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segunda-feira, 2 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P22426: Tabanca Grande (523): O cap art Otelo Saraiva de Carvalho, com quem trabalhei na Rep ACAP, QG/CCFAF, em 1971, ao tempo do major inf Ramalho Eanes e do ten cor inf Mário Lemos Pires (Ernestino Caniço)... Em sua memória,.é reserado o lugar nº 846, à sombra do nosso poilão


Foto 1 > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica: o  Major Ramalho Eanes (Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa). à ponta esquerda; o ten cor Lemos Pires (chefe da repartição), na ponta direita;  o alf m,il Ernestino Caniço está ao centro, na segunda fila.



Foto 1A > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica: o  Major Ramalho Eanes, de óculos de sol  (Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa). à ponta esquerda; o ten cor Lemos Pires (chefe da repartição), na ponta direita;  o alf mil Ernestino Caniço está ao centro, na segunda fila.



Foto 1B > Guiné > Bissau > Amura > QG / CC FAG > Rep ACAP (Assuntos Civis e Acção Piscológica) > 1971 > Uma foto histórica:   na segunda fila, o  então capitão de artilharia Otelo Saraiva de Carvalho, na ponta esquerda, na segunda fila; ao centro, o terceiro a contar da direita deve ser o então já ten cor Luz Almeida (, será comandante da Polícia Militar em 1973).


Foto 2 > Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > QG/CCFAG > 1971 > Rep ACAP (Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica)  > Departamento de Fotocine > Ao centro, o Cap Art Otelo Saraiva de Carvalho e à sua esquerda o Alf Mil Cav Ernestino Caniço, seu colaborador.


Fotos (e legendas): © Ernestino Caniço (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 
-

1. Mensagem do nosso camarada Ernestino Caniço (ex-Alf Mil Cav, Comandante do Pel Rec Daimler 2208, Mansabá e Mansoa; Rep ACAP - Repartição de Assuntos Civis e Ação Psicológica, Bissau, Fev 1970/DEZ 1971, hoje médico, e que aos  77 anos teima em continuar ao serviço dos outros de acordo com o seu juramento hipocrático; vive em Tomar, estando reformado do SNS):


Date: sexta, 30/07/2021 à(s) 17:59
Subject: Otelo

Amigo Luís Graça:

Perante o teu convite para umas referências à Rep ACAP, a propósito do Coronel Otelo Saraiva de Carvalho, pela sua empatia, munificência e humanismo, vou espichar algumas linhas, tentando que, após meio século, não seja atraiçoado pela memória.

Como já tinha referido,  fiz parte da Rep ACAP, no QG/CCFAG, na Fortaleza da Amura -Bissau no ano de 1971. À data era chefe da repartição o Major Lemos Pires (posteriormente promovido a Tenente Coronel).

Faziam parte, com funções de relevo, o Major Ramalho Eanes, o Major Luz Almeida, o Capitão Otelo Saraiva de Carvalho, o Alferes Arlindo Carvalho e o 1º Cabo João Paulo Dinis.

O Major Ramalho Eanes era o Diretor da Secção de Radiodifusão e Imprensa do Comando-Chefe. Com ele partilhei a responsabilidade da biblioteca, além de outros contactos nas nossas funções.

Na manobra psicológica em curso no T.O.  o Capitão Otelo era Relações Públicas por mim coadjuvado e dentro da missão da Rep ACAP, com enfoque nos contactos internacionais, acompanhando figuras proeminentes, nomeadamente jornalistas, atores, senadores, etc., instalando-os e preparando programas, que o Tenente Coronel Lemos Pires apresentava ao General Spínola.

O louvor que me foi atribuído pelo Agrupamento de Bissau, foi redigido pelo Capitão Otelo por indicação do Tenente Coronel Lemos Pires.

Para a entrada na ACAP (após a desativação do meu pelotão Daimler) tinha-me sido destinado a Secção de Assuntos Civis. À minha chegada e pelos contactos anteriores, entendeu o Major Lemos Pires que eu tinha perfil para a Ação Psicológica, pelo que me colocou na Secção de Operações Psicológicas, dirigida pelo Major Luz Almeida

Competia-me então (entre outros) dar apoio logístico ao General Spínola, Governador e Comandante Chefe,  nas suas intervenções nas populações, bem como a feitura de ofícios para as entidades civis e militares por determinação do chefe da repartição. 

Numa outra área intervinha na sensibilização das populações, nomeadamente através de
obras e estruturas efetuadas pelas nossas tropas. A gestão e fruição destas informações estavam a cargo do Alf mil Arlindo Carvalho, de acordo com as normas emanadas superiormente e com a supervisão do Major Ramalho Eanes.

O 1º Cabo João Paulo Diniz animava a rádio das Forças Armadas na Guiné-Bissau, sendo locutor no Pifas (Programa de Informação para as Forças Armadas).

Espero ter correspondido ao solicitado.

Um abraço, Ernestino Caniço

Médico – Chefe Serviço MGF
Gestor Serviços Saúde – Ordem Médicos
Pós Graduação em Direito da Medicina – Faculdade Direito Universidade de Coimbra

2. Comentário do editor L.G.:

Dois camaradas, o José Belo e o Ernestino Caniço, já aqui fizeram o elogio fúnebre do cor art Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021), que fez duas comissões de serviço em Angola e a última na Guiné (1970/73). (*)

Independentemente do seu lugar na nossa História, ele aqui é tratado como qualquer outro "camarada da Guiné", desde que tenha referências no nosso blogue. E o Otelo tem quase duas dezenas

O Ernerstino Caniço, que trabalhou com o Otelo, em 1971, já tinha feito questão de "o ver aqui sentado, à sombra do poilão da Tabanca Grande, embora infelizmente a título póstumo."

E aqui vai o nº que lhe coube, à sombra do nosso poilão, o lugar nº 846 (**). Obrigado ao Ermestino Caniço pela sua resposta à nossa sugestão para escrever alguns linhas sobre a ACAP e o Otelo, bem como pelas preciosas fotos que partilhou connosco.

No seu "site", "Poeta Todos os Dias", outro camarada que  trabalhou com o Otelo (e com o Eanes), o Silvério Dias, o 1º srgt ref, radialista do PIFAS, escreveu os seguintes versinhos sobre o Otelo, na passada quarta-feira, 28 de julho:

O Otelo faleceu

Segundo li no jornal
não haverá luto nacional
para o mentor da Revolução.
Dele ficará, pois, "enfermo".

Este, será, um termo
que indico como senão.
Mas já consta da História,
à margem da reles escória.

O povo não o esqueceu.
À despedida, acorreu.

