quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19307: Historiografia da presença portuguesa em África (141): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Maio de 2018:

Queridos amigos,
Naqueles anos de 1946 e 1947 falava-se fluentemente em tribos, em gentio, em incivilizados, em raças. O conhecimento histórico era nebuloso, a historiografia sobre África, e sob impulso das escolas francesas, inglesas e alemã, está a dar os seus primeiros passos firmes. O que se conhece é a literatura de viagens, ao recurso a relatórios, alguns trabalhos de campo como os que foram assinados pelo Padre Marcelino Marques de Barros.
A Agência Geral das Colónias e a Sociedade de Geografia de Lisboa procuram suprir lacunas. O Padre Dinis Dias, diga-se em abono da verdade, trabalhou que se fartou, leu Zurara, André Álvares de Almada, Valentim Fernandes, a obra do antigo governador Carvalho de Viegas, não podemos acusá-lo de que trabalhou às três pancadas, inclusivamente leu uma importante obra do seu tempo, Histoire de l'Afrique Occidentale Française, de J. L. Monod, de 1937. Depois dele, tudo seria mais fácil, quando o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa passou a produzir obras que ainda hoje são de referência na historiografia guineense.

Um abraço do
Mário


As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (3)

Beja Santos

O padre franciscano A. Dias Dinis viveu cerca de seis anos na Guiné e empolgou-se com as questões do mosaico étnico, em 1946 produziu um trabalho que iria ser publicado em quatro números de “Portugal em África, Revista de Cultura Missionária”. É bem percetível que procurou estudar e conhecer o que de mais recente fora publicado nos domínios da História, da Antropologia, Etnologia e Etnografia. Neste último texto far-se-á referência ao que ele observou e estudou dos Bijagós, Nalus, Fulas e Futa-Fulas.

Diz que o nome de Bijagós é relativamente tardio, remontavam a 1462 as primeiras notícias dos portugueses sobre aqueles indígenas, então observados pelo navegador Pedro de Sintra. Cadamosto também escreveu sobre os Bijagós dizendo que numa das ilhas “tinham desembarcado e falado com os seus negros, mas que não puderam ser entendidos; e que andaram algum tanto pela terra dentro, até às suas habitações, que eram choupanas de palha pobríssimas, em algumas das quais acharam estátuas de ídolos de madeira; pelo que deles puderam compreender, estes negros são idólatras e adoram aquelas estátuas; e, não podendo ter nem entender outra coisa deles, seguiram a sua viagem pela costa mais avante, e tanto caminharam que chegaram à boca de um grande rio largo…”. Nos mapas primitivos, o arquipélago dos Bijagós tinha o nome de «Ilhas de Buam». Valentim Fernandes refere-se a estas mesmas ilhas com tal nome dizendo que eram povoadas e abastadas de mantimentos. Para este autor missionário, Mármol seria o primeiro autor a usar a palavra Bijagós na forma de Bigiohos. André Alvares de Almada dedica um capítulo aos Bijagós, diz que eram muito guerreiros, que andavam continuamente em luta, assaltando as terras dos Brames e dos Biafadas. Almada informa não haver rei entre os Bijagós. Os homens ocupavam-se em três coisas: guerra, fazer embarcações e tirar vinho das palmeiras e diz que “As mulheres fazem as casas e as searas, pescam e mariscam e fazem todo o mais serviço que fazem os homens em outras partes”. Descreve a indumentária, faz alusão à facilidade com que o Bijagó se suicida, descreve os seus produtos. Mantem-se em aberto a questão posta pelo autor: De onde terão vindo os ascendentes dos Bijagós atuais?

Os Nalus habitam as regiões de Tombali e de Cacine, Valentim Fernandes, Duarte Pacheco Pereira e Almada fazem deles esparsas referências. Almada diz que os Nalus na linguagem e no traje eram muito diferentes dos vizinhos Biafadas. Há referências aos escravos Nalus que chegavam por intermédio dos Biafadas de Cubisseco e de Bolola e que recebiam o chumbo como a mais apreciada das mercadorias. Ainda segundo Almada, os Nalus acreditavam que as suas almas andavam metidas em animais ferozes e que morrendo o animal também morriam as suas almas. Os Nalus teriam vindo a ser progressivamente rechaçados primeiro pelos Biafadas e depois pelos Balantas, acomodando-se na apertada região onde hoje habitam.

Estranhamente, o Padre Dias Dinis é muito lacónico acerca dos Fulas e Futa-Fulas. Diz que são os Peuls do território francês. Diz que entraram para a nossa colónia em data incerta, mas relativamente recente. Terão feito parte do grande Império Fula, um império que principiava no rio Senegal e se estendia para o Sudão, em concorrência com o império dos Mandingas. Nos primeiros anos do século XVI, segundo conta Almada, os Fulas atacaram os Mandingas da Gâmbia e desceram até ao rio Geba onde foram destroçados. Os Fulas são gente fortemente mestiçada, acobreados e de feições corretas, geralmente.

E faz a seguinte referência aos Futa-Fulas, diz que são provenientes do Futa-Djalon, enviados outrora ao Forreá pelos almanis, para extensão da sua supremacia política pela nossa Colónia, são os indígenas de feições mais corretas que topámos na Guiné Portuguesa. Representam o tipo mais aproximado do Fula clássico.

E procede às seguintes conclusões:

1. Os autores propriamente Quatrocentistas, como Zurara, Cadamosto, Martinho da Boémia e Jerónimo Münzer não aludem ainda às etnias da Guiné Portuguesa;

2. Roteiros do século XV, recolhidos nos primeiros anos do século XVI por Valentim Fernandes Alemão e ainda a obra de Duarte Pacheco Pereira inserem referências, por vezes minuciosas às etnias Mandinga, Felupe, Balanta, Banhum, Biafada e Nalu;

3. Nos fins do mesmo século XVI, André Alvares de Almada refere-se já à situação geográfica, usos e costumes dos Mandingas, dos Arriatas, dos Felupes, dos Jabundos, dos Cassangas, dos Brames, dos Fulas, dos Sapes, dos Balantas, dos Biafadas, dos Bijagós, dos Nalus, dos Bagas e Cocolis;

4. Algumas destas etnias desapareceram do território português atual, fundiram-se com outras ali existentes ou mudaram simplesmente de nome, caso dos Arriatas, dos Jabundos, dos Bagas e dos Cocolis;

5. Os dados históricos, geográficos e etnográficos parecem permitir a identificação dos atuais Papéis com os antigos Sapes, oriundos da Serra Leoa e entrados na Guiné no século XVI;

6. Parece ter havido, no mesmo século, uma grande invasão Mandinga para dentro da Guiné, impelida por uma maior invasão Fula, partida da Gâmbia e que atingiu o rio Geba, não ficando porém no território os invasores Fulas; a mancha geográfica e a influência político-religiosa dos aguerridos Mandingas alastrou, desde o século XVI, por todo o Norte e Centro do colónia, descendo até às regiões do Quínara e do Cubisseco, mancha e influência a pouco e pouco reduzidas aos retalhos atuais, sobre a pressão da recente invasão Futa-Fula.

