"Uma coisa é estudar a guerra, outra é viver a vida de um guerreiro".
Foto (e legenda): © Vasco Gil (2020). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Recorte da edição do Público, 2 de agosto de 2020: Texto de Patrícia Carvalho e fotografia de Daniel Rocha. O artigo só está disponível para assinantes. (Excerto reproduzido com a devida vénia...)
1. Mensagem de Vasco Gil, doutorado em antropologia pelo ISCTE [ CALADO, Vasco Gil Ferreira - Drogas em combate: Usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa [Em linha]. Lisboa: ISCTE-IUL, 2018. Tese de doutoramento. [Consult. 3 de agosto de 2020 ] Disponível em www: http://hdl.handle.net/10071/18841, técnico superior do SICAD - Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependência, dependente do Ministério da Saúde; autor da entrevista ao "Público", de 2 de agosto de 2020:
Date: quarta, 6/08/2020 à(s) 13:54
Subject: Tese e entrevista sobre o uso de substâncias psicoativas na guerra colonial
Luís: Escrevi umas linhas. Se achar que faz sentido publicar, e que não será motivo de maior agitação no blogue, está à vontade para publicar:
Deixo uma foto que poderá juntar. Vasco Gil
___________
Sou o autor da tese de doutoramento sobre o uso de substâncias psicoativas na guerra colonial e quero deixar alguns esclarecimentos sobre a entrevista dada ao "Público" [, edição de 2 de agosto de 2020] (*)
Em primeiro lugar, quero pedir desculpa pelo título e por algumas das fotos que ilustram a entrevista. A escolha não foi minha e admito que, quem não leu a entrevista, tenha ficado condicionado por algumas das fotos, que eventualmente passam uma imagem mais sensacionalista.
No entanto, quem leu com atenção constatou que o conteúdo não é esse. Nunca é dito que o consumo de drogas era generalizado ou mesmo a embriaguez. Pelo contrário, deixei bem claro que a descoberta da cannabis se deu numa fase mais tardia da guerra (no final do anos 60 e início da década de 70).
Este é um trabalho de Antropologia, pelo que não me preocupei em quantificar o uso desta substância. Deixei claro que apenas uma minoria teve contacto com a cannabis e a maior parte de quem consumiu fê-lo de uma forma experimental (uma ou outra vez, movido pela curiosidade). Mas houve alguns militares que passaram por Angola e Moçambique (na Guiné não existia cannabis) que descobriram a liamba e a suruma e usavam-na para alguns fins. Foi nesses que me foquei, mas sempre com o cuidado que ressalvar que a maioria nunca se apercebeu de nada.
Nunca uso o termo «drogados», que era um conceito desconhecido na altura. Mesmo «droga» não tinha o sentido que tem hoje. A maior parte dos militares que experimentaram fumar liamba e suruma durante a guerra não sabia bem de que se tratava, era apenas algo que viam outros fazer, nomeadamente os seus camaradas (brancos e pretos) de origem africana.
Devem ter sempre em mente que não há na tese ou na entrevista qualquer juízo de valor. Não entendo o uso de substâncias psicoativas como algo bom ou mau. O que me interessou foi perceber como é que num contexto de guerra era possível, mesmo que fosse pontual e não generalizado, o consumo de substâncias como álcool e cannabis.
E a minha conclusão foi que o uso de álcool e cannabis era um recurso terapêutico, isto é, algo que era consumido para ajudar a lidar com uma realidade muito, muito dura. De uma violência que eu não consigo sequer imaginar.
Na verdade, grande parte da tese é a explicar o quão dura foi a experiência de guerra para os militares que participaram na Guerra Colonial. E é essa violência que explica uma série de práticas. É essa a tese central.
Como tantos da minha geração, eu não conhecia nada sobre a Guerra Colonial. E descobri que foi muito mais dura e violenta do que eu supunha. Não sabia nada sobre o sofrimento, os traumas e a violência.
Tenho pena que não reconheçam que tentei fazer justiça a essa vossa experiência. Quando falo do uso de cannabis e dos episódios de embriaguez estou a criticar uma experiência de guerra tão dura ao ponto de alguns militares recorrerem a substâncias psicoativas para garantir um equilíbrio emocional (como recorriam a outros estratagemas, como o convívio, as cartas, a música, a fotografia, etc.). Não estou a criticar quem aumentou o consumo de álcool ou experimentou fumar cannabis.
Tudo o que disse atrás, aprendi com camaradas vossos, alguns que pertencem a esta comunidade. Não inventei nada, como é óbvio. Alguns trechos vêm de entrevistas, outros são citações de livros de memórias de guerra ou diários escritos na guerra (neste caso, qualquer um pode confirmar a veracidade do que é citado).
Eu aprendi como alguns de vós que os ex-combatentes se sentem muitas vezes injustiçados e pouco reconhecidos por tudo aquilo que foram obrigados a passar em África, mas não vejam em mim um inimigo. Pelo contrário, sou alguém que tentou trazer a lume mais um episódio da guerra que travaram.
Mesmo sabendo que o tema das drogas é um assunto delicado e tabu, ainda para mais para a vossa geração, acreditem que tentei fazer-vos justiça e dar a conhecer tudo aquilo que passaram.
Recebi algumas críticas e muitos insultos mas também muitas palavras de agradecimento de ex-combatentes, que se reviram no que está lá escrito.
Eu acredito que se lerem sem preconceitos e não virem nas minhas palavras um ataque à honra e uma qualquer motivação política, também se vão rever. (**)
Agradeço a todos aqueles que aceitaram colaborar com a minha investigação.