____________

Notas do editor:

(*) Vd. postes de:


25 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22404: In Memoriam (400): O Otelo Saraiva de Carvalho (1936-2021) que eu conheci... Ou "As armas e as mãos - Carta ao Otelo amigo" (José Belo, cap inf ref, Lapónia, Suécia)

25 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22402: In Memoriam (399): Coronel Otelo Saraiva de Carvalho (1936 - 2021), autor do Plano de Operações do 25 de Abril de 1974 e que cumpriu uma comissão de serviço na Guiné entre 1970 e 1973

(**) Último poste da série > 22 de julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22394: Tabanca Grande (522): Ildeberto Medeiros ex-1º cabo condutor auto, CCAÇ 2753, "Os Barões" (Brá, Bironque, Madina Fula, Saliquinhedim/K3 e Mansabá, 1970/72): açoriano de Ginetes, Ponta Delgada, a viver em New Bedford, senta-se no lugar nº 845, à sombra do nosso fraterno e sagrado poilão

quinta-feira, 15 de março de 2012

Guiné 63/74 - P9612: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (5): Lista de oficiais CEM do QG do CTIG (Luís Gonçalves Vaz)


Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4

Foto nº 5

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 > Amura: um lugar repleto de história e de histórias... 

Visita no âmbito do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), no último dia do evento. Na foto nº 1, o Coronel de Cavalaria do Exército Português, Carlos Matos Gomes, na situação de reforma, um homem do MFA da Guiné e um celebrado autor de romances de guerra como Nó Cego, Soldadó ou Fala-me de África (que assina sob o pseudónimo literário de Carlos Vale Ferraz)... É também um conhecido historiógrafo da guerra do ultramar / guerra colonial, co-autor, juntamente com Aniceto Afonso, de diversas publicações.

Na foto nº 2, Matos Gomes está junto do catalão Josep Sánchez Cervelló, professor universitário, em Tarragona, especialista em história sobre o 25 de Abril e a descolonização portuguesa... Por detrás, vê-se o edifício, em ruína, da antiga (se não me engano)  2ª Rep do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes. 

Na foto, por detrás do Matos Gomes, vê-se o edifício, em ruína, da antiga 2ª Rep (salvo erro) do Comando-Chefe, a famosa Rep Apsico, onde trabalhou Otelo Saraiva de Carvalho e Ramalho Eanes...


Nas fotos nºs 3 e 4, vemos o Matos Gomes a servir de cicerone ao Paulo Santiago e a mim próprio. Entre os edifícios históricos, há o do antigo Com-Chefe (foto nº5). Foi aí que um grupo de conspiradores entrou de rompante no gabinete do Com-Chefe, e deu voz de prisão ao General Bettencourt Rodrigues, na manhã de  26 de Aril de 1974, o chamado golpe de Estado do MFA na Guiné. Portanto, foi na Amura e não no palácio do Governador que tudo aconteceu...

Desse grupo de oficiais revoltosos faziam parte Ten Cor Mateus da Silva (Eng Trms) (*), Ten Cor Maia e Costa (Eng), Maj Folques (Cmd), Maj Mensurado (Pára), Cap Simões da Silva (Art), Cap Sales Golias (Eng Trms), Cap Matos Gomes (Cmd), Cap Batista da Silva (Cmd), Cap Saiegh (Cmd Africanos), Cap Ten Pessoa Brandão (Armada ) e Cap Mil José Manuel Barroso.

Matos Gomes, na altura capitão do Batalhão de Comandos da Guiné, foi um dos protagonistas do 25 de Abril neste palco da história recente dos nossos dois países.. Voltou lá, à Amura,  34 anos depois...

Hoje, na Amura, repousam os restos mortais de Amílcar Cabral e de outros combatentes da liberdade da pátria, como Osvaldo Vieira, Domingos Ramos, Tina Silá, Pansau Na Isna, 'Nino' Vieira, etc. (LG).


Fotos e legendas: © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.




1. Mensagem do nosso amigo Luís Gonçalves Vaz, com data de hoje:


 Data: 15 de Março de 2012 15:03
Assunto: Lista de Oficiais do QG do CTIG

Olá,  Luís:


Conforme solicitaste, aí vai a lista de oficiais do QG, a saber:


Em  1973/74, eram estes os oficiais do QG (O meu pai, o ten cor Ventura e o major Cabrinha, sei que estiveram até ao fim de 74):

Chefe do Estado-Maior - Coronel do CEM, Henrique Gonçalves Vaz

Chefe da 1ª Repartição - Tenente-coronel do CEM Cunha Ventura

Chefe da 2ª/3ª Repartição - Major do CEM Cabrinha (foi este oficial que representou o meu pai, CEM/CTIG e CCFAG na altura, na cerimónia de transmissão de soberania em 9 de Setembro, em Mansoa) [, cerimónia onde esteve também em destaque o nosso co-editor, o ex-Fur Mil Op Esp / Ranger Eduardo Magalhães Ribeiro]

Chefe da 4ª Repartição - Tenente-coronel do CEM Morgado

Chefe de Serviço de Transportes - Tenente-coronel de Infantaria Monsanto Fonseca

[Notas do LGV: (i) CEM - Corpo do Estado Maior (oficiais com o curso complementar de Estado Maior no Instituto de Altos Estudos Militares);  (ii) recorde-se, por outro lado, que em 17 de Agosto de 1974 foi  oficialmente criado o QG unificado para o CC (Comando Chefe) e CTIG . Assim, a 2ª Rep, por exemplo, passou a designar-se 2ª Rep do CC/FAG, ou seja, Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]...

Abraço

Luís Beleza Vaz
______________


Nota do editor:


Último poste  da série > 13 de março de 2012 > Guiné 63/74 - P9602: Os nossos últimos seis meses (de 25abr74 a 15out74) (4): Documentação referente a negociações entre Portugal e o PAIGC com vista à desmobilização das tropas africanas que combateram por Portugal (Carlos Filipe)

(*) Vd. aqui excerto das declarações do Gen Mateus da Silva, no âmbito do seu depoimento sobre a  descolonização (Estudos Gerais da Arrábida, painel dedicado à Guiné, 29 de agosto de 1995):

(...)  No dia 26 de Abril, logo de manhã, nós, este grupo que estava mais ligado, reunimo-nos no Batalhão de Pára-quedistas, em Bissau, às 8.30h, a discutir o que havíamos de fazer. E foi nessa reunião que decidimos intervir e, digamos, fazer aquilo a que eu chamo um golpe militar em Bissau, que na altura não teria esta percepção, mas, a posteriori, considero que de facto foi um golpe militar. (...)

(...) Às 9h (era feriado municipal em Bissau), fomos ao gabinete do comandante-naval, comodoro Almeida Brandão, convidá-lo a ser o nosso futuro comandante-chefe. Também tem piada porque, antes de destituirmos o governador, já estávamos a convidar o futuro
comandante-chefe. O comodoro hesitou um bocado e disse que não podia aceitar. Nós até queríamos que ele também fosse logo connosco ao gabinete do Bettencourt Rodrigues. Recusou-se mas acabou por dizer que aceitava ser comandante-chefe. Em seguida, ainda passámos pelo Palácio do Governador mas ele não estava, estava no comando-chefe na Amura. Fomos então à Amura. Na altura, houve uma companhia da polícia militar que cercou o comando-chefe, e também havia tropas pára-quedistas nossas que estavam ali à volta.

