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Queridos amigos,
Aqui vai o primeiro texto referente ao romance de Manuel Fialho.
Lanço a todos o seguinte apelo: quem tiver os romances “A Lebre” ou “Capitão Nemo e Eu”, de Álvaro Guerra, peço a caridade de mos emprestar, já agora gostava de fazer o repertório do Álvaro Guerra escritor/combatente da Guiné por completo.
Um abraço do
Mário
Além do Bojador (I)
Beja Santos
E assim se chega a Bissau, daqui o batalhão parte por LDG para Farim. Junto do Cacheu, Frei Miguel vê com assombro aquele pequeno forte que lhe recorda uma história que começou no século XV e XVI, discorre sobre os acontecimentos da região até ao início da luta armada (quem nada sabia sobre a história da Guiné fica com duas páginas de síntese). O franciscano fixa o percurso da lancha, regista pormenores do tarrafo, descreve a paisagem e depois Farim, povoação que percorrer demoradamente. O comandante vai dando ordens, lança advertências: “Os nossos alferes tenham muito cuidado ao receber as viaturas, os rádios e, acima de tudo, as ferramentas. De modo algum descentralizem essas conferências. Confiram muito bem, pessoalmente, todas as listas de material e vejam se está tudo lá, e, principalmente, em que estado de uso. Só, então, passem essa responsabilidade para o sargento mecânico e para os furriéis. E, sobretudo, não dêem qualquer hipótese de essas ferramentas puderam voltar às mãos anteriores. Não seria nada inteligente da nossa parte assistir, por exemplo, à contagem do mesmo alicate por duas, três ou mais vezes...”
Frei Miguel vai fazer obras na Capela de Farim, depois começa a viajar, acompanha as colunas, o seu zelo religioso é infatigável. Descreve as suas viagens, como é que se desatola uma GMC, embevece com um recital de guitarra clássica, aos poucos adapta-se à rotina. É aqui que surge o fascínio inter-religioso e inter-cultural: vai até à tabanca, conhece um homem grande, de nome Malan, será o princípio de uma relação que o leva a estudar e a descrever a história pré-colonial e a afeiçoar-se por Binta (aliás, Fátima, o nome da filha do Profeta). É uma larga divagação histórica, a epopeia do império Mandinga vem ao de cima.
A guerra manifesta-se em toda a sua pujança: flagelações, morteiradas, emboscadas, minas anti-carro e minas anti-pessoal. Nos intervalos dos seus trabalhos de capelão, Frei Miguel conta às crianças a história grandiosa desse mundo que precedeu a colonização. É nisto que ele vai sentir um sentimento diferente por Binta, uma forte atracção, isto na altura em que fala do apogeu do povo Songhai de Tombuctu e do império do Mali. Os Mandingas de Farim estão orgulhosos. Frei Miguel entra num derriço por Binta: “Aqueles olhos sorriam como se fossem de uma menina que tivesse cometido alguma travessura. O seu rosto tinha o mesmo ar de intensa frescura, com o cabelo ainda por secar, após o banho da tarde. Eu não me cansava de admirar a sua figura tão esbelta e tão linda, ali à minha frente. Usava o mesmo tipo de corpete muito reduzido e todo aberto nas costas, uma saia comprida de um outro tecido estampado, que a fazia ainda mais alta e realçava a sua extrema elegância”.
Frei Miguel vive a tentação, repete infinitamente as suas orações, até à exaustão, vestido no seu hábito franciscano. O impensável acontecera, o mundo de um jovem capelão de 27 anos entrara na deriva.
Este livro de Manuel Fialho é de 2008, Edição 100 Luz.
(Continua)
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 24 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5877: Notas de leitura (70): Os Sinos de Bafatá, de Joaquim Ribeiro Simões (Beja Santos)
2 comentários:
Zero comentários.
Abraço,
António Graça de Abreu
Caro Beja Santos:
Tenho A LEBRE de Álvaro Guerra,1ªedição(1970).Comunica para manueljoaquim41@gmail.com para combinarmos o empréstimo. Moro em Agualva-Cacém.Não tenho problemas em ir a Lisboa.
Um abraço
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