistas, e grandes artistas com alvo de pequenas mas bem expressivas exposições como aquela que é dedicada a desenhos de Henry Moore à volta da Segunda Guerra Mundial e a fotografia do aclamado Roger Mayne, um aclamado artista que tem aqui uma exposição sobre os jovens nas décadas de 1950 e 1960, isto para já não falar de uma mostra de recentes aquisições de desenhos e gravuras que vão desde o século XVII à atualidade. Deixa-se no texto referências de consulta para quem queira conhecer melhor no computador os extraordinários tesouros da Galeria Courtauld.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (193):
From Southeast to the North of England; and back to London – 12

Mário Beja Santos

Tudo começou com um grande colecionador que se revelou um entusiasta pelos movimentos impressionista e pós-impressionista. O seu legado é a constituição de um instituto de arte a que se associaram outros amantes das artes plásticas. Hoje em dia, a coleção da galeria Courtauld abrange cerca de 33 mil objetos que vão do período medieval até ao presente século, pinturas, desenhos, cerâmica e escultura de todos os géneros e é possível fazer a exploração deste tesouro grátis através de uma plataforma digital com imagens de alta-definição. Sugerimos a quem quer saber mais o site: http://gallerycollections.courtauld.ac.uk ou ver a bela apresentação que o ator Bill Nighy faz da coleção em: https://www.youtube.com/watch?v=_MFrNueRZqU.
A galeria tem muitas exposições, apresentação de aquisições recentes, conferências, tive a sorte de visitar a exposição do genial escultor Henry Moore com os seus desenhos que elaborou durante a Segunda Guerra Mundial. Por ordem cronológica vamos subindo no tempo, pela galeria medieval no 1.º andar, o renascimento e o barroco no 2.º, o impressionismo e os modernos no 3.º. Como gostos não se discutem, procurei ir diretamente para um conjunto de obras-primas de referência.

O aparatoso pátio de Somerset House
Estudo para ‘Le Déjeuner sur l’herbe’, Édouard Manet, cerca de 1863.
Trata-se de um trabalho preparatório para um dos quadros mais famosos do século XIX, provocou escândalo na época pintar duas mulheres nuas e dois homens vestidos. Manet rejeitou soluções do tipo renascentista e deu maior atenção aos pormenores ambientais, como as árvores
Bailarina olhando a planta do seu pé direito, bronze de Edgar Degas, 1919-20.
Nas suas esculturas de bronze Degas aspirava captar o corpo em movimento ou em difíceis posições baléticas
Mulher com chapéu de sol, Edgar Degas, cerca de 1870
Montanha de Santa Vitória com pinheiro alto, Paul Cézanne, cerca de 1887.
A Montanha de Santa Vitória domina toda esta região de Aix-en-Provence, Cézanne vivia aqui e pintou numerosas vezes paisagens da montanha do povo da região, em diferentes perspetivas. A sua ousadia passa pelas cores, a importância dada à árvore em primeiro plano, a extensão dos campos e o cuidado na conjugação das cores entre o azul, o verde e os cinzentos acastanhados.
Os jogadores de cartas, por Paul Cézanne, cerca de 1892-96.
Cézanne passou muitos anos a desenhar e a pintar trabalhadores rurais quando viveu em Aix-en-Provence. Esta obra é uma das cinco pinturas que ele elaborou com homens a jogar às cartas. Supõe-se que o pintor da esquerda é um autorretrato. Ele esboçou figuras alongadas, desproporcionadas, tudo com uma pincelada muito viva e variada. Os dois homens estão absorvidos e concentrados no seu jogo. Ao contrário da pintura anterior em que os trabalhadores apareciam nas tabernas a jogar às cartas entre vinho e cerveja, Cézanne revela aqui uma visão diferente, são figuras monumentais e dignificadas, como duas estátuas que sofreram o desgaste do tempo.
Georges Seurat, Estudo para um quadro de dançarinos a dançar o Cancan, cerca de 1889.
O Cancan era muito popular nos nightclubs parisienses no final do século XIX. Seurat foi um dos consagrados pintores pontilhistas, conseguindo obter uma composição cheia de divertimento e alegria.
Georges Seurat, Praia de Gravelines, 1890
O que aprecio profundamente nesta obra é o velado anúncio da arte abstrata, o mestre usou contidamente poucas cores, separa a água e o céu com o traço ténue, e regista na perfeição uma atmosfera de nevoeiro, típica do Norte de França. Olhamos para estes grãos de areia e fica-nos na imaginação que o pintor tudo elaborou junto a uma janela.
Paul Gaugin, Nevermore, 1897
Gauguin pintou este quadro quando viveu no Taiti, uma ilha no Sul do Pacífico colonizada pela França. A imagem do nu reclinado tem uma longa tradição artística, o que há aqui de singular é o exotismo, a jovem não está propriamente em repouso, está ansiosa e atenta a duas figuras atrás dela. Sabe-se que o modelo era a companheira de Gauguin, Pahura, uma jovem de 15 anos.
Henri de Toulouse-Lautrec, Jane Avril a entrar no Moulin Rouge, cerca de 1892.
Jane Avril era uma dançarina estrela num dos mais célebres cabarés parisienses, o Moulin Rouge. Toulouse-Lautrec desenhou-a em conhecidos pósteres, aqui dá-se a particularidade de ela não aparecer em espetáculo ou no camarim mas à entrada do local de trabalho, bem indumentada. Não era usual Toulouse-Lautrec pintar quadros tão estreitos como este.
Édouard Manet, Um bar nos Folies-Bergère, 1882.
Os Folies-Bergère era um outro muito popular local de diversão noturna parisiense. Podemos ver a enorme variedade de bebidas e o que há de verdadeiramente espantoso nesta obra-prima é vermos a animação ao fundo, é um reflexo de um enorme espelho que projeta o interior. A barmaid chamava-se Suzon, é o centro da atenção de Manet, as suas costas estão refletidas no quadro, tem uma expressão enigmática. Trata-se de um trabalho complexo pela composição absorvente e os críticos consideram-nos uma das pinturas icónicas onde se projeta a vida moderna.