Entrámos de rompante no gabinete do general Bettencourt Rodrigues, o ajudante meteu-se à frente e levou um pinhão que voou por ali adentro… A porta abriu-se de escantilhão e nós entrámos. Agora imaginem, do ponto de vista do general comandante-chefe, que vê um grupo aí de doze oficiais, entrarem-lhe assim pelo gabinete… Ele ficou logo desequilibrado psicologicamente.


(...) O general Bettencourt Rodrigues perguntou se estava preso, e este também é um aspecto que acho muito interessante. É evidente que ele estava pelo menos bastante coagido, mas eu disse: «Não, o meu general não está preso, simplesmente vai ao palácio, faz as suas malas e embarca hoje no avião para Lisboa.» E foi o que ele fez, mas muito civilizadamente. (...)

quarta-feira, 2 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18592: Álbum fotográfico de Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte XXX: As minhas estadias por Bissau (ii): setembro, depois de chegar a 21, vindo de avião


Foto nº 9 > Bissau > Setembro de 1967 > O Biafra, a "morança" dos oficiais. Quatel general (QG), em Santa Luzia.


Foto nº 14 >  Bissau > Setembro de 1967 >Vista geral da piscina do Clube de Oficiais do Quartel General, em Santa Luzia




Foto nº  21 > Bissau, setembro de 1967 > Piscina vazia no Clube de Oficiais




Foto nº 15 > Bissau, finais de setembro de 1967 > Na piscina do Clube de Oficiais do QG de Santa Luzia. Deve ter sido o primeiro banho ou duche em terras do CTIG.




F22 –  Bissau > Setembro de 1967 >Na piscina do Clube de Oficiais, com um empregado (trabalhador) local. 




Foto nº 18 >  Bissau > Setembro de 1967 > No Bar do Clube militar de oficiais do QG, em Santa Luzia, com um camarada de ocasião que não conhecia, é um cabo,  talvez trabalhando na messe, conversando sobre qualquer coisa.



Foto nº 16 >   Bissau > Fins de Setembro de 1967 >– Numa rua da Baixa, pobre, suja, velha, a cidade velha, penso ser na zona comercial, onde se localizava a Casa Pintosinho e a Taufik Saad e outras. Penso que estou metido num grupo de amigos, e alguém tirou a foto, acho que estou de camisa branca.



Foto nº 17 > Bissau > Fins de Setembro de 1967 > Numa rua da capital, numa zona menos central, mais para junto da marginal e do porto, ainda ando vestido com a primeira farda que vesti, a farda número dois. 



Foto nº 17 A > Bissau > Fins de Setembro de 1967 >   Rua: detalhe



Foto nº 20 > Bissau > Setembro de 1967 > – Vista interior da Igreja e Catedral de Bissau. Fui lá algumas vezes. [Ou não será antes a capela do Hospital Militar, HM 241 ?]



Foto nº 10 A > Monumento e estátua de Mouzinho de Albuquerque. Ficava localizada no QG da Amura, onde se faziam as reuniões dos Comandos Chefes [QG/CTIG]


Foto nº 10 > Bisssau, setembro de 1967 > Monumento e estátua de Mouzinho de Albuquerque. Ficava localizada no QG da Amura, onde se faziam as reuniões dos Comandos Chefes [QG/CTIG]


Guiné > Bissau > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69).

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69); natural do Porto, vive em Vila do Conde, sendo economista, reformado; tem já meia centena de referências no nosso blogue:
Mensagem de 24 de abril último:


Caro Luís,

Conforme te disse ontem, tenho pronta outra reportagem sobre o Tema - As minhas estadias em Bissau - Parte I.

É um ficheiro com 79 fotos, variadas e algumas de algum interesse, mostrar Bissau a muita gente que nunca conheceu.

Eu tenho de ir agrupando por temas, embora muitas fotos estejam noutros temas e são em Bissau também, como é o caso das reportagens de Tomaz e Caetano e outras, como o render da guarda do governador, etc.

Depois como tenho tantas, sem temas específicos, vou juntando num ficheiro, talvez com um numero exagerado, mas só se aproveita as que interessam. Para mim, eu vou fazendo o meu arquivo definitivo, e vou arrumando assim as coisas, senão perco-me.

As fotos estão numeradas, não estão por ordem cronológica, apenas por mês e anos (67, 68, 69). e em cada uma tem o seu número e um resumo de que se trata, a data, quer seja o dia, o mês ou apenas o ano, conforme aquilo que sei.

Depois temos o relatório da Legendagem (...)

  Virgilio Teixeira

24-04-2018

2. Gniné 1967/69 - Álbum de Temas: T031 – Bissau - Parte 1 > (ii) Setembro de 1967 > > Legendagem


F09 – Bissaut, setembro 1967. Este é o pavilhão e dormitório dos oficiais, localizado no clube de oficiais de Santa Luzia no Q.G. Para quem não conheceu esta zona, trata-se de um barracão de madeira, pré-fabricado, com dezenas de camas de ferro e algumas redes mosquiteiro. Era um espaço muito fraco, e servia para alojar todos os oficiais milicianos que chegavam de (ou partiam para)  a metrópole, ou passavam férias em Bissau ou em Consulta Externa e tratamentos no HM 241, ou para tratar de assuntos da sua unidade, que era o meu caso. 

Tinha fracas condições de tudo, por isso lhe chamavam ‘O Biafra’,  com referência à guerra do Biafra (no Katanga – Congo Belga) que se vivia naquela altura de 67. Ficava no melhor local de Bissau, no Clube com o mesmo nome, com bar, sala de refeições, amplos jardins e piscina bem tratados, mas,  apesar disso,  das muitas vezes que frequentei Bissau, não ficava lá sempre, algumas vezes ou ficava no Pilão.  nas tabancas, ou no Grande Hotel, só que este era caro e tinha de pagar. 

O Biafra foi o meu primeiro alojamento no dia em que cheguei à Guiné, em 21 de setembro de 1967. A foto é uns dias depois de já ter adquirido a máquina fotográfica, e depois de ir a Nova Lamego e voltar uns dias depois. 

F10 – Monumento e estátua de Mouzinho de Albuquerque. Ficava localizada no QG da Amura, onde se faziam as reuniões dos Comandos Chefes sobre a situação e operações na Guiné. Depois de deixarmos aquilo após o 25 de Abril de 74 deitaram abaixo a estátua e colocaram lá outra dos chefes dos movimentos do PAIGC.

F14 – Vista geral da piscina no Clube de Oficiais do QG de Santa Luzia. Possivelmente deve ter sido uma das fotos do primeiro rolo da minha máquina fotográfica, que comprei na famosa Casa Pintosinho a prestações, como tantas outras coisas, e comecei logo ainda antes do final de Setembro a iniciar a arte de fotografar, aprendendo, mas longe de pensar a sério na fotografia, pois poderia ter feito muito melhor. 

