Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > CCAÇ 12 (1969/71) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > Uma manada de vacas, cambando o Rio Udunduma, afluente do Rio Geba... Possivelmente pertencentes a uma notável fula da região (Amedalai, por exemplo, que era a tabanca mais perto, ou Dembataco, ou Taibatá)... Só com muita relutância os fulas vendiam cabeças de gado à tropa (tínhamos que ir a Sonmaco comprá-las!)..´O gado era, tradicionalmente, um "sinal exterior de riqueza", um símbolo de "status" social, parte inalienávcel do património familiar... Os pastores eram, geralmente, "djubis", rapazes de corpo feito...(podendo estar armados com uma Mauser, distribuída à milícia) (já os os guardadores dos campos de "mancarra", que sofriam frequentes invasões de macacos-cães, erianças...). Na foto, está assinalada, a amarelo, a posição do pastor ou guardador do rebanho. A ponte era defendida por um Gr Comb. Nesta época (1969/71) não havia instalações militares, apenas toscos abrigos...
Foto (e legenda): © Humberto Reis (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Cherno Baldé (Bissau) |
1. Comentário do Cherno Baldé ao poste P26375 (*):
Caros amigos,
O autor do Poste fala de "cenas caricatas (e afinal tão humanas)" !
Na verdade, são tão humanas que posso confirmar que, entre os povos criadores de gado como os fulas (aos quais eu pertenço com todo o orgulho) e agora os outros povos animistas também (balantas, papéis, manjacos etc...) estas cenas (**) são normais ou normalizadas entre os mais jovens e são toleradas com toda a humanidade possivel, necessária e até imprescindivel, em certas circunstâncias, para os jovens que, tendo atingido a idade de casar, ainda continuam solteiros e, muitas vezes, obrigados a passar a maior parte da sua vida atrás dos ditos animais.
No meu caso e mais uma vez, como aconteceu com a ida a tropa, não tive o privilégio e a sorte de poder experimentar, pois ainda era muito pequeno e logo logo fui obrigado a deixar a aldeia para continuar a escola no Ciclo e Liceu de Bafatá, mas sabia que eram práticas correntes entre os pastores essas tentativas de satisfação sexual que, na verdade, não passavam de isso mesmo, de pura curiosidade juvenil, sendo que os tamanhos, a altura do animal e a natureza dos orgãos de uns e outros não são compatíveis, pelo menos foi a minha constatação pessoal.
Não obstante, confirmo que, na altura, os rapazes mais velhos proibiam aos mais novos de se aproximarem das suas "prediletas", sendo que, na primeira e última vez que assisti a tal práica ao vivo, o autor não tinha sido bem sucedido pois a bezerra, por inexperiência do autor ou outra razão qualquer, ao sentir a mão penetrante vagina dentro, vazou encima do violador uma enxurrada de urina amarelada e quente que o deixou todo molhado e mal cheiroso, tendo ganhado ainda para o resto da vida a alcunha de "Banel", ou seja, o nome da vaca que tentara penetrar.
Voltando ao presente Poste (**), acho que o António Carvalho disse o essencial da narrativa e com toda a razão no seu comentário quanto aos sentimentos do Furriel Enfermeiro, relativamente à jovem bezera, sua "predilecta". Sendo bem caricato, todavia acontece e é bem humano. (***)
Cordialamente,
Cherno Baldé
2025 M01 11, Sat 15:43:09 GMT
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 10 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26375: Pensamento do dia (28): "A gente, afinal, só se ri do mal que não faz mal a ninguém, nem a nós nem aos outros"... (Luís Graça)
(*) Vd. poste de 10 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26375: Pensamento do dia (28): "A gente, afinal, só se ri do mal que não faz mal a ninguém, nem a nós nem aos outros"... (Luís Graça)
(**) Vd. poste de 10 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26369: Humor de caserna (93): o guardador das vacas do Enxalé que violou... a bezerrinha do furriel enfermeiro (João Crisóstomo, ex.afl mil, CCAÇ 1439, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)
8 comentários:
O Cherno tem a visão (e a vivência) de dois mundos. Nós só temos a visão (e a vivência) de um mundo. Por isso somos mais "pobres" do que ele...Os seus comentários são preciosos, e imprescindíveis, que é para a gente não cair no pecado do eurocentrismo...
