quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16593: Os nossos seres, saberes e lazeres (179): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (4) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Junho de 2016:

Queridos amigos,
Já antes da série Guerra dos Tronos que Dubrovnik era a grande atração turística da Croácia. É preciso contemplar o maciço daquelas torres, a imponência dos panos de muralha, sentir que se trata de um sistema de fortificação sem paralelo, no Mar Adriático ou fora dele, e, a par disso, percorrer o interior da cidade muralhada e desfrutar de património histórico de impressionante claridade, marcado fortemente pelas influências veneziana e austro-húngara. As ruelas são igualmente encantadoras, bem como os panoramas que se desfrutam no alto da montanha e a ilha de Lokrum e toda a linha da paisagem.
A despeito do tempo instável, o viajante por ali andou cheio de curiosidade, mal sabendo que está nas vésperas do prato de substância, a surpresa das surpresas desta passagem pelos países dos eslavos do Sul, Split. Ah, e outra grande surpresa que veio a seguir, o Parque Nacional de Plitvice.
A seu tempo, tudo se contará.

Um abraço do
Mário


Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (4)

Beja Santos

Um esclarecimento prévio do viandante: para não se meter o Rossio na Betesga, melhor dito não se criar ilusão de que saltitava pela antiga Jugoslávia, teceu-se um trajeto com início em Belgrado, uma longa viagem de comboio que depois de se passar por Podgorica fez chegar a Bar e depois Sutomore, chovia que Deus dava, e a chover a cântaros entrou-se num autocarro que nos passeou pela orla do Mar Adriático, passando por Petrovac, Budva até Kotor, inegáveis belezas naturais e históricas da República do Montenegro. A nova etapa aponta para Dubrovnik, agora na moda depois das filmagens da série Guerra dos Tronos. Compreende-se o afluxo turístico, a curiosidade de gente de vários continentes que aqui arriba. As fortificações são esmagadoras, não têm paralelo no Adriático, 2000 metros de muralhas, torres angulosas, 14 torres quadrangulares, baluartes imponentes, não há melhor exemplo para um sistema de fortificação que foi aperfeiçoado do século XVI e a surpreendente harmonia que este cataclismo de pedra provoca, ninguém fica indiferente às impressionantes muralhas e ao todo arquitetónico da velha Ragusa.



Estamos na praça principal de Dubrovnik, a influência italiana. Mas a história da cidade fortificada vem de longe. Pertenceu a bizâncio até meados do século XIV, e depois a Veneza, mais tarde ficou submetida à autoridade dos reis croato-húngaros. O seu apogeu situa-se entre os séculos XV e XVI, o Mediterrâneo ainda é o centro do mundo, melhor dito centro do comércio mundial. Depois veio o apagamento, um tremor de terra destruiu a cidade, foi restaurada. Em 1806, chegaram os exércitos napoleónicos e dois anos depois Dubrovnik passou a pertencer à Dalmácia, tornou-se possessão austríaca de 1814 a 1918, até à criação da Jugoslávia.



Mais adiante, falaremos da beleza das fortificações. Naquele guia turístico de 1978 cuja capa se reproduziu, a imagem principal é de Dubrovnik, dá para perceber a imponência das suas muralhas e a organização reticular do meio urbano à volta de uma rua principal, esta é um grande alfobre de monumentos históricos, logo à entrada uma fonte sexangular que data do século XV, segue-se a Igreja do Santo Salvador, o Convento dos Franciscanos. Mas não esqueçamos que houve terramoto, a maior parte dos edifícios datam dos séculos XVII e XVIII, vai-se da fonte sexangular até ao fundo da rua principal onde está a fachada da Igreja de S. Brás, em estilo barroco, o Palácio Sponza e a Torre do Relógio, aqui está o coração da velha Ragusa, ao lado da catedral de Dubrovnik. As igrejas albergam belíssimos tesouros em pintura, órgãos, estatuária, há poucas lembranças de Bizâncio e muitos elementos barrocos para recordar a influência veneziana. Em 1991, a aviação sérvio-montenegrina fez um raide que culminou em incêndios e destruição. Por isso se fixou a imagem de um alerta para não se esquecerem essas horas negras que podiam ter arrasado irremediavelmente património da humanidade.




A arquitetura civil e a arquitetura religiosa estão amplamente abonadas dentro das fortificações: igrejas, conventos, palácios, escadarias monumentais, torres, há a sinagoga de Dubrovnik, antiquíssima porque construída no século XV, há mesmo uma igreja ortodoxa (importa não esquecer que estamos na Croácia, país eminentemente católico). Frente a Dubrovnik espraia-se a ilha de Lokrum que atrai os turistas com as suas praias e a sua vegetação mediterrânica e subtropical luxuriante. Mais tarde li que Maximiliano de Habsburgo, irmão do Imperador Francisco José, e que foi imperador do México, onde acabou fuzilado, comprou esta ilha e construiu um castelo. O viajante não foi lá mas sentou-se num balcão na muralha a contemplar essa indizível beleza.




O turista, de um modo geral, sabe bem o que o espera em Dubrovnik: a cidade propriamente dita, as suas ruas transformadas numa sucessão de restaurantes e estabelecimentos comerciais e nas ruelas que sobem até às alturas as habitações dos nativos, mais restaurantes, pensões e albergues; e as muralhas, a toda a hora chegam e partem excursões, ouve-se falar mandarim, coreano, russo, italiano, francês e inglês, tudo numa agitação para justificar as expressões embasbacadas com tanto colosso de pedra e a tal harmonia que ressalta daquelas dimensões e a arte de construir muralhas gigantescas introduzindo ondulação e suavidade que impressiona e não se esquece. Foi uma das pérolas ou jóias da coroa da antiga Jugoslávia, foi sempre uma atração turística, equiparada a Belgrado, Zagreb, Sarajevo, Split e às belezas naturais do Parque Nacional de Plitvice. E merece a honraria. O único desabono que o viandante lhe encontrou foi não poder andar descansado pelas ruas, era um aceno permanente de menus a qualquer hora do dia ou da noite, paciência, é uma das faturas do turismo de massas. Mas as recordações são inolvidáveis, a seguir veio a experiência maior desta viagem, Split, a cidade do imperador Diocleciano, recanto magnífico. Vamos então falar de Split.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16563: Os nossos seres, saberes e lazeres (178): Uma viagem em diagonal pelos países dos eslavos do Sul (3) (Mário Beja Santos)

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