Está na hora de preparar o regresso, em vez de ir pelo Strand propriamente, caminha-se à beira do Tamisa em direção ao Parlamento. Foram essas imagens que reservamos para a despedida de uma viagem que começou no condado de Oxford, seguir para o norte, e veio por aí abaixo até Londres e manda que se diga a verdade, dentro de horas regressa-se a Lisboa com uma grande carga de nostalgia, ficava-se aqui sem qualquer problema não sei quantos mais dias.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 15 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26498: Os nossos seres, saberes e lazeres (669): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (192): From Southeast to the North of England; and back to London (11) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26518: In Memoriam (533): Cap Cav Ref Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025), ex-Alf Mil Cav da CCAV 1748 (1967/69): A Tabanca de Matosinhos fica doravante mais pobre (José Teixeira)


Alberto Bernardo Leite Rodrigues (1945-2025)

Faleceu o Alberto, a Tabanca de Matosinhos está mais pobre

por José Teixeira

Faleceu o Alberto Bernardo Leite Rodrigues (15/09/1945 – 21/02/2025). Era capitão de cavalaria reformado. Cumpriu a sua missão na Guiné 1967/68 como Alferes de Cavalaria, 

Apanhou-nos de surpresa, e partiu para o Eterno Aquartelamento, o combatente mais carismático e mais querido que passou pela Tabanca de Matosinhos. Recordamos:

  • as palavras cheias de afeto, quentes e calorosas com que acolhia todos e cada um dos camaradas, enchiam os nossos corações;
  • a sua presença semanal (té no tempo da Pandemia, com o amigo inseparável Rodrigo Teixeira, esteve presente na Tabanca de Matosinhos) com alegria, bo a disposição e sobretudo com uma palavra de alento);
  • a sua paixão por causas justas, e a sua visão uma guerra que nunca devia ter existido, que arrastou para a morte milhares de jovens, e deixou muitos mais estropiados (ele próprio) e doentes, para além de outros efeitos colaterais negativos que tanto marcaram o povo português e guineense; 
  • visão que ele tão eloquentemente punha em comum, e que todos nós gostávamos de ouvir;
  • a forma alegre como encarava a vida, e nos transmitia o calor dessa vivência: à  volta dele não havia tristeza.

Recordamos as suas conversas (pequenos discursos) com que nos brindava a pretexto de um aniversário, de um acolhimento a um novo conviva, de uma festa; a sua graça a receber as nossas esposas sempre com aquele sorriso cativante que o caraterizava.

Ainda na passada quarta-feira, o ouvimos muito muita atenção.

Foi este querido amigo, companheiro e camarada de todas as horas, que partiu, em silêncio, repentinamente, e nos deixa imensa saudade.

Recordamos o seu sofrimento, quando, ao fim de três meses de Guiné, foi vítima de uma basucada inimiga que o feriu gravemente na cara e na boca, deixando-lhe a língua em pedaços. Terminou assim a sua comissão.

Recordamos a sua intervenção no pós-25  de Novembro, (quinze dias depois) no recito exterior da Cadeia de Custóias (já como caitão da GNR). onde estavam os militares que foram presos naquele acontecimento, em que ele vestido à civil, porque estava de folga, quando soube que os seus homens da GNR tinham ido para Custóias reforçar a segurança, seguiu para lá a tempo de evitar um banho sangue.

Quando viu os soldados da GNR abrirem fogo sobre a multidão, saltou para o seu meio e mandou cessar o fogo, impedindo assim que houvesse mais mortos. Creio que houve quatro mortos nesse acontecimento. Como “prémio” pela sua ousadia foi deslocado compulsivamente para o Quartel da GNR em Lisboa, por cerca de um ano.

Querido amigo Leite Rodrigues onde estiveres, descansa em paz, que nós embreve, vamos ter contigo.

À família enlutada, sobretudo ao seu querido filho, os mais profundos sentimentos de pesar desta sua segunda família – Os combatentes da Guiné agrupados na Tabanca de Matosinhos.

Até sempre, camarada!

José Teixeira

Nota: Quando houver mais dados sobre o triste acontecimento informaremos.



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2. Nota dos editores LG/CV:

Apurámos que o nosso infortunado camarada foi alf mil cav, CCAV 1748 (que passou por Bissau, Bula, Contuboel e Farim, entre jul 67 e jun 69). Tem cruz de guerra de 4.ª classe, atribuída em 1972.  Não temos nenhum representante desta subunidade na nossa Tabanca Grande.  

Era uma figura conhecida no meio equestre, foi atleta olímpico, e é recordado tanto como cavaleiro como mestre na arte da equitação.  Era natural de Aveiro. 

