1. O nosso Camarada José Saúde, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523 (Nova Lamego, Gabu) - 1973/74, enviou-nos mais uma mensagem desta sua série.
Uf, como o tempo passa! Nada a contrapor. A lei da vida assim o declara. 45 anos volvidos e relembro o Natal de 1973 em Gabu. Confesso que a Quadra Natalícia sempre me preencheu a alma. Aquela, porém, teve contornos literalmente desiguais.
Gabu em memórias
Na Messe de Sargentos em Quadra Natalícia Natal de 1973
Uf, como o tempo passa! Nada a contrapor. A lei da vida assim o declara. 45 anos volvidos e relembro o Natal de 1973 em Gabu. Confesso que a Quadra Natalícia sempre me preencheu a alma. Aquela, porém, teve contornos literalmente desiguais.
A noite da consoada deixou-me
eternas recordações. Lá longe, num outro ambiente, a família juntava-se à volta de
um lume no chão e cumpria a tradição. Era a noite do Menino. Ali a festa era outra.
A malta não se deliciava com as filhoses da avó, não comia o ensopado do galo à
meia-noite, não sujava os lábios com os finos e doces de chocolates e nem tão-pouco
contemplava as prendas deixados no sapatinho pelo Menino Jesus a um canto da chaminé.
Ah, naquele tempo, o meu, pouco se falava do “Pai de Natal” montado num trenó puxado
por renas.
O Natal desse ano em Gabu, foi,
para nós, inteiramente adverso àquele que marcou a minha/nossa infância. Recordo
que os momentos de festa nos palcos de guerra deixavam antever preocupações
acrescidas, logo, havia que respeitar e estar atento a qualquer sinal de alerta.
Tanto mais que o IN, nos
períodos em que o pessoal se acomodava, tendo em linha de conta ao momento festejado,
colocava em ação manobras ofensivas que visavam somente privilegiar o fator
surpresa. Os ataques noturnos aos aquartelamentos eram frequentes.
O certo é que a noite de 24
para 25 de dezembro esteve ao rubro. Saboreou-se o fiel amigo, regado magistralmente
com o famoso líquido dos deuses e houve um ataque de
“mão armada” às garrafas de
whisky que se perfilhavam na prateleira do bar em posição de autodefesa. Algumas
tombaram, outras pediram clemência.
Nos ardis da noitada lá se foi
distribuindo o precioso fluido em copos finos fornecidos pelo camarada que entretanto
assumia a tarefa por detrás do balcão. Uma Ballantines velha – 12 anos – custava,
naquela época, qualquer coisa como 60 escudos, se a memória não me falha. O seu
beber era divinal. Aliás, a destilação era feita em pleno coração da Escócia, logo tinha
o selo garantido.
No dia 25, data do miraculoso
Natal, o 2º Sargento da nossa messe, de nome Martins, um alentejano de Elvas,
brindou-nos com um almoço reforçado e a malta divertiu-se à brava. Momentos imperdíveis que
jamais esqueceremos e ocorridos em pleno palco de guerra.
Uma mesa bem recheada, refeição
reforçada com comes e bebes à farta. Nada falhou.
Aliás, aquela messe, depois do
2º sargento Martins assumir o seu comando, iniciou uma outra fase em que o pessoal não
teve nenhuma razão de queixa.
Reconheço que o “Natal é sempre
quando um homem quiser”, mas aquele passado em Gabu no ano de 1973 foi
diferente. Razão que me levou à elaboração de um pequeno texto que visa o recordar o
quão diferente foi aquele passado sob um calor intenso e num clima de guerra.
Camaradas, Bom Natal e um Feliz
Ano Novo!...
O almoço recomendava-se.
Messe de Sargentos em dia de
almoço natalício reforçado. Em pé o então 2º sargento Martins, o homem que geria a messe.
Um abraço, camaradas
José Saúde
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BART 6523
Mini-guião de colecção particular: © Carlos Coutinho (2011). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.
Vd. último poste desta série em:
12 DE DEZEMBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19283: Memórias de Gabú (José Saúde) (73): Ambulância apanhada ao PAIGC (José Saúde)
2 comentários:
José Saúde, é verdade.
Agora, já nem os Cartões de Boas Festas têm imagens do Presépio.
O Natal de agora é o Natal do Pai Natal, o homem da coca-cola. Até na China, que de cristãos são uma percentagem mínima, quase toda a gente festeja o Natal do Pai Natal. A coca-cola não brinca em serviço.
Eu, que até não sou muito religioso, acho que a igreja católica faz pouca coisa para inverter esta situação. É pena.
Por incrível que pareça, não me lembro como passei o Natal de 1969 na Guiné, o de 1970 já foi em Lisboa. Tenho falado com a rapaziada da minha CART 11 sobre o assunto e fico na mesma sem me recordar.
Abraço, Boas Festas e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Virgilio Teixeira, disse:
Olá José saúde:
Eu estive lá, em Nova Lamego, 21set67-25fev68.
Tinha lá o Clube, café, cinema, etc, que pertencia a um homem de Cabo Verde, não me lembro do nome dele, tenho aqui as fotos da sua cara, e gostava de saber se, no teu tempo 73-74 ainda existia este Clube, ou seja um café e mais umas coisas.
Vou pedir a publicação do Cinema, do Clube, e dos Tascos da zona, para ver se conseguiram sobreviver depois da minha saída de lá !!!
Obrigado por essas lembranças do Gabu, que mantenho acesas ainda hoje, e já lá vão 51 anos.
Virgilio Teixeira,
Em 2018-12-19
Enviar um comentário