O PADRE ETERNO
O «Padre Eterno» não era alcunha. É apenas o apelido – algo invulgar – do Firmino, alentejano de corpo inteiro.
Nado e criado em Borba e de nome completo Firmino Carola Padre Eterno.
O Padre Eterno foi um militar “especial” na Companhia.
Até se poderá dizer “especial de corrida” porque foi condutor-auto.
Depois de ter andado de “cu tremido” e no “bem bom” uma boa temporada na Metrópole como condutor do Coronel Braancamp Sobral, em diversas unidades militares... um dia... acabou-se-lhe a “mama”. E foi mobilizado.
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(Obviamente na “5ª.Rep.”)
Foi para a Guiné incorporado na C.Caç. 642, do Batalhão dos Águias Negras como 1º. Cabo Condutor-Auto e por causa de um “levantamento de rancho”... foi punido com 15 dias de prisão disciplinar agravada, despromoção a soldado raso e transferido para outra Unidade.
Calhou-lhe a “675”. Obviamente que na vida militar não é o melhor “cartão de visita” chegar a uma Companhia isolado e “sem para quedas” e com a fama de ter estado metido num "levantamento de rancho".
Teve a sorte de encontrar um Comandante de Companhia como o Capitão Tomé Pinto que lhe “leu” de imediato “a cartilha”...
– O que se passou anteriormente não me interessa. Interessa-me o teu comportamento na C.Caç. 675 a partir desta data. Se te portares bem não vais ter problemas... E recomendo-te que o faças.
O Padre Eterno nunca esqueceu “a recomendação” e entrou na família da “675” como "gente grande".
“Entrou” tão bem que parecia que nunca tinha estado noutro lado.
Bem disposto, brincalhão, mas atilado e excelente operacional.
Foi devido à sua “ratice” que localizou uma mina anti-carro no dia da operação de Sambuiá – 5 de Janeiro de 1965 – e evitou uma tragédia, que podia ter causado mortos e feridos.
A sua versão do levantamento de rancho (de que foi acusado) é anedótica mas na vida militar uma palavra a destempo pode ser... ”a morte do artista”...
O Padre Eterno chegou atrasado a uma formatura para o jantar, desconhecendo que estava iminente um levantamento de rancho, e “caiu” como um “pato” quando o Oficial de Dia chegou à formatura.
– Quem são aqui os “meninos finos”?
– Quem é que não quer comer?
O Firmino não conseguiu ficar calado, como convinha, armou-se em “engraçado” e “lixou-se”:
– Eu é que não janto. Recebi hoje uma encomenda de casa com um paio – daqueles de comer e chorar por mais – e tive um lanche daqueles à antiga. Eu é que não vou comer.
Efectivamente não comeu do rancho mas “comeu” um castigo que... lhe estragou a digestão.
Apesar da azia dos dias seguintes teve a “sorte grande” de ter ido parar à “675”.
Onde foi um militar estimado por toda a gente.
Tinha sempre uma “estória” da sua terra para contar e, mesmo repetidas, os seus ditos causavam sempre gargalhadas no aquartelamento.
Sem dúvida que o apelido – Padre Eterno – ajudava e, não sendo alcunha, passou à história da companhia como sendo o filho do principal sócio de um armazém de vinhos de Borba. O nome da firma em causa deixava sempre a rapaziada de boca aberta e convencida de que o Firmino estava “a regar”.
Mas não estava.
Mais tarde quando fomos ao seu casamento a Borba foi-nos confirmado que o Pai do Firmino tinha sido mesmo um dos sócios da firma “Padre Eterno & Salvador das Almas, Armazém de Vinhos !!!
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Firmino já um pouco longe do “estado novo” mas ainda em boa forma.
(Foto de Maio de 2009, em Évora).
Foto do autor
Firmino Carola Padre Eterno alentejano puro e membro ilustre da “Família 675”.
E quer se queira quer não dá sempre jeito ter por amigo um “Padre” que... ainda por cima é “Eterno”...
Um abraço,
JERO
Fur Mil Enf da CCAÇ 675
Fotos: José Eduardo Oliveira (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste da série em:
9 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4803: Histórias do Jero (José Eduardo Oliveira) (7): O “Caldas” da CCAÇ 675, Binta - 1964/66
1 comentário:
Amigo José Eduardo,
Esta sim, é uma estória eterna.
Magalhães Ribeiro
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