quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4814: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (8): “O Padre eterno”

1. O nosso Camarada José Eduardo Reis de Oliveira (JERO), foi Fur Mil da CCAÇ 675 (Binta, 1964/65), enviou-nos a sua 8ª estória, que faz parte do seu livro "Golpes de Mao's - Memórias de Guerra", que muito agradecemos, com data de 06 de Agosto de 2009, a que deu o seguinte título:

O PADRE ETERNO

O «Padre Eterno» não era alcunha. É apenas o apelido – algo invulgar – do Firmino, alentejano de corpo inteiro.

Nado e criado em Borba e de nome completo Firmino Carola Padre Eterno.

O Padre Eterno foi um militar “especial” na Companhia.

Até se poderá dizer “especial de corrida” porque foi condutor-auto.

Depois de ter andado de “cu tremido” e no “bem bom” uma boa temporada na Metrópole como condutor do Coronel Braancamp Sobral, em diversas unidades militares... um dia... acabou-se-lhe a “mama”. E foi mobilizado.

Foto do Padre Eterno à civil em Bissau
(Obviamente na “5ª.Rep.”)

Foi para a Guiné incorporado na C.Caç. 642, do Batalhão dos Águias Negras como 1º. Cabo Condutor-Auto e por causa de um “levantamento de rancho”... foi punido com 15 dias de prisão disciplinar agravada, despromoção a soldado raso e transferido para outra Unidade.

Calhou-lhe a “675”. Obviamente que na vida militar não é o melhor “cartão de visita” chegar a uma Companhia isolado e “sem para quedas” e com a fama de ter estado metido num "levantamento de rancho".

Teve a sorte de encontrar um Comandante de Companhia como o Capitão Tomé Pinto que lhe “leu” de imediato “a cartilha”...

– O que se passou anteriormente não me interessa. Interessa-me o teu comportamento na C.Caç. 675 a partir desta data. Se te portares bem não vais ter problemas... E recomendo-te que o faças.

O Padre Eterno nunca esqueceu “a recomendação” e entrou na família da “675” como "gente grande".

“Entrou” tão bem que parecia que nunca tinha estado noutro lado.

Bem disposto, brincalhão, mas atilado e excelente operacional.

Foi devido à sua “ratice” que localizou uma mina anti-carro no dia da operação de Sambuiá – 5 de Janeiro de 1965 – e evitou uma tragédia, que podia ter causado mortos e feridos.

A sua versão do levantamento de rancho (de que foi acusado) é anedótica mas na vida militar uma palavra a destempo pode ser... ”a morte do artista”...

O Padre Eterno chegou atrasado a uma formatura para o jantar, desconhecendo que estava iminente um levantamento de rancho, e “caiu” como um “pato” quando o Oficial de Dia chegou à formatura.

– Quem são aqui os “meninos finos”?

– Quem é que não quer comer?

O Firmino não conseguiu ficar calado, como convinha, armou-se em “engraçado” e “lixou-se”:
– Eu é que não janto. Recebi hoje uma encomenda de casa com um paio – daqueles de comer e chorar por mais – e tive um lanche daqueles à antiga. Eu é que não vou comer.

Efectivamente não comeu do rancho mas “comeu” um castigo que... lhe estragou a digestão.
Apesar da azia dos dias seguintes teve a “sorte grande” de ter ido parar à “675”.

Onde foi um militar estimado por toda a gente.

Tinha sempre uma “estória” da sua terra para contar e, mesmo repetidas, os seus ditos causavam sempre gargalhadas no aquartelamento.

Sem dúvida que o apelido – Padre Eterno – ajudava e, não sendo alcunha, passou à história da companhia como sendo o filho do principal sócio de um armazém de vinhos de Borba. O nome da firma em causa deixava sempre a rapaziada de boca aberta e convencida de que o Firmino estava “a regar”.

Mas não estava.

Mais tarde quando fomos ao seu casamento a Borba foi-nos confirmado que o Pai do Firmino tinha sido mesmo um dos sócios da firma “Padre Eterno & Salvador das Almas, Armazém de Vinhos !!!

E depois há aquela estória da “sandes de atum” que arranjou ao “Caldas”, quando ele estava no Hospital Militar de Bissau, cujo crédito já “chegou” ao Céu...

Firmino já um pouco longe do “estado novo” mas ainda em boa forma.

(Foto de Maio de 2009, em Évora).

Foto do autor

Firmino Carola Padre Eterno alentejano puro e membro ilustre da “Família 675”.

E quer se queira quer não dá sempre jeito ter por amigo um “Padre” que... ainda por cima é “Eterno”...

Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675

Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:

Vd. último poste da série em:

9 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4803: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (7): O “Caldas” da CCAÇ 675, Binta - 1964/66

1 comentário:

Anónimo disse...

Amigo José Eduardo,

Esta sim, é uma estória eterna.

Magalhães Ribeiro