Curvamo-nos à sua memória, apresentamos à família e amigos mais próximos bem como  aos nossos tabanqueiros de Matosinhos a nossa solidariedade na dor por esta perda de um camarada que nos era querido e que conhecemos em vida; a sua jovialidade, simpatia, carisma, amor à sua arte e carinho pelos seus camaradas, antigos combatentes, tocou-nos a todos (**).
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Guiné 61/74 - P26517: As nossas geografias emocionais (46): Quem se lembra do Café Portugal, junto ao Hotel com o mesmo nome, na Praça Honório Barreto (hoje Che Guevara) ?


Guiné-Bissau > Bissau > 1993 > Postal ilustrado: (i) em cima, várias paisagens do país; (ii) em baixo:  o edifício onde era o antigo Café Portugal (à direita), junto ao Hotel Portugal, na antiga Praça Honório Barreto (rebatizada Pr Che Guevara, a partir de 1975)... A escultura do Honório Barreto já há muito tinmha sido derrubada... É uma das raras imagens que temos deste estabelecimento... (Ninguém se lembrava de tirar fotos às fachadas dos "tascos" lá do sítio...).

Este postal foi trazido pelo ex-fur mil António J. P. Magalhães, infelizmente já falecido: pertencia ao 1º Gr Comb CART 1525, Os Falcões (Bissorã, 1966/67) (grupo de combate comandado pelo ex-alf mil Rui César S. Chouriço) e terá sido dos nossos primeiros camaradas a fazer uma "viagem de saudade" à Guiné-Bissau, depois do fim da guerra, em 1993.

Foto (e legenda): ©  António J. P. Magalhães (1993). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné-Bissau > Bissau > Praça Che Guevara > 2008 > Antiga Praça Honório Barreto. Foto do domínio público, cortesia de Wikipedia.

Guiné > Bissau > s/d [. c 1969/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Coleção "Guiné Portuguesa") (Detalhe). Coleção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010)

Agora a Praça chama-se Che Guevara... e o antigo Hotel Portugal era, em 2008,  o Hotel  Kalliste (que também funcionava como casino)...


1. Antes que desapareçam, definitivamente das nossas memórias (*) (e dos nossos álbuns fotográficos), vamos lembrar aqui algumas referências ao Café Portugal, que fazia parte do roteiro dos nossos "comes & bebes" em Bissau, a par de outros já falados: Café Bento ou 5ª Rep, Café e Pastelaria Império, Café Ronda, Cervejaria Solmar, Solar dos 10, Zé da Amura, Grande Hotel,  Pelicano, Nazareno,  Chez Toi, etc.

O Café Portugal não existe mais, tal como o Café Bento,  a Solmar, o Pelicano, etc. Eram tudo lugares da "Bissau Velho", colonial, que prosperaram com a guerra e durante a guerra... Depois da independência, os seus donos arrumarama as malas, e deixaram lá as paredes...

Bissau Velho, símbolo do colonialismo, foi votada ao desprezo e abandono... Os bissauenses, os velhos e os novos, também não tinham "patacão" para gastar nas esplanadas...Deixou de haver esplanadas... E  à noite, não havia iluminação pública... 

Enfim, era preciso construir um "país novo", um "homem novo", uma "pátria nova"... Agira com a ajuda dos suecos, dos russos, dos cubanos... Os "tugas" só passaram a fazer "turismo de saudade" a partir do final do século XX... Bissau Velho tinha poucos ou nenhuns atrativos para estes "saudosistas"... Preferiam calcorrear o mato, à redescoberta de lugares de que tinham boas e más memórias...(Sabe.se que no final da guerra as NT tinham uma de rede de cerca de 220 guarnições e destacamentos, fora as tabancas em autodefesa e onde com maior ou menor regularidade também havia reforço da tropa...)

Alguns dos nossos camaradas deixaram, no blogue,  referência breves, pontuais,  ao Café Portugal, dos anos 60 e princípios de 70. Eis um apanhado:


(i) Nuno Mira Vaz, hoje cor pqdt ref, antigo comandante do CCP 121 / BCP 12  (Brá, 1966/68):

(...) Recordo o Quartel de Santa Luzia com a piscina de águas tão espessamente esverdeadas que nada se via a dez centímetros de profundidade, o UDIB onde passavam filmes de cowboys, a Associação Comercial com os torneios de bridge e o naipe de restaurantes e cervejarias: o Café Portugal, o Zé da Amura, o Solar do Dez e o Grande Hotel. (...) (**)

(ii) Veríssimo Ferreira (1942-2022) (ex-fur mil, CCAÇ 1422 / BCAÇ 1858, Farim, Mansabá, K3, 1965/67) 

(...) As noites eram famosas e já apareciam simulacros de boites. Em momentos vagos, visitei a Sé, o Liceu,  o palácio do Governador (Arnaldo Schutlz, então), o Pilão, a  fábrica da gasosas, o Café Portugal, o Pintosinho, a Ultramarina, a casa Gouveia, o  BNU, a  rádio,  as tascas que serviam ostras ao natural, as..., enfim!!! (..) (***)

(iii) Álvaro Mendonça de Sousa, ex-fur mil, Manutenção Militar, 1966/68, e que mora em Ermesinde:

(...) E as escapadelas ao Bairro do Cupelon [ou Pilão], e as noitadas da cerveja e das ostras no Café Portugal? E as codornizes fritas do Zé da Amura? Que será feito do célebre Hotel Berta, onde se comiam os melhores gelados do Mundo? Mas o que mais me emocionou foi ver, através das fotos, o estado de ruína desta cidade de terra vermelha. 