João Crisóstomo, Nova Iorque
Caríssimo camarada Cherno Baldé,
Obrigado, muito mesmo, pelo teu pertinente comentário ao poste que eu enviei há dias atras. De vez em quando leio postes e comentários teus, sempre bem-vindos e elucidativos. Como este. E foi esta esta tua simplicidade e franqueza que me levou a procurar e ler de novo alguns deles. E de repente deparei com dois postes, que nunca tinha lido antes, o post 23012 e logo a seguir o post 11762, com os seus 49 “comentários”.
Passei cerca de uma hora a “devorar” o que pude, a minha cabeça num turbilhão. Mas quero, embora atrasado 12 anos, juntar a minha voz a todos os que nesse dia manifestaram a sua admiração pela tua coragem.
Este poste de hoje vem apenas confirmar que não mudaste nada. São homens e exemplos assim (e ainda bem que no mundo de hoje ainda existem ) que nos motivam e inspiram a proceder da mesma maneira. Bem hajas.
João Crisóstomo
Estou a ler pela primeira vez em 82 anos, estas práticas ortodoxas, não sei o que lhe chamar.
Claro que a gente sabe, por filme e revistas desta existência (humana!) de sexualidade.
Mas assim tão direto, isso não, mas fico a saber agora.
VT
Um dia vou passar a escrito algumas cenas descritas num livro que já li 4 vezes e não fica por aqui. ´Deixei o meu coração em África, de Manuel Arouca, ano de 2005, da Oficina do Livro . Em 2010 quando comprei o meu, já era a 7ª edição.
É delirante, um furriel a comandar o pelotão Daimler, porque o Alferes não aparece ao embarque no UIGE para a Guiné.
Guilhege Terra da morte...
Já é tarde, mas prometo escrever aqui um resumo!!
E agora vou para a cama a começar a ler a 5ª vez, e vou anotar as partes que devo sublinhar.
Quem já leu sabe do que falo
VT.
O jovem pastor admiradíssimo com um viandante que parou a apreciar o seu rebanho, e começou a falar com o cão as cabras e ovelhas e todos os animais lhe respondiam, ou seja, o homem era ventríluco, sem o pastor conhecer o truque.
Nisto apavorado, o pastor alertou o viandante que a cabra amarela, a ovelha de cornos grandes, eram umas mentirosas que não acreditasse no que elas disserem.
Caros amigos, fiquei surpreendido pela reacção de alguns leitores a descrição que fiz sobre a relação "pouca" ortodoxa entre homens e animais como se isto fosse tão raro e/ou estranho assim no mundo e nas sociedades humanas. Acho que o problema reside no facto de ter a coragem e a honestidade, bem rara, de revelar factos que não sejam nada abonatórias a comunidade a que perrtencemos ou devido aos preconceitos que carregamos e que querem fazer de nós e ao grupo que pertencemos o melhor do mundo, quando, na realidade todas as sociedades humanas são complexas, diversificadas e dentro das quais coexistem forças e fraquezas, bons e maus hábitos social e culturalmente categorizados et...etc. As pessoas que não pensem que estou a falar de uma prática só africana, longe disso, todas as sociedades humanas começaram por serem recoletoras e, mais tarde, criadores de animais e pensar que esses comportamentos só dizem res peito a determinados grupos ou regiões geográficas é fazer prova de uma grande ignorância histórica. Assim, os criadores de gado serão levados a fazê-lo com as bezeras assim como criadores de suinos, caso de países como Portugal, o farão, com maior ou pior sucesso com as suas porcas prediletas (kkkkkkk...). Quem ainda não sabe, então, que pergunte aos mais velhos e conhecedores do mundo velho e do mundo novo, como o A. Rosinha.
Cdte,
Cherno AB
PS: Este debate sobre o comportamento humano podia entrar na tal reflexão filosófica do "Homem e o meio envolvente" onde caberia integralmente,
famosa frase de um pensador europeu, nesses termos : "Eu sou eu e as minhas circunstâncias ".
Cherno AB
Nado e criado numa comunidade de criadores de gado, com uma enraizada cultura tradicional, uma mescla de tradição secular e islamismo sunita bastante tolerante, desde muiti cedo ouviamos os mais velhos vaticinarem sem rodeios: "As noivas ( mulheres casadoiras) são para os mais velhos, os mais novos, com o seu pau bem rijo, que vão f..der as vacas (bezeras) no mato".
Cherno AB
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