domingo, 9 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16581: Blogpoesia (474): "E do uníssono do piano e violino..."; "Semeio para colher..." e "Desço às minhas profundezas...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. O nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) vai-nos enviando ao longo da semana belíssimos poemas da sua autoria, dos quais publicamos estes, ao acaso, com prazer:


E do uníssono do piano e violino...

Pela batuta astuta do maestro,
uma orquestra em marcha,
na mais completa harmonia e cordialidade,
do violoncelo grave e doce,
da harpa quente,
das tubas em fúria
e do rufar ribombo dos tambores,
uma nuvem diáfana e pura
de sons distintos
enche a sala e os corações cansados
da mais profunda sensação alegre.

Como o pensou o artista ao escrever a peça,
na sua solidão etérea que só o espírito puro entende.

Que fantástica sinfonia se desprende
daquele palco aceso
onde o piano fulgurante
risca o trote pleno de graça e pundonor...

Maviosa orquestra de sonho e de harmonia
nos transporta em júbilo
por essas paragens que só em sonham se alcançam!...

ouvindo o concerto nº 1 de Tschaikowsky para piano por Sara Ott

Berlim, 9 de Outubro de 2016
10h13m

JLMG

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Semeio para colher...

Se vou à feira é para mercar.
Se semeio é para colher.
Não me passeio só por andar.
Cada passo tem seu sentido. Cada hora sua razão.

Não quero chegar ao fim inutilmente.
Quero cumprir o meu mandato
Mesmo sendo na oposição.

Não me demito das minhas batalhas,
Se perdi uma delas.
Não me envergonho do meu passado
Porque sempre estimei o meu presente.

Ando de pé e olho em frente,
Mesmo só no meu caminho.

É na calada da minha noite
Que eu cogito cada dia.

Berlim, 6 de Outubro de 2016
9h36m

ouvindo concerto de piano de Schumann por Khatia Buniatishwili

JLMG

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Desço às minhas profundezas...

Fuji das banalidades da superfície,
Onde o ar parou
e desci às profundezas de mim,
no encalço das sensações mais genuínas.

Não quero esta paz sem luta do dia a dia.
Quero arrostar os ventos e as intempéries.
É no desespero que se sobe às alturas
E se vêem mais perto as nossas reminiscências.

Ficar ao meio é cair na desilusão.
Só trepando ou descendo se atingem os extremos
Onde tudo começa ou tudo acaba.

Só arriscando se poderá alcançar o sabor da vitória...

Berlim, 5 de Outubro de 2016
22h40m

ouvindo o concerto nº 3 de Rachmaninov por Anna Fedorova

JLMG
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16570: Blogpoesia (473): Peregrinação (Augusto Mota, camarada da diáspora no Brasil; ex-1º cabo, Grupo Material e Segurança Cripo , Bissau, QG, CTIG, 1963/66)

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