terça-feira, 3 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17820: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (5): 4.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)


1. Continuação da publicação das "Memórias Revividas" com a recente visita do nosso camarada António Acílio Azevedo (ex-Cap Mil, CMDT da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74) à Guiné-Bissau, trabalho que relata os momentos mais importantes dessa jornada de saudade àquele país irmão.

AS MINHAS MEMÓRIAS, REVIVIDAS COM A VISITA QUE EFECTUEI À GUINÉ-BISSAU ENTRE OS DIAS 30 DE MARÇO E 7 DE ABRIL DE 2017

AS DESLOCAÇÕES PELO INTERIOR DA GUINÉ-BISSAU (5)

4º DIA: DIA 02 DE ABRIL 2017 - BISSAU, SAFIM, BULA, S.VICENTE, INGORÉ, S. DOMINGOS, SUSANA, VARELA E PRAIA VARELA

Como tínhamos de véspera combinado ir neste dia visitar o norte da Guiné, saltámos da cama por volta das 07,00 da matina, pois um dia longo nos esperava pela frente.

Engolido o pequeno-almoço, tomámos lugar nos 4 jeeps e iniciámos a viagem com destino final na Praia Varela, zona de etnia “Felupe”, passando por Safim, pela ponte Amílcar Cabral construída sobre o Rio Mansoa, por Bula, visita que deixámos para o dia seguinte, passámos sobre a nova ponte de S. Vicente, que liga as localidades de S. Vicente e Ingoré à saída da qual parámos para a foto da praxe, atravessámos Ingoré, que também decidimos visitar no regresso e efectuámos a primeira paragem em S. Domingos, situada a cerca de 5 quilómetros de Mpak, fronteira com o Senegal, pois daqui até Varela eram 52 quilómetros que teríamos que percorrer em estrada de terra e com muitas covas.

Entrámos num pequeno bar/restaurante da localidade, onde reencontrámos 3 casais portugueses que fizeram a viagem no mesmo avião que de Lisboa nos levou a Bissau e andavam a conhecer a Guiné.
Um pouco de conversa, uma bebida fresca, porque já estava muito calor e um pequeno passeio a pé pela zona central desta localidade e eis-nos de novo a caminho, percorrendo aos “esses”, esta autêntica picada que, na época das chuvas deve ficar quase intransitável e obrigará os habitantes destas localidades (Susana e Varela) a utilizar a via fluvial até à cidade do Cacheu, situada do outro lado deste largo rio.
Mais ou menos a meio do caminho, efectuámos uma paragem na povoação de Susana, onde no tempo da guerra colonial se sediava uma Companhia de militares do Batalhão de S. Domingos, a fim de desentorpecemos o corpo e as pernas, ficando algo tristes ao vermos as instalações do antigo quartel completamente degradadas.

Com tristeza, encontrámos aqui dois antigos memoriais das nossas tropas quase completamente destruídos e abandonados, mas ficámos um pouco admirados com a presença, junto à estrada, de um habitante de Susana, a vender garrafas e garrafões com gasolina para as motorizadas, porque, segundo nos contou, a partir de S. Domingos não existem postos públicos de venda de combustíveis.
Pessoa simples e afável, que estava acompanhado de um filhote com cerca de 5 anos, contou-nos um pouco da sua vida e dos seus familiares e da ilusão que para ele e seus pais, tinha sido a independência do País. Sintomático e elucidativo da vida destas gentes…

Arrancando pouco depois, chegámos à localidade de Varela, mas resolvemos continuar até à denominada Praia Varela, que dali distanciava 5 quilómetros, pois um dos motivos desta nossa deslocação era, pelo menos molhar nos pés nas tépidas águas do Oceano Atlântico.
Saindo dos jeeps, efectuámos um curto passeio a pé até ao mar, atravessando uma zona de dunas, constatando, passados uns minutos, que um grupo de 5 senhoras, ficaram com a carrinha Toyota metida nas areias até ao eixo. O motorista guineense, bem tentava retirar a viatura, mas cada vez mais a enterrava.
Fomos em seu socorro, informando-nos que eram quatro médicas e uma enfermeira italianas, que estavam numa missão de apoio solidário e voluntário no Hospital de Bissau e aproveitaram a folga do fim-de-semana para irem até à Praia Varela.