Após chegar ao CTIG em 21 de setembro de 1967, fui para Nova Lamego passados dois dias. Depois, em finais do mesmo mês,  voltei a Bissau para tratar dos meus assuntos na «CC» - Chefia de Contabilidade, que ficava mesmo perto da piscina do Clube, e por isso muitas vezes ali estive pela proximidade dos locais. Bissau, fins de Setembro de 67.

F15 – Na piscina do Clube de Oficiais do QG de Santa Luzia. Deve ter sido o primeiro banho ou duche em terras do CTIG. Bissau, fins de Set 67.

F16 – Numa rua de Bissau, pobre, suja, velha, a cidade velha, penso ser na zona comercial, onde se localizava a Casa Pintosinho e a Taufik Saad e outras. Penso que estou metido num grupo de amigos, e alguém tirou a foto, acho que estou de camisa branca. Bissau, fins Set 67.

F17 – Numa rua da capital numa zona menos central, mais para junto da marginal e do porto, ainda ando vestido com a primeira farda que vesti, a farda número um. Bissau finais de Set67.

F18 – No Bar do Clube militar de oficiais do QG, em Santa Luzia, com um camarada de ocasião que não conhecia, é um cabo talvez trabalhando na messe, conversando sobre qualquer coisa. Bissau, Set 67.

F20 – Vista interior da Igreja e Catedral de Bissau. Fui lá algumas vezes. Bissau, Set 67.

F21 – Piscina do Clube de oficiais do QG Santa Luzia. Vazia sem água. Bissau, Set67.

F22 – Na piscina do Clube de oficiais, com um empregado (trabalhador) local. Bissau Set67.

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Nota do editor:

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14145: Memória dos lugares (281): Bissau e a Fortaleza de São José da Amura (Séc. XVIII), remodelada em 1968/69 pelo arquiteto Luís Benavente para passar a receber o Comando-Chefe, a Companhia de Polícia Militar e o Comando-Chefe do Agrupamento de Bissau (Vera Mariz, doutoranda em História da Arte, IHA/FL/UL)



Foto nº 3

Guiné > Bissau >Fortaleza da Amura > Entrada do lado sul (frente ao porto e ao rio Geba)



Foto nº 4

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Aspeto da muralha exterior


Fotos nºs 3 e 4: Manuel Caldeira Coelho (ex-fur mil trms, CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68)


Fotos: ©  Manuel Coelho (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)



Foto nº 5

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > c. 1962/64  > Entrada principal, virada para  cidade, ou seja, lado norte (?) >  Foto, sem legenda,  de Durval Faria (ex-fur mil inf,  CCAÇ 274 / BCAÇ 356, Fulacunda, 1962/64).


Fotos: © Durval Faria (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem de Vera Mariz [, nossa leitora, doutoranda em história da arte,  Instituto de História da Arte, Faculdade de Letras, Universidade de Lisboa] (*), com data de ontem:

Caríssimo Luís Graça, agradeço a sua atenção.

Aproveito para lhe dizer que:

O primeiro contacto do arquitecto Luís Benavente [, 1902-1993] com a Guiné teve lugar no ano de 1962.

No ano 1968, entre os dias 25 de Abril e 2 de Maio, Luís Benavente terá desempenhado nova missão em Bissau, à qual se seguiria uma terceira viagem já em 1969.

Isto porque no início do ano de 1969, o Governo da Guiné terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”,  motivo pelo qual Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário.

Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe [, QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné],  da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.
Quando terminar a tese [de doutoramento] tenho todo o prazer em enviar-lhe o capítulo referente à Guiné.

Cordialmente,
Vera



Foto nº 1 

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Construção iniciada em finais do séc. XVII, arrasada em 1707 e reconstruída em 1753, restaurada em meados do séc. XIX (1858-1860), bem como um século depois, a partir da década de 1960, sob orientação do arquiteto Luís Benavente.

Foi quartel-General durante a guerra colonial. É hoje panteão nacional da República da Guiné-Bissau.

Foto: © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)

Foto nº 2

Guiné-Bissau > Bissau > Fortaleza da Amura > 7 de Março de 2008 >  Amura: um lugar repleto de história e de histórias... Entrada principal, lado sul, vista do interior da fortaleza.


Foto: © Luis Graça (2008) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados. (Edição: L.G.)


2. Comentário de Cherno Baldé (*)

Caros amigos,

Para ajudar a esclarecer a dúvida da Sra.Vera, tenho o prazer de informar que a foto nº 1  apresenta a imagem da porta virada para o lado do rio (Ponte Cais de Bissau) e não a principal que se situa do lado oposto e virada para a cidade.

Quanto à foto nº 2, trata-se dos mesmos edifícios da primeira foto, situados à entrada da mesma porta, tirada no interior da fortaleza. (**)

Com um abraço amigo,
Cherno AB.



Foto nº 6

Guiné > Bissau > Fortaleza da Amura > Muralha exterior, do lado meridional  Foto de A. Marques Lopes, coronel inf, DFA,  na situação de reforma, ex-alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968) :

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]


Guiné-Bissau > Bissau > Planta da cidade > c. 1975 > Localização da fortaleza da Amura, assinalado com um círculo a branco.

Foto: © A. Marques Lopes (2005). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]




Guiné > Bissau > Fortaleza de São José da Amura > c. meados de Séc. XIX >  Vista da Amura.  Gravura. Fonte: VALDEZ, Francisco Travassos - "Africa Ocidental: notícias e considerações dedicadas a Sua Magestade Fidelíssima El-Rei O Senhor Dom Luiz I". Lisboa: Imprensa Nacional, 1864, 406 p., gravuras. Licença: Domínio Público (Autor falecido há mais de 70 anos).

Cortesia de Fortalezas.org
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de de 12 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14143: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (21): A fortaleza da Amura (Vera Mariz, doutoranda em história da arte)

(**) Último poste da série > 4 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14115: Memória dos lugares (279): Bafatá, princesa do Geba, parada no tempo: o cinema local e o seu mítico guardião, Canjajá Mané, o casal João e Célia Dinis, Dona Vitória, as irmãs Danif (libanesas), o glorioso Sporting Clube de Bafatá (fundado em 1937 pelos prósperos comerciantes locais, e que chegou a ter 600 sócios), o ourives, o rio, os pescadores, e os demais fantasmas do passado que hoje povoam a terra de Amílcar Cabral... A propósito de "Bafatá Filme Clube" (2012) que acabou de passar na RTP2, no passado dia 1 (Valdemar Queiroz)

domingo, 7 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19080: (De)Caras (119): Marco Paulo, um dos nossos camaradas, hoje famosos, que passaram pelo CTIG... Era o 1º cabo escriturário João Simão da Silva, e foi colocado no QG/CCFAG, na Fortaleza da Amura


Guiné > Bissau > Junho de 1969 > Fortaleza da Amura >   QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné) > O Virgílio Teixeira, numa das vezes que foi ao QG / CCFAG, na fortaleza da Amura,  em data que já não pode precisar (c. 1967/68), encontrou no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo ("era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar").


