sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7418: Memória dos lugares (116): As colunas logísticas ao Xitole e Saltinho no tempo do Paulo Santiago (1970/72) e do Joaquim Mexia Alves (1971/73)

1. Comentário do Paulo Santiago (ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)  ao poste P7401 (*):

Nos primeiros meses que passei no Saltinho, as colunas logísticas ainda seguiam esse itinerário: Bambadinca-Mansambo-Xitole-Saltinho.

Houve uma, não sei a data, onde andei com o [Pel Caç Nat] 53, entre Xitole-Ponte dos Fulas. Lembro-me da chegada ao Saltinho da malta da CCAÇ12, onde no primeiro Unimog 404 vinha o Alf Mil Carlão, e comentavam os camaradas da  [CCAÇ] 2701, que ele não gostava de apanhar...pó.

Assim é possível que ainda tenha encontrado, no bar do Saltinho, o Henriques, o Humberto, o Levezinho... sei lá, era muito piriquito na altura.

Depois abriu-se uma picada que aproveitou o carreiro dos dgilas, e as colunas logísticas para o Saltinho passaram a ter o itinerário Galomaro-Duas Fontes-Chumael-Saltinho. Este percurso, até
ao fim da minha comissão, era seguro, não havia picagem... era percorrido, com frequência, pelos camiões do Jamil e do Rachid [, os dois comerciantes do Xiotole, de origem libanesa]...




Guiné > Zona leste  > Região de Bafatá > Os longos e tortuosos caminhos para se chegar ao Saltinho, no Rio Corubal... Em Agosto de 1969, foi reaberto o troço Mansambo-Xitole-Saltinho, passando o Saltinho a ser abastecido a partir de Bambadinca... Mais tarde, o Saltinho (que pertencia ao Sector L5, Galomaro)  passou a ser abastecido por Galomaro com o aproveitamento do carreiro dos djilas (Saltinho - Chuamel-Duas Fontes)... Todo o abastecimento do Leste passava pelo eixo rodoviário principal  Xime -Bambadinca - Bafatá - Nova Lamego...  A distância entre Bambadinca e o Saltinho era de 55 km; e entre Bambadinca e Bafatá, 30 km; e entre Saltinho e Galomaro, cerca de 50 km; Galomaro e Bafatá distavam entre si à volta de 25 km...  (LG)


2. Comentário ao poste P7401 (*), da autoria do Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3492, (Xitole/Ponte dos Fulas), Pel Caç Nat 52  (Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e CCAÇ 15 (Mansoa), 1971/73:

Caros camarigos: Tal como já referi noutro comentário, estas colunas no tempo do BART 3873, faziam-se sem problemas, mas apenas com muito pó e cansaço, sobretudo daqueles que montavam segurança, pois era um dia inteiro no mesmo local.

Aí, nessa estrada e por causa de uma coluna levantei uma mina conforme descrevo aqui:
http://pontedosfulas.blogspot.com/2008/06/1-mina-do-bart-3873.html (**)
e que os editores podem aproveitar se quiserem, embora me pareça que há uns anos talvez tenha havido um poste sobre isso.

Refiro também, (e também acho que já o tinha feito), a realização de uma coluna da CART 3492, (por causa, salvo o erro, de um funeral de um guineense), pela estrada Saltinho/Galomaro que estava fora de uso há já largo tempo.

Todos consideravam uma temeridade tal coluna mas ordens... são ordens. O meu tio Jamil Nasser, que tudo sabia, tentou dissuadir-me de fazer tal coluna, ao que eu obviamente não acedi. No dia da coluna lá estava ele com duas camionetes carregadas, colocando-se como passageiro também. (***)

Tirando o cansaço, nada mais aconteceu!

Grande e camarigo abraço para todos
Joaquim Mexia Alves
______________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de  8 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7401: A minha CCAÇ 12 (10): O inferno das colunas logísticas Bambadinca - Mansambo - Xitole - Saltinho, na época das chuvas, 2º semestre de 1969 (Luís Graça)



(**)  Reproduzido, com a devida vénia, do blogue Xitole > 9 de Junho de 2008 > A> primeira mina do BART 3873 ? 

No início da nossa estadia no Xitole e,  salvo o erro, logo na primeira coluna vinda de Bambadinca à qual a nossa Companhia montou segurança, calhou-me, a mim, e ao meu pelotão, como não podia deixar de ser, o ponto mais afastado do Xitole,  para montar segurança à dita cuja.