Com muito custo e apenas com a ajuda e força de dois dos nossos jeeps, conseguimos tirar de lá a Toyota em que as médicas se faziam transportar.
Como este “salvamento” demorou bastante tempo a concluir, a nossa intenção de virmos almoçar a S. Domingos gorou-se e resolvemos almoçar no “Aparthotel Chez Helléne”, na povoação de Varela, aproveitando as médicas a nossa boleia e indo elas também lá almoçar.
Surgiu, porém, um pequeno contratempo, pois como não estavam a contar com tanta gente para almoçar (só nós éramos 12, mais 3 motoristas), a que se juntavam mais 6 pessoas (5 italianas e o motorista), tivemos que esperar que descongelassem a carne o que nos atrasou cerca de 2 horas, mas no final tudo ficou bem e as italianas ficaram muito gratas pela nossa acção de interajuda.

Com esse atraso, no regresso parámos somente na localidade de Ingoré, uma pequena vila que nos pareceu bastante comercial e com grande movimento de pessoas, não sem que antes nos detivéssemos uns minutos a observar a extracção e produção do sal, que apanhavam do solo de uma das bolanhas junto à estrada por onde circulávamos, tendo sido já de noite, que chegámos a Bissau.

Foto 37 - S. Domingos (Guiné-Bissau): Descanso no pequeno bar/restaurante da localidade, estando na mesa ao nosso lado, os 3 casais que viajaram no mesmo avião em que nós fomos

Foto 38 - S. Domingos (Guiné-Bissau): Vista aérea da vila, onde se vê a povoação, a pista de aviação e na parte superior direita, a picada, em terra batida, que a liga às localidades de Susana e Varela. A rua que do centro se abre para a direita da foto, vai ligar a fronteira senegalesa de Mpak. Em primeiro plano as instalações do Quartel
Foto: © José Salvado (2016). Todos os direitos reservados

Foto 39 - Susana (Guiné-Bissau): Edifício do Comando da última Companhia de militares que aqui esteve estacionada

Foto 40 - Susana (Guiné- Bissau): Antigas e arruinadas instalações do antigo aquartelamento
Fotos e legendas: © Pepito/ AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau) (2007)

Foto 41 - Susana (Norte da Guiné-Bissau): Bela foto de um natural desta terra, com o seu filhote, que, em bancada idêntica à que se vê na imagem, vendia garrafas e garrafões de gasolina para motos

Foto 42 e 43 - Praia Varela (Norte da Guiné-Bissau): Duas fotos minhas. Na primeira, a molhar os pés na tépida água do Atlântico e na seguinte, junto à água, a filmar a paisagem para o lado norte

Foto 44 - Praia Varela (Norte da Guiné-Bissau): Mais um conjunto de banhistas da areia seca (da direita para a esquerda: Rebola, Vitorino, Rodrigo, Cancela e Isidro)

Foto 45 - Varela (Norte da Guiné-Bissau): No Aparthotel "Chez-Helléne", aguardando, com cara de fome o almoço.

Foto 46 - Ingoré (Guiné-Bissau): Jardim de Infância
Foto: © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados

Foto 47 - Ingoré (Guiné-Bissau): Descarga de material diverso, para o Jardim de Infância
Foto: Com a devida vénia a Tabanca de Matosinhos & Camaradas da Guiné

Foto 48 - Antotinha (Guiné-Bissau): Moutinho, Azevedo e motorista Armando, junto à nova ponte sobre o Rio Cacheu

Foto 49 - S. Vicente (Guiné-Bissau): Nova ponte construída sobre o Rio Cacheu

Foto 50 - Rio Cacheu (Guiné-Bissau): O antigo e velho cais de S. Vicente/Antotinha, onde actualmente existe a nova ponte

Fotos: © A. Acílio Azevedo

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de setembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17804: As memórias revividas com a visita à Guiné-Bissau, que efectuei entre os dias 30 de Março e 7 de Abril de 2017 (4): 3.º Dia: Bissau, Safim, Bula, Có, Pelundo, Canchungo, Bachile e Cacheu (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil)

4 comentários:

Luís Graça disse...

