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1. Mensagem do nosso Camarada Miguel Pessoa, Cor Pilav Ref (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74), com data de 12 de Janeiro:
Camaradas,
Fui encontrar no meu "baú dos tesourinhos deprimentes", esta pérola que escrevi há já uns meses e que ponho agora à vossa disposição. Ando a dosear bastante o envio dos meus "escritos", pois já não tenho muitos...
E faltando-me a memória para relembrar factos ocorridos há tanto tempo, também já não tenho imaginação para tentar reconstruir outros, que pudessem aproximar-se razoavelmente da realidade... Por isso, para já, terão que se contentar com esta estória, como agora se diz.
AEROCROSS
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De vez em quando os aviadores da BA12 eram solicitados para missões que, por fugirem à rotina da actividade diária, eram sempre bem recebidas. Apareceu um dia um pedido de transporte de jornalistas estrangeiros para uma visita a Varela, no âmbito das "operações de charme" que o regime organizava periodicamente.
Um dos problemas apresentados era o de que a pista de Varela estava há bastante tempo desactivada - talvez porque se encontrava localizada a uma certa distância do aquartelamento e isso implicasse um empenhamento exagerado das nossas tropas na protecção aos aviões, quando ali se deslocavam.
Mas, dado o interesse em avançar com esta deslocação, foi considerado importante reabrir a pista, pelo menos para permitir a execução daquela missão. Sabia-se pouca coisa das condições do aeródromo naquele momento, pelo que o piloto teria que fazer uma prospecção cuidadosa da área de aterragem, antes de ali pousar.
Dado o número de jornalistas envolvidos, houve necessidade de se programar a ida de dois DO-27, tendo sido designados dois pilotos para esse fim - um Furriel já batido no território e um tenente ainda em princípio de comissão - eu... Já não me lembro como me calhou ir nesta missão, mas desconfio. Sucede que era eu quem indicava os pilotos da Esquadra para as missões que estavam programadas e certamente aproveitei para me nomear a mim mesmo para este trabalho, na perspectiva de aprender mais qualquer coisa e ganhar experiência.
A esta distância, parece-me que ultrapassei os limites do razoável ao meter-me nesta cena, pois não se sabia o que iríamos encontrar no terreno. A tal prospecção cuidadosa da área de aterragem era pouco praticável dado que o capim elevado não deixava ver o chão e não sabíamos se haveria obstáculos no terreno, como paus ou pedras, ou irregularidades que pudessem provocar um desequilíbrio repentino do avião durante a sua progressão, ou até o seu capotamento. E desconheço se o pessoal do aquartelamento terá analisado o local.
Tem-se por norma que no transporte de altas entidades ou de pessoal estranho à Força Aérea (que nos importa tratar bem) as regras de segurança são ainda mais rígidas que o normal. Não sei bem os antecedentes desta missão, mas não me parece que tenha sido este o caso, porque à descolagem ainda não sabíamos bem o que iríamos encontrar.
Sei que, à chegada ao local, depois de termos solicitado ao aquartelamento que montasse a segurança aos aviões junto à pista, ficou assente que um dos pilotos faria uma aterragem cuidadosa e só depois aterraria o outro avião.
Foi decidido (?) então que eu faria essa aproximação inicial. Parece-me que terá havido aqui uma passagem da batata quente feita de modo perfeito pelo outro piloto e o periquito viu-se com o menino (ou os jornalistas) nos braços e avançou destemidamente. Destemidamente é uma maneira de dizer. O facto é que arrisquei mais do que devia pois, para além dos eventuais obstáculos, que já referi, nem sabíamos se teriam colocado alguma mina naquela zona.
Pese embora os meus receios, a aterragem até foi perfeita e o capim ajudou mesmo o avião a travar a corrida de aterragem. Vendo o êxito da manobra o outro piloto avançou e aterrou a seguir, estacionando o avião ao lado do meu.A missão não tem muito mais a referir, pois o regresso decorreu sem problemas de maior, com uma descolagem normal de Varela, na tarde do mesmo dia (depois de termos verificado melhor as condições do terreno...).