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Houve camaradas nossos, que passaram pelo TO da Guiné, e que depois se tornaram famosos, nas suas atividades profissionais: políticos, artistas, desportistas, médicos, jornalistas, etc. Famosos, quer dizer, conhecidos do grande público... 

É o caso, por exemplo, do cantor Marco Paulo, que foi 1.º cabo escriturário, e que esteve colocado no QG/CCFAG (Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné), na fortaleza da Amura... Não sabemos a sua unidade, nem exatamente em que período lá esteve: talvez entre 1966 e 1968, cerca de 18 meses; e talvez em rendição individual.

Vários camaradas já referiram aqui o seu nome: 

O Hugo Guerra (ex-alf mil, hoje Coronel DFA, Pel Caç Nat 55 e Pel Caç Nat 50, Gandembel, Ponte Balana, Chamarra e S. Domingos, 1968/70), encontrou o Marco Paulo, que ele não conhecia,  nos correios de Bissau, na época natalícia de  dezembro de 1968. Tiveram um pequeno "desaguisado" por causa dos botões da camisa (*)...

Por sua vez, o Virgílio Teixeira (ex-al mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, set 1967 / ago 1969) escreveu que, nas suas  visitas a Bissau,  foi várias vezes ao QG, na fortaleza da Amura , e que "numa delas encontrei no Bar de Oficiais o cantor Marco Paulo, que já o conhecia do Porto, morava perto de mim, e já começava a ser conhecido". 

E acrescenta: "ele era 1.º cabo, e o responsável pelo Bar, servia no balcão ele ou outros em serviço. (...) Depois acabou por dar espectáculos em alguns lugares da Guiné, mas eu nunca vi nem assisti a nenhum". (**)

O Virgílio Teixeira esclarece, em comentário (**), que "o Marco Paulo, já depois de chegarmos da Guiné, morava por aí perto de mim, ao lado da casa de uma irmã minha, e só por isso o via raramente, quando visitava a minha irmã [no Porto]".

Também num blogue do Luís de Matos (ex-fur mil, da CCAÇ 1590 / BCAÇ 189, Os Gazelas, 1966/68), havia uma referência ao Marco Paulo: ele chegou a Bissau, a 11 de agosto de 1966 e foi dar uma volta à noite com vários camaradas, alentejanos.   O blogue já não está mais disponível na Net (o link era: http://luisdematos.blog.com/2007/7/) mas aqui vai um excerto (*)

(...) O furriel miliciano Charneca, que é natural de Beja, ou arredores, não sei bem, pertence à CCS do meu batalhão, o [BCAÇ]  1894, disse-me que há um nosso camarada, já 'velho', o que equivale a dizer que não é 'periquito', que está no rádio do Quartel-General com o Marco Paulo, um artista da rádio e da TV e também alentejano, de Mourão. Vamos lá ter com eles, para nos mostrarem como é isto. Ou pelo menos, aquele meu amigo vai connosco. Estava uma noite escura como breu. Não me recordo de mais nada. O que sei é que me vi dentro dum táxi, com o Charneca e o tal amigo do QG, por um trilho, em que o capim era bem mais alto que o nosso transporte e fomos parar a uma vivenda onde havia música. Muita música cabo-verdiana e dança, frangos no churrasco, cerveja e whisky. (...)


2. Em tempos publicamos dois extractos de entrevista com o Marco Paulo (, nome artistico de João Simão da Silva, nascido em Mourão,  na margem esquerda do Guadiana, Alentejo, em 21 de janeiro de 1945).  

Uma das entrevista era do  Correio da Manhã, de 9 de junho de 2007:

(...) –Fez tropa na Guiné durante dois anos. Do que se recorda?

– Recordo-me de ter pedido a todos os santos para não ir, acima de tudo porque eu sabia que se fosse para a Guiné possivelmente quando regressasse já não podia dar seguimento à minha carreira. A minha sorte foi que o meu produtor, Mário Martins [, da Valentim de Carvalho], fazia sempre questão que eu viesse de férias. Durante esse período eu gravava, e quando voltava para a Guiné a editora lançava o disco. Por isso nunca caí no esquecimento.

– Chegou a sentir medo?

– Quando cheguei à Guiné não foi fácil. Pensei: “Olha, vou para o mato. Levo lá um tiro na cabeça e pronto!” Só que fui para o quartel da Amura, para a secção de Justiça, como escriturário. Ouvia os bombardeamentos, mas não deu propriamente para sentir medo. Depois, como a rádio lá passava muitos discos meus, eu era aproveitado para abrilhantar as festas militares.

– Compreendeu, à época, as motivações daquela guerra?

– Eu não estava por dentro dos assuntos da política. Disseram-me que Guiné era Portugal e eu acreditei. Hoje, olhando para trás, vejo que foram dois anos perdidos.


Outra das entrevistas, com o Marco Paulo, "a propósito dos 35 anos de carreira e dos 3 milhões de discos vendidos". conduzida pelo jornalista e escritor Luís Osório, e publicada nas Selecções do Reader's Digest - Portugal - Revista, em nembro de 2011, pode ler-se:

(...) Luís Osório [LO] - Sei que está a comemorar mais um ano de carreira..

Marco Paulo [MP] - E são já 35 anos a cantar, imagine só. Tanto tempo que quase parece, bem, quase parece que a pessoa que sou hoje nada tem a ver com a pessoa que fui... Passei muitas dificuldades no início, não foram apenas rosas.

LO - Que tipo de dificuldades?

MP - No início tive de cumprir 18 meses de serviço militar obrigatório, depois tive também de viver com o que diziam e faziam os meus críticos. Durante muitos anos o meu nome esteve vetado na televisão. Fui muitas vezes mal tratado. (...)

(...) LO: Voltando um pouco atrás. Onde cumpriu o serviço militar? 


MP: Na Guiné. Quando fui para a guerra, já tinha gravado dois ou três discos, discos sem grande sucesso mas que passavam na rádio e que já vendiam alguma coisa. Ao regressar da guerra, não fazia ideia do que seria a minha vida no futuro, não era líquido que o meu futuro passasse pelas cantigas.

LO: Recorda o dia em que partiu para a guerra?

MP: Muito bem. No fundo, não sabia para onde ia. Foram dias muito inquietantes, mas por sorte acabei por ir parar a Bissau. Os meus pais choraram quando se despediram de mim, choraram tanto como eu. Aliás, lembro-me de ter chorado duas vezes na minha vida: nessa ocasião e quando me deram a notícia de que tinha um cancro. Não é nada fácil alguém me ver chorar, nada fácil mesmo.

LO: O estatuto de cantor beneficiou-o de alguma forma durante a Guerra Colonial?

