Queridos amigos,
Aqui se deixa um cheirinho deste recheio preciosíssimo, mais de quatro milhões e meio de objetos de arte, sério concorrente do Louvre ou do Hermitage de S. Petersburgo. É evidente que procurei previamente documentar-me e optar pelas minhas escolhas, tivesse eu mais tempo e outro galo cantaria, seria uma digressão metódica dos tempos medievais e do Renascimento, pela Europa moderna, nos imensos tesouros asiáticos que dão pelo nome Japão, China, Islão e Índia; e far-se-ia uma visita a preceito ao mundo da moda, aos instrumentos musicais, à joalharia, tudo riqueza opulenta, mas as pernas já não são o que eram, fica aqui uma pálida amostra do que é possível esperar do Museu Vitória e Alberto.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (191):
From Southeast to the North of England; and back to London – 10
Mário Beja Santos
É de toda a conveniência, à entrada deste museu que conserva mais de 4 milhões e meio de obras de arte ter um sentido de orientação e tentar entender o que se pretende promover desde a sua fundação. Este museu foi fundado em 1852 com o título de Museu de Fabricantes. Anos depois, o museu mudou de local e veio para aqui em South Kensigton. O seu nome atual é Museu Vitória e Alberto mas não deve ser tomado à letra como um museu da era vitoriana, aqui encontram-se tesouros medievais, os esplêndidos cartões que Rafael concebeu para as tapeçarias dos Museus Vaticanos, os núcleos de arte indiana e chinesa são riquíssimos, como a arte inglesa dos séculos XVI e XVII, a arte europeia entre 1800 e 1900, o núcleo dos instrumentos musicais, a pintura de John Constable… Mas o visitante deve estar preparado para ver design moderno e aprender rapidamente a dosear o seu esforço para não se esgotar na exploração de tantíssimas galerias. Falou-se anteriormente de peças de arte que se viram nos rés do chão, é hora de tomar um chá, num espaço apropriado.
O visitante é bem acolhido nas zonas de refúgio para distender as pernas e meter conversa, neste museu tem notoriedade o jardim John Madejski.
Não escondo quanto gosto da arte pré-rafaelita e do movimento Arts & Crafts, dos trabalhos de William Morris, Dante Gabriel Rossetti e Edward Burne-Jones, eles estão bem representados neste museu ainda que em lugares distintos, para ver o seu mobiliário de desenho genial quase que temos de galgar até ao topo do edifício. Aqui fica uma amostra das minhas escolhas.
Campos de caça do Cupido, do artista pré-rafaelista Burne-Jones
Sonhar de Dia, por Dante Gabriel Rossetti
Personificação da Fé, por Henry Holiday (à esquerda) e Jacó com uma sopa nos braços, desenho de Dante Gabriel Rossetti (à direita)
A Última Ceia, por William Peckitt, século XVIII
Era quase obrigatório que o Museu Vitória e Alberto, que possuem um espaço dedicado ao Renascimento italiano não possuísse obras da mais delicada qualidade. Com frequência, quando visito o museu, ponho um tanto à banda para ver o que fascina mais o visitante. Intrigou-me que a generalidade de quem por ali passava lançava um olhar indiferente a este Martírio de Santa Catarina, quadro de pequena dimensão, é indispensável gostar de despender de tempo a ver os pormenores, a sua soma é que nos dá a gratificação estética.
Martírio de Santa Catarina, pintor italiano desconhecido, início do século XVI
É um espaço único, já visitei gipsotecas, nada é tão impressionante como esta, as pessoas ficam estupefactas com a gigantesca coluna de Trajano, a estátua de David, o pórtico da igreja de Santiago de Compostela, por aqui andam muitos estudantes, dada a natureza rigorosa das réplicas, é como nos sentíssemos no mundo clássico ou no Renascimento. The Cast Courts foi construído entre 1868 e 1873 para acolher esta prodigiosa coleção, sem dúvida alguma a grande atração do museu.
The Cast Courts, um dos espaços mais surpreendentes do Museu Vitória e Alberto, sobretudo pelas suas réplicas monumentais em moldes de gesso
Em termos de museografia, este museu merece os parabéns. Havendo espaços abertos de grandes dimensões, encontraram-se soluções que permitem ao visitante contemplar obras antigas e modernas, como aqui se exemplifica nestas duas imagens
Cadeira de braços, 1888, por George Faulkner Armitage (à esquerda) e cadeira de braços desenhada por C.F.A. Voysey, 1909 (à direita). Movimento artístico de Arts & Crafts
Uma das surpresas do museu é de nos dar a sensação de que nos passeemos no interior de um palácio imponente, grandioso, como se tivéssemos de pleno direito acesso grátis à sumptuosidade. Deixo-vos aqui esta imagem, mas muitos exemplos ficam por dar.
Museu ou palácio?
A pesca miraculosa é um dos desenhos de Rafael mais impressionantes, com ele nos despedimos desta portentosa visita, segue-se um passeio a pé, depois o metro até Hammersmith, uma alegre cavaqueira, jantar e repouso. Amanhã é o grande passeio pela City, e depois avião para Lisboa.(continua)
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Notas do editor:
Vd. post de 1 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26447: Os nossos seres, saberes e lazeres (666): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (190): From Southeast to the North of England; and back to London (9) (Mário Beja Santos)
Último post da série de 2 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26450: Os nossos seres, saberes e lazeres (667): Rescaldo da apresentação do livro "Orando em Verso III", da autoria do nosso camarigo Joaquim Mexia Alves, levada a efeito no passado dia 24 de Janeiro de 2025, na Igreja Matriz da Marinha Grande
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