Ao lembrar-me de tudo isto e ao escrever estas linhas não consegui travar algumas lágrimas. Sobretudo, porque à distância de quarenta anos no tempo, não mais consegui reunir todos os camaradas desse tempo, todos esses amigos que, como muito bem sabe, eram a nossa família de afinidade durante 24 os 25 meses de comissão. (...). (****)

(iv) Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens, STM/QG/CTIG, 1968/70)

(... ) Tínhamos, na Praça Honório Barreto: o Internacional, o Portugal e o Chave de Ouro, tudo cafés/cervejarias mas também onde se comiam umas febras ou uns bifes, quando havia. (...) 

(v) David Guimarães (ex-fur mil at inf, MA, CART 2716 / BART 2917, Xitole, 1970/1972):

(...) Daqui a pouco, ilha do Sal e logo depois Bissalanca... e lá estávamos nós outra vez na Guiné... Caminho para a pensão Chantra - ou Chantre, já não me lembro… Bom, não interessa, era uma residencial onde se dormia. Que não era má e sobretudo não era cara, aliás nada era caro naquela terra ... para quem tinha dinheiro. E isso havia. Uma coisa: os graduados tinham, os outros nem tanto, parecia injusto, mas enfim...

Café Portugal ... que lindo, comprámos uma navalha cada um, três estalos (é que as havia de cinco). Aquela era de três. Mais um ronco... Aproveitei e comprei um relógio Seiko: que maravilha, trabalhava bem, o outro que eu tinha já havia apanhado água do rio Poulom (...).

À noite, uma volta... Sim,  lá para o escuro, para lados de Pilão... Porra, a certa altura uma mulher a gritar por não sei quem... Poça, vamos lá, era o único lugar com luz... De trás da árvore surge uma voz:

- O
h furriel, furriel!?

Furriel ?... Mas nós estávamos à civil !... Bem, lá atendemos às solicitações da mulher, nem sei o que ela queria, e afastámo-nos rapidamente para os lados da luz, os canivetes de 3 estalos abertos no bolso… Correu tudo bem, lá chegámos à residencial... Bem, aconteceu nada, mas como é que nós éramos furriéis, vestidos à civil? Fiquei a matutar nessa:

- Mistério… (...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos e itálicos: LG)

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Notas do editor LG:




(***) Vd. poste de 3 de março de 2013 > Guiné 63/74 - P11188: Os melhores 40 meses da minha vida (Veríssimo Ferreira) (27): 28.º episódio: Memórias avulsas (9): Do inferno para o céu

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26516: Notas de leitura (1774): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: A sua colaboração num livro de arromba, Orlando Ribeiro em 1947, na Guiné (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Momentos há em que tiro da estante este livro que tem para mim um incalculável valor só para consultar a transcrição da agenda de Orlando Ribeiro. Mas tenho que fazer jus à importância do trabalho desenvolvido por Philip Havik e Suzanne Daveau, tem logo à partida o inegável mérito de nos lembrar que há um conjunto importante de informações relevantes sobre sociedades e paisagens africanas que se conserva inédito em arquivos portugueses. Mérito pela forma como contextualizaram a organização desta missão, como explicam a estrutura do conteúdo do caderno (onde Orlando Ribeiro guardou o seu trabalho de campo) e para além da publicação numa revista, anos depois, a obra tem igualmente muita importância pelos anexos e o acervo fotográfico. Estou absolutamente seguro quando digo que se trata de um livro de arromba, indispensável a quem queira conhecer e estudar este momento tão exaltante do período colonial, correspondente à governação de Sarmento Rodrigues.

Um abraço do
Mário



Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné:
A sua colaboração num livro de arromba, Orlando Ribeiro em 1947, na Guiné (2)


Mário Beja Santos

Desta obra já aqui falei no blogue e fiz um outro texto que publiquei num livro online. Philip Havik, conjuntamente com a viúva do professor Orlando Ribeiro, trouxeram a público um documento portentoso, demonstrativo do poder de olhar do mais conhecido e célebre geógrafo português que contribuiu para o conhecimento da Geografia no Ultramar, nos anos 1940. Havik e a viúva de Orlando Ribeiro, Suzanne Daveau, organizaram o documento, com as notas e os desenhos do caderno de campo que aparece reproduzido no livro, bem como as fotografias que o geógrafo tirou durante as suas estadias na Guiné, em 1947.

Os organizadores desvelam a essência do modo de trabalhar, observar e escrever do consagrado geógrafo:

“Os temas preferidos da investigação foram o povoamento, a economia e os modos de vida rurais, aos quais muitas notas geomorfológicas e climáticas são subordinadas. A importância que sempre deu âs relações com disciplinas próximas, como a agronomia, a etnologia ou a história, perpassa nestas notas.”

E explicam os organizadores como tudo começou:

“A Missão de Geografia na Guiné insere-se nas atividades promovidas pela Junta das Missões Geográficas e de Investigações Coloniais, fundada em 1936, e que a partir de 1951 se passará a chamar Junta de Investigações do Ultramar. Orlando Ribeiro acabava então de solicitar uma missão de estudos a Cabo Verde, mas decidiu aproveitar a oportunidade de ir conhecer e estudar a Guiné. Com efeito, a segunda Conferência Internacional dos Africanistas Ocidentais, a decorrer em Bissau, encontrava-se em preparação. Decidiu-se juntar este conhecido cientista que iria dirigir uma Missão de Geografia. O reconhecimento geral da colónia seria feito em conjunto por Carrington da Costa, o seu ajudante Décio Thadeu e Orlando Ribeiro, para se aproveitar o melhor possível os recursos disponíveis. O essencial do que se sabe, hoje ainda, da geologia da Guiné resulta principalmente daquelas missões.”