Vasco Gil
____________
(*) Vd. postes de:
4 de agosto de 2020 > Guiné 51/74 - P21222: Recortes de imprensa (112): entrevista ao antropólogo Vasco Gil Calado sobre droga e álcool na guerra colonial, "Público", 2 de agosto de 2020 (Carlos Pinheiro)
8 de agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21234: (Ex)citações (365): álcool & droga na guerra colonial: oportunismos mediáticos... agendados ou não (José Belo, régulo da Tabanca da Lapónia)
8 de Agosto de 2020 > Guiné 61/74 - P21233: (Ex)citações (364): canábis e álcool na guerra colonial (António Ramalho)
(**) Último poste da série > 28 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20282: Controvérsias (141): o triângulo Jabicunda / Sonaco / Contuboel... Nunca foi atacado, porque tinha à volta uma série de zonas-tampão, Bafatá e a Geba, a sul e a oeste; Fajonquito, Sare Bacar, Pirada e Paunca, a norte e a leste... (Cherno Baldé)
32 comentários:
Caro Doutor
Uff!!!Nada em relação à Guiné, assim estamos mais descansados.
No entanto, do que li sobre as entrevistas, não consegui apurar 'quem foram' os entrevistados.
Sabemos que foram militares que estiveram na guerra em Angola e Moçambique a partir dos anos 70. Em Angola e Moçambique havia grandes zonas de 'mato' e cidades com militares sem problemas directos de guerra.
Dos entrevistados, todos estiveram em contacto directo/combates/flagelações aos Quarteis/ataques a povoações com a guerra? Ou qual seria a percentagem dos que estiveram nessa situação?
Como saberá, o tratamento dado aos testemunhos não será igual para situações de stress diferentes.
Aborda como primeiro contacto com cannabis ser através de elementos da população local pretos e brancos, quer dizer então que esses elementos da população também estavam debaixo dum stress da guerra?
Foi feito algum estudo paralelo com o que se passava por cá na mesma época com os milhares jovens no serviço militar a 'aprotarem-se' para ir, também, para a guerra no ultramar?
Há época, o comportamento dos jovens, em geral, tinha um acentuado estado de vivência, todos estavam na tropa ou por cá ou na guerra colonial.
Quer dizer, será que ou estarem na guerra ou por cá o resultado das entrevistas seria o mesmo: começava a aparecer o fenómeno criado com a guerra no Vietname.
Acabo com os chamados 'boatos da 5ª. Rep'. A '5ª Rep' era o Café Bento em Bissau, ponto de encontro de centenas de militares em serviço na cidade e de passagem para ou do 'mato'. Lá eram contadas as mais diversas histórias de combates e similares com juras a pés juntos e palavras d'honra que é verdade, algumas até eram verdade como se estar a ouvir perfeitamente uma povoação estar a ser atacada naquele momento.
Saúde da boa
Valdemar Queiroz
António Ramalho (por email)
domingo, 23/08/2020, 20:04
Caro Luís Graça boa tarde.
O D. Vasco Gil é justo e humilde nas suas explicações e fundamentos dizendo de forma bem clara e evidente que: Uma coisa é estudar a guerra, outra é viver a vida de um guerreiro, está tudo dito!
Lembro-te um facto que a comunicação social não deu especial relevância, à época.
O porto de Sines:
O molhe do porto de Sines nos anos 70/80. O projecto determinou que seria ali e os pescadores disseram(previram) que deveria ser além, resultado: a primeira hipótese numa noite desapareceu engolida pelo mar, a segunda hipótese ainda lá continua! (nós no Ultramar fomos os pescadores!)!
Que apareçam mais teses de doutoramento sobre a Guerra Colonial,mas que incluam a Guiné, cá estaremos para as analisar e contestar nunca esquecendo a frase do nosso ilustre doutor Vasco Gil - Uma coisa é estudar a guerra...
Um grande abraço para ti.
António Ramalho (757)
Olá Camaradas
Já tinha comentado esta brilhante tese do Professor Vasco Gil.
Agora vem ele justificar-se, mas não se retrata de modo claro.
Perder, nem a feijões!
Admitir imperfeições? como dizem os ingleses "N'Évora"!
Claro que assinaremos como vencidos. No fundo os estudiosos é que sabem... "emai nada"!
Daqui por uns anos - e não faltam muitos - o que vale é a palavra dos estudiosos...
Li algures que a tese tinha 300 pág. É verdade? Se for, é quase uma por "inquirido".
Destas coisas da cultura não entendo nada, mas parece-me que há uma certa desproporção.
Um Ab.
António . P. Costa
No meu tempo de "intervenção" no Guiné, a "árvore da cola" era objectivo - árvore encontrada, árvore abatida. Quando as forças já eram fracas para manejar a catana, faziam-se fogueiras ao pé. Também eram ciosamente guardadas pelos seus donos e fonte de conflitos entre os nativos, não raro violentos.
Os milícias mais velhos que formei e comandei em Buruntuma eram dependentes da cola, prefeririam-na às rações de combate, que era contrabandeada do Senegal pelos "gilas", pelo que também a aprovisionávamos.
Experimentei mascar uma noz de cola e não fiquei cliente - era muito amarga.
Só à pouco é que soube que a cocaína e a cola foram até 1910, salvo erro, a matéria prima da famigerada Coca-cola, e que esta era importada do Senegal.
Quanto ao consumo de álcool, os "copos" são parte importante da cultura e da sociabilidade africana, que a tropa potenciou e assimilou. Pela minha parte, de vez em quando ainda "vai" um wísquezinho - simples, claro!