7. São de formação ou de aparecimento muito recente na colónia, as tribos dos Baiotes e dos Manjacos, devendo constituir os primeiros uma subdivisão dos Felupes e mostrando-se aparentados os segundos com os Brames e Papéis.

8. As presentes notas provam que é possível reconstituir, em boa parte ao menos, a evolução histórica e etnográfica das principais etnias da atual Guiné, com base nos autores nacionais e estrangeiros dos séculos passados, especialmente nos relatos de viagens à costa da Guiné.

9. Documentam ainda terem sido poucas as deslocações das etnias da colónia, entre os séculos XV e XX, assim como o facto de elas haverem mantido sensivelmente os mesmos usos e costumes, ou seja, o mesmo nível de civilização primitiva.

E assim termina o trabalho deste franciscano que devotou alguns anos da sua vida nas missões da Guiné.

 A Senhora de África

Imagem retirada do jornal “O Comércio da Guiné”, abril de 1931.
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Nota do editor

Último poste da série de 12 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19281: Historiografia da presença portuguesa em África (139): As tribos da Guiné Portuguesa na História, pelo Padre A. Dias Dinis (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19306: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (4): Jorge Picado (ex-cap mil, CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá, e o CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72)



Ílhavo > Costa Nova > 21 de agosto de 2012 > De costas, o nosso grã-tabanqueiro Jorge Picado, nosso comum amigo, meu e do Zé António Paradela... Ultimamente tenho falhado: por exemplo, este verão não fui "partir mantenhas" com os meus amigos da Costa Nova: o Jorge Picado, o João Vizinho, o Tibério Paradela, o Zé António Paradela & família...


Ílhavo > Costa Nova > 21 de agosto de 2012 > Ao centro, eu e o Zé António Paradela, arquiteto; e à nossa esquerda, a Alice Carneiro e a Matilde Henriques (esposa do Zé António); à nossa direita, o Jorge Picado e o Jorge Paradela, o caçula do casal Zé António & Matilde. A foto foi tirada pelo filho mais velho, o Marco Henriques Paradela, que anda agora na "tropa do bacalhau"...

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mensagem, com data de ontem, 18 de dezembro de 2018, às 22:09, de Jorge Picado:

(i) ex-Cap Mil na CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, Mansoa, na CART 2732, Mansabá e no CAOP 1, Teixeira Pinto, 1970/72; 

(ii) tem mais de uma centena de referências no nosso blogue; 

(iii) entrou formalmente para a nossa Tabanca Grande há 10 anos; 

(iv) nasceu em 1937, em Ílhavo, e foi dos poucos que não fez a "tropa do bacalhau";

(v) engenheiro agrónomo reformado; avô babado; no verão a sua tabanca é a Costa Nova (*)


Aproveito para fazer a minha Prova de Vida (**), pois que, apesar de pouco "falador", por aqui vou passando quase diariamente e, quanto ao meu "estado", lá me vou aguentando e tenho mesmo de me dar por feliz, já que a saúde vai sendo bastante razoável para "as luas" que carrego.

Por isso, para todos vós, companheiros, amigos e camaradas, os meus Votos de Um Bom Natal, Feliz Ano de 2019, na companhia de todas as vossas Gentes e sobretudo com muita Saúde, Alegria e Poucos Roubos daqueles que parece que só vivem para isso. Vocês entendem.

Jorge Picado
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Notas do editor

(*) Vd. poste de 9 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2736: Tabanca Grande (60): Apresenta-se o Jorge Picado, ilhavense, ex- Cap Mil, CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (1970/72)

Vd. também postes de:

28 de setembro de  2008 > Guiné 63/74 - P3248: Eu, capitão miliciano, me confesso (1): Engenheiro agrónomo, ilhavense, 32 anos, casado, pai de 4 filhos... (Jorge Picado)

30 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10596: Memória dos lugares (194): Ilhavo, Costa Nova... a terra do meu amigo e irmão mais velho e, porque não ?, meu camarada, o arquitecto Zé António Paradela, que hoje celebra 3/4 de século de existência, antigo marinheiro da pesca do bacalhau, último representante de um povo que tem o mar no ADN!... (Luís Graça)

(**) Último poste da série > 17 de dezembro de  2018 > Guiné 61/74 - P19301: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (3): Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 (Xime, Pte R Udunduma e Mansambo, 1972/74)

Guiné 61/74 - P19305: Tabanca Grande (472): Carlos Silvério, natural de Ribamar, Lourinhã, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato e Brá, 1971/73)... Senta-se finalmente à sombra do nosso poilão no lugar nº 783, o número (azarento) do seu tempo de recruta na EPC, em Santarém...


Oeiras > Algés > 35.º almoço-convívio da Tabanca da Linha > 18 de janeiro de 2018 > "O Carlos Silvério, meu amigo, camarada, vizinho e conterrâneo... Veio com a prima Zita. O casal é lourinhanense, vive em Ribamar... 'Periquitos', na Tabanca da Linha. Ele, furriel miliciano, da CCAV 3378, andou pelo Olossato e por Brá (Bissau), entre abril de 1971 e março de 1973. A Zita viveu com ele em Bissau, de agotso de 1972 a março de 1973.

Foto: © Manuel Resende (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Carlos Silvério Silva, que passa a ser o grã-tabanqueiro nº 783 :

Data: 14/12/2018, 17:22

Assunto - Formalização do pedido de entrada para a Tabanca Grande

Camarada e amigo Luís Graça, aqui vai o texto prometido.

Tendo vindo a participar em alguns "Encontros Tabanqueiros", nomeadamente o último da Tabanca Grande em Monte Real e vários outros da Tabanca da Linha, chegou a hora de solicitar ao Tabanqueiro-Mor a minha adesão formal.