Havia, é certo, já trabalhos científicos preliminares, caso da Carta da Colónia da Guiné, em 1933, atuava a Missão Geo-Hidrográfica, havia estudos etnográficos que eram animados pelo então tenente Teixeira da Mota. Os autores recordam que o governador da Guiné era o comandante Sarmento Rodrigues, Avelino Teixeira da Mota dava impulso a uma plêiade de colaboradores locais. 

Fora criado em Bissau um Centro de Estudos (1945) e um Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, Teixeira da Mota dirigiu um Inquérito Etnográfico, uma obra de referência. A ajuda de Teixeira da Mota e de funcionários coloniais revelou-se muito importante para a missão de Orlando Ribeiro. Decorria na época uma investigação sobre a habitação indígena, que serviu também de oportuno pano de fundo da missão. Mais tarde, um jovem sociólogo formado pela Escola Superior Colonial, Francisco Tenreiro, iria publicar um estudo sobre as “Populações Nativas da Guiné”, que contou com o inquérito etnográfico de 1946 e com o material recolhido por Orlando Ribeiro durante a sua missão.

Orlando Ribeiro não percorreu toda a Guiné, embora tenha viajado centenas de quilómetros pela rede de estradas de terra batida não conseguiu visitar a parte Sul da província, mas o geógrafo chegou até às solitárias colinas do Boé. Como escrevem os organizadores, as observações e experienciais pessoais feitas no terreno tornaram-se, atualmente, parte integrante das teses de doutoramento em Antropologia, a sua publicação, noutras disciplinas como a Geografa, não era regra, nem o é ainda hoje. Observam os coordenadores:

“É importante ponderar em que medida o caderno agora publicado reflete as observações realizadas pelo autor durante esta curta missão. A preparação da sua edição deparou com várias dificuldades. O autor teve raramente o cuidado de datar exatamente os seus apontamentos e de registar imediatamente as numerosas fotografias que foi recolhendo. Tornou-se, portanto, necessário reconstituir o melhor possível o desenrolar da investigação, com a ajuda de uma pequena agenda de bolso, de um caderninho de fazer as contas, também irregularmente preenchido. (…) O caderno contém essencialmente – além de alguns cortes topográficos e geológicos, cuidadosamente levantados – plantas pormenorizadas de casas rurais e inquéritos realizados junto de camponeses ou colonos, sobre as suas atividades, recursos e modos de vida.”

Nestas notas introdutórias, os coordenadores também têm o cuidado de mencionar o conjunto de monografias que se publicaram na época e posteriormente e dão um amplo esclarecimento sobre o significado da missão na Guiné de Orlando Ribeiro. Dá-se igualmente conta da organização do caderno, explana-se sobre as características geomorfológicos e pedológicas da Guiné, as fases da missão e como se plasmam as duas partes do caderno.

Segue-se a transcrição do caderno que, confesso, põe à prova o grau apurado deste intelectual, senão mesmo a prova provada de um raríssimo poder de análise, ainda por cima de um geógrafo que pisava pela primeira vez aquele terreno. Segue-se a reprodução do artigo que Orlando Ribeiro publicou em 1950 sobre esta missão de geografia na publicação Anais, da Junta de Investigações Coloniais do Ministério das Colónias. Há parágrafos que são bem elucidativos da têmpera deste geógrafo e do seu humanismo:

“Procurei entrar em contacto com as populações e informar-me dos seus modos de vida e economia. A época era má, visto que as culturas se fazem quase só durante o tempo das chuvas. Vi ainda lavrar algumas bolanhas e recolhi uma coleção de instrumentos gentílicos usados no amanho de terra (…) Qualquer trabalho de geografia carece de base cartográfica. A colónia possui apenas um mapa de reconhecimento na escala de 1:500 000, cheio de imperfeições, lacunas e erros. As necessidades da colónia e da investigação científica tornam urgente a publicação de um mapa mais exato, com o relevo figurado e em maior escala.”

Descreve os objetivos do trabalho, faz uma súmula de resultados científicos, o seu capítulo sobre a colonização é de inegável interesse, merece reflexão o que este investigar escreveu em meados do século XX:

“A Guiné não é uma colónia de povoamento. Sejam quais forem os atrativos do desenvolvimento recente da capital e outras vilas proporcionem aos europeus, sem embargo da exceção velhos colonos que gozaram sempre de saúde e robustez, o clima é pouco propício aos brancos. O paludismo grassa com intensidade, principalmente na época das chuvas; as formosíssimas ilhas de Pecixe e Jata são grandes focos de doença do sono espalhada mais ou menos por toda a colónia, assim como a lepra, a disenteria amibiana, a ancilostomíase, etc. Saneou-se parte dos arredores de Bissau, mas é impossível sanear as bolanhas do litoral que são uma das grandes fontes de riqueza da Guiné pela cultura do arroz. A temperatura é elevada e torna-se molesta e depressiva, principalmente no interior, pior ainda quando no tempo das chuvas se lhes junta uma humidade sempre alta. 

"Salvo durante umas breves horas da manhã ou à tarde estão vedados aos brancos o trabalho agrícola e a longa exposição ao Sol. Onde principalmente se vê quanto esta terra é imprópria para o europeu é no aspeto pálido e enfezado que as crianças normalmente robustas adquirem ao fim de pouco tempo de permanência. O branco vem para se demorar uns anos que os azares da vida podem alongar, mas nunca com o espírito de fixar-se; a família fica muito longe ou passa largas temporadas noutro clima. Lentamente o homem isolado, ruído pela melancolia, abandona-se à sedução das belezas locais e às vezes uma prole batizada pode fixá-lo a este solo hostil.”