E lá vai um episódio. No PREC, fomos a uma reunião com o capitão MFA, presidente da Câmara M. do Porto, recebeu-nos no gabinete presidencial de copo de whísky na mão - e cada trago cada estalido com a língua...
Não é condição militar nem os palcos de guerra que implicam o auto-consumo de droga; é a condição humana.
Tive o meu primeiro contacto com a droga em 1961, coisa de brasileiros ricos, diziam eles que no Brasil polícia que apanhasse traficante matava-o logo, porque a máfia da droga o mataria a ele.
Para infelicidade da Democracia, a droga democratizou-se...
Abr.
Manuel Luís Lomba
"Uma coisa é estudar a guerra, outra é viver a vida de um guerreiro".
Escrevo respeitando a "distância" social, intelectual e, sobretudo, TEMPORAL.
N´s, os COMBATENTES já cá andamos há muito tempo, e sabemos o que são TESES, LIVROS e RECORTES DE JORNAL.
Estes textos, como sempre, não têm direito a contraditório. Estão escritos e PONTO FINAL
Por muito que se fale, escreva ou discuta, nada há a fazer.
Entre os combatentes temos aqueles que foram â guerra e a (tentam) esquece-la; outros que já "esqueceram (dizem); outros que recordam alguns factos, mas ...; outros que a fizeram, recordam e a estudam, para que os "erros oficioso, não passem a erros oficiais.
Aqui, parece-me, nada de estudo aconteceu.
Já comentei, e recordo, que por estudo por mim feito sobre o número de militares milicianos que passaram pelos Teatros de Operações, foram em número superior a um Milhão.E realço MILICIANOS, porque os dados publicado foram baseados em quadros com divisão anual, nas inspecções militares nas incorporações e nas mobilizações.
Reforço que, os 200 combatentes que colaboraram no estudo representam, APENAS, 0,02% dos conscritos que estiveram nas Últimas Campanhas de África.
Tem o mesmo valor que ir à Assembleia da Republica perguntar a um deputado de cada partido representado naquele órgão, em quem votará nas próximas eleições. A conclusão será simples: todos, mas todos, os partidos terão uma percentagem igual. Resultado da análise: uma COLOSSAL mentira.
Tudo o que for escrito sobre os COMBATENTES e a guerra que lhes foi imposta na sua juventude, por mim é bem vindo, mas com o estudo e o rigor que este período merece.
Mas agradecemos que essas teses ou estudos sejam feitos antes de 2024, ano em que se completará mei século sobre o fim da guerra, para que os poucos que ainda cá estarão, possam escrutinar esses escritos.
Se a Guiné está ou não excluída da TESE apresentada, torna-se um pouco pior.
Os COMBATENTES são TODOS os que, mesmo que não todos sejam considerados oficialmente, aqueles que passaram por África desde 1959, data em que as então províncias ultramarinas, começaram a ser guarnecidas com tropas de reforço à guarnição normal. Na Índia, obrigatoriamente, terá de ser considerado o ano de 1954, ano em que foram anexados os enclaves de Drada e Nagar Haveli.
Caro amigo Manuel Luis Lomba,
Contrapontos:
1. Em todo o territorio da Guiné (Portuguesa) e ainda hoje, a arvore da Cola so existe e se reproduz numa pequena faixa do litoral da peninsula de Quitafine (Sector de Cacine) e nas Ilhas Bijagos, pelo que seria pouco crivel que os militares fossem ao litoral do Quitafine (zona libertada desde 1963/4???) onde so chegavam tropas helitransportadas, com o objectivo de abater arvores de Cola.
2. O Senegal em relaçao a Cola é como Portugal em relaçao ao café ou bacalhau, nao é produtor, mas um grande consumidor. Nao vejo porque havia de exportar a Cola em lugar dos reais Produtores na zona (Serra Leoa e Costa de Marfim) onde o produto é 4/5 vezes mais barato. Uma nota interessante a este proposito vem no historico livro de André Alvares d'Almada que nos conta que os portugueses foram os primeiros a contrabandear a cola da Serra Leoa para o rio Gambia que é o mesmo que dizer Senegambia.
3. Quanto ao consumo do alcool, os "copos" sao parte integrante da cultura portuguesa do Norte ao Sul. Isto é tao real que nunca conheci nenhum portugués que nao consumisse bebidas alcoolicas. Pelo contrario, consumo do alcool dos autoctones antes da penetraçao europeia resumia-se ao vinho de palma e do fermento do milho e, sem dizer que parte importante da populaçao, por diversas, é aversa ao consumo do alcool e, tu que percorreste o territorio de lés-a-lés, melhor que ninguém sabes isso. Pelo que as tuas insinuaçoes sao completamente infundadas e so podem ser feitas por alguma falta de respeito e/ou ma fé premeditada.
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Obrigado Prof. Luís Graça por ter publicado as minhas palavras.
Por uma última vez, quero responder a algumas questões que foram colocadas e dizer uma ou outra coisa. Depois, dou o caso por encerrado.
Percebo que os ex-combatentes sejam desconfiados e se queixem de algum aproveitamento político. Da minha parte tentei fazer um trabalho sério, fundamentado e pouco dado a generalizações, pelo que não posso ser responsabilizado se alguém fizer uma leitura errada das minhas palavras. A alternativa era não escrever e não dar entrevistas.
O livro contém um capítulo sobre a metodologia, onde é descrito o processo de recrutamento dos informantes e as técnicas de recolha de dados. Falei com vários tipos de ex-militares milicianos (os militares de carreira não quiseram colaborar). Procurei diversificar o perfil: a maior parte esteve em (diversas áreas de) Angola e Moçambique (dado que na Guiné não existia consumo de liamba), uns eram operacionais (incluindo das chamadas forças especiais) e outros não. Uns estiveram em áreas de intenso combate militar, outros não chegaram a disparar um tiro.
