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Queridos amigos,
Este manual é uma referência histórica incontornável, impressiona ver um partido que vivia na dependência exclusiva de um líder de craveira excepcional.
A sua leitura permite fazer o balanço entre o sonho realizável e a utopia, entre a grandeza e vulnerabilidade do PAIGC.
Um abraço do
Mário
Manual Político do PAIGC
Beja Santos
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Primeiro, a justificação da luta, o terreno em que ela se afirma, quem e como deve embarcar na viagem da libertação. A noção de partido sobrepõe-se à de movimento de libertação nacional, para triunfar era importante dispor-se de um partido coeso, da direcção às bases. Como se escreve: “É a direcção do Partido que comanda verdadeiramente as coisas e, a cada nível, há uma direcção estreitamente ligada ao nível superior. Evidentemente, até à base as ordens devem ser respeitadas, após a sua discussão na disciplina”. Temos pois o PAIGC como partido condutor, ciente da sua proposta revolucionária e conhecedor dos inimigos internos, aqueles que se prestaram a colaborar com os colonialistas portugueses. É uma parte da pequena burguesia quem deve conduzir a linha revolucionária, tendo em conta a realidade específica da Guiné. É a pequena burguesia quem se constitui na vanguarda do proletariado. Cabral alerta: “A pequena burguesia revolucionária deve ser capaz de se suicidar como classe, para ressuscitar como trabalhador revolucionário, inteiramente identificada com as aspirações mais profundas do povo”. A luta de libertação passa por libertar as forças produtivas e pô-las em movimento ao serviço do povo. Marcará o fim do tribalismo e das chefias tradicionais. Esta luta de libertação poderá demorar vários anos mas o desfecho, diz Cabral, é inevitável: “No momento em que os portugueses forem levados a um ponto em que queiram regressar à política para respeitar os nossos direitos, estaremos no fim da guerra”.
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Por aqui se vê a fragilidade argumentativa de alguém, que a título excepcional, teve que encontrar motivos emocionais para substituir as razões históricas. Explica a política de formação de quadros do partido com base num princípio de assimilação crítica, usando do pragmatismo sem esquecer o que foi deixado pelo colonialismo. O PAIGC aceita a ajuda de todos mas não admite condições à ajuda que recebe. O PAIGC tem como tarefa fundamental libertar o país mas é igualmente sua tarefa prioritária estar ao lado de todos aqueles que combatem o racismo, o colonialismo e o apartheid, o tribalismo.
Terceiro, o manual do PAIGC, pela voz de Amílcar Cabral, procura dar resposta às razões da luta revolucionária e do porquê da fragilidade portuguesa. Professa que a violência é exclusivamente utilizada para responder à violência colonial. Com a independência pôr-se-á termo à luta armada. Se o Portugal economicamente atrasado mantém uma guerra em três frentes é porque está a ser auxiliado pelos interesses do colonialismo e do apartheid, quem fornece as armas a Portugal são os membros da NATO. Mas adverte que Portugal não tem condições para praticar o neo-colonialismo, está profundamente dependente das multinacionais, enumera exaustivamente as riquezas portuguesas nas mãos de capital estrangeiro, desde as indústrias extractivas, passando pelos transportes e comunicações, siderurgia, cimentos, derivado de petróleo, petroquímica, exportação de cortiça, refinação de açúcar, lacticínios e tabacos, entre outros. Defende a lógica anti-imperialista dos países socialistas e diz mesmo que a União Soviética pôs termos às colónias, a partir de 1917.
Quarto, Trata-se de um manual cheio de sonhos. Como num hino de esperança, Cabral faz balanço perspectivas do desenvolvimento e refere concretamente a mancarra, o óleo de palma, as madeiras, a borracha, a pecuária, o arroz, entre outras. Fará o mesmo com Cabo Verde, apela às economias inteligentemente orientadas com base para o progresso económico futuro da Guiné e de Cabo Verde. Ou foi um grande sonho, irrealizável, ou os seus sucessores não estiveram à altura da missão. Depois fala de táctica para a guerrilha do PAIGC e o modo como os combatentes dissuadiram as sucessivas estratégias do colonialismo português. Por último, alude à importância que é conferida às organizações nacionalistas das colónias portuguesas, deixando bem claro o papel desempenhado por ele próprio na ofensiva diplomática à escala mundial.
Há, pois, todas as razões, para ler o pensamento político de Cabral levado às células políticas do PAIGC. Estão ali as aspirações e os falhanços. A ideologia poderosa e a fragilidade dissimulada. Este manual é o espelho da vontade e da determinação de um líder ímpar que moveu o povo guineense para a sua libertação.
Onde foi bem sucedido e onde fracassou é ainda hoje motivo de reflexão na Guiné, em Cabo Verde e em Portugal, sobretudo.
As imagens que se juntam têm a ver com a edição do manual político em 1972 incluindo uma fotografia de Amílcar Cabral rodeado de combatentes e a edição portuguesa (Edições Maria da Fonte, Julho de 1974).
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 26 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7040: Notas de leitura (150): A Independência da Guiné-Bissau e a Descolonização Portuguesa, de António Duarte Silva (2) (Mário Beja Santos)
2 comentários:
O pensamento político de Amílcar Cabral marcado pelo marxismo-leninismo, a fruta inquinada da época que tantas ilusões criou e em nada melhorou o mundo e os homens.
Sabemos qual o resultado em todo o mundo dessa ideologia utópica e impossível, hoje deitada para "o caixote do lixo da História", como diria Marx.
Abraço,
António Graça de Abreu
"Este manual é o espelho da vontade e da determinação de um líder ímpar que moveu o povo guineense para a sua libertação."
E pouco mais interessa o resto !
Venham mais contributos seus, caro Beja Santos !
Nelson Herbert
USA
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