Sou o ex-fur mil Carlos Silvério Silva, com o seguinte percurso militar:

(i) EPC, Santarém (destacamento): Recruta do CSM. Abril - junho/70;

(ii)  CISMI, Tavira: Especialidade de atirador. Junho - setembro/70;

(iii) RI 5, Caldas da Rainha: Monitor de recruta do CSM.  Setembro - dezembro /70;

(iv) RC 3,  Estremoz: Monitor de especialidade de atirador. Janeiro - fevereiro/71;

(v) BCAÇ, Portalegre: Formação da Companhia de Cavalaria 3378 [, CCAV 3378,]  com destino à Guiné;

(vi) Embarque no Paquete Angra do Heroísmo em 3  de abril de 71 , [viajando com o  BCAV 3846, composto pela CCAC 3366 (Susana, Cumeré), CCAV 3364 (Ingoré, Cumeré) e CCAV 3365 (S. Domingos, Cumeré); a  unidade mobilizadora era também  o RC 3; o Comando e a CCS ficarm em Ingoré. Cmdt do batalhão: ten cor cav António Lobato de Oliveira Guimarães]; 

(vii) Desembarque em Bissau a 9 de abril de 71;

(viii) Estadia no Cumeré de 9 de abril a 13 de maio 71 a cumprir o IAO;

(ix) Chegada ao Olossato em 13 de maio de 71;

(x) Saída do Olossato para Safim, João Landim e Brá (Combis) em 26 de maio de 72;

(xi) Embarque no Uíge em 24 de março de 73 de regresso a Lisboa;

(xii) A CCAV 3378, mobilizada pelo RC 3,  teve 2 Eugénio Manuel Bilstein de Meneses Sequeira; e Cap QEO Carlos Alberto de Araújo Rollin e Duarte.



Guiné > Região do Oio > Olossato [?] > c.  1971/73 >  CCAV 3378 >  O fur mil at cav Carlos Silvério.

Fotos: ©  Carlos Silvério (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

As primeiras semanas na Guiné não foram fáceis. Apesar de alertados para algumas dificuldades climatéricas, aquela temperatura, e principalmente aquela humidade, que quase não nos deixava respirar, foi um choque brutal.

Psicologicamente fomos marcados por dois episódios:

1º - A morte do capitão graduado 'comando' João Bacar Jaló, comandante da 1ª companhia de comandos africanos, ocorrida precisamente uma semana após a nossa chegada. Não se falava noutra coisa em Bissau. Toda a gente queria saber as circunstâncias e as consequências desta perda.

2º - Mais dramático que o anterior, pois tocava-nos directamente. Tínhamos dezanove dias de Guiné. Estávamos em pleno IAO, estacionados em círculo numa clareira duma mata próxima de Nhacra. Cada homem da companhia tinha cavado o seu abrigo. Após o jantar muitos de nós ficámos a conversar com o vizinho do lado ou em pequenos grupos no interior do estacionamento.

Por volta das 22 horas [, do dia 28 de abril de 1971,] alguém abriu fogo e só parou depois de disparar a última bala do carregador. Gerou-se uma grande confusão porque ninguém entendeu o que se estava a passar. Deste incidente resultou a morte do nosso camarada alf mil cav João Francisco Synarle de Serpa Soares (filho de um antigo comandante da EPC, coronel Serpa Soares). Quando a situação acalmou, chegámos à conclusão que o alferes Serpa Soares tinha resolvido fazer uma ronda pela periferia do estacionamento levando a G3 nos braços como se de um bebé se tratasse.

Um dos soldados que estava de sentinela viu aparecer um vulto e sem tentar perceber de quem se tratava, crivou a G3, o tórax e o abdómen do alf Soares provocando-lha a morte imediata. Digamos que não foi um começo auspicioso.

Oportunamente enviarei mais alguns episódios não tão dramáticos como este.

Abraço,
Carlos Silvério.

PS - Seguem três fotos do tempo da tropa e da Guiné


Lisboa > Hotel Travel Park > 11 de novembro de 2018 > Sessão de apresentação do livro "Voando sobre um ninho de Strelas", do ten gen ref António Martins de Matos > Dois representantes da Tabanca do Porto Dinheiro, Lourinhã, à direita o régulo, o Eduardo Jorge Ferreira (ex-alf mil da Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, de 20 de janeiro de 1973 a 2 de setembro de 1974, colocado na EDT (Esquadra de Defesa Terrestre); e à esquerda o Carlos Silvério, já na altura assinalado como "o nosso próximo grã-tabanqueiro nº 783"...

Fotos: © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário de LG:

Carlos, meu amigo, camarada,  conterrâneo e... primo:

Tenho um triplo ou quádruplo prazer em te acolher na Tabanca Grande. Há muito que esperava por este gesto. Respeitei o teu "timing", imposto por razões que já antes havias partilhado com o Carlos Vinhal e comigo: querias sentar-te à sombra do nosso poilão no lugar nº... 783 (*).

Custou mas foi. O lugar é bem merecido (**). E este blogue é teu, é nosso. Sei que és um leitor fiel. E nós ficamos à espera das prometidas histórias que ainda tens na tua memória.

Ficas a saber que és o primeiro representante da tua companhia a integrar formalmente a Tabanca Grande. Tens a responsabilidade, acrescida, de divulgar o blogue e de trazer mais camaradas para se sentarem contigo e connosco debaixo do nosso poilão, mágico, fraterno e protetor.

Sobre a tua CCAV 3378 sabemos pouco, temos poucas referências no nosso blogue. Mais uma razão para continuares a escrever sobre ti e os teus camaradas.

Quanto ao nosso parentesco (por afinidade)... Estás casado com a Zita, e a Zita e eu temos em comum dois bisavós, que eram irmãos, nascidos na década de 1860, em Ribamar, Lourinhã, pertencentes ao "clã Maçarico":

(i)  o bisavô dela chamava-se  Joaquim Filipe Maçarico, casado com Maria Feliz, que tiveram quatro filhos, incluindo a Iria da Conceição, que será avó paterna da Zita;

(ii) a minha bisavó paterna, irmã do Maçarico (só os rapazes é que tinham o apelido Maçarico) chamava-se Maria Augusta (1864-1920), que foi casar na Lourinhã com Francisco José de Sousa (1864-1939): o casal teve 7 filhos, incluindo a minha avó, paterna, Alvarina de Sousa [que morreu de tuberculose em 1922, tinha o meu pai, Luís Henriques (1920-2012),  dois anos].

Portanto, as nossas avós (paternas) eram primas direitas, a Iria  e a Alvarina.. Não vale a pena ir mais longe, mas sabemos pelo menos os nomes dos pais e dos avós dos nossos bisavós, ou sejam, os nossos trisavós (nascidos por volta de 1830) e os nossos tetravós (nascidos por volta de 1800)...

