sábado, 7 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17831: Historiografia da presença portuguesa em África (97): A Exposição do V Centenário do Descobrimento da Guiné (Mário Beja Santos)


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1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2017:

Queridos amigos,

Encontrei na revista Panorama, edição do Secretariado Nacional da Informação, Cultura Popular e Turismo (anteriormente Secretariado da Propaganda Nacional) n.º 30, 1946, uma notícia referente à exposição que teve patente no Palácio da Independência, em Junho e Julho desse ano.
As comemorações em Portugal não se cingiram a esta exposição: os CTT fizeram uma edição alusiva, selos muitos belos, houve conferências na Sociedade de Geografia de Lisboa, a Agência Geral das Colónias editou obras; na Guiné houve igualmente comemorações que se refletiram num número especial do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa.

Um abraço do
Mário


A Exposição do V Centenário do Descobrimento da Guiné

Beja Santos

A vasculhar entre montes de revistas trazidas por um vendedor à Feira da Ladra, adquiri um exemplar da revista Panorama n.º 30 de 1946 onde o jornalista Eduardo Freitas da Costa fazia o relato da exposição comemorativa que estivera patente ao público em Junho e Julho de 1946 nas salas do Palácio da Independência, uma iniciativa do Ministério das Colónias em que o executor foi a Sociedade de Geografia de Lisboa. Diz Freitas da Costa que lhe coube a honra de auxiliar nessa execução os pintores Manuel Lapa e Jorge Matos Chaves.

Houve, por parte dos autores do projeto e seus realizadores, a preocupação de mostrar a “epopeia da Guiné Portuguesa”: o que nos levou a África, como encontrámos a Guiné, como a conservamos; a preparação, o descobrimento, a colonização, a ocupação militar, os litígios em que andamos envolvidos, os valores atuais da nossa colónia e as suas magníficas possibilidades. O fotógrafo Horácio Novais contribuiu com o seu trabalho no Roteiro da Exposição.

O visitante tinha uma antecâmara onde estavam expostos pitorescos exemplares da arte indígena da Guiné, sucedia-se uma sala onde se procurava dar resposta às razões do descobrimento da Guiné; na sala seguinte evocava-se a fixação no território, as múltiplas viagens e as explorações nas terras descobertas, as feitorias e a fixação simbolizada no forte de S. Jorge da Mina. Na sala seguinte a evocação dos litígios e lutas que rodearam o nosso domínio da Guiné durante o período filipino, e depois a sentença do presidente Grant quanto à questão de Bolama.

Nas duas últimas salas dava-se a ideia do que era então o território da Guiné, a sua população, fauna e flora, valores económicos e as suas maravilhosas possibilidades futuras. No termo da exposição via-se a seguinte legenda: “500 anos de mistérios, de aventuras, de lutas. 500 anos de suor e sangue português. 500 anos de sofrimento e alegrias – ao serviço do Império!”.



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Nota do editor

Último poste da série de 5 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17825: Historiografia da presença portuguesa em África (96): primeira relação de nomes geográficos da Guiné Portuguesa, em 1948, ao tempo do governador Sarmento Rodrigues (Parte II)

6 comentários:

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Que castelinho era aquele?
Onde se situaria? Giro, era, mas...
1946 é realmente um anos importante para Guiné em termos de desenvolvimento.
Há muitos edifícios, construídos no "ano dos centenários". Recordo as escolas de Bambadinca e Mansabá, o posto administrativo de Cacine e a casa do administrador, assim como o posto de socorros.
A fórmula de construção era a mesma e por isso podemos identificá-los hoje.
Alguns desses edifícios não foram construídos em 1946, mas nos anos seguintes, como terá sucedido ao posto administrativo de Mansabá.
Enfim, se não tivesse havido centenário não teria havido boom de desenvolvimento...
Malhas que o Império tece(u)!
Curiosidades...

Um Ab. e bom fds
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

As escolas do centenário que proporcionaram a 4ª classe para todos foi como a tijela de arroz para todos os chineses do maotsetung.
Estes cresceram todos baixinhos e iguaisinhos, e nós ficámos assim-assim.
Mas uns e outros entrámos todos na linha.

Valdemar Silva disse...