Por último, esta edição preparada por Philip Havik e Suzanne Daveau recolhe importantes imagens de áreas portuárias, trabalhos agrícolas, palmares, moranças, cenas de mercado, gentes de todas as idades e há uma imagem para a qual ele guardou sempre um grande sentimento, a fotografia em que ele aparece com o seu companheiro guineense de toda a missão, Talibé. Os coordenadores juntam materiais de apoio como glossário e bibliografia.

Não se pode estudar na Guiné deste tempo sem ler este livro admirável, é mesmo de leitura obrigatória.

Orlando Ribeiro
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Notas do editor:

Vd. post de 14 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26496: Notas de leitura (1772): Philip J. Havik, um devotado historiador da Guiné: Uma mulher singularíssima, Bibiana Vaz, século XVII (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 17 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26504: Notas de leitura (1773): "Os Mais Jovens Combatentes, A Geração de Todas as Gerações, 1961-1974", por José Maria Monteiro; Chiado Books, 2019 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26515: S(C)em Comentários (59): Ainda a Op Trampolim Mágico, desembarque anfíbio na margem direita do rio Corubal (Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491 / BCAÇ 3872, Dulombi e Galomaro, 1971/74



Luís Dias

1. Comentário do poste P26513 (*):

A primeira grande operação em que me vi envolvido, quando comandava o 2º Gr Comb da CCAÇ 3491, integrado, juntamente com o 3º Gr Comb  também da minha companhia, no agrupamento "Castanho". 

Recordo que estivemos estacionados dentro de uma LDG, no meio do rio Geba, durante grande parte do dia, na véspera da Operação, que fomos atracar a Porto Gole, para pernoitar (onde penso ter bebido as cervejas mais frescas da minha vida, tal a sede). 

Que no dia seguinte, dentro da LDG lançada 
a toda a força,  fomos desembarcar na Ponta Luís Dias (engraçado ter o meu nome, mas, é claro, não tem a ver comigo), apoiados pelo fogo de artilharia da LDG e o bombardeamento dos aviões da FAP, estando a assistir ao desembarque o General Spínola. 

A operação foi decorrendo e devido a termos ficados parados, expostos ao sol (escaparam a este sacrifício os 2 Gr Comb  da nossa companhia, que eram os últimos do agrupamento e que, depois de ter perguntado ao Capitão que dirigia o agrupamento, o que se estava a passar - parados à espera de ordens (?)- decidi colocar os homens em locais junto de árvores que os protegessem do intenso calor. 

Interessa lembrar que a operação estava a ser levada a cabo, essencialmente, por forças do BART 3873 e BCAÇ 3872, que estavam na Guiné há pouco tempo e ainda não habituados a excessivo calor. 

A operação poderia ter corrido muito mal face à falta de água que se fez sentir, a diversas evacuações de pessoal desidratado e outros acontecimentos que não vou lembrar, porque a falta de água transtorna o cérebro de uma pessoa. 

O IN apercebeu-se da quantidade de homens e material empregue na operação e foi fugindo da zona deixando para trás velhos, mulheres e crianças, que foram levados pelas nossas forças. 

Não tivemos qualquer contacto e o IN apenas durante a noite lançou, à toa, morteiradas, com o intuito de conseguir saber onde estávamos instalados para dormir, mas sem, felizmente, qualquer sucesso e as tropas também decidiram não responder, para que eles não nos conseguissem localizar. 

A operação para o nosso agrupamento terminou em Mansambo, sendo recebidos pelo pessoal desse aquartelamento com jerricãs cheios de água, recebidos como um grande petisco, por todos nós.

Luís Dias, ex-alf mil,  CCAÇ 3491/BCAÇ3872 (Dulombi/Galomaro/Piche/Bambadinca/Nova Lamego/Pirada/Dulombi/Cumeré) | 
Guiné 24dez1971/28mar1974.


(Seleção. revisão / fixação de texto: LG)



Guiné > Carta de Fulacunda (1955) (Escala 1/50 mil) > Posições relativas das NT (a negro): Fulacunda, Ganjauará, Porto Gole e sector L1  (Bambadinca, Xime, Mansambo e Xitole) e do PAIGC (a vcrmelho): Ponta do Inglês, Ponta Luís Dias, Mangai, Mina / Fiofioli....

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1  (Bambadinca) > 1969/71 > Croqui do Sector L1 > Vd. as posições do PAIGC ao longo da margem direita do rio Corubal: Poindom / Ponta do Inglês (1 bigrupo); Ponta Luís Dias (1 bigrupo); Mangai (artilharia e bazucas): Mina / Fiofioli (base principal, 2 bigrupos); Galo Corubal / Satecuta (1 bigrupo)... As NT tinham unidades de quadrícula em Bambadinca (+ 1 CCAÇ 12, em intervenção), Xime, Mansambo e Xitole (BCAÇ 2852 e depois BART 2917).