Bonita ponte, a de S. Vicente... Obra da Soares da Costa e dos seus engenheiros e demais trabalhadores... Uma ponte também de afetos, como o nosso blogue... É bom recordar isso aqui... Veja-se o blogue, criado na altura, pelo Pedro Moço:

http://psvicente.blogspot.pt/

Luís Graça disse...

O blogue "Construção da Ponte de São Vicente" não é só do Pedro Moço... É de mais "obreiros"

De 2007 a 2011 publicaram cerca de 6 dezenas de postes... Palmas para estes jovens "tugas" da Soares da Costa:

A equipa

Adriano Fernandes
Alfredo Pacheco
Eduardo Martins
José M V Rio
Pedro Moço
Pedro Silva
Pedro Veiga
Rui Sérgio Cunha
Tiago Costa
Tiago João Rito Reis Andrade

http://psvicente.blogspot.pt/

Luís Graça disse...

Deixem-me reproduzoir aqui um belissímo texto que o Pedro Moço escreveu no blogue "Construção da Ponte de São Vicente", e que muito me sensibilizou, imaginando que o Pedro seja mesmo "moço"...


segunda-feira, 27 de junho de 2011 > Pontes para o futuro...


Sem excepção, quando questionados sobre a nossa presença na Guiné-Bissau entre os anos de 2007 e 2009, todos referimos que estivemos a construir uma ponte.

Esta resposta assume contornos simbólicos, pois se é verdade que fisicamente construímos uma estrutura de betão e aço que une as duas margens do rio Cacheu, entre as localidades de S. Vicente e Ingoré, construímos também, colectivamente e individualmente, muitas pontes mais. Pontes de entendimento, pontes de afectos, pontes de vida.

Fisicamente construímos uma grande obra, mas afectivamente construímos muitas pequenas obras.

A Soares da Costa na sua acção meritória e numa perspectiva que sempre persegue, a sua Sustentabilidade, contribuiu para o bem estar das populações de S. Vicente e localidades limítrofes, fornecendo sem custos alguns bens essenciais, dos quais se destaca o fornecimento de água, bem escasso na sua forma potável.

A construção e manutenção, com pessoal especializado, de uma enfermaria/dispensário, foi também um importante contributo para o bem-estar das populações num país onde a maior parte das doenças já erradicadas na Europa ainda matam todos os dias.

A contratação de pessoal local, muitas vezes sem qualquer formação ou valência especializada, contribuiu também para dinamizar a economia do país.

Mas as pontes afectivas, de respeito mútuo e amizade, essas construíram-se naturalmente e sem custos. Essas construíram-se de dentro para fora, de forma automática e simples. Essas assumiram a forma da amizade, da convivência, do entendimento e respeito mútuo. Muitos amigos deixamos todos nós por lá. Penso que conseguimos consolidar a boa imagem de Portugal numa ex-colónia. Levamos novamente, tantos séculos após os Descobrimentos, a nossa língua pátria mais longe. E reforçamos laços.

Esperemos que as pontes que construímos, físicas e afectivas, sejam duradouras. Pela nossa parte perdurarão enquanto a memória existir.

http://psvicente.blogspot.pt/2011/06/pontes-para-o-futuro.html

Luís Graça disse...

Confirma-se pelo seu perfil no Linkedin: geólogo, licencaido em 1992 pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto... Portanto, deve ser um "jovem" com cerca de menos de 50 aninhos...

https://www.linkedin.com/in/pedro-mo%C3%A7o-9096253b/?ppe=1

Já não está na Soares da Costa, é agora Project Manager na Geoma - Geotecnia e Mecânica dos Solos, Lda, Santa Maria da Feira...