Mas, afinal quem frequentou as Escolas do Centenário? A que população se destinavam
essas Escolas?
Todos nós nos lembraremos de quantos naturais da Guiné com quem convivemos, na
tropa ou civis, que sabiam ler, escrever e contar. Nem, sequer, português sabiam falar.
Abraços
Valdemar Queiroz

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Só posso falar pela escola de Mansabá. Quando lá cheguei estava ocupada pela secretaria da CArt, posto de Tms e gabinete do Cmdt. Por ordem do CAOP 2 foi passada a duas professoras, pouco tempo depois de eu ter chegado. Tinha apenas uma aula para cerca de 30 alunos e a casa de uma professora. A outra vivia na tabanca.
Por inerência de funções o Cmdt do aquartelamento era o director da escola e 2.º Cmdt do BCaç (Mansoa) era o o director da circunscrição escolar(?).
Sobre resultados e "avaliações" não sei nada.
Em Cacine a escola era mais moderna (anos 50?). Tinha apenas uma aula para 25-30 alunos e uma arrecadação para o material escolar. Começou por ser o paiol da CArt, mas construído um paiol enterrado, foi aberta. Material escolar era o que se podia fabricar com a madeira disponível e as "carteiras" eram para 3 alunos. Tinha quadro preto em cavalete, inventado pela "malta" A professora era uma antiga criada(?) do Séku Turé, que falava francês. A escola tinha régua que funcionava sempre que o aluno não respondia a uma pergunta e era operada pelo aluno que tinha respondido bem...
Pedagogia é pedagogia. Havia alguns cadernos, lousas (o Magalhães daquele tempo), e lápis.
Eram muito alegres os alunos e repetiam o abecedário que se ouvia no quartel todo.
Resultados não sei, mas deverão ter sido baixos. Lembro que, em Cacine, corria o ano da graça de 1968, ou seja, havia 522 anos que aquela portuguesíssima terra vivia em paz à sombra da bandeira verde-rubra.
No Xime o meu furriel enf. dava aulas "pro bono", mas só a voluntários. Ao que se diz os resultados foram os possíveis para cerca de um ano de escola. Quando saí NOV72 era esta a situação. Tudo terá acabado quanto a CArt 3494 saiu para Mansambo

Sobre a questão da aprendizagem do Português e da elevação do nível cultural das populações quero recordar que seria necessário criar uma malha de escolas guarnecidas por professores em quantidade e qualidade o que, como sabem não foi muito conseguido... nem tentado nunca.
Cá na Metrópole, sabe Deus como foi.
Hoje o português é a 3ª língua daquela terra o que não me tira o sono. Cada país segue o seu destino e a potência descolonizadora não pode, nem deve interferir na marcha doa acontecimentos.
Por isso, acabem com aquela coisa dos PALOP que não é nem nunca foi verdade e hoje começa a ser um escândalo.

Sobre a questão da tijela de arroz para todos e todos baixinhos e iguaizinhos, (...) assim-assim, nem sei que diga. A produção de arroz não é o meu forte e a olaria também não.

Um Ab. e bom fds
António J. P. Costa

Antº Rosinha disse...

Valdemar, desculpa, mas as escolas do(s) centenário(s) eram aquelas escolinhas em quase todas as aldeias onde nunca tinha havido um edifício próprio que em geral tinham um escudo em pedra, granito ou calcário, sobre a porta de entrada, um pequeno pátio exterior.

Essas escolas foram o primeiro edifício construído propositadamente para o povo aprender a ler, porque em 800 anos de história nunca tal o povo tinha visto igual nas suas aldeias rurais.

O Clero a Nobreza e o Povo nunca tinham visto coisa igual neste nosso Portugal.

Também essas escolas possuiam uma área, que seria impensável nas casas das nossas aldeias, e que o povinho só conhecíamos quando viajávamos de comboio e víamos nas estações "Retrete-Senhoras-Homens" por extenso.

Valdemar, estou a falar em tabancas da metrópole.

Mas um dia acabará a censura e ficaremos todos a saber quem pôs o povo a saber ler nas linhas, porque nas entrelinhas nem em mais 800 anos lá vamos.



Valdemar, desculpa, quase todos os mancebos que foram para o Ultramar para a nossa guerra, e que sairam das nossas aldeias, exceptuando algum filho de algum pastor que se perdeu nas serranias, é que não passou as mãos pela régua do professor naquelas benditas escolinhas.

Valdemar Silva disse...

António Rosinha pensei que as Escolas do Centenário eram em relação à Guiné.
Quanto às de cá tens toda a razão, não fora essas, a percentagem de analfabetos, que ainda encontramos no nosso tempo de tropa, era bem superior. Recordas-te que ninguém podia sair da tropa sem saber ler ou escrever? Ainda foram muitos os que encontramos nessas condições.
Também era o que mais faltava, esturrarem o dinheiro em grandes exposições, que nem sequer foi pra inglês ver, e ficar de fora a instrução primária já que quanto à habitação foi a criação de grandes barracadas em redor de Lisboa.
Por acaso a Escola Primária da minha terra foi construída em 1907. Ainda lá está e este ano tem cerca de 50 alunos
Abraço
Valdemar Queiroz