Se bem me lembro era junto a um pequeno pontão, (não me lembro do nome, Jagarajá?), pois a partir daí era terreno da Companhia de Manssambo [, a CART 3493, 1972/73]. Aí chegados,  enquanto colocava o pessoal na mata, os guias e picadores foram picando a estrada junto ao pontão e chamaram-me porque tinham detectado uma mina.

As penas de periquito ainda esvoaçavam por todo o lado e, cheio de sangue na guelra, decidi levantar a mina. Mandei afastar os que estavam mais perto e lancei-me ao trabalho, não me lembrando agora se tive alguma ajuda no início. Depois de escavar a coisa, passou-se à parte mais difícil que era desarmar o detonador, para depois, pelo sim pelo não, puxar a dita mina com uma corda, não fosse o diabo tecê-las.
A mim pareceu-me que tudo isto demorou uma eternidade, mas segundo me disseram até foi rápido. Sei que suei rios de água e não era por causa do calor.

Lembro-me de pensar em desistir a meio e rebentar com aquilo, mas o orgulho e o pensar o que é que o pessoal vai dizer, levaram-me a continuar e acabar o trabalho.

Ao que sei, foi a primeira mina levantada no Batalhão [BART 3873, Bambadinca,1972/1974]. Na minha fraca memória, vem-me à ideia que deixámos uma qualquer mensagem de ronco no sítio da mina. Enfim, gabarolices!

Diziam que pagavam não sei o quê pelas minas levantadas, mas não me lembro de ter recebido nada. Mais tarde e já no Pel Caç Nat 52, com o clima e outras coisas, cometia a rematada estupidez louca de ir pisando o caminho à frente do Pelotão, o que os soldados africanos muito apreciavam, só me valendo o facto de Deus nunca estar distraído.

Envio prova fotográfica do feliz evento [, imagem acima,], chamando a atenção para a qualidade da revelação da fotografia, feita num estúdio de um qualquer curioso militar no Xitole, do qual não lembro a identificação.

Joaquim Mexia Alves

Nota: Se esta história não está bem contada, e eu estou para aqui armado em "herói", peço que a rectifiquem, pois a memória já não é o que era.


[ Revisão / fixação de texto / bold a cor: L.G.]


(***) Último poste da série Memória dos lugares > 30 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7360: Memória dos lugares (114): Fajonquito, fotos de Sérgio Neves, ex-Fur Mil Mec Auto da CCAÇ 674, 1964/66 (3) (Constantino Neves)

12 comentários:

Juvenal Amado disse...

Meus caros

Fiz o os dois itinerarios e foi entre Galomaro- Duas Fontes- Saltinho, que morreu o Teixeira soldado de Reconhecimento e Informação da minha companhia.
Novembro 15 1972 uma mina esperava por ele.

Paz à sua alma

Juvenal Amado

Anónimo disse...

Achei muito interessante os amigos Paulo e Mexia Alves não virem apresentar certezas absolutas, mas aquilo que a memória vos diz que terá acontecido. E deixando isto bem claro.
Havia, de facto, gente muito maluca. Aquela de o alferes seguir no primeiro Unimog, por não gostar de apanhar... pó, é mesmo de cabo de esquadra. E disto também se fazia o quotidiano das NT. O problema é que às vezes dava para o torto.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Luís Graça disse...

Juvenal, aqui está o teu poste:

11 de Janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2430: Estórias do Juvenal Amado (1): Um dia negro, na estrada Galomaro - Saltinho (Juvenal Amado, CCS/BCAÇ 3872)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2008/01/guin-6374-p2430-histria-de-vida-9-um.html


(...) Guiné, 15 de Novembro de 1972

(...) A coluna militar em direcção ao Saltinho tinha partido de Galomaro ainda o céu estava escuro para efectuar a recolha de Páras, que tinham sido largados na zona, se não estou em erro dois dias antes. Faziam segurança à coluna o pelotão do PEL REC (Pelotão de Reconhecimento e Informação), reforçado por milícias africanas.