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Não pretendo aqui questionar as decisões tomadas a nível superior, porque não tinha conhecimento à data, nem tive depois, dos factores que foram tomados em linha de conta. Por outro lado, há muitos aspectos desta missão que começam a ficar esbatidos na minha memória. Porém, penso que no meu caso pessoal deveria ter tomado maiores precauções (claro! - mas quais?...).
Suponho que, afinal, muitos passaram por situações semelhantes. Quantas vezes nos encontrámos nós em situações em que sentíamos dificuldade em questionar as decisões tomadas a nível superior, quando já estávamos metidos numa engrenagem que nos arrastava e levava a situações para as quais muitas vezes já não tínhamos fuga possível e apenas nos restava avançar?
Um abraço,
Miguel Pessoa
Cor Pilav Ref
Foto: © Wikipédia, Enciclopédia livre - Exemplar em exposição no Museu do Ar (Polo de Sintra). Direitos reservados.
Emblema da BA12: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
Emblemas do Esquadrão 121 Tigres Fiat G91 e GO1201: © Miguel Pessoa (2009). Direitos reservados.
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
4 comentários:
Miguel:
Todos nós, pessoal de terra, ar e mar, violou regras de segurança, ultrapassou os limites, pôs à prova o material, fez asneiras, adoptou comportamentos de bravata, esticou os nervos até à franja...
Não tenho aqui falado muito de mim, mas um dia deu-me na cabeça de ir de Bambadinca ao Xime (cerca de 12 km), sozinho, com o Tchombé - um puto, órfão de guerra, que era a 'mascote' (!) do bar de sargentos e furrriéis de Bambadinca - e com o condutor de uma viatura Daimler, uma caixa de lata... (O meu amigo José Luís Vacas de Carvalho, o comandante do pelotão de cavalaria, nem deu conta do desenfianço)...
Se tivessemos apanhado uma mina pelo caminho, eu não estaria aqui para te contar esta história... Tínhamos vinte e poucos anos, e precisávamos, de vez em quando, de testar a nossa resiliência e resistência... para não darmos em doidos.
Fui ao Xime, bebi um copo, paguei o lanche ao Tchombé e ao condutor da Daimler, e regressei nas calmas a casa, com uma visita aos camaradas que estavam a guardar a ponte do Rio Udunduma...
Era um privilégio dos "velhinhos", eu estava farto de conhecer e fazer segurança àquela estrada (em contrução e, mais tarde, asfaltada, já depois do meu regresso à Metrópole).
Todo o mundo que esteve no leste, conheceu o célebre e temível troço Xime-Bambadinca, por onde se entrava para o leste (actuais regiões de Bafatá e Gabu).
Fico feliz pelo teu regresso... Um beijinho para a Gisela.
Consoante as suas responsabilidades assim as suas aventuras,nunca cheguei a saber porque é que o ex-alferes José Augusto Rocha a qualquer hora da noite viajava de ou para Capé de Cammude ou Cantacunda armado em cowboy de pistola Walther á cinta de jipe só acompanhado pelo motorista o Eugénio Duarte que hoje vive isolado do mundo desde o dia em que uma das suas duas filhas faleceu vitima de um desastre de viação.
Recordo do Eugénio me dizer que fazia a seguinte pergunta, o meu alferes não tem medo?
Resposta do alferes se eles aparecerem a gente entrega-se.
Nós suspeitávamos que o alferes Rocha por ser oposicionista ao governo de Salazar tivesse a ser protegido pelo Carlos de Capé, por alguma razão todas as industrias naquela zona tinham sido incendiadas e a fábrica de aguardente de cana do Carlos em Capé continuava a sua laboração normal.
Mas posso dizer que o Carlos de Capé era muito comunicativo com toda a tropa portuguesa, pois quando se lhe pedia uma garrafa de agua-ardente ele aos militares não cobrava dinheiro oferecia.
Mas da fama não se livrava de Capé ser um posto de intercâmbio entre a guerrilha e a tropa portuguesa.
Um abraço para o Miguel e um beijinho para a Gisela.
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