Um alfabravo fraterno, um beijinho para a Zita.  Feliz e Santo Natal para toda a família. LG
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de agosto de 2018 > Guiné 61/74 - P18904: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca...é Grande (108): O Carlos Silvério, nosso futuro grã-tabanqueiro... n.º 783... Encontrei-o na Lourinhã e ele contou-me o seu... "segredo" ... Também me disse que morou em Bissau, na rua do "Chez Toi", quando lá esteve, casado, com a Zita, em 1972/73...

(...) O 783 era o seu número de soldado-instruendo na recruta, em Santarém. Acabada a recruta, e quando ele se preparava para ir uns dias de férias, andava a passear com a sua Zita nas ruas de Santarém, quando passa rente a um major de cavalaria... Distraído com a namorada, mal deu conta dos galões amarelos do oficial superior que lhe fez a tangente... Mas ainda foi a tempo de se virar e de lhe bater a pala... O major continuou o seu caminho, mas, matreiro ou sacana, foi dar uma volta e, logo mais à frente, virou em sentido contrário para o apanhar de frente. O Carlos desta vez não foi apanhado desprevenido e fez-lhe, corretamente, a devida continência... Mas o senhor oficial estava mesmo determinado em lixá-lo. Tirou-lhe o número (o 783) por causa da desatenção anterior.

Resultado: quando o Carlos Silvério chegou ao quartel, já tinha a participação do major... Enquanto o resto do pessoal (cerca de 400) foi gozar uns merecidos dias de licença em casa, o Carlos ficou de castigo no quartel... Seguindo depois diretamente, de Santarém para Tavira, para o CISMI, numa penosa viagem de comboio que levou toda a noite, ...

Compreensivelmente, o Carlos Silvério "ficou com um pó" aos oficiais de cavalaria, em geral, e aos majores, em particular, nunca mais se esquecendo do seu azarento n.º 783 da recruta em Santarém. Ele é primo do tenente general reformado Jorge Manuel Silvério, nascido em Ribamar, em 1945, e já lhe contou em tempos esta peripécia que o deixou desgostoso em relação à instituição militar. (...)


Guiné 61/74 - P19304: Parabéns a você (1543): Humberto Reis, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 12 (Guiné, 1969/71) e João Melo, ex-1.º Op Cripto da CCAV 8351 (Guiné, 1972/74)


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Nota do editor

Último poste da série de 17 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19298: Parabéns a vocês (1542): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19303: Memórias de Gabú (José Saúde) (74): Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia. Natal de 1973 (José Saúde)

1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
Gabu em memórias 

Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia Natal de 1973

Uf, como o tempo passa! Nada a contrapor. A lei da vida assim o declara. 45 anos volvidos e relembro o Natal de 1973 em Gabu. Confesso que a Quadra Natalícia sempre me preencheu a alma. Aquela, porém, teve contornos literalmente desiguais.

A noite da consoada deixou-me eternas recordações. Lá longe, num outro ambiente, a família juntava-se à volta de um lume no chão e cumpria a tradição. Era a noite do Menino. Ali a festa era outra. A malta não se deliciava com as filhoses da avó, não comia o ensopado do galo à meia-noite, não sujava os lábios com os finos e doces de chocolates e nem tão-pouco contemplava as prendas deixados no sapatinho pelo Menino Jesus a um canto da chaminé. Ah, naquele tempo, o meu, pouco se falava do “Pai de Natal” montado num trenó puxado por renas.

O Natal desse ano em Gabu, foi, para nós, inteiramente adverso àquele que marcou a minha/nossa infância. Recordo que os momentos de festa nos palcos de guerra deixavam antever preocupações acrescidas, logo, havia que respeitar e estar atento a qualquer sinal de alerta. 

Tanto mais que o IN, nos períodos em que o pessoal se acomodava, tendo em linha de conta ao momento festejado, colocava em ação manobras ofensivas que visavam somente privilegiar o fator surpresa. Os ataques noturnos aos aquartelamentos eram frequentes. 

O certo é que a noite de 24 para 25 de dezembro esteve ao rubro. Saboreou-se o fiel amigo, regado magistralmente com o famoso líquido dos deuses e houve um ataque de
“mão armada” às garrafas de whisky que se perfilhavam na prateleira do bar em posição de autodefesa. Algumas tombaram, outras pediram clemência. 

Nos ardis da noitada lá se foi distribuindo o precioso fluido em copos finos fornecidos pelo camarada que entretanto assumia a tarefa por detrás do balcão. Uma Ballantines velha – 12 anos – custava, naquela época, qualquer coisa como 60 escudos, se a memória não me falha. O seu beber era divinal. Aliás, a destilação era feita em pleno coração da Escócia, logo tinha o selo garantido. 

No dia 25, data do miraculoso Natal, o 2º Sargento da nossa messe, de nome Martins, um alentejano de Elvas, brindou-nos com um almoço reforçado e a malta divertiu-se à brava. Momentos imperdíveis que jamais esqueceremos e ocorridos em pleno palco de guerra. 

Uma mesa bem recheada, refeição reforçada com comes e bebes à farta. Nada falhou. 

Aliás, aquela messe, depois do 2º sargento Martins assumir o seu comando, iniciou uma outra fase em que o pessoal não teve nenhuma razão de queixa. 

Reconheço que o “Natal é sempre quando um homem quiser”, mas aquele passado em Gabu no ano de 1973 foi diferente. Razão que me levou à elaboração de um pequeno texto que visa o recordar o quão diferente foi aquele passado sob um calor intenso e num clima de guerra. 

Camaradas, Bom Natal e um Feliz Ano Novo!...

O almoço recomendava-se.




Messe de Sargentos em dia de almoço natalício reforçado. Em pé o então 2º sargento Martins, o homem que geria a messe. 

Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523

Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
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Nota de M.R.

Vd. último poste desta série em:

12 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19283: Memórias de Gabú (José Saúde) (73): Ambulância apanhada ao PAIGC (José Saúde)

Guiné 61/74 - P19302: (Ex)citações (348): O 'cinema Paraíso'... de Fajonquito e de Nova Lamego.. Recordações de nhô Manel Djoquim, o homem do cinema ambulante (Cherno Baldé / Vital Sauane)


Guiné > s/l> s/d> c. 1943/73> O caçador e empresário de cinema ambulante Manuel Joaquim dos Prazeres.