Por outro lado, a informação não veio apenas das entrevistas que realizei. Em paralelo, procedi a uma exaustiva pesquisa bibliográfica, nomeadamente em arquivos, mas também centrada em textos biográficos (diários de guerra, autobiografias, etc.). Por isso é que me custa ser acusado de ter inventado tudo quando grande parte do que lá vem escrito foi publicado em livro por antigos combatentes e é facilmente verificável. Ao contrário do que sou acusado, os primeiros a falar do consumo de álcool e cannabis na guerra colonial foram os próprios ex-combatentes. Claro que não diziam que era um consumo generalizado, mas nem eu o afirmo.
Este é um trabalho de Antropologia, a partir de entrevistas em profundidade. São analisados processos sociais e distanciei-me da postura quantitativa. Ou seja, não tomei os 200 ex-combatentes como representativos. Não falo dos ex-combatentes como uma unidade. Analisei o consumo de substâncias psicoativas a partir da informação que encontrei (entrevistas e fontes escritas).
Ao mesmo tempo, analisei também o início dos consumos de cannabis na juventude portuguesa metropolitana dos anos 70, daí o título «Drogas em Combate». Na verdade, não estou a falar do uso de drogas em missões de combate (pelo contrário, é dito várias vezes que tanto a cannabis como o álcool eram substâncias usadas no interior dos aquartelamentos, sobretudo em momentos de lazer, descanso ou confraternização). Estou portanto a falar tanto das drogas na guerra como da guerra às drogas.
Mais uma vez saliento que uso o termo «drogas» sem conotação, mas apenas como substâncias psicoativas (e incluo nesta categoria também o tabaco, o café ou o chá). Da mesma forma, não uso o termo «bêbados» ou «drogados». Procurei fazer uma análise do que se passava à época.
Tenho pena de não poder oferecer um exemplar do livro a cada um de vós porque tenho a certeza que a maioria se iria rever em muito do que lá está escrito e perceberiam que não tem grande fundamento aquilo de que me acusam.
Luís Lomba
Provavelmente, referes-te ao Cap. Boaventura José Martins Fernandes, muitas vezes visto em criança passar a correr na ponte romana de Estorãos, prós lados de Ponte de Lima.
Fico surpreendido não teres sido informado que ele não era o Presidente da Câmara M. do Porto, mas sim o Presidente da Comissão Administrativa.
Vá lá que vos atendeu de copo de whisky na mão e dar estalidos com a língua a cada trago, bem pior seria com os pés em cima da secretária e a beber whisky directamente da garrafa.
Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Caros Camaradas,
Entro neste tema, ainda que de forma superficial, para acrescentar algumas “notas” mais ao que o camarada José Marcelino Martins referiu anteriormente.
Depois de ler a tese e de tirar alguns apontamentos, sou de opinião de que o tema em apreço é inesgotável, merecendo, pois, ser aprofundado.
Por isso, espero/desejo que as próximas teses em Antropologia (por exemplo), que se venham a elaborar na Academia no futuro próximo, devem/deverão levar em consideração alguns dos considerandos (comentários) aqui postados.
Compreendo que o Doutor Vasco Gil Calado esteja satisfeito com o seu trabalho, na medida em que não o fez sozinho, teve a ajudar dos seus “mestres”. Porém, também estou certo de que (já) compreendeu perfeitamente onde quiseram chegar os veteranos no/do CTIG, membros activos deste Blogue, fonte de memórias de ex-combatentes.
É que este tipo de trabalho de pesquisa, a que a comunidade científica designa por “estudo de caso etnográfico”, caracteriza-se por ser um estudo profundo e exaustivo de poucos objectos (assunto), de maneira a permitir o seu amplo e detalhado conhecimento.
Por outro lado, porque em ciência é preciso harmonizar o pensamento com a metodologia, este tipo de estudo etnográfico circunscreve-se a unidade social local. Esta unidade social local não pode (não deve) assentar numa amostra tão reduzida para um território tão abrangente como foi o “caso” das “Colónias Portuguesas de África” (uma já era difícil… quanto mais três).
Ainda assim, sublinho algumas passagens do texto que marcam a dimensão da “problemática”:
(Continua…)
Parte II
[…] Houve coisas [questões certamente pertinentes para a etnografia, enquanto método utilizado em estudos antropológicos] que não me achei no direito de perguntar aos entrevistados, houve temas que, de forma consciente, preferi não abordar. Como podia eu (que nunca peguei numa arma, que jamais estive sob fogo [metralha], que não fui à tropa e que, se fosse chamado para cumprir serviço militar, mesmo que em tempo de paz, me declararia objector de consciência), questionar alguém acerca do que é matar um ser humano, ver morrer outro alguém, chorar de desespero, de raiva ou de medo? Da mesma forma, não me atrevi nunca a perguntar a quem quer que fosse como é cruzar a fronteira da cobardia e do heroísmo, ou questionar arrependimentos ou pesos na consciência. Alguns informantes afloraram estas questões (sem nunca o aprofundar), outros evitaram-nos de forma evidente (pp 94-95).