MP: De forma nenhuma. Por sorte, não estive nos sítios onde se vivia a guerra, limitei-me a estar numa zona mais resguardada. Fui obrigado a ir. Estava numa secção de escritório a fazer cartas, para mim foram quase umas férias. Só me apercebia de que existia guerra quando me convidavam para ir cantar a algum hospital ou à Força Aérea; no sítio onde estava não percebia nada. Deu-me muito prazer cantar na Guiné, os meus camaradas pediam-me e eu nunca recusava. (...)

Infelizmente, não dispomos de nenhuma foto do nosso camarada Marco Paulo, do tempo da Guiné.  Nem conhecemos o "sítio oficial" do popular cantor (***).
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quinta-feira, 13 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12831: Historiografia da presença portuguesa em África (47): O dia em que saiu o último soldado português, de Bissau: 13 ou 14 de outubro de 1974 ? (Albano Mendes de Matos / Luís Gonçalves Vaz)

Ten Albano Mendes de Matos, CA/CTIG, 1973
1. Mensagem do nosso leitor (e camarada) Albano Matos, com dataa de 1 do corrente;

Assunto - Último dia da Guiné: datas

Caro Amigo Luís Graça,


Num comentário de Luís Gonçalves Vaz sobre a data de saída da Guiné num escrito meu, queria informar o senhor que,  nos meus documentos de matrícula,  consta que saí de Bissau em 14 de Outubro de 1974 e cheguei a Lisboa no mesmo dia.

O último avião saiu pelas 01H30M do dia 14. Logo, tudo o que descrevo se passa no dia 13 de Outubro de 1974. A não ser que a data nos meus documentos esteja errada. Eu dependia do pai do Sr Luis Vaz, Chefe do Estado-Maior, que, creio, que no dia 13 já não esteve no Quartel General, de onde eu saí no dia 13,pelas 13H00.

Albano Mendes de Matos
Tenente-Coronel Chefe de Contabilidade do CA/CTIG


Luis Gonçalves Vaz
2. Mensagem, de 2 do corrente, do Luís Gonçalves Vaz, membro da nossa Tabanca Grande e filho do Cor Cav CEM Henrique Gonçalves Vaz (último Chefe do Estado-Maior do CTIG - 1973/74),  a quem dei conhecimento do teor da mensagem acima:

Olá, Luís Graça:

Obrigado pela tua atenção em me enviares a informação. Acabei de responder, e pelos vistos eu "troquei a hora, não os dias", a saber:

Caro sr Tenente-Coronel Mendes Matos:

Peço-lhe desculpa, pois só ontem fui informado deste seu post por um e-mail do Editor Luís Graça. Agradeço-lhe se ter dignado vir aqui repor a verdade da data/hora (já vi que troquei a data/hora do último embarque no cais marítimo com o grupo data/hora do último voo), que julga ser a correta.

Não vou nem quero opor-me à sua data de 13 ou 14 de Outubro,quando refere no seu artigo, afinal trata-se do depoimento de um dos "protagonistas deste momento histórico" que, como tal, merece toda a minha credibilidade. Mas gostaria de o informar que "oficialmente" no Relatório que possuo,elaborado pela 2ª Rep do QG e autenticado pelo sr. Major Tito Capela, na página 46, apresenta para o último embarque aéreo das nossas tropas, o grupo "Data/Hora" de 140230OUT, como o embarque do CMDT CHEFE e elementos do QG.

"Informa também" que foi no dia 13 de Outubro que o QG/St Luzia foi entregue, logo o seu artigo está de acordo com este Relatório "Secreto", de que já dei aqui visibilidade.

Agora apercebo-me que "troquei" o grupo Data/Hora, e além de  pedir desculpa a todos pela minha incorreção,quero também aqui corrigir esta hora, como tal onde digo "..Às 23 horas do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné..." quero emendar para: "Às 2h30min do dia 14 de Outubro de 1974, estes militares serão os últimos a retirar da Guiné (por via aérea ...).

Estive a reler o Relatório, e no mesmo o que parece uma "incoerência", pois o grupo Data/hora do último embarque (aéreo) é 140230OUT, e o grupo data/hora da entrega do QG/CCFAG na Fortaleza da Amura, é 142300OUT, não o será, pois  o último embarque de tropas portuguesas, foi por via marítima em LDGs (no cais de embarque) pelas 23h00min (142300OUT), executado diretamente da fortaleza da AMURA para os navio UIGE e NIASSA, como tal devem ter sido estes os militares que entregaram o QG da AMURA (??).

No entanto, e segundo este mesmo Relatório, estes navios só saíram da zona em 151000OUT, em suma terão sido estes os últimos a abandonar este TO. Agora se assim não foi, então será esta minha fonte que não foi fiel no que concerne às datas (terá alguma gralha ou mesmo erro nestes grupos Data/Hora ?). Relativamente aos registos do meu pai, só encontrei a referência que seria no dia 14, a saber:

Bissau, 5 de Outubro de 1974

"... Dia de trabalho derivado da antecipação da nossa saída em 15 deste mês (pois passou para 14 de Outubro) ...

 Coronel Henrique Gonçalves Vaz
(Chefe do Estado-Maior do CTIG)

Entretanto, também registou na sua agenda de CEM, a antecipação de vários voos de cargas .... A pressão era "muito grande" para que abandonássemos aquele TO.

Grande Abraço

Luís Gonçalves Vaz

3. Comentário de L.G.:

O nosso camarada Albano Mendes de Matos, nascido em Castelo Novo, Fundão, em 1932,  é também antropópologo, poeta e romancista com obra premiada ("A Casa Grande", 2008).

Aqui fica uma resenha biográfica, respigada da Net e completada com elementos informativos do nosso blogue (*)

(i) Tenente-coronel do Exército na reforma, com várias comissões de serviço durante a Guerra Colonial: Angola  (Grupo Art 157 / BArt 147, 1961/63; Angola  (BArt 1469/ CArt 1469, 1965/68; Guiné (GA 7 e QG/CTIG - Secção de Milicias e Chefe de Contabilidade, 1972/74),.

(ii) é  também licenciado em Antropologia Cultural e Social e mestre em Ciências Antropológicas;

(iii) foi professor na Universidade Moderna;

(iv) na Guiné, a par das tarefas militares, organizou festivais de poesia e representações teatrais, bem como os «Cadernos de Poesias POILÃO», com autores guineenses e portugueses;

(v) publicou, em 1973, em Angola, o caderno de contos africanos «Jangadeiro», dos quais foram apreendidos 300 exemplares pela PIDE/DGS;

(vi) estreou-se no romance em 2008, com a obra «A Casa Grande», que recebeu o Prémio Literário Aquilino Ribeiro.

