terça-feira, 11 de agosto de 2009

Guiné 63/74 - P4811: Informações adicionais ao Poste 4800 (Hélder Sousa)

Hélder Valério (*), ex-Fur Mil de Transmissões TSF, Piche e Bissau, 1970/72, deixou este comentário no poste "Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do..." (**):

Caros amigos e camaradas, em particular o José Rocha, das Transmissões do BART 2875 de Piche.
Não sou a pessoa mais indicada para responder às dúvidas que ele apresenta e mesmo um ou outro aspecto não entendo bem.
No entanto vou tentar alinhar algumas informações/respostas que podem ajudar.

Na área onde o José Rocha esteve, Piche, já pudemos ler aqui no Blogue que a organização territorial mudou à medida da evolução do esforço de guerra e das suas vicissitudes. Não indo mais atrás no tempo, temos que o BART 2857, esteve na zona de 68 a 70, sendo depois substituído de 70 a 72 pelo BCAV 2922, o qual, por sua vez foi substituído pelo BCAÇ 3883. Os dois últimos Batalhões tinham como área, para além da "sede", Piche, Companhias colocadas em Buruntuma e Canquelifá e seus Destacamentos, sendo que o do José Rocha também tinha inicialmente Bajocunda, salvo erro.

Também se fala muito de Copá, que pertencia organizacionalmente a Pirada, mas que, segundo o livro/relato da história da CCAÇ 3545 feito e publicado por Fernando Sousa Henriques, Alf Mil Op Esp daquela Unidade, como ficava no limite da sua área de intervenção, era algumas vezes apoiada por eles.

Sobre os "comentários sobre Canquelifá de 72/74 feito por pessoas que nunca lá puseram os pés", não sei bem a que é que o José Rocha se refere, mas é realmente verdade que há um P1216 (***) de António Santos, das Transmissões do Pelotão de Morteiros 4574/72 que na época estava adstrito ao Batalhão sediado em Nova Lamego e que diz: "Copá foi extinto em 14 de Fevereiro de 1974, após violentas flagelações, Mareué idem em 11 de Março de 1974, mas o aquartelamento mais sacrificado foi o de Canquelifá, que sofreu flagelações a toda a hora. Neste caso a arma mais utilizada foi o morteiro 120, e houve abrigos que não resistiram.

A 20 de Março de 1974, entrou em cena o Batalhão de Comandos Africanos, com as três Companhias que dele faziam parte integrante. Saíram de Nova Lamego em coluna composta por viaturas militares e civis e dirigiram-se para o local. A operação durou 3 dias, de 21 a 23 de Março 1974. Segundo os canhenhos militares, capturaram 3 Morteiros 120, 1 RPG, 2 espingardas, 367 granadas de Morteiro e deixaram 26 mortos do lado IN (do nosso lado nada dizem)...

Mas cá o rapaz, no dia 22 [de Março de 1974], como não fazia nada, e porque o condutor da ambulância era do meu pelotão e foi chamado à pista, eu fui com ele. Chegados ao local, era um vaivém de helicópteros que traziam mortos e feridos. Eu dei uma mãozinha para pegar nas macas. Retirava dos helis e, segundo instruções do médico, ora pousava na pista (estava morto), ora colocava num Dakota que estava logo ali (estava muito ferido)... Vi pernas destroçadas por estilhaços de não sei de quê!"

Calculo que a referência aos tais "comentários sobre Canquelifá por pessoas que nunca lá puseram os pés" seja, de facto, retativa ao que o António Santos relata, mas fico sem saber se o que o José Rocha pretende é algum tipo de esclarecimento sobre o que o António Santos diz, por se estar a falar dum local que em tempos anteriores tinha pertencido à área de acção do Batalhão do José Rocha e ele, José Rocha, não ter tido conhecimento (o que o A. Santos refere é passado em Março de 74...) ou porque a "coisa" lhe parece "mal contada".

Nessa época eu também já não estava na Guiné, por isso só posso "ajudar" relatando o que a propósito está no tal livro com a história da CCAÇ 3545, Companhia que estava em Canquelifá, e que diz, para esse dia:
"A 22 de Março, pelas 08H30, um grupo IN, estimado em mais de 200 elementos, emboscou uma coluna constituída por duas Chaimites, uma White, três Berliet e quatro Unimog, no itinerário Piche-Nova Lamego, na região de Bentem, causando às NT 6 mortos, 15 feridos graves e 3 feridos ligeiros, que se discriminam a seguir".

No livro referido ("No Ocaso da Guerra do Ultramar", de Fernando de Sousa Henriques) apresentam-se então os nomes dos vitimados, que foram:

- mortos:
Fur. Manuel Joaquim Sá Soares, responsável pela Chaimite;
Fur. José António Teixeira, responsável pela White;
Sold. Vítor Manuel Jesus Paiva;
Sold. João da Costa Araújo;
Sold. Bambo Nanqui;
Sold. Bailo Baldé.

