Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 27 de fevereiro de 2010
Guiné 63/74 - P5895: Blogpoesia (65): Porque Será (que não consigo esquecer) (Albino Silva)
1. Mensagem de Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2010:
Carlos Vinhal
Aqui te mando este trabalhito para colocares na Nossa Tabanca Grande.
Espero que chegue bem, pois tenho mais para enviar, mas quero ter a certeza que chegou bem.
Um Abração para todos os Tertulianos.
Em Especial para os Chefes de Tabanca.
Albino Silva
PORQUE SERÁ
Por mais que eu queira esquecer
O passado no Ultramar
Eu bem tento mas não consigo
Pois o estou sempre a lembrar …
Não consigo esquecer
E se o Trauma assim é
A verdade eu não esqueço
Recordo sempre a Guiné …
Não consigo esquecer
Da Guiné é já Paixão
A Guiné e Camaradas
Com quem fui em Batalhão …
Não consigo esquecer
E ainda hoje eu sinto
Saudades dos Camaradas
Da Guiné Teixeira Pinto …
Não consigo esquecer
Locais por onde eu andei
Até mesmo a Enfermaria
Onde tanto Serviço prestei …
Não consigo esquecer
As Gentes daquela terra
Os Estrondos dos Morteiros
Mortos Feridos e Guerra…
Não consigo esquecer
Aquela Enfermaria
Do Ferido em Combate
Ou por Doença Morria …
Não consigo Esquecer
Camaradas a Chorar
Traumatizados da Guerra
Que eu tentava Consolar …
Não consigo esquecer
Esse tempo Dia a Dia
Rebentamentos constantes
Que toda a Guiné Tremia …
Não consigo esquecer
Tudo aquilo que Vivi
Tanto e tanto Camarada
Que na Guiné conheci …
Não consigo esquecer
As Picagens nas Estradas
Vejo ainda Inimigos
A dispararem Rajadas …
Não consigo esquecer
A companhia ou Pelotão
Camaradas Caçadores
Que eram do meu Batalhão …
Não consigo esquecer
Camaradas Paras e até
Os Fuzas lá no Canchungo
Teixeira Pinto Guiné …
Não consigo esquecer
Tantos Milícias que vi
Guineenses do Canchungo
Que com eles convivi…
Não consigo esquecer
Bem de tudo estou lembrado
Penso na Minha G 3
Companheira do passado …
Não consigo esquecer
Ainda me julgo Fardado
Na Guiné ainda estou
Com o meu Camuflado …
Não consigo esquecer
Momentos que lá Vivi
Ao ver Sofrer Camaradas
Com eles também Sofri …
Não consigo esquecer
Os Roncos ou Emboscadas
Com tantos Anos passados
Ainda ouço Rajadas …
Não consigo esquecer
Camaradas que lutaram
Defendendo sua Bandeira
E pela Pátria Tombaram …
Não consigo esquecer
O Calor aquele Inferno
O Cheiro constante a Pólvora
E as Chuvas no Inverno …
Não consigo esquecer
Da Guiné me lembro Sim
Dos Reforços e Psico
Guardas á Ponte e Fortim …
Não consigo esquecer
Mesmo por muito tentar
Quando penso estar esquecido
Estou com a Guiné a Sonhar …
Eu não consigo esquecer
Coisas em minha memória
E sonhar com a Guiné
Faz parte da minha História …
Eu não consigo esquecer
Nem Guiné nem sua Gente
Eu Sonho que sou Soldado
E ainda sou Combatente …
Eu não consigo esquecer
E a Dormir vou Sonhando
Caindo numa Emboscada
Com Gritos vou acordando…
Eu não consigo esquecer
Efeitos que a Guerra tem
E o Trauma que hoje tenho
Tem a Familia também …
Eu não consigo esquecer
O passado que vivi
Que de bom só hoje tenho
Camaradas que conheci …
Eu não consigo esquecer
É bem verdade o que digo
Por hoje deixo a Escrita
E vou fugir para o Abrigo…
Albino Silva
Sol. Maq. Nº 011004/67
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 16 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5827: Convívios (102): Ex-militares do BCAÇ 2845, no dia 1 de Maio de 2010 em Buarcos (Albino Silva)
Vd. último poste da série de 28 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5717: Blogpoesia (64): À uma e meia da tarde... Em homenagem ao António Marques, que sobreviveu, dois anos depois, à explosão de um vulcão (Luís Graça)
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1 comentário:
Caro Albino Silva.
Não queiras esquecer o que ninguém esquece passando pela guerra da Guiné, uns mais do que outros, todos a temos cá dentro.
Escreve em verso ou prosa, mas agora no sentido mais “divertido” da guerra.
Um abraço
Manuel Marinho
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