(…) Seja como for, o facto de grande parte dos autores que estudaram a Guerra Colonial Portuguesa – nomeadamente aqueles que adotaram uma perspectiva antropológica, como Maria José Lobo Antunes (2015), Bruno Sena Martins (2015; 2014; 2013), Elísio Jossias (2007), Sara Primo Roque (2004), Luís Quintais (2000a) ou Daniel Seabra Lopes (1998) – ter chegado genericamente às mesmas conclusões [é bom ou mau?], ainda que se tenham focado em determinados aspectos em particular, quererá dizer qualquer coisa e, de certa forma, validam as minhas generalizações. Bem ou mal, a história militar da Guerra Colonial Portuguesa está feita (Venter [,Al J.], 2015 [Portugal e as Guerrilhas de África. …]; Afonso & Gomes, 2010; Garcia, 2010; Teixeira, 2010; Leite, 2009; Rebocho, 2009; Brandão, 2008; Garcia, 2006; Cann [John], 2005; Bacelar, 2000). Também a história social do conflito se vai fazendo (p 96).
Em função das afirmações/interrogações/citações do parágrafo acima, acrescento, como um simples exemplo de fiabilidade/credibilidade (ou não) o seguinte:
(Continua…)
Parte III
Sobre a referência à obra anteriormente identificada, da autoria do jornalista de guerra sul-africano Al J. Venter [Albertus Johannes Venters (n-1938)], onde, na capa desse livro, se encontra grafado “um testemunho surpreendente do único jornalista estrangeiro presente nas três frentes da guerra colonial” (https://en.wikipedia.org/wiki/Al_J_Venter), seleccionei uma passagem da página 322, para dar conta do valor historiográfico do que aí se encontra narrado:
“Em Bambadinca ficava o quartel-general do tenente-coronel João Monteiro [João Polidoro Monteiro], chefe do Batalhão 2917 [BART 2917; de 25Mai70 a 27Mar72] (lema: «Bravos e Sempre Leais») [nome correcto: «P’la Guiné e suas Gentes»]. O Aquartelamento situava-se num dos poucos rios do interior onde não se fazia sentir a humidade usual da região costeira pantanosa.
A Base controlava uma área que incluía a confluência dos rios Geba e Corubal, outra parte do país que vira muitos confrontos violentos no período anterior a 1968.
O Último ataque ocorrera exactamente um ano antes de eu chegar: um grupo infiltrado tinha-se dirigido para norte do outro lado da fronteira a partir de Kandiafara para tentar cortar e minar a estrada de Bafatá. Num final de tarde, os guerrilheiros atacaram Bambadinca a partir do outro lado do rio, retirando-se depois para uma posição pré-determinada, onde esperaram pelo dia seguinte antes de se juntarem a outros dois grupos. Esta força combinada iria atacar outras posições durante o assalto [?].
Foi então que algo correu mal. Um grupo de pisteiros do grupo de ataque colidiu com uma das patrulhas do coronel [João Polidoro] Monteiro [Cmdt do BART 2917] e foi capturada[o] intacta[o], sem ter sido disparado um único tiro. Um dos homens era um alto oficial do PAIGC. Os quatro homens foram levados de helicóptero para Bambadinca, onde foi oferecida ao oficial a opção de contar tudo ou aceitar as consequências. Era uma situação sem saída, e o rebelde foi suficientemente inteligente para aceitar.
E foi assim que o general Spínola teve todo o plano de batalha dos guerrilheiros nas suas mãos nessa mesma manhã…”
E assim se escreve a «História» da Guerra Colonial, no caso a «História da Guerra no CTIG».
À consideração do Fórum… e à consideração da Academia e dos seus dedicados membros.
Para concluir este meu pequeno apontamento, deixo duas questões dirigidas ao Doutor Vasco Gil Ferreira Calado, e que são:
- Porque os «Anexos» não constam no índice do trabalho? E porque não foram numeradas as respectivas páginas?
- A foto do «Anexo – II Inquérito On-Line» está publicada neste Blogue em P19493 e P20184.
Um abraço e votos de muita saúde
Jorge Araújo
Viva o Jorge Araújo!
É RANGER e isso dá dele a ideia de Homem resistente forte.
Só assim se justifica que tenha lido toda a tese. Eu morreria, se a lesse, estou certo.
A mim, só o comentário do defensor da dita publicado no blog e à guisa de quem pretende encerrar o assunto e continuar "de consciência tranquila", faz-me dores no espírito.
Confesso que ainda tentei, mas estou velho e não consigo ler textos redondos...
O defeito está em mim. Não sou capaz! Desisto!
Um Ab. e saudações muito calorosas ao novel Doutor
António J. P. Costa
Gostaria de saber se este trabalho está publicado e em que editora, para o poder consultar. Julgo que o ISCTE apenas publicou um pequeno resumo.
Este autor deve saber que a orientação sobre a escolha dos entravistados é fundamental para uma maior aproximação à verdade dos factos.Há tb um aspecto que à partida misturar ácool com drogas não será muito realista. Basta ver que as drogas seriam clandestinas e o álcool bebido nas companhias combatentes (à base da cerveja) era nas cantinas dessas sub-unidades militares e normalmente às claras e muitas vezes em são convívio. Nas minhas últimas três comissões por imposição/escala, entre 1964 1973, as companhias eram formadas com pessoal de Angola e Moçambique. E, apesar disso, o uso das tais drogas devia ser em pequenas minorias, através dos contactos com as populações locais. Durante toda a guerra nos terrtiórios portugueses, a designação usada pelos militares era "Guerra do Ultramar", já que o regime dizia que apenas havia "acções de polícia, até 1974). O termo "guerra Colonial apenas surgiu pelas forças políticas de esquerda no pós-15 de Abril. E até houve outro grande investigador e autor, José Freire Antunes, que lhe atribuiu a designação de "Guerra de África. No wikipedia (Manuel Amaro Bernardo) ou no site "Guerra do Ultramar" pode encontrar alguns dos livros que publiquei. Cumprimentos.