Foto (e legenda): © Lucinda Aranha (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > O Valdemar Queiroz a ver os cartazes, espetados numa árvore, do filme da semana : Riffi em Paris, película francesa, de 1966, dirigida por Denys de La Patellière e com Jean Gabin no principal papel... Filme de gangsters, popular na época... Chegava à Guiné três anos depois...Melhor do que nada... Hoje os guineenses não têm uma única sala de cinema..  Uma ternura (e uma preciosidade), esta foto!... A "fábrica de sonhos", ambulante,  era a da nhô Manel Joquim. Com ele, a "sétima arte" chegava a sítios recônditos de África...

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz  (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cartaz do filme "Cinema Paraíso", de
Guiseppe Tornatore (1988), um daqueles
filmes que a gente não se cansa ver e rever...
Estreou em Portugal em 1990.
Fonte: Wikipedia
1. A história do nho Manel Djoquim, caçador, fotógrafo, homem dos sete ofícios, empresário de cinema ambulante em Cabo Verde (1929/1943) e depois na Guiné (1943/73), agora posta em biografia (ficcionada) pela sua filha Lucinda Aranha Antunes (*) , dava um belo filme como o inesquecível "Cinema Paraíso" (1988), escrito e dirigido por Giuseppe Tornatore, com música de Ennio Morricone. Aliás, Cabo Verde e a Guiné desse tempo têm matéria-prima para grandes filmes...

Visto do séc. XXI, o Manuel Joaquim dos Prazeres só pode ser um descendente direto dos "lançados", dos grandes aventureiros de Quinhentos, do tuga que ama a Áfria e os grandes espaços, e as suas gentes... E que sabe fazer a ponte entre a natureza e a cultura, a geografia e a história, o real e o imaginário, os bichos e os homens...

Eu vi, por certo, algum filme dele, projetado na parede ds instalações do comando ou no refeitório das praças, em Bambadinca (entre julho de 1969 e março de 1971) e, antes, em Contuboel, em junho e julho de 1969... Aliás, vários de nós têm ainda uma vaga lembrança dele...

Mas deixemos antes aqui, recuperados, os depoimentos (emocionados) de dois guineenses, que eram crianças nesse tempo do cinema ambulate de nhô Manel Djoquim: o nosso Cherno Baldé, gestor de projetos, e o empresário Vital Sauane, curiosamente dois guineenses que completaram a sua formação académica, pós-graduada, na "minha" escola, o ISCTE-IUL. 


(i) Comentário de Cherno Baldé (, natural de Fajonquito, gestor de projetos, nosso colaborador permanente)  ao poste P13022 (**), de 23 de abril de 2014:

O Manel Djoquim (Manuel Joaquim), o Homem do cinema ambulante:

“Nestas suas andanças lá ia com a sua velha Ford, gerador, projector, ecrã, filmes os mais inócuos possíveis (capa e espada, cowboys, musicais, comédias, dramas), os seus ajudantes nativos (...)  cinco pesos e leva cadeira...”...

Era conhecido em toda a Guiné e em todas as aldeias, naturalmente, pelas pessoas daquele tempo, isto é,  pessoas com idade igual ou superior a 50 anos.

Eu conheci o Sr. Manuel Joaquim desde os meus 8/9 anos de idade em Fajonquito. Ele vinha à nossa aldeia, pelo menos, uma vez, em cada 2/3 meses, no seu velho camião carregado da sua máquina de sonhos para nos alegrar, e foi graças a ele que fomos descobrindo grande parte da cultura ocidental estilizada em gestos ousados, olhares atrevidos, carícias públicas e mil pedacos de um universo que entrava pouco a pouco dentro da nossa forma de ser e estar na vida.

Pessoalmente, para o resto da minha vida estaria marcado pela postura e coragem dos actores (Cowboys e Índios indomáveis), o que, no fundo, era muito parecido com aquilo que nos tentavam inculcar nas nossas cerimónias iniciáticas designadas de Fanado tradicional.

Dele ainda recordo-me dos seus enormes calções, meias esticadas até aos tornozelos e chapéu de abas largas, tipo Cipaio. A certa altura, um dos seus ajudantes era o Camões (zarolho) e por isso acreditavámos que com esta limitação visual podiamos sempre aproveitar para entrarmos sem que ele nos visse. Normalmente eramos apanhados e soltos de seguida dentro do recinto fechado para a projeção do filme.

Naquela idade não precisávamos de cadeiras, e quando a projeção se iniciava, pouco a pouco, enchíamos o recinto, acabando por nos sentarmos mesmo por baixo do pano das imagens, importante mesmo era entrar e assim poder participar, no dia seguinte, de mais um episóio marcante, uma história de vida que só voltaria a acontecer passados 2 ou 3 meses.

Quem não ficava contente com a chegada do Manel Djoquim eram as nossas pobres mães, pois sabiam que ele vinha, por certo, roubar, através dos seus filhos as pequenas economias conseguidas durante semanas ou meses com muito suor e canseira. (...)


Convite para a apresentação do livro de poesia "Mundo di Bambaram",  de Vital Sauane, empresário de futebol, descobridor de talentos do futebol guineense... Lisboa, 28 de dezembro de 2018, pelas 18h00, na Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia, Lisboa, Campo Grande.


(ii) Comentário de Vital Sauane [ natural de Nova Lamegio, mestre em Sociologia pelo ISCTE (2011/13), poeta, empresário de futebol, dono da Academia Vitalaise, em Bissau,] ao poste P12991, de 15 de abril de 2014 (***)

Cara Lucinda Aranha, é com grande satisfação que encontro este Blog, hoje é o dia em que regressei à minha terra natal por vários motivos, em primeiro lugar recordei da minha querida mãe que me deu tudo e mais alguma coisa, mas de repente veio à mente um senhor que fazia filmes na época colonial chamado Manuel Joaquim (Manel Djoquim, para todos os Guineenses).

Venho por este meio agradecer ao seu pai, porque eu adorava cinema, era muito novo, estava perto de completar os 5 anos aproximadamente, lembro-me sempre de pedir dinheiro a minha mãe para ir ver os filmes, na maioria das vezes não pagava porque os guardas da Casa Gouveia conheciam-me porque levava leite de vaca para os donos da Casa Gouveia [, em NovaLamego].

Os filmes eram projectados no quintal da Casa Gouveia, eu não queria ir à escola porque não era tradição na minha família alguém ir para escola, mas estava sempre a perguntar o que se passava nos filmes e como as pessoas estavam muito concentrados para ler a legenda não dava para me explicarem sempre o que se passava, um dia disse para a minha mãe que gostaria de perceber o que se passava nos filmes porque ninguém me explicava nada, ela disse me então chegou altura de pensares seriamente em ir para a escola, aceitei de imediato porque percebi de que sem a escola não poderia interpretar os filmes.