Fonte: História da CCAÇ 12: Guiné 69/71. Bambadinca: Companhia de Caçadores nº 12. 1971

Infografia: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados
__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 20 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26513: Imagens das nossas vidas: CART 3494 (1971/74) (Jorge Araújo / Luciano Jesus) - Parte III: A CART 3494 no Xime para render a CART 2715

(**) Último poste da série > 9 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26477: S(C)em Comentários (58): A "Primavera Marcelista" ?...é um mito: eu estava em Coimbra e e apanhei em pleno a crise académica de 1969 (Fernando de Sousa Ribeiro, ex-alf mil at inf, CCAÇ 3535 / BCAÇ 3880, Zemba e Ponte do Zádi, Angola, 1972/74)

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26514: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (16)

Foto 123 > Novembro de 1970 > Olossato > Bar de Oficiais e Sargentos > Furriéis Pereira, Ramalho e João Moreira
Foto 124 > Novembro de 1970 > Olossato > Furriel Moreira
Foto 125 > Novembro de 1970 > Olossato > Messe dos Furriéis > Furriel Moreira
Foto 126 > Novembro de 1970 > Olossato > Bar de Oficiais e Sargentos > Furriéis do 4.º grupo de combate: João Moreira, Justino e Ramalho
Foto 127 > Novembro de 1970 > Olossato > Furriel Moreira
Foto 128 > Novembro de 1970 > Olossato > João Moreira > Rábula ao General Spínola (Moeda a fazer de monóculo, e pingalim)
Foto 129 > Dezembro de 1979 > Olossato > Furriel Moreira > Foto para enviar e tranquilizar a família, pelo Natal
Foto 130 > Dezembro de 1970 > Olossato > Furriel João Moreira > Postal de Natal para enviar para a família.
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Nota do editor

Último post da série de 13 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26492: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (15)

Guiné 61/74 - P26513: Imagens das nossas vidas: CART 3494 (1971/74) (Jorge Araújo / Luciano Jesus) - Parte III: A CART 3494 no Xime para render a CART 2715


Foto nº 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 >  O fur mil António Bonito, do 2.º Gr Comb da CART 3494, preparado para a Op Desfle Festivo (14/15 de março de 1972)

Foto (e legenda): © Luciano Jesus (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime, Mansambo e Xitole,  localidades onde ficaram estacionadas as subunidades do BART 3873, respectivamente CART 3494, CART 3493 e CART 3492 (infografia acima).

Acrescentaram-se as subunidades do BCAÇ 3872:  CCAÇ 3489, em Cancolim; CCAÇ 3490, no Saltinho  e CCAÇ 3491, em Dulombi.


Infografia: Jorge Araújo (2025)




Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime, Vista do cais do Xime situado na margem esquerda do rio Geba onde a CART 3494 se aquartelou assegurando o apoio à população da Tabanca (com o mesmo nome) e executando todas as missões que lhe foram atribuídas.



Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá >  Sector L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 >  “Porta d’Armas” do aquartelamento do Xime – entrada norte junto ao Cais seguindo a picada da imagem acima. O Jorge Araújo em março de 1972 (portanto há 53 anos).


Foto (e legenda): © Jorge Araújo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



IMAGENS DAS NOSSAS VIDAS NA GUINÉ (1971-1974) - PARTE III

A CART 3494 NO XIME PARA RENDER A CART 2715




► Continuação do P24326 (II) (19.05.2023) (*)

1 – INTRODUÇÃO

Após um interregno superior a um ano, motivado por questões de saúde relacionadas com distúrbios na visão, que me levaram ao bloco operatório, retomamos a série "Imagens das nossas vidas na Guiné (1971-1974)” (*), com recurso ao álbum do meu/nosso camarada Luciano de Jesus, fur mil da CART 3494, organizado ao longo dos mais de vinte e sete meses da sua permanência no CTIG, e que fez questão de me oferecer uma cópia, para partilha no blogue.

Com estas imagens carregadas de demasiadas histórias e de outras tantas emoções e sentimentos, onde todas/todos se situam a uma distância temporal superior a meio-século, procura-se também recuperar a história da nossa vida militar, enquanto milicianos, contribuindo deste modo para uma crescente evolução do puzzle de memórias da nossa juventude na guerra da Guiné (1971-1974).

Na Parte I (P24191 - 3.4.2023), “Em Bolama para o I.A.O.”, historiamos o itinerário náutico desde Lisboa a Bissau e, depois, a estadia na Ilha de Bolama, para, no C.I.M., se concluir o processo de instrução global para a “guerra de guerrilha”, denominado de I.A.O.

Na Parte II (P24326 - 19.5.2023), “De Bolama ao Cais do Xime em LDG”, divulgamos o contexto relativo à viagem efectuada a bordo de uma LDG, em 27 de Janeiro de 1972, 5.ª feira, desde Bolama até ao Xime, local reservado à CART 3494 para cumprir a sua missão ultramarina.

Nesta viagem de “Cruzeiro no Geba ” - a primeira, pois outras haveriam de ser feitas ao longo da comissão - para além do contingente da CART 3494, seguiam as restantes unidades de quadricula do BART 3873, comandado pelo Cor Art António Tiago Martins (1919-1992), cuja CCS e Comando tinham como destino Bambadinca (a sede), a CART 3492, o Xitole, e a CART 3493, Mansambo (ver infografia acima).

Tendo por objectivo geral efectuar a sobreposição e render
 a CART 2715, do BART 2917, em final de período operacional visando o seu regresso à Metrópole, foram realizadas diferentes actividades até 15 de Março de 1972, delas fazendo parte algumas operações.

2 – PRINCIPAIS ACTIVIDADES OPERACIONAIS NA SOBREPOSIÇÃO
(Mata do Fiofioli)


► -Operação «Periquito Raivoso» = em 10 e 11fev72

● Forças da CART 3492 e CART 2716, com patrulhamento às áreas de Satecuta e Galo-Corubal.