Caro Manuel Bernardo,
Pode encontrar o livro em livrarias on-line, como a Bertand (https://www.bertrand.pt/livro/drogas-em-combate-a-guerra-colonial-vasco-gil-calado/24152801).
Como dizia atrás, procurei diversificar o perfil dos entrevistados. Para além disso, grande parte da informação recolhida vem de outras fontes (arquivos e textos biográficos). Em relação a álcool e cannabis, as duas substâncias são tratadas em capítulos separados, sendo que depois é feita uma comparação, salientando o que distingue o uso das duas e o que têm em comum.
Também é dito que o consumo de liamba e suruma não era generalizado e deveu-se em grande medida ao que o Coronel Matos Gomes apelida de «africanização» das forças armadas portuguesas, isto é, o aumento dos efetivos de incorporação local.
Em relação ao termo guerra colonial, essa questão é também debatida, tendo optado pela designação «Guerra Colonial Portuguesa» por motivos que são apresentados no texto.
Tenho pena que o seu livro Moçambique. Guerra e Descolonização tenha saído já quando estava prestes a finalizar a tese, porque teria sido de útil leitura.
Se o texto que dá origem ao post dá a sensação de um "mea culpa", como que a pretender redimir-se.
Porém, o comentário atinge outro calibre: a confissão de alguem que, sabendo que é culpado, procura o padre na esperança de obter um PERDÃO, sem ter que pedir desculpas ao agredido.
Lamento, mas sou directo e "politicamente incorrecto", e não costumo dizer PAZ À SUA ALMA.
Para bom entendedor ....
"Sexo dos Anjos"
Julgo que é o que se discute aqui.
Sobre a tese de doutoramento, (salvo o devido respeito para com a autor), que ainda não li nem tenho intenção de ler, pelo simples facto que a respectiva interessa ao autor e eventualmente aos "entrevistados",porque para mim o tema é irrelevante no contexto geral da guerra, porque se consumiam bebidas alcoólicas apesar da guerra e NÃO por causa da guerra.
Quanto a outro tipo de "drogas" era igual.
Os meus soldados, uma grande parte mascavam castanha e folhas de cola, NÃO por causa da guerra, mas porque era um hábito deles.Ficavam com a boca completamente vermelha e depois de muito mascar cuspiam aquela mistela, e depois limpavam os dentes com um pauzinho apropriado e não é que ficavam com um sorriso "pepsodente" novamente.
Experimentei uma vez, NÃO por causa da guerra, mas por simples curiosidade e além de ficar com a boca muito amarga , vomitei, o que provocou uma risota geral.
Os fulas que eram muçulmanos bebiam muita "fanta" isto é cerveja numa lata de de fanta.
Era impensável alguém ir etilizado para o mato.
Caro Cherno, não sabia que era só na zona do quitafine que existia a árvore de cola, e a oeste da linha Cacine-Cameconde não havia zona libertada nenhuma e muito menos se faziam assaltos de helicóptero para destruir as árvores de cola, esta era vendida nas ruas de Bissau sem qualquer constrangimento.
Será que o nome da tabanca Cacoca vem daí ?
ab
C.Martins
C.Martins, em lata só havia mesmo Fanta e...Coca-Cola, não me lembro de cerveja em lata.
Nunca vi os soldados, todos fulas, da minha CART11, a beberem Fanta, com cerveja lá dentro.
As latas eram abertas com dois furos opostos, feitas com a 'unha' apropriada, com o bico da faca de mato e até com uma bala da G3, como é que depois era feito o 'transvasamento' e para quê, se a cerveja era vendida na cantina da Companhia à vista de toda a gente.
Na minha CART11 havia soldados fulas muito jovens e parece que alguns desses às vezes a um convite 'é pá vá lá uma cerveja' com os soldados da metrópole davam 'uma facada' na sua religião.
Ab.
Valdemar Queiroz
Valdemar, na minha CCAÇ 12 nunca vi um soldado nosso beber álcool ou comer carne de porco. Por isso eram "desarranchados". No mato não comiam ração de oombate, levavam um lenço atado nas quatro pontas com o seu arroz cozido em casa. A noz de cola, que tinha o mesmo efeito do café para nós, aliviava-lhes a sensação de fome. Eram homens extradionários, aguentavam muito melhor a fome e a sede que a maior parte dos "tugas"...
Luís, na minha CART11 também nunca vi nenhum dos nossos soldados fulas beber álcool ou comer carne de porco. Também eram todos desarranchados mas, quando saíamos por mais de dois dias, a eles também era distribuída ração de combate, que depois trocavam connosco as latas de carne por latas de sardinha, e inclusive alguns não comiam aqueles "chouriços" de queijo por ser de leite de porca, diziam eles.
No meu Pelotão havia, pelo menos, três com 17/18 anos de idade e em toda a Companhia muitos mais, e constava que alguns desses putos, por vezes, junto com os de cá bebiam a sua cervejola.
É verdade. O Demba Jau, o soldado da bazuca (sem ser de beber ah!ah!) do meu Pelotão, que aparece numa das minhas fotografias a tirar água dum poço na bolanha, e dos mais velhos de idade, muito raramente bebia a água que levava no cantil, só no fim da operação quando chegava-mos ao Quartel ou às viaturas à nossa espera, é que ele bebia a água.
A grande capacidade de sofrimento tornava-os homens extraordinários.
Que será feito deles?
Ab. e saúde da boa
Valdemar Queiroz
Meu caro Cherno
A Guiné é a mesma, os nossos tempos diferentes, logo as memórias também. O meu tem quase 60 anos!