A picada tinha sido abandonada já algum tempo, pois era mais seguro, embora muito mais longe, abastecer a Companhia do Saltinho, através de picadas onde beneficiávamos do apoio das Companhias que faziam parte do Batalhão de Bambadinca, que estavam aquarteladas ao longo do percurso. Normalmente o Esquadrão de Cavalaria de Bafatá também participava com as Chaimites.

Como era uso, uma Berliet, carregada de sacos de areia e os pneus cheios de água por causa das minas, seguia à frente e as ordens eram para se manter distância, desde que não se perdesse o contacto visual com a viatura que seguia na frente.

A picada estava em mau estado pois não era usada há bastante tempo, mas o pior era o capim que tinha crescido de tal forma que nos encharcava com o cacimbo abundante nessa altura do ano. Embora normalmente com um clima escaldante, não era nada agradável aquela hora. (...)

Torcato Mendonca disse...

Já aqui falei nas loucas colunas de Bambadinca ao Xitole. Engolia-se,mesmo com lenço, umas gramas de pó.
O trajecto era:
Bambadinca,Galomaro, Dulombi, Quirafo, Saltinho e Xitole.

Manga de viaturas militares e civis ( o que era sinónimo de calmaria) e iamos distribuindo o material. Esse assunto era com a Intendência. Nós só fazíamos a segurança e éramos os responsáveis por tudo, menos os artigos transportados.
Uma loucura. Iamos reforçados com matrerial, outra MG, morteiros, bazucas etc.
No regresso só vinham viaturas militares, creio eu.
AB T

Luís Dias disse...

Camarigos

O Juvenal lembrou e bem a morte de uma camarada do PELREC da CCS do BCAÇ3872, nessa picada (que eu nunca percorri). Há, ao que julgo, no blogue um post do próprio Juvenal, em que relata sobre esta vida perdida e arrancada pela força de uma mina traiçoeira (a ler porque está muito bem escrito).
Pois é Mexia Alves, tens na mão uma das prendas anti-pessoais mais colocadas pelo IN, a mina anti-pessoal PMD-6 (também apanhei duas dessas prendas). Uma pequena caixa de madeira (20x9x6,5cm) com 200g de TNT, pesando o total de 400g. Ao ser pisada, a tampa da caixa empurrava a segurança do percutor, libertando-o, dando-se a percussão. Podia também ser armadilhada com um fio ou cordel.Simples e infelizmente eficaz.
Ao que creio e se bem me lembro as minas anti-pessoais valiam 1.500$00 e as anti-carro 3.000$00 (já era algum dinheiro naquele tempo). Na minha companhia, o dinheiro recebido do material apreendido, foi guardado pelo capitão e já no regresso, em Bissau, foi unicamente distribuído, por decisão dos graduados, pelos praças. Deve ter dado para umas bejecas e umas ostras.
Um abraço
Luís Dias

paulo santiago disse...

Luís
O Rachid não era comerciante de Aldeia Formosa, ele era do Xitole,e
abriu uma casa comercial na tabanca
de Mampatá no entroncamento da picada Xitole-Saltinho com a que seguia para Chumael-Galomaro.Este Rachid era filho de um libanês e de uma guineense,se não estou errado.

Juvenal
Como tudo se alterou naquele percurso de Galomaro para Saltinho...

Torcato
Em 2005 havia uma ponte em mau estado à entrada de Bambadinca e os
camiões tinham de fazer esse percurso que conheces,ao chegarem à
baixa de Bambadinca, seguiam para
Galomaro(Cossé)-Dulombi-Quirafo-
Saltinho-Aldeia Formosa-...ou
Mampatá(Saltinho)-Xitole
Penso que estás enganado quanto ao
regresso.As viaturas civis seriam,
na sua maioria,de Bafatá,e regressavam com a escolta,pelo menos,no Saltinho, nunca ficou
qualquer camião civil.

recebam um abraço

Torcato Mendonca disse...

Paulo
Posso estar enganado. Parto sempre do principio que o erro é meu. Aqui talvez não. nem fui tentar ver nos poucos elementos de que disponho.
Essas colunas eram feitas antes da estrada Bambadinca,Mansambo ,Xitole ter sido reaberta. O trajecto referido, nas que fiz, era esse. O regresso era outro mais curto, talvez< próximo da assinalado a azul na Carta. Numa até levamos uma moto-niveladora da TECNIL...Há um poste meu com essa viagem e as peripécias...
O regresso era mais problemático devido a virem só militares.As viaturas civis vinham depois e estavam cobertas pelo seguro da "agência cabraliana assciados". As info funcionavam...algumas! Isto passava-se em 1968/69, mais 69.