Comecei a ter explicação numa senhora portuguesa que era professora primária, morava ao pé da minha casa, nunca mais abandonei a escola, não sou ninguém mas pelo menos sou aquilo sou graças ao seu pai, talvez se o senhor Manel Djoquim nunca tivesse chegado a Nova Lamego eu seria uma outra pessoa, até poderia ido à escola mas não seria da forma que aceitei e gostei da escola.

Hoje passado todo este tempo recordo-me dos bons tempos da minha cidade, e como o seu pai nos ajudou a ver o mundo, nem rádio tínhamos em casa, de repente a começar a ver filmes, Tarzan, Sandokan,  o Tigre da Malásia, Pierre Brice  & Les Barker, como nos ensinou a ver outro lado do mundo através dos filmes, o seu pai era um homem bom, nunca ralhava com as crianças, sempre que notava que as crianças estava a furar a barreira fazia de conta que não estava a ver, ele amava a sua profissão, gostava do povo, sentia o povo, com os seus calções que ficaram eternizados mesmo depois da sua partida, calções de Manel Djoquim. 

Ficámos órfãos de tudo, a Guiné tem hoje mais Tarzans do que a própria selva, em cada esquina encontra-se Far West, o país está em autêntico declínio, Salteadores da Arca Perdida dentro do próprio Estado, a guerra dentro da cidade destruiu a capital por completo, fome e miséria por toda a parte, se há coisa que tenho saudades é dos bons tempos dos filmes de nhõ Manel Djoquim, que a sua alma descanse em paz, mais uma vez muito obrigado por partilharem estes momentos, obrigado aos donos do Blog, quem sabe um dia venho com mais historias de Nova Lamego onde tenho orgulho de ter nascido (...) . (****)

Vd. também postes de 

17 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19300: Notas de leitura (1132): “O Homem do Cinema, A la Manel Djoquim i na bim”, por Lucinda Aranha Antunes; edição da Alfarroba, 2018 (1) (Mário Beja Santos)


19 de junho de 2014 > Guiné 63/74 - P13307: Notas de leitura (602): "Onde se fala de Bissau", do princípio dos anos 50, da UDIB... Um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)




(****) Último poste da série > 11 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19279: (Ex)citações (347): Os problemas do PAIGC na logística de saúde em 1965, na frente norte, tempo em que a CCAÇ 675 ali se encontrava em quadrícula (José Eduardo Oliveira)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19301: Estou vivo, camaradas, e desejo-vos festas felizes de Natal e Ano Novo (3): Jorge Araújo, ex-fur mil op esp / ranger, CART 3494 (Xime, Pte R Udunduma e Mansambo, 1972/74)



Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > CART 3494 (1972/74) > Dezembro  de 1973 > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma > "Rotunda da ponte", com o único monumento erigido à companhia, em todo o CTIG.

Foto (e legenda): © Jorge Araújo (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Jorge Alves Araújo, ex-Furriel Mil Op Esp /RANGER, CART 3494
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do nosso blogue.

- BOM NATAL E UM ANO DE 2019 PLENO DE FELICIDADE -
Na presente quadra festiva, onde se inclui o NATAL e a entrada no NOVO ANO, aproveito para enviar a todos os camaradas da tertúlia, e suas famílias, uma MENSAGEM DE BOAS FESTAS, bem como a todos os leitores do nosso blogue, de todas as gerações.
- CURIOSIDADE
Para memória futura, aqui vos deixo mais uma pequena história da História colectiva da CART 3494.

A imagem do postal de "BOAS FESTAS" corresponde ao Destacamento da Ponte do Rio Udunduma, situado a quatro kms de Bambadinca (para leste), na estrada que ligava esta localidade (sede do BART 3873) e o cais do Xime, a sete kms (para oeste). Foi aí que, durante nove meses, esteve instalada a CART 3494, com metade de um GrComb, no período entre Junho'1973 e Fevereiro'1974.

No interior do círculo a vermelho da foto acima foi erigido o único monumento (símbolo) que a CART 3494 deixou no CTIG, durante a sua comissão de serviço ultramarina. Foi inaugurado durante o mês de Dezembro de 1973, fez quarenta e cinco anos, tendo sido baptizado como "ROTUNDA DA PONTE", uma vez que à sua volta o terreno foi preparado - capinado e alisado - para funcionar como rotunda onde se deveria observar as regras de trânsito, com circulação obrigatória em seu redor.
QUE TENHAM UM BOM NATAL
E UM ANO DE 2019 COM MUITA SAÚDE
Com um forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.
17DEZ2018

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Guiné 61/74 - P19300: Notas de leitura (1132): “O Homem do Cinema, A la Manel Djoquim i na bim”, por Lucinda Aranha Antunes; edição da Alfarroba, 2018 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Dezembro de 2018:

Queridos amigos,

A cena passou-se em Bambadinca, era um amplo terreiro, não muito longe do porto, descíamos a rampa do quartel, no baixio entrávamos num recinto, um jovem cobrava a entrada, quando lá cheguei para ver o filme "A Operação V2", com a Sofia Loren, o recinto estava praticamente repleto, fiquei perto de uma máquina, uma barulheira ensurdecedora, o ar empestado pelo escape.

Muitos anos depois, conversando com o nosso camarada Vacas de Carvalho, ele recordou-me outros filmes, como "Hércules contra o Ciclope", com o atlético Steve Reeves. Era assim o cinema do Manuel Joaquim para mitigar o mundo de abandono social em que vivíamos, aquele cinema era uma bênção de entretenimento.

É este o meu agradecimento a título póstumo.

Um abraço do
Mário


Com o Manuel Joaquim, o cinema chegou a toda a Guiné (1)

Beja Santos

É possível questionar se a obra “O Homem do Cinema, A la Manel Djoquim i na bim”, por Lucinda Aranha Antunes, edição da Alfarroba, 2018, é um romance, um relato memorial ou uma investigação de caráter biográfico. Um homem dos sete ofícios, apaixonado pela mecânica, parte da Europa para Cabo Verde e daqui para a Guiné, já com família constituída. A narrativa de Lucinda Aranha Antunes começa num quase presente e num quase presente desagua, num tumulto de revelações e mágoas. É um texto intercultural, o crioulo está sempre presente, Manuel Joaquim e Julinha, a sua amada esposa, pontificam, com filharada, criadagem, amigos certos e desertores nas horas incertas.

Manuel Joaquim é seguramente uma figura com contornos de lenda. Começou em Bolama, com sessões de cinema na Associação dos Bombeiros da cidade, eram exibidos documentários de guerra e atualidades, porque em guerra se vivia.