Entre Julho e Outubro de 1964, andamos de "intervenção" no sul, pelas matas de Cantanhez, de Cafine, etc. e a destruição das "árvores da cola" constava na ordem das operações. São operações indelevelmente gravadas na nossa memória, pelo seus níveis de sofrimento: tínhamos contactos com o PAIGC, passávamos os dias e as noites encharcados de água e chupados pelos mosquitos - era a "época das chuvas". O "timming" dessas operações convenceu-nos da superioridade do alto comando "turra" em relação ao alto comando "tuga".
Nessas operações teremos destruído não mais de meia dúzia dessas árvores. Não eram da "cola"? Seria engano dos oficiais de Informações e Operações e ou barrete enfiado pelos guias contratados?
Como aludi, só tomei conhecimento da "cola" como matéria-prima da Coca-cola e da sua proveniência do Senegal há dias, através de um programa num canal temático da TV.
No relativo à alcoologia tinha os guineenses na conta de bons "copos" à excepção dos Fulas, com a sua abstinência confessional. Em Buruntuma lidei com militares e militarizados dessa etnia que pediam "água de Lisboa" (vinho), que lhe era servido nos cantis de água...
O nível do meu conhecimento da história da Guiné será de iniciado. Certamente terei falhas, de erro ou omissão mas de má fé, não.
ABR.
Manuel Luís Lomba
Apenas para esclarecer o autor Vasco Gil. A 1.ª ed do livro, com o título "Combater em Moçambique (...) foi publicada em 2003, estando mais completa que a posteriormente lançada 2.ª e 3.ª edição. Tem por exemplo um capitulo sobre "Stress pós-traumático" (Stress de Guerra). Depois com a publicação no ambito do Programa Fim do Império, com letra maior e menos páginas, foram retirados alguns anexos e esse capítulo. E o título passou para "Moçanbique; Guerra e Descolonização; 1964-1975", mais de acordo com a realidade, já que na descolonização não ocorreram combates contra a FRELIMO, como aconteceu em 1975 em Angola contra o MPLA, em Vila Alice.
Caro Manuel L. Lomba,
No Cantanhês é possível que existam árvores de Cola, pois está situado na margem direita do rio Cacine cujos solos têm as mesmas caracteristicas. Mas não entendo porque haviam de destruir estas árvores que os portugueses, vossos bisavós tão esforçadamente trouxeram para estas paragens pensando no incremento do comércio a longo prazo, da mesma forma que TV trouxeram a Banana, o Ananás, a Cana Sacarina entre outras plantas.
Caro C. Martins, a prática a que aludes da "Fanta" com sabor a cerveja é dos Djaló's (nossos primos por afinidade).
Cacoca não faz referencia a Cola, mas indica que é uma aldeia fundada por Nalus, a partir do prefixo "Ca" que caracteriza os topónimos da desta etnia da mesma forma que em mandinga é "Can", Biafada "Gan" e os fulas "Sinchã". De modo que todas as l9validades com prefixo "Ca" são seguidas, regra geral, pelo nome do patriarca fundador
Abraço amigo e bebam "Fanta" com moderação, como faziam os Djaló's.E a Cola é muito boa para a saúde da boca e dos dentes em particular, combate a carie, as diabetes e a hipertensão na condição de o consumir de forma moderada e com uma boa limpeza a "Pepsodent".
Cherno Baldé
Caros Camaradas.
Por repetitivos no seu conteúdo acabei por retirar alguns comentários meus aqui colocados.
Aparentemente analisamos duas situações paralelas mas distintas na su essência.
-Uma será a apresentação de um trabalho académico do Dr.V.Gil Calado.
-A outra será a forma como o mesmo foi apresentado em artigo jornalístico.
O autor do trabalho académico reconhece que esta apresentação jornalística não coincide inteiramente com o espírito do mesmo.
Não menos quanto às apresentações gráficas ,em fotos,etc.
Alguns de nós,o tal “grande público “,depois de leitura do artigo ((demasiadamente rápida?)) chegaram a conclusões,sem dúvida subjectivas.
Mas não menos válidas por resultantes de subjetividades compartilhadas.
As possibilidades de um tal tipo de artigo ser usado como forma de denegrir esforços e sacrifícios de milhares de antigos combatentes,assim como nas generalizações menos felizes acabar por englobar a Instituição Militar,tornam-se possíveis.
Principalmente se ...”procuradas”!
Conflitos quanto a intenções e seus resultados práticos são usados como exemplos frequentes na prática do Direito Internacional Privado nos Estados Unidos,onde cada estado-membro pode legislar sobre praticamente todos os ramos de direito.
Tornam-se assim possíveis conflitos de leis,mesmo tratando-se do mesmo país.
Como no assunto aqui debatido ,será um bom exemplo quanto a “intenções” e “resultados”.
Um abraço
J.Belo
> título, de exclusiva responsabilidade do respectivo autor:
- «Drogas em combate: Usos e significados das substâncias psicoativas na Guerra Colonial Portuguesa».
Li, com toda a atenção, as autojustificantes explicações que o autor fez questão de publicar por intermédio do presente 'post'.
