

Caro amigo e camarada de armas.
A partir de agora, se não virem inconveniente vou enviando uma série de apontamentos, uns mais sérios e outros mais cómicos, no fim o que de real se passou no dia a dia de uma Companhia.
Também tive a oferta de umas folhas de um jornal dos Aguias Negras de 1964, com artigos com interesse e que mais tarde irão seguir.
Notas soltas da CART 643 (3)
O nosso Cabo Enfermeiro José Botas
Um militar que era considerado por todos. Quem não se lembra do 1.º Cabo Enfermeiro José Botas, natural de Coimbra, moço sempre alegre e bem disposto, dando ânimo a todos os que recorriam ao posto de socorros? Infelizmente já não se encontra entre nós, faleceu vai para 15 anos.
O Botas durante a sua comissão, pode-se dizer, foi um mártir, por diversas vezes sofreu ferimentos em emboscadas, sempre com estilhaços de granada de mão, que iam fatalmente ter com ele e sempre nas costas que eram a prova.
Mas a história que vou contar nada tem a ver com o IN.
Em certa altura aterrou um Dornier 27 em Bissorã com um médico dentista, mais a sua cadeira tradicional e o seu ajudante, para passar revista às dentuças do pessoal.
Claro que o Botas, como era o Cabo Enfermeiro e o serviço do Médico seria executado no posto, disse logo em voz alta aos camaradas que já se encontravam em fila:
- Rapaziada eu sou o primeiro, porque ser 1.º Cabo Enfermeiro é um posto.
O Médico mandou avançar e eis que lá vai o Botas, mas como tinha na frente três dentes em avançado estado de cárie, o médico não esteve com meias medidas e sacou-lhe logo os respectivos.
A debandada foi repentina e de tal ordem que a fila desfez-se quase por completo. A risada foi geral e durante bastante tempo os companheiros diziam no gozo:
- Ó Botas como és um posto, não queres ser o primeiro outra vez?
O Botas depois de passar à disponibilidade sofreu bastante, nunca foi reconhecido como deficiente nas diversas Juntas Militares a que recorreu, processo conduzido pelo sempre grande amigo Sargento Bajouco, vivia miseravelmente com a mãe muito velhinha, porque a sua coluna não o deixava trabalhar.
Mais tarde eu e o Bajouco ainda o ajudámos económicamente, e num encontro da Associação de Amizade do Bart 645 todos se prontificaram a ajudá-lo, mas em vão, porque a morte entretanto o levou.
Até um dia grande amigo.
Rogerio Cardoso
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 11 de Janeiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5630: Notas soltas da CART 643 (Rogério Cardoso) (2): O César e o Capitão Silveira
1 comentário:
Camaradas,
Se os processos relativos a DFA fossem abertos,isto é, estivessem acessíveis para consulta, talvez se verificasse que, outros com menos ferimentos, estão contemplados com essa classificação de DFA. Também o Orlando, que já referi no âmbito da História da C.Caç.2679, bastamente marcado por estilhaços de RPG, e teve comportamento heróico, não foi assim considerado. Viveu com essa dificuldade. Emigrou em busca de melhor sorte, que não encontrou.
Quando, este ano, me propus pagar a viagem a Lisboa e dar-lhe acolhimento para o levar ao HMP, e seguir o calvário que estas coisas requerem, já era tarde.
Proponho que enderecemos os parabéns ao Chefe do Governo, e também ao Ministro da tutela, pelo sucesso na política de contenção de despesas.
J.Dinis
Enviar um comentário