Aproveito para dizer ao Luís Dias:
Não falaste no detonador ou espoleta que o Mexia Alves tem na mão e as características...no meu tempo a anti-pessoal era a 1000 e a anti-carro duplicava...inflações...

Abraços e bom-fim.de-semana, T.

paulo santiago disse...

Olá Torcato
É possível que tenhas razão quanto
às viaturas civis.Sei que estas no
Saltinho saíam com a escolta,isto
em 70/72.Quanto ao percurso a azul,
não o podes ter feito, no teu tempo
entre Chumael e Duas Fontes,não existia picada,apenas o"carreiro dos djilas"Em Abril/71 é que a CCAÇ
2701 abriu uma picada a ligar
Chumael-Duas Fontes.Para te situares,Chumael era a segunda tabanca que encontravas vindo do
Quirafo em direcção ao Saltinho,a
primeira,Madina Buco,foi para onde
retirou o pessoal que estava no
Quirafo

Abraço
Paulo

Luís Dias disse...

Camarigo Torcato

A PMD-6, conhecida internacionalmente por "caixa de sapatos", actua com uma espoleta do tipo MUV e um detonador do tipo MD-2 (mas isto foi depois de consultar apontamentos na net).
E julgo que no meu tempo os valores para as minas já eram esses - a inflação já fazia os seus efeitos, até nos frangos que comprávamos à população, que já nos pedia o dobro do que cobraram aos nossos "velhinhos". As armas de fogo eram a 750$00.
Um abraço
Luís Dias

Torcato Mendonca disse...

Correcto e afirmativo Luís Dias.

Muv, a terrível e eficiente Muv que jogava para os três lados.

Não quero ir além da chinela...é assunto de Sapador ou Minas e Armadilhas. Isto é como as Operações Especiais ou Rangers e gritam esses camaradas.
Nós não,eu neste caso,como diz o Luís Graça "pião das nicas"...mas dávamos, ou dava,para tudo.
Já que gostas de armas, há uma granada chinesa(usada pelo IN na Guiné)em forma de "pinha" com dois detonadores, tipo dois em um, só que um deles, o que detonava a granada retardava uns segundos depois do rebentamento do primeiro.Percebes para quê. E outra granada das NT, Canadiana, com uma fita e chumbo na extremidade. Desenrolada a fita vinha o rebentamento...devia vir da 2ª G. Guerra...fazia parte do material obsoleto de Fá. Joguei os livros todos fora há menos de quinze anos, nem tanto. Ficaram esquecidos alguns. A GUERRA ACABOU ....só que...
Abraço do Torcato

Anónimo disse...

Caro Torcato,
Julgo que as granadas de que falas são as m/954 (CAN). Ou seja, de 1954 e, de facto, de origem canadiana.
Sabes como vinham embaladas? Não?!
Então eu digo:
Granadas fornecidas em cunhetes metálicos contendo 34 granadas e 34 detonadores. Dentro de cada cunhete metálico encontram-se 9 cilindros de cartão com tampas de madeira. Cada cilindro destes tem capacidade para 4 granadas, havendo um destes cilindros que contêm duas granadas e 2 blocos de madeira com alvéolos para 17 detonadores cada.
Um abraço,
Carlos Cordeiro

Anónimo disse...

Caro Torcato,
Quis só brincar. Retirei estas informações dos apontamentos do CISMI sobre armamento.
Estavam em casa de minha mãe e o outro dia trouxe-os para cá.
Acho imensa piada ao modo como cada arma vem descrita, com todos os pormenores técnicos.
Acho imemsa piada aos pormenores sobre a granada defensiva m/944:
"Alcance médio: lançada de pé - 30 a 40 metros; de joelhos - 15 a 20 metros; deitado - 10 a 15 metros.

JUSTEZA - dependente do atirador!!!

VELOCIDADE MÉDIA - 15 a 20 granadas por minuto".

Não me lembro nada dos testes que fazíamos no CISMI, mas não acredito que fizessem uma pergunta sobre a velocidade média de lançamento de granadas!

Um abraço amigo,
Carlos Cordeiro