1.- a escolha da paragona jornaleira, não terá sido sua; mas o título do livro, foi/é;
2.- o mesmo se diga do seu (mal amanhado) "comentário" (cito-o): «não estou a falar do uso de drogas em missões de combate (pelo contrário, é dito várias vezes que tanto a cannabis como o álcool eram substâncias usadas no interior dos aquartelamentos, sobretudo em momentos de lazer, descanso ou confraternização). Estou portanto a falar tanto das drogas na guerra como da guerra às drogas.»;
3.- Não é argumentário próprio de um doutorado; é-o, isso sim, de um refinado 'jongleur'... ;
4.- A "tese" que apresentou - e foi aceite e por si publicada! -, repito, não tem volta a dar: Drogas «em combate» - «Usos» e significados «das substâncias psicoativas [sic]» «na» Guerra «Colonial» Portuguesa;
5.- O Vasco Gil Ferreira Calado, poderá exibir títulos académicos quantos queira; no entanto, nunca me merecerá crédito algum;
6.- Cito-o: «Dou o caso por encerrado.». Eu, dá-lo-lei, se e quando o autor determinar que todos os exemplares do mencionado livro sejam expeditamente retirados do "mercado", e, simultaneamente, faça publicar no mesmo jornal e com idêntico "relevo", uma retratação sem sofismas, isenta de "ses" e "mas".
... à atenção do editor deste p21287: pf reveja as ligações [url] indicadas (04-09Ago2020), pq estão incorrectas.
(JCAS)
... corrigenda: onde acima se lê, 'paragona', leia-se 'parangona'.
(JCAS)
Caro João Carlos Abreu dos Santos,
Não exibo títulos académicos nem procuro crédito académico (a tese foi aprovada por unanimidade e isso basta-me). Mas volto a tentar uma segunda vez a questão do título, porque já percebi que é uma das causas da polémica.
Eu trabalho na área dos comportamentos aditivos e a tese é uma defesa da perspectiva sociocultural de olhar as drogas,por oposição à visão biomédica, que é hegemónica. Dito isto, a partir do exemplo empírico do uso de duas substâncias psicoativas nas guerras em geral, e num conflito em particular, discuto como o objecto «droga» é necessariamente uma construção social, algo que é construído e reproduzido social e historicamente.
A par do que se passava em África, discuto o início da implementação do modelo proibicionista na «metrópole», onde o cenário era radicalmente diferente. Ou seja, a partir do uso de drogas em diferentes cenários, estou a falar da «droga» (no singular) como algo que é sempre negociado e transformado em problema social pelo poder político, por razões que nada têm que ver com as propriedades farmacológicas das substâncias.
Daí o título «drogas em combate», que é obviamente um jogo de palavras. Eu percebo que quem olhe apenas para o título assuma que estou a falar do uso de substâncias psicoativas em combate propriamente dito. No entanto, já tenho mais dificuldade em perceber que quem tenha lido a entrevista ou lido o livro ache o mesmo, pois é afirmado o contrário. Mas quanto a isso, é uma questão que me ultrapassa. Como disse atrás, não posso ser responsabilizado pela desintrepretação dos leitores.
O mais interessante disto tudo é que se fizesse uma retratação pública ou acrescentasse uma adenda iria dizer coisas que já estão no texto. A maior parte das coisas que me acusam é algo que já eu no livro afirmo que não se passou . E esta questão do «combate» é um exemplo.
Confirma, em regra, ser um eximio 'jongleur'. Faz gala disso.
Quanto ao mais: se bem que em semiótica (para bom entendedor... ); não, não me ative nem atenho ao "título"; li e interpretei uma grande parte do que, da sua tal "tese antropológica", se encontra disponivel 'online'; e recordo-lhe, aqui, que pelos meios electrónicos lhe remeti solicitação de cedência do conteúdo em 'pdf'; até ao momento, sem resposta sua.
De argumento em argumento, prossegue nas suas presunções e ofensas 'ad hominem'!
A "malta da tropa" não percebe nada disto: matumbos, nharros, etc, etc.
V. é que sabe disso.
A culpa, seja, a responsabilidade, é da «desintrepretação [sic] dos leitores».
Ora ora.
O que posso afirmar, é seguramente isto: lidas e relidas as reflexões de 'n' veteranos sobre aquela sua tese académica, a maioria já "o topou" desde que a tal entrevista foi dada à estampa.
Pemito-me aconselhar a que não perca o seu precioso tempo com velhotes cacimbados.
Somos (quase) todos tolos.
V., é que é o 'expert'.
Enfim...
COMENTARIO DE JOSE MARIA MONTEIRO
Prestei serviço militar na Marinha e fui Combatente, na Guiné no período 1969-1973.
Em poucas palavras direi que a noticia publica da Jornal O PUBLICO, é a maior difamação e calúnia que alguma vez se fez aos antigos combatentes.
Além de ser a maior calúnia e difamação dirigida a todos os antigos combatentes, é também um enorme insulto às nossas forças armadas.
Não basta pedir desculpa, mas terá de pagar pelos crimes que cometeu.
O Sr Vasco Gil Calado, bem como o júri que aprovou a tese de doutoramento, não passam de autênticos ignorantes e desconhecedores da realidade da guerra nas três frentes de batalha. Aprovar uma tese de doutoramento, com base em 200 entrevistas, que não referem quem são, demonstram bem o nível académico que existe no nosso País. Uma vergonha para o doutorando e para o ensino académico português. A tese de doutoramento terá de ser anulada por não corresponder à verdade dos factos.
Tenho em meu poder mais de 2.000 comentários sobre esta noticia publicada no jornal, comentários, na sua maioria, para não dizer a totalidade, desrespeitam o autor da tese, o Jornal e a jornalista responsável pela noticia. Desta forma entendi apresentar queixa-crime contra o Jornal O PUBLICO, contra a jornalista e contra o senhor Vasco Gil Calado, pelo que o Ministério Público terá de se pronunciar se os crimes que foram apontados, pelo queixoso (Combatente), foram ou não cometidos.
Enviar um comentário