Manuel Joaquim dos Prazeres chega a África em 1928, vem trabalhar na instalação da Central Eléctrica e da Rádio Marconi na Cidade da Praia, Ilha de Santiago. Para angariar mais uns cobres, fez-se sócio de uma oficina-garagem, mas a atração para a projeção de filmes é muito forte.

De vez em quando vem até Lisboa e no Capitólio, em cinema ao ar livre, viu “O Gigante”, onde triunfavam James Dean, Rock Hudson, Elisabeth Taylor e Carroll Baker. E a autora dá explicações para esta aventura cinematográfica:

“Alugava os documentários de atualidades e as fitas na Tobis, na J. Castello Lopes, na Pathé, na SPAC. Acautelado pela ação da PVDE sobre o Eden-Park, o cinema do Mindelo, em 1930, escolhia filmes que lhe evitassem confrontos e trabalhos e garantissem audiências. Primeiro, mudos como os do Charlot, muitas vezes censurados, do Buster Keaton, do Douglas Fairbanks e, mais tarde, sonoros. Foram grandes êxitos o “Drácula” com Bela Lugosi, o “Frankenstein” com Boris Karlof, o “King Kong”, “O Feiticeiro de Oz”, os irmãos Marx, as coboiadas, a Carmen Miranda, os filmes românticos, de capa e espada, de gangsters, e de uma maneira geral, as comédias portuguesas cheias de cançonetas".


Temos um bom enquadramento da vida na Cidade da Praia nas décadas de 1920 e 1930, as fomes, as secas, as amizades, o trabalho de Manuel Joaquim, a vida social e cultural e até referências a controvérsias maiores, caso da conferência em que o Dr. Luís Chaves, Conservador do Museu Etnológico, defendeu que os mestiços eram seres inferiores, degenerados, incapazes de produzir obra literária, caiu-lhe o Carmo e a Trindade, vieram a terreiro vários intelectuais contestar a monstruosidade.

Depois aconteceu a paixão pela Julinha, que parecia sufocar naquela ilha com água por todos os lados, dirá mais tarde que a Guiné lhe surgiu como uma libertação de pesadelos. O fervilhar desta vida cabo-verdiana é um monumento literário, até etnológico.

E depois Bolama, a Bolama onde havia aeroporto que recebia quinzenalmente o Clipper da Pan American. Manuel Joaquim decide no final da guerra que a família deve regressar à Metrópole, ele está entregue à mecânica e à caça e à paixão pela fotografia, está ofuscado pelo cinema:  

“Comprou uma carrinha Ford modelo A, que modificou, reforçando-a com eixos e pneus grossos, sobrelevando-a e adaptando o motor para ter mais força, de modo a potenciar o sistema de locomoção. Nela transportava toda a parafernália de que precisava para o dia-a-dia mato a dentro. Levava a máquina de projetar, o ecrã, o gerador próprio de escape livre, bem barulhento, máquinas de ferramentas, uma tenda, uma cama de campanha, um mosquiteiro, latas de 20 litros de combustível, que depois de esvaziadas também lhe serviam para o duche apetecido. Soldava-se-lhes um ralo, enchiam-se de água fervida, penduravam-se numa mangueira e era de sentir a água cair pelo corpo. Com ele viajavam também mudas de roupa, produtos de higiene, conservas e chocolates Cadbury de que era muito guloso (…) 

"O Manuel Joaquim andava sempre armado, possuindo uma Flaubert, uma carabina para atirar ao alvo e uma caçadeira calibre 12, automática, que funcionava com um carregador de cinco cartuchos. Estes eram os apetrechos de que se servia para a caça a crocodilos, onças, jibóias, zebus, cabras do mato, a um ou outro hipopótamo e até a pequenos tubarões, os caúdos. Caçava-os quando do macaréu do Rio Geba ao encontrar-se com o Corubal, que sedava quando a maré subia até trinta metros, enrolando as águas num enorme estrondo”.

Mas havia mais: uma laica completa, com lentes de todos os campos focais. Dormia na sua carrinha, a sua casa em solo guineense, durante a época seca, recusava todo e qualquer convite para pernoitar nas casas dos amigos do mato. Era o homem errante, levava o cinema ao ponto mais remoto do mato. Tornou-se um exímio caçador e vendedor de peles, como a autora observa:

“Conservava as peles com sal, em barris de cem litros, que despachava para a Amram & Filhos, e, mais tarde, para o David Kit, quando chegava a Bissau".

Beneficiou da melhoria das estradas, um dos trunfos da política do Governador Sarmento Rodrigues. O que ele mais temia não eram as estradas do mato mas a viagem Bissau-Bolama.

“O barco regulava-se pelo horário das marés e fazia-o perder horas até ao piloto ter o mar cheio para poder navegar, embora o motor Else, comprado em 1943, tivesse facilitado, sem resolver o problema das comunicações entre as duas cidades”.

Era muito exigente com os seus colaboradores e estava permanentemente atento às golpadas que se pudessem tentar nas bilheteiras. Habituou-se ao mato, por vezes limitava-se à autossubsistência, caju, mangas, cocos. Como era um mecânico exímio, estava permanentemente a ser solicitado para reparar motores e geradores.

“Quando os administradores e os chefes de posto se viam em apertos punham-se em contacto uns com os outros via rádio para avisarem o homem do cinema que estavam sem eletricidade, e lá ia ele, nem que estivesse a 100 ou mais quilómetros, e só saia da povoação quando os motores estavam reparados”.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19291: Notas de leitura (1131): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (64) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19299: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (111): "Estou muito feliz com a minha nota e foi graças a vocês" (Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver no norte de França, junto à fronteira com a Bélgica, em Wattrelos; neta do nosso camarada José Alves Pereira, CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66)





1. Mensagem de Adelise Azevedo, de 14 anos,  luso-francesa, filha de Isabel Pereira, neta de José Alves Pereira, ex-militar da CCAÇ 727, família que vive no norte de França, junto à fronteira com a Bélgica, em Wattrelos:

Bom dia Senhor Luis Graça,

após a entrega dos diplomas e boletins de notas em novembro, eu queria agradecer a vocês todos de me ter ajudado no meu projeto. (*)

Eu tive 90/100, os membros do júri apreciaram minha escolha de projeto. Era uma professora de História/Geografia e uma professora de Francês. A professora de Francês conhecia as obras do Senhor Mário Beja Santos, as duas ficaram emocionadas com a história dos combatentes da Guinée e a história de meu Avô.

Estou muito feliz com a minha nota e foi graças a vocês.

Aproveito para lhe desejar boas festas de fim de ano.