Acabei de mandar ao Albano Matos o seguinte mail:

Albano: Vou fazer um poste com as vossas duas mensagens, a do Albano e do Luís... E vou convidar o Albano para integrar a nossa Tabanca Grande... É mais do que justo até pelos contributos que já deu para a preservação e divulgação da nossa(s) memória(s) da Guiné... Memórias e afetos... Espero que diga que sim... E que aceite, A partir de então, o tratamento é por tu, de acordo com as nossas regras de convívio, e como de resto se impõe entre camaradas do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Um alfabravo. Luís....(**)


PS - Temos cá vários camaradas da BAC

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/search/label/BAC%201

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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

 9 de maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2827: Os últimos a saírem: um estrangeiro numa nova Nação (Ten Cor Albano Mendes de Matos)

(...) Um pouco depois das 11 horas da noite [, do 13 de Outubro de 1974], dirigi-me para o jipe. O condutor estava melhor da bebedeira. Com ele estava o primo. Alguns negros param a olhar para nós. Aproximaram-se. O jipe arrancou. Os guineenses ficaram a acenar, de braços levantados. Descemos pela avenida principal, subimos pelo lado do campo de futebol.

Sentia uma sensação estranha. Já na estrada do aeroporto, olhei para trás. Duas lágrimas saltaram-me dos olhos, recordando o sangue português derramado naquelas paragens. Era estrangeiro numa nova nação.

Já perto do aeroporto, o condutor perguntou-me:
- Meu tenente, onde deixo o jipe?
– Atira-o para uma barreira!

Parámos à entrada do parque do aeroporto. Desci com a pequena mala. O condutor colocou uma sacola no chão, subiu para o jipe e conduziu-o até uma pequena ladeira, ao lado da estrada, um pouco antes do aeroporto, para onde o encaminhou com um pequeno empurrão.

No aeroporto, para entrarem no último avião da Guiné, estavam o Governador, o Comandante Militar, alguns militares coadjuvantes, oficiais, sargentos e meia dúzia de soldados.

Para apresentarem cumprimentos de despedida, chegaram alguns chefes militares do Exército do PAIGC e o Presidente da Câmara Municipal de Bissau.

Era o fim da colónia ou província portuguesa da Guiné, já independente desde o mês de Agosto. (...) 

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Guiné 63/74 - P14195: Memória dos lugares (284): Bissau. fortaleza da Amura: fiz lá serviço de sargento de dia e de guarda, e conheci um preso que tinha as chaves da prisão... (Mário Gaspar, ex-fur mil at art MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)


Bissau > Outubro de 1968 > O Máruio Gaspar junto ao forte da Amura.. Esta foto à anterior às obras de remodelação da fortaleza. Recorde-se que,alguns meses depois, no o início do ano de 1969, o novo Governador da Guiné, brig António Spínola,  terá manifestado o seu interesse em “cuidar da Fortaleza de S. José da Amura”, motivo pelo qual o arquiteto Luís Benavente terá sido requisitado para elaborar os estudos e o plano de actuação necessário.  Data deste período (e desta campanha de obras) a instalação na fortaleza do Comando Chefe [, QG/CCFAG - Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], da Companhia de Polícia Militar, de um destacamento adido à Polícia Militar e do Comando Chefe do Agrupamento de Bissau.


Foto: © Mário Gaspar (2015). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), autor do livro de memórias "O Corredor da Morte" [Lisboa, 2014]


Data: 13 de janeiro de 2015 às 21:08

Assunto: Forte da Amura (*)

Caros Camaradas:

Existiu uma Guerra, uns a denominam Guerra do Ultramar, mas para mim foi uma Guerra Colonial. Iniciada em 1961, dizem que terminou em 1974, mas mentira, nem mesmo em 1975 porque ela continua bem infiltrada dentro de cada um de nós. Se a pretendermos narrar, hoje, amanhã é tarde, temos pouco tempo à nossa frente. Não querendo que seja narrada, sem mentiras e omissões, temos de dar as mãos, e todos os camaradas contribuírem. Se tal não se pretender porque é prejudicial para alguém, então partam para outra – mas não contem comigo:

a) Blogues em que se contem anedotas – e existem por aí tantos!... que tal umas almoçaradas e jantaradas em louvor aos que morreram?

b) É com muita tristeza que ao consultar o Arquivo Histórico-Militar, e já lá fui as vezes suficientes para o verificar, tantas contradições e as tais omissões – e quem omite mente – de pôr as mãos à cabeça;

c) Depois uns senhores Gungunhanas surgem de barriga cheia, no seu trono, como donos da palavra, e sem respeito algum pelos outros – a pessoa a quem me dirijo sabe bem do que falo – e é pena;

d) O nosso blogue é uma família, e o local de troca de mensagens, não é uma arena; estudei em Vila Franca de Xira e sei bem como marra o boi. Não gostando das esperas de toiros, deixei de as frequentar.


Em relação ao Forte da Amura o que posso dizer? Cumpri a Comissão isolado no mato e não em Bissau. O que assisti em Bissau – em Setembro/Outubro de 1967 – quando estava no período de gozar licença invadiu-me de tristeza. Tiroteio em Bissau? Então não eram as Tropas Especiais que andavam em Guerra em plena cidade aos tiros após um jogo de futebol ?! (**)

(i) estive no Forte da Amura e fiz Sargento de dia e Sargento de Guarda, até ao embarque, em outubro de 1968;

(ii) o quartel não era de todo mau;

(iii) os s meus pequenos-almoços eram no "Zé da Amura", com uns pombos verdes fritos e cervejas;

(iv) conheci lá o  Marco Paulo que me ofereceu mancarra e cerveja que rejeitei;

(v)  havia alguém que não queria que eu morresse à sede e me enviava cervejas fresquinhas, mas nunca tive conhecimento quem era;

(vi) tinha um preso a meu cargo e, se não tenho a sorte de perguntar a razão de não estar preso, talvez não tivesse vindo com a minha Companhia;

(vii) quem passou a comissão de serviço no Forte da Amura teve muita sorte, coitados daqueles que estiveram nos "cus do mundo",  isolados no mato;

(viii) em Bissau havia muita mulher branca e até muita miúda cabo-verdiana linda.

Cumprimentos

Mário Vitorino Gaspar

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 20 de janeiro de  2015 > Guiné 63/74 - P14165: Memória dos lugares (282): Gadamael... O enigma da palavra ASCO que consta de um edifício em ruínas (que era messe de oficiais no tempo da CART 2410...) pode estar decifrado: seria o acrónimo da casa comercial Aly Souleiman & Companhia que existia em 1956 (Luís Graça / Mário Vasconcelos)

(**) Vd. poste de 2 de janeiro de  2010 > Guiné 63/74 - P5580: FAP (44): A verdade sobre os incidentes, em Bissau, em 3 de Junho de 1967, entre páras e fuzos... (Nuno Vaz Mira, BCP 12)

sábado, 15 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22202: Casos: a verdade sobre ...(23): a data do atentado no Café Ronda, Bissau... Nem tudo o que parece, é... (Abílio Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74)


Guiné > Bissau > Santa Luzia > QG / CTIG >"Cartão que nos foi distribuído para podermos circular no QG depois da bomba. Reparem nas datas de emissão e validade (parece que contavam comigo até ao fim da comissão)"..De facto,o cartão era válido de 27 de abril de 1974 a 27 de março de 1975... A bomba no QG/CTIG terá sido em 22 de fevereiro de 1974...