● Forças da CART 3494 e CART 2715, com patrulhamento á Ponta do Inglês - Ponta Varela - Poidon. O 1.º Agrupamento (E, F) destruiu 16 palhotas e apreendeu 1 granada de RPG; o 2.º Agrupamento (A, B) sofreu uma flagelação da margem esquerda do Rio Buruntuma sem consequências e capturou 1 granada de RPG. Nas zonas do Rio Bissari e Rio Samba Uriel, forças da CART 3493 formam o 3.º Agrupamento (C, D). Em Bambadinca, 1 Avioneta DO, armada, assegurava o apoio aéreo.

► Operação «Trampolim Mágico", de 24 a 26fev72

● Forças da CART 3492, com 4 Gr Comb reforçada com 1 Gr Comb da CCAÇ 3489 e outro da CCAÇ 3490, integrando o agrupamento «Laranja»; 4 Gr Comb da CART 3493 reforçada por 2 Gr Comb da CCAÇ 3491, integrando o agrupamento «Castanho», desembarcaram conjuntamente na presença de Sua Excelência o Governador e Comandante-Chefe, após batimento de zona pela Artilharia da LDG e da FAP.

● Paralelamente aqueles agrupamentos atravessam as regiões da Ponta Luís Dias e Tabacuta. Actuaram em apoio, o agrupamento «Azul» (CART 3494 mais 2 Gr Comb da CCAÇ 12), agrupamento «Amarelo» (GEMIL’s 309 e 310); agrupamento «Preto» (CCAÇ 3490); agrupamento «Verde» (CCP 123); 1 parelha de FIAT’s de BISSAU, 1 parelha de T-6, 2 Helicópteros e 1 Heli-Canhão (Bambadinca).

● Foram recolhidos 32 elementos da população, aprendida documentação e material de secundária importância e destruídas várias tabancas. As NT sofreram 10 evacuados por cansaço, insolação e desidratação.

Sobre a Op Trampolim Mágico, ver:












Mata do Fiofioli >1972 > Zona de mato denso onde estavam diversas palhotas que serviam de refúgio a elementos do PAIGC e população que os apoiava e que foram destruídas pela nossa passagem. (Foto de Luís Dias, ex-alf mil, CCAÇ 3491, Dulombi, 1971/74 (imagem repetida no P16396


► Operação «Desfile Festivo» em 14 e 15MAR72

● Executada por 3 Gr Comb da CCAÇ 12; 1 Gr Comb da CART 3494; 1 Gr Comb (+) da CART 2715; 1 Gr Comb da CART 3493; PEL CAÇ NAT 52 (-); Pel Caç Nat  54; GEMIL 309 e 310; PEel Mil  241, 242, 243, nas regiões de Bambadinca, Mato Cão, Enxalé, Xime, Ponta Coli e Mansambo.


Foto nº 1(  à direita ) >  O fur mil António Bonito, do 2.º Gr Comb da CART 3494, preparado (?) para a Op Desfle Festivo.



3 – EM 14.MAR.72 - RENDIÇÃO DA CART 2715 PELA CART 3494



Concluído o processo de sobreposição e substituição da CART 2715, a CART 3494 assumiu na plenitude o controlo do subsector do Xime, desenvolvendo a actividade operacional integrada no dispositivo e manobra do BART 3873, sediado em Bambadinca, através da realização de operações, patrulhamentos, emboscadas, protecção e segurança do itinerário rodoviário Xime-Bambadinca-Xime, bem como garantir a total protecção das populações mais próximas, incluindo a assistência médica (enfermagem) e a redução da iliteracia dos jovens.

4– DESTACAMENTO DO ENXALÉ – 2.º Grupo de Combate


De acordo com a responsabilidade operacional do seu subsector, foi nomeado um Gr Comb para o Destacamento do Enxalé, situado na margem direita do Rio Geba, em frente ao Xime. Essa decisão recaiu no 2.º Gr Comb, comandado pelo alf José Henrique Fernandes Araújo (?-2012), de Arco de Valdevez, e dos furriéis: Luciano de Jesus, de Cascais; António Bonito, da Carapinheira  e Benjamim Dias, do Porto.





Foto 1 - Março de 1972 > Quarteto de comando do 2.º Gr Comb da CART 3494. Da esquerda para a direita:  fur Luciano de Jesus; alf José Araújo; fur Benjamim Dias e fur António Bonito.



FOTOGALERIA DO ENXALÉ - 1972


Em função dos objectivos desta série, foram seleccionadas as primeiras oito imagens do álbum do camarada Luciano de Jesus:



Foto 2 – Principal edifício do Enxalé e instalação das transmissões.



Foto 3 – Mulheres da população pilando o arroz.


Foto 4 – Parque auto a céu aberto


Foto 5 – Jipe de serviço.



Foto 6 – Espaldar da bazuca, vala de segurança e instalações de pernoita.



Foto 7 – Parede de bidões de protecção das habitações (neste caso a da enfermaria).



Foto 8 – Parede de bidões de protecção das habitações (exemplo).


Fotos (e legendas): © Luciano Jesus (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

(Continua)

Terminamos agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo e Luciano de Jesus

31Jan2025

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Nota do editor:

Vd. poste anterior > 3 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24191 Imgens das nossas vidas: CART 3494 (1971/74) (Jorge Araújo / Luciano Jesus) - Parte I: De Lisboa a Bolama