Beijinhos para todos.

Adelise

2. Comentário do nosso editor LG:

Querida Adelise, mamã Isabel e vôvô Pereira:

Mas que bela prenda de Natal!...A Adelise não pára de nos surpreender... E vemos que tem por detrás um grande família que é farol e porto de abrigo... 

Ficamos felizes por saber que o TPC ("Trabalho Para Casa") (sobre a guerra da Guiné, de 1961 a 1974) está feito e  a Adelise teve uma excelente nota. E vem agora mostrar a sua gratidão pela nossa modesta ajuda

A gratidão é um dos mais nobres sentimentos humanos. Ficamos sensibilizados pelo gesto da nossa amiguinha.  Aqui fica também o agradecimento dos editores do blogue aos nossos vários camaradas (Mário Beja Santos, José Martins, Manuel Luís Lomba, Virgílio Teixeira, António J. Pereira da Costa, Carlos Vinhal...) que responderam ao gentil pedido de ajuda da nossa "neta" Adelise... (Ela entende o português, mas escreve com a ajuda da mãe, Isabel Pereira.)

Deste nosso feliz encontro, fica uma marca (sob a forma de postes publicados). Mas gostaríamos também que o nosso camarada José Alves Pereira, avô da Adelise, que pertenceu à CCAÇ 727, ficasse mais tempo connosco, integrando formalmente a nossa Tabanca Grande... Bastaria, para tanto,  que a filha Isabel ou a neta Adelise nos mandasse duas fotos dele, uma do tempo da Guiné e outra atual, com uma pequena apresentação da sua pessoa... Sabemos que felizmente está vivo e já se tem encontrado, em Portugal, com os seus antigos camaradas de armas. 

Vou pedir também ao Manuel Luís Lomba, de Barcelos, que nos ajude no "acolhimento" deste nosso camarada. O Manuel Luís Lomba foi fur mil da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), é da mesma altura do avô da Adelise, e também passou pelo Leste.

Sabemos que a CCAÇ 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), só teve um comandante, o já falecido cap inf Joaquim Evónio Rodrigues Vasconcelos, e sofreu 18 mortos na guerra... Infelizmente não temos aqui ninguém que a represente.  Com a entrada do avô da Adelise, os bravos da CCAÇ 727 ficarão mais perto do coração de todos nós. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné

(...) Bon dia, Senhor Luis Graça,

Meu nome é Adelise Azevedo, sou a neta do Senhor José Alves Pereira (CCAÇ 727). Tenho 14 anos e estou no Colégio "Saint Joseph La Salle" em Wattrelos, no norte da França, perto da fronteira belga.

Eu tenho que preparar um exame chamado "Passeurs de Mémoires" ("Passadores de Memórias") para o mês de maio de 2018. Eu escolhi de falar sobre a guerrilha na Guiné de 1963 a 1974.

Tenho sorte de ter o testemunho do meu avô, mas você poderia, por favor, me enviar documentos, fotos ... deste período da história da Guiné e de Portugal e me comunicar títulos de livros, documentários ...

Com antecedência, agradeço sua ajuda.

Atenciosamente, delise Azevedo (...)



Vd. também postes de:

15 de março de  2018 > Guiné 61/74 - P18420: Consultório militar do José Martins (35): elementos para a história da CAÇ 727 (Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que teve 18 mortos em campanha, incluindo o alf mil inf António Angelino Teixeira Xavier, natural de Carrazeda de Montenegro, Valpaços

Guiné 61/74 - P19298: Parabéns a vocês (1542): Francisco Henriques da Silva, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2402 (Guiné, 1968/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 16 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19295: Parabéns a vocês (1541): António Paiva, ex-Soldado Condutor do HM 241 (Guiné, 1968/70)

domingo, 16 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19297: Blogpoesia (599): "Esquecidos no mundo", "Escuro de breu..." e "Nevoeiro de Lisboa", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Esquecidos no mundo

Não vivemos sozinhos, esquecidos no mundo.
Quando Deus nos criou, o mundo já existia há muito.
Não foi por acaso, mas para uma missão, que nascemos.
Foi inscrita em nós. Só há que segui-la.
Uma voz interior no la dita, a cada passo ou momento.
Estejamos atentos. Não ouçamos o mundo.
Temos a força. Temos a luz.
A vontade depende de nós.
O sabor da vida está no saber viver.
Vivamos unidos. A união esclarece e reforça.
O caminho suaviza. Parece mais curto.
Temos diferenças. Fazemos conjunto.
Cada um tem seu tom.
Deles depende a beleza final.
Um quadro harmónico.
Obra de todos.
Sucesso geral.

Ouvindo JS BACH - AIR ON THE G STRING - WHITWORTH HALL ORGAN - THE UNIVERSITY OF MANCHESTER - JONATHAN SCOTT
Berlim, 9 de Dezembro de 2018
7h58m
JLMG

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Escuro de breu...

Está escuro de breu, a poucos minutos de amanhecer.
O tempo em roda viva vem e vai.
Nos leva na sua órbita.
Espaço sideral.vivos de grandeza.
A caminho da infinita eternidade.
Saboreemos a viagem.
Tiremos dela o proveito do privilégio de ter nascido.
Deixemos gravada a nossa história em traços vivos de grandeza.
Sejamos nós na opulência da humildade.
Entrelacemos nossas forças para que o mundo seja e fique melhor do que estava na hora de nascer.
Saboreemos a abundância da mesa posta pelo nosso Criador.
Alcancemos a felicidade com gestos de paz e de harmonia, no local onde caminhamos.
Não sejamos nunca pesos mortos...

Berlim, 10 de Dezembro de 2018
7h23m
JLMG

********************

Nevoeiro de Lisboa

Lisboa ensonada acordou sob uma manta espessa de nevoeiro.
Reclinada sobre o Tejo ficou triste por não poder enxergar a distância de além.
Nem os cacilheiros aflitos, tacteando, passo a passo, as lonjuras do rio Tejo,
de Cacilhas para Lisboa.
Nem o Cristo salvador, nem a torre eremita de Belém.
As muralhas do castelo, lá no alto, furibundas, receando a invasão da mouraria.
A Estrela, com seu zimbório naufragado, pedia o sol libertador.
Nem as faíscas irritantes dos faróis conseguem esgaçar tão densa manta de nevoeiro.
Só o sol...

Ouvindo Carlos Paredes
Berlim, 13 de Dezembro de 2018
7h44m
JLMG
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19269: Blogpoesia (598): "Montanha verde da saudade", "Não sei para onde ir..." e "Nunca é tarde...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728