- feridos graves:
Fur.Carlos Manuel Fanado (ficou sem as duas pernas);
Fur. Carlos M. Charifo;
Fur. Cherno Jaló;
1.º Cabo Manuel da Silva Saavedra;
1.º Cabo Silvino Neto de Matos;
1.º Cabo José Bacar Sané;
Sol. Adelino Dias;
Sold. Numar Camará;
Sold. Carlos Alberto Queba;
Sold. Braima Balde;
Sold. Seco Maru Baldé;
Sold. Rachide Bari;
Sold. Ingala Embaló;
Sold. Pedro Dias;
Sold. Ba Turé.

- feridos ligeiros:
Fur. Pedro Manuel dos Santos;
Sold. Joaquim Rolando Pinto;
Sold. Domingos Dias Salgado.

Após a listagem das nossas baixas, o relato remata com "nesta forte emboscada, em que o IN, que se encontrava instalado do lado Sul da estrada e com elementos seus em cima das árvores, sujeitou toda a coluna a intenso fogo de RPG-2 e RPG-7, assistiu-se, logo de início, à destruição de 1 viarura Chaimite, que ardeu juntamente com o condutor e o Furriel que a comandava, de 1 White e de 1 Berliet. O IN capturou ainda 3 espingardas G3, 1 metralhadora HK21 e 1 Racal TR-28. De registar o facto de o 1.º Cabo Augusto Nunes da Graça ter resgatado da Chaimite, já em chamas, o Capitão Fernando Ferreira e o Furriel Pedro Santos".

Espero que estes dados possam ajudar o António Santos a dar corpo à notícia que tinha dado antes sobre as consequentes evacuações a partir de Nova Lamego e que possam também satisfazer as dúvidas do José Rocha.

Aproveito para relembrar o José Rocha que ao tempo dos acontecimentos acima descritos a estrada Piche-Nova Lamego já era toda alcatroada e bem desmatada em ambos os lados, o que dava uma (falsa) sensação de segurança, pela ideia que se tinha que seria possível ver á distância qualquer problema que o IN eventualmente pretendesse colocar.

Isto que acima relatei foi o que aconteceu em parte do 1.º trimestre de 74, sendo que no que diz respeito aos tempos de 70-72, ou seja do Batalhão que sucedeu ao do José Rocha, isso já está no que o Francisco Palma escreveu.

No que diz respeito à questão do Fiat abatido, na zona, tudo o que li, no Blogue e no livro que dei conta, foi de facto em 31 de Janeiro de 74. O mês de Março foi também muitas vezes indicado como um mês funesto para a nossa FA, por força dos abates de Fiat's, mas em 1973, nunca vi nada referido a 74, mas também não consigo ler tudo.

Relativamente à história do piloto do avião abatido em 31 de Janeiro, que andou pelo Senegal, utilizou bicicleta, passou por Dunane e foi até Piche, já foi tudo contado, recontado e reafirmado.

Espero ter ajudado.

Um abraço
Hélder S.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 27 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4593: Controvérsias (22): As influências dos grandes mestres (Hélder Silva / José Brás)

(**) Vd. poste de 8 de Agsoto de 2009 > Guiné 63/74 - P4800: Em busca de... (85) O Fiat do Pilav Gil foi abatido em Janeiro ou em Março de 1974? (José Rocha)

(***) Vd. poste de 27 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1216: A batalha (esquecida) de Canquelifá, em Março de 1974 (A. Santos)

2 comentários:

Anónimo disse...

Camarada Hélder.

Concordo com o que escreves, quem passou pelo Leste/Leste 4 anos antes de mim e outros claro!, não sabe nem pensa como a mudança foi grande em relação aos tempos dele.
A Frase "pessoas que nunca lá puseram os pés", tem a sua piada, pelo que leio, posso entender que este senhor esteve em todas as tabancas da Guiné.
Para mim chega, não sou de entrar em polémicas.
Hèlder os nomes que referes dos mortos da emboscada, pelo menos um está certissimo, nunca me esquecia do nome desse camarada, o de: Vitor Manuel de Jesus Paiva, que por acaso era o condutor da White, e sabes porquê? porque eu tenho um camarada do meu pelotão também de TRMS e hoje meu compadre cujo nome é Vitor Manuel de Jesus Graça, daí eu nunca esquecere este nome.
Sabes que eu gosto mais de ler do quer escrever, hoje até me estou alongar mas, já agora também te digo que após o 25 do IV de 74, conheci o turra que disparou a rpg contra a o White e segundo ele foi do cimo de uma arvore.

Um alfa bravo

ASantos
SPM 2558

Anónimo disse...

Caro Amigo Helder as info sobre Canquelifà jà as encontrei. foi umcamarada que se chama Matos Paiva da 3545 é verdade que tiveram muitos ataques de fevereiro Março74 etc mas chamar a Batalha de Canquelifà!!! precizao a companhia em toda a comissao teve dois mortos que jà é muito e vàrios feridos. o batalhao 8 .certo é que eles resistiram enao desertaram como alguns. josé rocha