No passado sábado, dia 8 de Agosto, a Freguesia de Lavra, do Concelho de Matosinhos, prestou homenagem aos mortos em campanha na Guerra Colonial que estão sepultados no cemitério local, e ao descerramento de um memorial no jardim em frente ao edifício da Junta de Freguesia, lembrando todos os Lavrenses que participaram naquela guerra.
Presidiram a estes actos, o Presidente da Junta de Freguesia de Lavra, senhor Rodolfo Maia Mesquita; Presidente da APVG (Associação Portuguesa dos Veteranos de Guerra), Prof. Doutor Augusto Jesus Oliveira Lopes Freitas e em representação do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, o Dr. António Fernando Correia Pinto.
No cemitério local, no Panteão ali existente, foi descerrada um lápide com os nomes dos militares ali sepultados e depositada uma coroa de flores.
Nomes inscritos na lápide:
Fernando de Jesus Nogueira
José Gonçalves dos Santos
Albino Dias de Sousa
Manuel Azevedo Carvalho
Januário Joaquim Silva Santos
Sebastião Gomes de Matos
O sacerdote que se ocupou da parte religiosa da cerimónia, terminou com uma alocução onde salientou os malefícios da guerra, lembrando que acabada esta, os políticos bebem champanhe, enquanto os ex-combatentes são relegados ao esquecimento.
Viveram-se momentos tocantes quando se procedeu à chamada dos camaradas falecidos, ali evocados, com a assistência a responder PRESENTE. Um Bombeiro Voluntário, ali presente, interpretou o Toque de Silêncio, seguido do momento de recolhimento que a ocasião impunha.
Falaram seguidamente o Presidente da Junta de Freguesia e o Presidente da APVG, lembrando ambos o esforço que a guerra exigiu a uma geração, quase em fim de vida, a quem nunca foi feita justiça.
No jardim frontal ao edifício da Junta de Freguesia, foi descerrado e benzido um Memorial lembrando o esforço de todos os Lavrenses que participaram na Guerra Colonial. Como Memorial, convenhamos que é muito discreto, mas fica registada a iniciativa.
Seguiu-se uma cerimónia mais formal no Salão Nobre da Junta de Freguesia, sendo a Mesa da Presidência ocupada pelas mesmas entidades.
Começou por falar o Presidente da APVG que numa longa intervenção fez um historial da acção dos militares desde o princípio da guerra colonial até ao 25 de Abril, terminando, batendo na mesma tecla do esquecimento a que os ex-combatentes foram votados.
Falou das iniciativas da APVG em prol dos ex-combatentes que atravessam momentos menos bons da vida, e que são muitos. Atacados pela doença, alcoolismo, stress pós-traumático, abandono por parte da família e consequente vivência na rua, há imensos ex-combatentes muito carenciados. Tudo se faz para colmatar estas necessidades a alguém que já não sabe o rumo, nem consegue viver com normalidade.
Seguiu-se a intervenção do senhor Presidente da Junta de Lavra, que também na qualidade de ex-combatente em Angola, falou das cerimónias realizadas naquele dia e dos combatentes em geral. Retive uma frase relacionada com o esquecimento a que nos remeteram - "Se o povo anda distraído, os combatentes não". Atrevo-me a perguntar se o nosso camarada, permita-se-me este tratamento, se se referia ao Povo propriamente dito ou aos seus legítimos representantes.
Lembrou Rodolfo Mesquita os nossos camaradas sepultados por tudo quanto foi teatro de operações, em cemitérios abandonados, e cujo regresso ao chão pátrio é da mais elementar justiça.
Propôs que o dia 8 de Agosto, em Lavra, fosse doravante dedicado aos ex-combatentes Lavrenses.
Por último, o Dr. António Fernando Correia Pinto, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos, tomou a palavra, começando por dizer que não sendo ex-combatente, sentiu de perto, tragicamente, os efeitos da guerra colonial, na pessoa de um familiar muito chegado, que veio a falecer em resultado de sequelas contraídas como militar.
Mantendo a tónica dos oradores anteriores, salientou o esquecimento e o abandono a que os ex-combatentes foram sujeitos pela sociedade.
Seguir-se-ia uma palestra versando o tema stress pós-traumático a que já não assisti pelo aproximar da hora de almoço.
O Panteão. Do lado esquerdo, a placa com os nomes dos militares mortos em campanha e a coroa de flores depositada momentos antes.
O Presidente da APVG no uso da palavra após o descerramento do pequeno Memorial a todos os Lavrenses ex-combatentes da Guerra Colonial
Fotos: © Ribeiro Agostinho e Carlos Vinhal (2009). Direitos reservados.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Por muito pequena e insignificante que pareça uma homenagem aos antigos combatentes, é um sinal de que existem.
Curioso é que é sempre nestas alturas pré-eleitorais que elas acontecem e, ainda mais curioso, é que os candidatos são sempre combatentes, apesar de se assumirem só nestas alturas.
E mais não digo!!!!!!!!
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