Foto (e legenda): © Abílio Magro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de ontem, enviada às 16h20 pelo Abílio Magro (ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG, 1973/74) (*), que não era Alberto, mas Valente... Mesmo com o nome errado, entrava e saía todos os dias do QG/CTIG, em Santa Luzia, com o cartão acima reproduzido...

Caro Luís, tudo bem contigo? Espero que sim e que já tenhas tomado as 2 (vacinas).

Realmente esta confusão de datas (*) é mesmo muito estranha.(**)

Tentando criar alguma luz sobre o assunto, resolvi escrever um texto que envio em anexo e que poderá servir de alerta para a verdade documentada, embora eu saiba bem que é essa que conta "para o totobola", mas factos são factos.

Permite-me que te dê a sugestão de, através do blog, convocares todos os "homens grandes" que estavam naquela data no local do "crime" para usar da palavra sobre o assunto e, se eu estiver enganado, lá terei de me apresentar junto de ti descalço e com a corda ao pescoço.

Abraço, AM

2. Casos: a verdade sobre a data do atentado no Café Ronda, Bissau... Nem tudo o que parece, é... (Abílio Magro)

Notas sobre as Conclusões do Seminário “Guerra de África – Portugal Militar em África 1961- 1974 – Atividade Militar” realizado no IESM em 12 e 13 de Abril de 2012 Por Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso

 http://www.cd25a.uc.pt/media/pdf/ConclusoesdocoloquioIESM.pdf --- x --- 1974

 (excerto) 

Janeiro, 21 - Primeira acção do PAIGC na cidade de Bissau, com lançamento de engenhos explosivos contra autocarros da Força Aérea, seguidos, uma semana depois, de dois outros engenhos do mesmo tipo num café da mesma cidade frequentado por militares portugueses 

Fevereiro, 26 - Atentado num café de Bissau. Este atentado seguiu-se a outros ataques a autocarros da Força Aérea. Duas granadas de mão defensivas com disparador de atraso explodiram no recinto do café Ronda, em Bissau, causando cinco feridos graves e 44 feridos ligeiros entre os militares e um morto e 13 feridos entre os civis.


A confusão continua: “uma semana depois” não nos leva a fevereiro, certo? E se foi em janeiro, ainda aceito com alguma relutância porque nessa altura o meu irmão Álvaro ainda por lá andava, mas continuo a pensar, como o Kalu (**), que foi por volta do mês de setembro e digo isto apenas pelo facto de nesse atentado ter sido gravemente ferido o Fur Mil Romão, chegado à Guiné um dia ou dois antes e que ia substituir na CSJD o meu camarada Costa que tenho ideia de ter acabado a sua comissão uns meses antes de janeiro de 1974. 

Mas, claro, com todas estas confusões, já começo a duvidar. O certo, certo é que eu estava no cinema UDIB (julgo que o rebentamento se deu pouco depois das 21h00) e o meu irmão Álvaro estava lá por perto, mas em 26/02/1974 já não estava na Guiné. 

Não deixa de ser estranho também que, tendo o atentado sido executado, segundo está escrito, por volta das 22h30, uma mensagem seja enviada no início da tarde do dia seguinte pelo Comando Chefe à Defesa Nacional já com referência a resultados de averiguações. 

Os historiadores, antigamente, socorriam-se das ‘verdades’ dos historiadores que os precederam e essa era a ‘verdade documentada’, estivesse correcta ou não. O historiador inglês Jack Lindley acrescentou à investigação, nos finais do século XX, o princípio da separação entre a ‘verdade documentada” e a ‘verdade aceitável’. E quando a ‘verdade’ documentada contém erros grosseiros, sou levado a aceitar a verdade sustentada na minha memória e na dos que por lá andavam na altura. 

Os erros grosseiros em documentos militares eram mais que muitos e nem sempre havia tempo ou pachorra para os ‘catar’ todos. A mim entregaram-me um cartão para acesso ao QG (depois da bomba) onde constava Abílio Alberto Lamares Magro quando o correcto é Abílio Valente Lamares Magro, mas como o nome do meu pai era Acácio Alberto Lamares Magro,  o erro deu-se compreensivelmente, mas eu nunca troquei o cartão porque o erro não me impedia de entrar no QG. 

Depois também temos os jornalistas e historiadores contemporâneos, alguns com uma falta de profissionalismo exasperante e, depois, há quem se sustente nas ‘bacoradas’ por estes proferidas/publicadas. 

Aqui há tempos, a propósito da morte do Marcelino da Mata, ouvi na TV o ‘historiador’ Fernando Rosas a desancar furiosamente naquele militar português apelidando-o de tudo e mais alguma coisa, chegando ao ponto de afirmar que o Marcelino foi o fundador dos Comandos africanos, e o maior responsável pela invasão da Guiné-Conacry. “Um país estrangeiro!” vociferava ele ... enfim. 

Esse ‘historiador’ também andou pela Guiné-Bissau aqui há uns anos a gravar uns episódios sobre a guerra e o PAIGC e, quando falou sobre a bomba no QG (Santa Luzia), estava em frente ao QG/ CCFAG (Amura),  apontando para este como tendo sido alvo daquela bomba. 

Como podemos dar crédito a tudo o que se escreve e diz nos órgãos de comunicação social?! Terá a data de 26/02/1974 sido erradamente colocada naquele documento oficial? Será que ninguém deu pelo erro e toca a aceitá-la como boa durante anos e talvez séculos? 

O facto de o meu irmão Álvaro ter assistido de perto a este acontecimento e de já não estar na Guiné em 26/02/1974, levam-me a estranhar estas divergências de datas e a entrar em conjecturas na tentativa de perceber o assunto. Conjecturando: será que o “evento” se deu a 21 de janeiro de 1974 e houve atraso/esquecimento em o comunicar à Defesa Nacional e houve que inventar uma data? 

Resta-me aceitar a “verdade” documentada (a oficial), mas … Pela verdade oficial eu tive duas irmãs gémeas (oficialmente e registado, nasceram no mesmo dia), mas pela verdade aceitável (a real) elas tinham dois anos de diferença. 

Siga para bingo! 

Abílio Magro
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 27 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11164: Um Amanuense em terras de Kako Baldé (Abílio Magro) (6): Regresso a Bissau

(**) Vd. poste de 10 de maio de  2021 > Guiné 61/74 - P22191: Casos: a verdade sobre ...(22): A deflagração de um engenho explosivo no Café Ronda, em Bissau, em 26 de fevereiro de 1974 (Carlos Filipe Gonçalves, Mindelo, São Vicente, Cabo Verde)