quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Guiné 63/74 - P7061: Efemérides (52): A independência da Guiné-Bissau comemorada em Angola (Paulo Salgado)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado* (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 27 de Setembro de 2010:

Luís Graça, Carlos Vinhal
Uma forma de testemunhar uma data, de lembrar que estamos no futuro…

O músico é o Justino Delgado.

Saudação bloguista,
Paulo Salgado



Comemoração da independência da Guiné-Bissau em Angola

Que significado tem comemorar a independência da Guiné-Bissau em Angola, juntamente com guineenses, aqui, na capital deste imenso país, no célebre Chá de Caxinde, onde funcionou o antigo teatro nacional, bem no centro de Luanda. E que é, desde há duas décadas, o local de tertúlias – chá de caxinde a planta que permite o chá com o mesmo nome, que, além das suas propriedades relaxantes, simboliza em Angola, a beberagem consumida de Cabinda ao Cunene – a sabedoria?

Este escriba, bloguista intermitente, embora atento; viajante por África, mas não muito. Amante de bolanhas que charcámos (perdoai-me este neologismo – mas quem ler o Mia Couto, moçambicano, ou o Guimarães Rosa, brasileiro, ou nosso Aquilino – todos eles fazedores e inventores de palavras fica encantado… não me venham os puristas dizer que a língua se adultera – ela se enriquece, se revigora por entre os sorrisos brancos dos nossos “irmãos” africanos e brasileiros – é talvez a língua do mundo que mais se presta a ser ternamente amante… qual francês ou inglês!?!); amante de matas desminadas, calcorreador das terras da Guiné ao longo de muitos anos, ali, no Chá de Caxinde (de que são sócios também o nosso actor Rui de Carvalho e até o sempre omnipresente Marcelo Rebelo de Sousa, além do “produtor” de livros, o brasileiro, Paulo Coelho) ali estivemos.

Pois é: conversar com o Dr. Brandão Có, ex-ministro da Saúde da Guiné-Bissau, que andou numa correria debaixo de bala, entre o Ministério da Saúde e o Hospital Simão Mendes a coser braços e pernas no conflito de 1997/1998 (agora é alto funcionário da UNICEF e que tem no seu currículo uma estada no Afeganistão), e sua Mulher, Leandra, e outros confraternizantes, comer a galinha à “cafriela”, ou caldo de mancarra, ou chabéu… ouvindo o Justino Delgado… é algo que muito mexe connosco.

Perdoai-me, caros bloguistas, mas tinha que vos dar conta desta alegria.

A minha mulher, companheira apaixonada de longa data destas andanças por África, em especial pela Guiné, puxou-me e vai de dar um pé de dança.

Que vivam os Povos independentes! Que saibamos todos, mesmo nas múltiplas adversidades, que sentimos, aqui, na Guiné, em Portugal, escolher o melhor caminho para que angolanos, portugueses, guineenses, cabo-verdianos, são-tomenses, moçambicanos, timorenses e brasileiros se irmanem na língua que nos une, em clima de paz e de democracia.



Mantenhas.
Paulo Salgado
24 de Setembro de 2010
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 17 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7000: O blogue em números (7): Homenagem à terra onde aprendemos a ser solidários (Paulo Salgado)

Vd. último poste da série de 19 de Setembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7009: Efemérides (51): 17 de Setembro, Dia das Transmissões (José Martins)

2 comentários:

Luís Graça disse...

Que belíssima mensagem de paz, esperança e solidariedade! E que oportuníssimo (e riquíssimo) comentário sobre a originalidade, plasticidade e universalidade da língua portuguesa!

Que bom poder ouvir, de tempos a tempos, os sons mágicos do bombolom do Paulo e da São Salgado, agora atabancados em Luanda e, como sempre, dando o seu melhor, com paixão, generosidade e competência, para que a saúde para todos em África não seja apenas um título de caixa alta da propaganda dos políticos e dos tecnocratas...

Um Alfa Bravo. Luís

Anónimo disse...

Paulo Salgado, esse entusiasmo é de quem já bebeu muita "Água do Bengo".

Luanda é viciante.

Há milhares de angolanos e retornados no Brasil e em Portugal que queriam exatamente sentir esse entusiasmo que tu transpiras e foram impedidos por não sei por quem.

Passou muita água por baixo das pontes que nunca devia ter passado.


Mas esse Chá de Caxinde, aliás Cineteatro Nacional, que parece preservado, tem lá dentro o espírito de Rui de Carvalho, Laura Alves, João Vilaret, Luis Piçarra, Ouro Negro, Garda, e o que de melhor havia nos anos 50 e 6o do outro século.

Assim como no Restauração, Tropical, etc.

Justino Delgado fez muitos serões dançantes em Bissau no Hotel 24 de Setembro, antigo QG, em 1980 juntamente com uns revolucionários canarinhos, que terminavam sempre com o empolgante "Comandante Ché Guevara".

Não sei quem teria abrilhantado este ano o aniversário do 24 de Setembro, tanto no Boé como em Bissau, pois não se encontram referências a tal comemoração.

Paulo Salgado, boa estadia

Antº Rosinha